Uso de ferramentas digitais no ensino de Astronomia e Cosmologia para a Educação Básica
Laysa G. Martins
Departamento de Ciência da Computação (UFLA)
Daniel C. Rezende
Departamento de Administração e Economia (UFLA)
O ano de 2020 ficará marcado na história, tendo em vista os vários desafios que a população teve que enfrentar diante da pandemia da covid-19. Esses desafios se estenderam tanto na área da Saúde, como na Educação, tecnologia, Economia, desenvolvimento científico e relações sociais. Diante da intensa procura pela solução de meios que pudessem conter a transmissão da covid-19 e o tratamento de pessoas infectadas por ela, foi vista a real importância da Ciência e sua credibilidade em todos os cantos do mundo. Esse contexto é muito apropriado principalmente para professores da Educação Básica discutirem o papel da ciência na sociedade.
Além do papel da ciência, outra área que ficou em evidência devido a suas ferramentas serem fundamentais durante esse período pandêmico é a tecnologia de comunicação (Tatagiba et al., 2023). Apesar de sua nítida revolução e de seu uso cada vez mais frequente, a tecnologia de comunicação desenvolveu papel crucial durante a pandemia, pois, por meio de suas ferramentas, foi um dos principais meios de comunicação, tendo em vista a necessidade de se manter o distanciamento social e ao mesmo tempo o desenvolvimento de trabalhos conjuntos. Como nas demais áreas, na Educação não foi diferente: graças à tecnologia e aos esforços de instituições, professores e demais profissionais da Educação, foi possível manter o vínculo dos estudantes que tinham acesso a ela com o ensino, mesmo diante de condições mínimas em algumas regiões do nosso país. Após o período pandêmico, foram feitos alguns estudos com o intuito de mapear as necessidades deixadas pela pandemia na Educação (Reis, 2022).
Diante desse cenário, ficou claro que a sociedade está exposta a ter que se adaptar de forma rápida e que a tecnologia pode ser usada como aliada nesse esforço. Assim, torna-se importante, em especial para os profissionais da Educação, refletir sobre as ferramentas disponibilizadas pela tecnologia e pela internet, com o intuito de analisá-las juntamente com os métodos de ensino aprendizagem (Arruda; Teixeira, 2022). À vista disso, este trabalho propõe apresentar algumas ferramentas disponibilizadas de forma gratuita na internet e que podem auxiliar o ensino de Astronomia e Cosmologia na Educação Básica, considerando a carência presente em alguns livros didáticos. A escolha desse tema se justifica por ser uma área que desperta grande interesse entre os estudantes e por envolver conteúdos de variadas áreas, como Biologia, Química e Matemática, dentre outras, ao estudar o Universo em grande escala. Dessa maneira, será apresentada a metodologia de ensino conhecida por aprendizagem colaborativa, a qual está alinhada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que é um dos principais documentos oficiais brasileiros a nortear a educação (Brasil, 2018). Em seguida, serão propostas algumas atividades e indicados alguns sites de pesquisa que abordam a temática discutida aqui, com o intuito de aproximar o entendimento dos estudantes por meio de explicações interativas e mais palpáveis. Por fim, são feitas considerações acerca do trabalho desenvolvido.
A aprendizagem colaborativa e a atual BNCC no ensino de Ciências
A comunidade de pesquisadores e educadores tem defendido metodologias que promovam uma aprendizagem por meio de estímulos, como a aprendizagem colaborativa e a aprendizagem cooperativa (Torres; Irala, 2014). Isso ocorre porque essas formas de aprendizagem possuem potencial de gerar pensamento crítico, desenvolvimento de capacidade de interação, negociação de informações e resolução de problemas com base na construção em conjunto e ajuda mútua dos membros do grupo. Assim, de acordo com seus defensores, essas formas de ensinar e aprender fazem com que os alunos sejam responsáveis por sua aprendizagem, levando-os a assimilar os conceitos e a construir seus conhecimentos de forma mais autônoma ao estabelecer parcerias entre si.
Uma das ideias fundamentais dessas propostas de aprendizagem é que o conhecimento é construído socialmente, isto é, na interação entre pessoas. Dessa maneira, o conhecimento não é transferido do professor para o aluno, ou seja, o aluno não é um sujeito passivo no processo de ensino-aprendizagem. O aluno assume papel fundamental, exercendo a figura central dessas propostas de aprendizagem, nas quais são valorizados o conhecimento prévio de cada estudante e sua experiência e vivência de mundo. A tarefa do professor nessas propostas é criar ambientes e contextos adequados para que o aluno desenvolva habilidades sociais e cognitivas através da interação com outros alunos.
