Oralidade e ensino: a concepção de professores em formação inicial no curso de Pedagogia

Erica Pires Conde

Mestra em Educação, Administração e Comunicação (Universidade São Marcos) e em Linguística (UFC), doutoranda em Letras (UFPI), professora adjunta da UFPI

A língua oral está presente nas várias esferas sociais, constituindo-se como uma ferramenta de comunicação. Quanto à sua presença no meio escolar, percebemos que cabe ao professor entender que essa prática vai além da fala cotidiana, como um treino de uso da modalidade em situações formais e informais, visando à habilidade de expor, argumentar e persuadir.

Dessa forma, constatamos a necessidade de investigar as tendências da ação pedagógica de professores em formação inicial de Pedagogia em práticas de oralidade na sala de aula. Para tanto, partimos do seguinte questionamento: quais as tendências da ação pedagógica de professores em formação inicial no curso de Pedagogia em suas práticas de oralidade?

Nosso objetivo é conhecer e analisar a concepção a respeito da oralidade em ações pedagógicas de professores em formação inicial em sala de aula, identificando a visão desse professor e analisando suas concepções.

Como procedimento metodológico, aplicamos um questionário, via fórum, inserido no Sigaa/UFPI, a sete professores em formação pedagógica em turma com dezesseis alunos. A pesquisa realizada é etnográfica e colaborativa, de caráter qualitativo.

Embasamos nosso estudo em Koch e Oesterreicher (1990), Cagliari (1993), Castilho (1998) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (Brasil, 1997). Também observamos Marcuschi (2001), Fávero, Andrade e Aquino (2000), Antunes (2003),  Preti (2004), Simões (2006), Leite (2006), Porto (2009) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Brasil, 2017).

Um estudo como este oferece a oportunidade de o professor formador conferir o trabalho com a oralidade no âmbito da formação inicial.

A oralidade

Hodiernamente, há a real importância de os indivíduos de uma sociedade desenvolverem competências linguístico-discursivas oralizadas e escritas, presentes na vida cotiadiana.

Para Marcuschi (2001, p. 16), “as línguas se fundamentam em usos”. Assim, a posição superior da escrita, no contexto social, não passa de uma criação em que estão envolvidas questões políticas e sociais de prestígio. Para ele, tanto a fala como a escrita têm seu valor, ajudando o usuário de uma língua a compreender o mundo, pois o homem possui a necessidade de se comunicar.

Partindo desse pressuposto, na visão de Marcuschi (2001, p. 25) a língua oralizada é “prática social interativa para fins comunicativos que se apresenta sob variadas formas ou gêneros textuais fundados na realidade sonora; ela vai desde uma realização mais informal a mais formal nos mais variados contextos de uso”.

A fala, assim, caracteriza-se pelo uso da língua na sua forma de sons articulados e significativos, com aspectos prosódicos, envolvendo a linguagem gestual e corporal. Reforçando a ideia de Koch e Oesterreicher (1990) e Marcuschi (2001), diz que os textos falados e escritos podem ser vistos em um contínuo que os aproxima ou os afasta. Dessa forma, existem o texto falado prototípico: por exemplo, a conversação; e o texto escrito prototípico, além dos textos científicos. A situação de uso da língua em sociedade nos conduz à classificação de um texto como oral formal quando ele se aproxima da escrita ou de um texto escrito informal quando ele se aproxima da língua falada.

Castilho (1998), ao tratar das qualidades da oralidade, deixa claro que a língua falada é uma modalidade que ocorre no momento da interação exigindo a presença dos interlocutores e considerando o espaço e o tempo em que a comunicação ocorre. Para ele, essas são as características da língua falada: ter organização de turnos, usar o sistema de correção e reparo e utilizar os marcadores conversacionais.

Na visão do autor, a produção do texto oralizado ocorre em parceria com o ouvinte numa relação de coautoria e as etapas de planejamento e execução são simultâneas, podendo passar a impressão de que o ato de planejar não ocorre na oralidade.

Fávero, Andrade e Aquino (2000, p. 21) informam que a principal característica de um texto falado é ser “uma atividade social que requer a coordenação de esforços de pelo menos dois indivíduos que têm algum objetivo comum”. Dessa maneira, a construção de textos oralizados se liga a eventos de comunicação, adquirindo um teor formal ou informal.

As autoras salientam que o mais importante na análise de um texto oral ou escrito, considerando-se a situação comunicativa, é identificar as características dos participantes, as relações travadas entre eles, o tópico discursivo, os aspectos linguísticos e paralinguísticos, as características individuais (por exemplo, as crenças e os valores) e as características do grupo social, como a classe social da qual o falante ou o escritor faz parte.

Fávero, Andrade e Aquino (2000) afirmam ainda que há características peculiares da língua falada, como a presença de turnos. Por exemplo, o texto produzido por um falante quando ele está com a palavra, assim como os tópicos discursivos, o assunto a respeito do qual é falado e o par adjacente são as expectativas do falante diante do que está sendo feito e os marcadores conversacionais verbais, prosódicos e não linguísticos.

Para elas, há ainda os marcadores conversacionais verbais que se apresentam como “uma variada gama de partículas, palavras, sintagmas, expressões estereotipadas e orações de diversos tipos” e, dentre os prosódicos ou supra-segmentais, contornos entoacionais, pausas, tom de voz, o ritmo, a velocidade, os alongamentos vocálicos” (Fávero; Andrade; Aquino, 2000, p. 45).

Simões (2006) apresenta a língua como uma manifestação do pensamento, precisando, portanto, de normatização em benefício da comunicação. Para ela, é importante conhecer a Fonética, parte que estuda os sons produzidos pelos falantes, diferenciando-a da Fonologia, estudo dos sons da língua. Por meio da Fonética entendemos as distinções dialetais presentes na oralidade.

Além desses aspectos comuns na oralidade, Preti (2004) trata das gírias. Para ele, elas se apresentam como um fenômeno sociolinguístico. Podem ser gírias de grupo, vocabulário próprio de um grupo restrito ou gíria comum, vista como uma divulgação da gíria de grupo.

Para o autor, no momento em que a gíria de grupo se vulgariza, passando a incorporar a linguagem popular do dia a dia, ela passa despercebida no vocabulário das pessoas. Acreditamos que os gêneros midiáticos são responsáveis por divulgar e tornar populares algumas situações que são criadas na oralidade.

Por fim, ressaltamos a