Neste trabalho, será desenvolvida uma atividade que utiliza a proposta de aprendizagem colaborativa. Serão apresentadas algumas de suas características. A aprendizagem colaborativa está dentro de um conjunto de tendências pedagógicas e bases históricas alicerçadas, segundo Torres e Irala (2014), no movimento da Escola Nova, nas Teorias da Epistemologia Genética de Piaget, na Teoria Sociocultural de Vygotsky e na Pedagogia Progressista. Para mais informações sobre essas tendências pedagógicas e sobre perspectivas históricas no desenvolvimento da aprendizagem colaborativa, vale a pena consultar a obra de Torres e Irala (2014).
Na aprendizagem colaborativa, os alunos trabalham em um sistema de interdependência na resolução de problemas ou na realização de tarefas propostas pelo professor, ações caracterizadas pela colaboração e pelo convívio. O número de integrantes da aprendizagem colaborativa e as formas de aprender podem ser variados; por exemplo, o grupo pode ser formado por duas ou milhares de pessoas, e o conceito de aprender em conjunto engloba a ocorrência da aprendizagem em ambientes presenciais ou virtuais, resolução de problemas e desenvolvimento de tarefas, dentre outros. Dessa maneira, a aprendizagem colaborativa possui diversas caracterizações, pois é resultante de cada contexto em que é desenvolvida.
No trabalho colaborativo, todos os participantes se responsabilizam pelo sucesso ou não do grupo, criando um relacionamento solidário e sem hierarquias. Ao se criar esse ambiente interativo em um sistema educacional, que é útil para manter o interesse do aluno, a aprendizagem acontece de forma natural, pois se desenvolve um contexto social mais realista.
Panitz (1996) destaca que a aprendizagem colaborativa é também uma filosofia de vida ao ensinar, trabalhar, construir, aprender, mudar e crescer em conjunto; cria-se interação e estilo de vida pessoal ao interagir com outros membros do grupo respeitosamente e intencionando a contribuição.
Outro fator importante a destacar é que em um ambiente escolar há diferentes tipos de pessoas, as quais trazem consigo conhecimento e habilidades que, quando trabalhadas juntas, proporcionam um ambiente rico de ideias diferentes e que se pode atingir não apenas uma região local, mas sim, uma global. Esse é um forte fator apreciado pelos negócios internacionais, já que buscam cooperações entre si para sobreviver no mercado. Assim, é importante que os alunos estejam preparados para lidar com essas situações no futuro.
Os principais objetivos desse tipo de abordagem de aprendizagem centrada no aluno são, segundo Carvalhêdo e Portela (2020):
- A aprendizagem é ampliada por meio da colaboração, pois as trocas que os alunos fazem entre si ensinam mutuamente;
- O conhecimento é compartilhado entre professores e alunos;
- O professor passa a assumir papel de mediador, ou seja, facilitador;
- Desenvolvimento de habilidades através da metacognição;
- Grupo de alunos heterogêneos.
O professor deve explicar o uso de papéis dentro do grupo e enfatizar os vínculos positivos. Os membros do grupo têm importantes funções e devem orientar os alunos em dúvida e ajudá-los a tornarem-se mais participativos para que possam obter um resultado de grupo mais completo e satisfatório. Outro elemento que aparece na aprendizagem colaborativa é a comunicação interpessoal efetiva, o que significa que os membros do grupo mantêm contato regularmente e garantem que sua comunicação seja clara e focada o suficiente.
Perante esse contexto da aprendizagem colaborativa, pode-se pensar no alinhamento existente entre ela e as competências e habilidades propostas pela BNCC, que tem como principal objetivo ser um instrumento para unificar e nortear políticas públicas educacionais que atendam aos currículos a serem desenvolvidos nos âmbitos estadual e municipal, levando em consideração a heterogeneidade da sociedade brasileira e a autonomia das escolas e dos professores. Ela também considera que a formação dos alunos tem que estar focada no desenvolvimento de habilidades e competências para a resolução de problemas e tomada de decisões diante de um mundo diversificado e no qual as mudanças ocorrem rapidamente, ao mesmo tempo que atende o previsto no Capítulo III na Constituição de 1988 (Brasil, 2016) ao preparar o indivíduo na Educação Básica visando seu aprimoramento para o mundo do trabalho e pleno exercício da cidadania. Logo, fica claramente justificada a importância da ênfase que a BNCC confere às tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC).
De acordo com a BNCC, o Ensino Médio foi estruturado em quatro áreas do conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Além delas, existe uma formação técnica e profissional que é incluída por meio dos itinerários formativos, os quais são estabelecidos por meio de eixos estruturados, contemplando a investigação científica e o empreendedorismo.
O interesse e preocupação com o ensino de Ciências é presente em países do mundo todo. Em países da Europa e nos Estados Unidos, podemos perceber essa atenção com o ensino de ciência pela inclusão da disciplina de Ciências no currículo nas escolas no século XIX. No Brasil, essa preocupação é bem mais recente. A abordagem no ensino de Ciências ocorreu de formas diferentes, visto que os interesses mudaram ao longo do tempo (Macedo, 2013).
A nomenclatura desse tema também possui variação entre os países; por exemplo, nos Estados Unidos temos “Educação Científica”; na França, é comum o termo “Cultura Científica”; na Inglaterra, temos “Compreensão Pública da Ciência”; e no Brasil o termo “Educação em Ciência” e “Divulgação Científica” é usado quando queremos nos referir à educação formal e à educação não formal em ciências, respectivamente.
Uma das justificativas para se ter um interesse no ensino de Ciências pode ser entendida pela estreita relação entre desenvolvimento tecnológico e sistema produtivo, os quais impactam diretamente o modo de vida da sociedade (Segala; Gouveia, 2022).
Tendo em vista a importância e o impacto que o ensino de Ciências provoca na sociedade em termos de tecnologia, sistema produtivo e consequentemente relações sociais, este trabalho analisa alguns mecanismos de ensino propostos na literatura e/ou aplicados e propor novas atividades que fazem uso de tecnologias que contribuem para o ensino de Ciências, cuja temática envolve conceitos presentes na cosmologia para a Educação Básica.
Diante dessa breve caracterização da aprendizagem colaborativa, pode-se estabelecer um vínculo com a proposta feita pela BNCC no ensino de Ciências, tendo em vista a busca para que o aluno seja ativo em seu processo de aprendizagem, consiga solucionar problemas, tomar decisões, trabalhar em grupos e que o professor assuma papel de norteador, assegurando que as competências gerais da Educação Básica promovam a articulação da construção do conhecimento e o desenvolvimento de habilidades, valores e atitudes, como previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, Lei nº 9.394) (Brasil, 1996).
Propostas de atividades
Tendo em vista o contexto da BNCC e o uso crescente da tecnologia e suas ferramentas na Educação, esta seção propõe algumas atividades que fazem uso de recursos disponibilizados de forma gratuita na internet e em aplicativos que podem ser usados para o ensino de Ciências, em especial para os estudos de Astronomia e Cosmologia na Educação Básica; aqui relacionamos atividades voltadas diretamente para os conceitos de Astronomia e Cosmologia; algumas outras podem ser trabalhadas em outras áreas também, como Literatura, visto que são mais amplas. Também são indicados sites que proporcionam objetos de aprendizagem em diferentes linguagens e formatos para o ensino de Ciências para ambientes formais ou não formais de aprendizagem.
Atividade sobre a temática de satélites
Quando se for trabalhar o conteúdo de satélites, pode-se utilizar o aplicativo Earth Now, o qual é oferecido de forma gratuita e que pode ser baixado na Play Store (Figura 1a). No aplicativo desenvolvido pelo Jet Propulsion Laboratory, da National Aeronautics and Space Administration (NASA), é possível ver as condições climáticas do planeta Terra, coletadas por satélites tais como Terra, Aqua, Aura, NPP, GPM, Aura, OCO-2, SMAP, Jason-3 e Grace-FO 1 (Figura 1b). Tais satélites são responsáveis por coletar dados dos sinais vitais do nosso planeta; cada satélite coleta dados específicos. O aplicativo fornece a imagem em três dimensões de cada um desses satélites; o satélite SMAP está na Figura 1c; as informações acerca de cada um desses satélites estão na Figura 1d; para isso, basta clicar no satélite cuja informação se deseja saber.
As condições climáticas são obtidas por meio de um conjunto de radiômetros que coletam informações da Terra, atmosfera, criosfera e oceanos. Nesse sentido, o aplicativo é capaz de fornecer informações a respeito da temperatura, dióxido e monóxido de carbono, campo gravitacional, camada de ozônio, nível do mar, umidade e salinidade do solo e vapor de água em tempo real e de tempos anteriores. A Figura 2a traz essas funcionalidades. No entanto, vale destacar que o aplicativo está em o inglês – mas isso pode ser visto como uma possibilidade de interdisciplinaridade com a área de linguagens, ao considerarmos a inserção no mundo globalizado em que vivemos.
Figura 1: Imagens do aplicativo Earth Now: a) Imagem de abertura do aplicativo; b) Pode-se ver os satélites Terra, Aqua, Aura, NPP, OCO-2, Jason-3 e Grace-FO 1; c) Satélite SMAP; d) Informações características do satélite SMAP
Utilizando esse aplicativo, pode-se propor algumas atividades, em conjunto com três a cinco estudantes, tais como:
- Conheçam os satélites citados, suas características, funcionalidades e estrutura. Veja a Figura 1c-d, que ilustra o satélite SMAP e suas características;
- Coletem ao longo do ano os dados referentes a cada uma das informações climáticas disponibilizadas pelo aplicativo, as quais podem ser vistas na Figura 2a. Essa proposta de atividade pode ser realizada em grupos, cada grupo pode ficar responsável por alguma região do planeta, por exemplo, em uma divisão feita por hemisférios, por continentes, por latitudes e longitudes, dentre outras hipóteses. Após a coleta, esses dados devem ser analisados tanto do ponto de vista qualitativo quanto quantitativo. É importante destacar que o aplicativo também possibilita “voltar no tempo” e ver essas informações de um período anterior. Veja um exemplo na Figura 2b-c, em que temos as datas de 06 de novembro de 2022 e 05 de novembro de 2022;
- Utilizando o aplicativo, indiquem qual é o satélite responsável por coletar cada uma das informações disponibilizadas no aplicativo; por exemplo, o satélite NPP é responsável por informações referentes à camada de ozônio. Posteriormente, explique como você chegou a cada um dos resultados;
- Para cada informação climática existe uma escala de medida, com suas unidades. Descrevam a escala de medida usada para cada informação climática e explique o significado das cores usadas no gráfico. Na Figura 2d, pode-se ver os dados referentes à média diária da umidade do solo e salinidade do mar, cujas unidades de medida são, respectivamente, cm3/cm3 e unidade de salinidade prática, e a última determina relação direta entre a condutividade elétrica da água e a sua salinidade.
Figura 2: Algumas das propriedades do aplicativo Earth Now: a) Informações climáticas oferecidas pelo aplicativo; b) Terra visível em 06 de novembro de 2022; c) Terra visível em 05 de novembro de 2022; d) Média diária da umidade do solo e salinidade do mar no período entre 30 de outubro de 2022 a 06 de novembro de 2022
Idade do Universo e seus constituintes
A NASA possui um site, chamado Nasa Science, Space Place, Explore Earth and Space, que fornece um vasto material sobre a Terra, o Sol, o Sistema Solar, o Universo, ciência e tecnologia, direcionado para crianças, jovens e públicos em geral. Dentre os vários materiais disponibilizados no site, foi escolhida uma atividade, a qual foi traduzida do material Nasa Activity Books (Figura 3), que pode ser acessada aqui.
Nessa atividade são trabalhados alguns temas que envolvem o início do Universo e algumas de suas características.
Quantos anos tem?
Quando você pensa em coisas antigas, no que você pensa? Em dinossauros? Nas pirâmides do Egito? Nosso Universo é a coisa mais antiga que conhecemos; ele tem aproximadamente 13,8 milhões de anos. São muitos aniversários comemorados!
Na linha do tempo abaixo, insira as letras de cada evento em ordem do mais antigo para o mais recente. Verifique sua resposta na parte inferior desta atividade.
Figura 4: Atividade sobre a idade do Universo, traduzida do material Nasa Activity Books.
Fonte: Arquivo dos autores, 2022.
Palavras cruzadas e caça-palavras sobre o Universo
Na Figura 5 é apresentada uma atividade utilizando palavras cruzadas, a qual foi construída de forma gratuita no site Puzzel.
As respostas estão disponíveis aqui.
Figura 5: Atividade sobre a idade do Universo na forma de palavras cruzadas, traduzida do Nasa Activity Books
Quebra-cabeças: diferentes tipos de galáxias
A seguir, têm-se duas atividades utilizando quebra-cabeças, os quais foram elaborados de forma gratuita no site RachaCuca.
A atividade tem o seguinte enunciado:
Uma galáxia é uma enorme coleção de gás, poeira e estrelas, assim como planetas que orbitam as estrelas. Nós vivemos em uma galáxia chamada Via Láctea, mas existem muitas outras. Alguns cientistas pensam que pode haver até cem bilhões de galáxias no universo. Existem diferentes tipos de galáxias. Nossa Via Láctea é uma galáxia espiral. As galáxias espirais têm braços curvos que as fazem parecer com um cata-vento. Outras galáxias são lisas e de formato oval; são chamadas de galáxias elípticas. Há também galáxias que não são espirais ou ovais, possuem formas irregulares e parecem bolhas. Após a leitura desse texto, encontre as palavras referentes ao conteúdo lido. Boa sorte!
O caça-palavras está apresentado na Figura 6.
Figura 6: Atividade de caça-palavras sobre os diferentes tipos de galáxias, traduzida do material Nasa Activity Books
Outra atividade tem o seguinte enunciado:
Os cientistas ainda não encontraram vida além da Terra. Mas eles encontraram alguns poucos lugares onde isso pode ser possível! Os planetas que podem sustentar a vida são conhecidos como zonas habitáveis. Um planeta em zona habitável está exatamente a certa distância de sua estrela. Nessa distância, o planeta é quente o suficiente para ter água líquida em sua superfície, o que é essencial para a vida como a conhecemos. Em nosso sistema solar, a Terra fica confortavelmente dentro da zona habitável do Sol. Encontre as palavras importantes para a busca pela vida no quebra-cabeça abaixo!
Figura 7: Atividade de caça-palavras sobre as diferentes zonas habitáveis, traduzida do Nasa Activity Books
Essas atividades, ao serem trabalhadas em sala de aula, permitem interação dinâmica e amistosa entre os alunos, pois eles se unem para solucionar as questões apresentadas por meio de jogos populares/conhecidos, palavras cruzadas e caça-palavras.
Magia da Física e do Universo
A Magia da Física e do Universo é um projeto de divulgação científica que engloba ensino e pesquisa. Surgiu em 2009 por iniciativa dos professores José Alberto Casto Nogales Vera e Karen Luz Burgoa Rosso, que integram o Departamento de Física da Universidade Federal de Lavras. Nesse projeto são desenvolvidas, na cidade de Lavras/MG e região, atividades e ações como:
- Experimentos com materiais de baixo custo e produção de material didático;
- Exibição de filmes e seriados científicos, por meio do evento Cinema com Ciência;
- Palestras e oficinas sobre Astronomia, na Festa das Estrelas;
- Debates científicos em ambientes descontraídos com os eventos Os Trem da Ciência e Pint of Science;
- Oficinas de Robótica com o Laboratório Wall-E no Cras-Ceu de Lavras/MG;
- Minicurso de Física Quântica na cidade dos ipês e das escolas.
Esses itens são uma fonte rica de conteúdos ao abordar diversos temas científicos e de formas diversificadas, além de serem divulgados de maneira acessível ao entendimento do público em geral.
Canal Nerdologia
Este é um canal de divulgação científica sobre temas que envolvem a cultura nerd, Ciências, Geografia, Engenharia, Astronomia, História e curiosidades (Rosado; Maciel, 2018). Os vídeos possuem figuras e animações que atraem a atenção dos usuários; por possuírem cerca de 10 a 15 minutos de duração, trazem um aspecto favorável para sua utilização durante uma aula. Na descrição dos vídeos, há informações referentes aos créditos de produção, às referências utilizadas e sugestões de outros materiais. Em especial, destacam-se os vídeos “O que o James Webb e o Predador têm em comum?”, “A história das estações espaciais”, “Por que é difícil fotografar a Lua?”, “O começo de tudo” e “Estamos sozinhos no Universo” como fontes interessantes de serem usadas ou indicadas para tratar o tema Cosmologia na Educação Básica. Xavier (2020) faz uma análise detalhada sobre o uso do entretenimento como ferramenta de divulgação científica, com destaque para o Canal Nerdologia.
Universo Racionalista
É um site fundado em 30 de março de 2012, especializado em divulgação científica, filosófica e tecnológica; seus autores são cientistas, professores, estudantes e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento: astrônomos, físicos, filósofos, biólogos, matemáticos e geneticistas, dentre outros. Nesse site os conteúdos estão dispostos em vários formatos, organizados por meio das abas Artigos, Notícias, Vídeos, Eventos, Podcasts e Postagens.
Tendo em vista o processo educativo para estudantes nativos digitais, é fundamental a elaboração de aulas e materiais que fazem uso de ferramentas digitais, de tal maneira que o processo de ensino-aprendizagem não se torne monótono. Para isso, é necessário que o professor tenha alguns cuidados ao elaborar suas aulas e materiais, além de ter domínio da ferramenta que será utilizada. Nesse sentido, foram citadas neste trabalho algumas fontes que proporcionam materiais, como, vídeos, imagens, atividades, textos e podcasts, dentre outros, que podem ser diretamente utilizados ou em que sejam feitas pequenas adaptações, não precisando de muito tempo de adaptação/criação de conteúdo pelo professor, não necessitando de muitos recursos, visto que todo o material é disponibilizado de forma gratuita.
Considerações finais
Tendo em vista a proposta da BNCC e o uso recorrente de tecnologias da informação na Educação, fica clara a necessidade de criar e avaliar materiais que fazem uso dessas ferramentas da tecnologia e suas multidisciplinaridades de forma apropriada ao processo de ensino-aprendizagem. Ao se planejar o processo de ensino-aprendizagem diante da proposta feita pela BNCC, pode-se destacar como vantagens a dinâmica e a interação durante o desenvolvimento dos conteúdos de forma multidisciplinar, pois ora temos os professores como atores principais ora temos os alunos nessa função. Porém há algumas dificuldades em desenvolver trabalhos como esses em turmas com muitos alunos e com falta de recursos.
Vale ressaltar também que, para construir uma aprendizagem autônoma, é interessante e necessária a criação de um ambiente colaborativo, propício para a interação entre os estudantes de diversas formas, tornando-os sujeitos ativos do seu processo de aprendizagem. Nesse sentido, destaca-se o papel do professor-tutor, o qual é o responsável por promover as estratégias para o surgimento de ambientes como o descrito aqui. Ele deve encorajar os estudantes a formular hipóteses, promover a resolução de problemas e incentivar a interação e o compartilhamento entre os estudantes.
Esses compartilhamentos envolvem todo o processo, ou seja, ideias, hipóteses, dúvidas, buscas por referências, estudos já feitos nas áreas ou em áreas correlatas e propostas de resoluções dos problemas, dentre outras; nesse processo, o aluno tem que possuir três características: a construção de conhecimento, a colaboração e o gerenciamento do processo de aprendizagem. Além disso, a Educação hoje precisa considerar as exigências do mercado de trabalho e da sociedade, por meio de instituições ou empresas, em que a mão de obra qualificada tem se tornado uma exigência cada vez mais próxima.
A internet oferece um vasto conjunto de ferramentas que, quando analisadas e trabalhadas de forma adequada ao ensino, favorecem e facilitam agregar conteúdos e conceitos ao processo de ensino; no entanto, fica claro que é necessário que os profissionais da Educação tenham domínio dessas ferramentas para que possam fazer uso pleno de todas as suas funcionalidades. Logo, cursos de atualização se tornam essenciais, sejam eles stricto sensu ou lato sensu. O reconhecimento da necessidade dessa atualização já foi percebido pela sensibilização das instituições de Ensino Superior ao ofertar não apenas os cursos de pós-graduação, mas também pelo desenvolvimento de vários projetos de extensão.
Referências
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BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). Brasília, 1996. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 11 jan. 2023.
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PANITZ, Ted. A definition of collaborative vs cooperative learning. 1996. Disponível em: http://colccti.colfinder.org/sites/default/files/a_definition_of_collaborative_vs_cooperative_learning.pdf. Acesso em: 11 jan. 2023.
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XAVIER, Amanda M. C. Entretenimento e divulgação científica no YouTube: uma análise comparativa dos canais Nostalgia e Nerdologia. 63f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Jornalismo) ‒ Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2020.
Publicado em 30 de julho de 2024
Como citar este artigo (ABNT)
MARTINS, Laysa G.; REZENDE, Daniel C. Uso de ferramentas digitais no ensino de Astronomia e Cosmologia para a Educação Básica. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 27, 30 de julho de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/27/uso-de-ferramentas-digitais-no-ensino-de-astronomia-e-cosmologia-para-a-educacao-basica
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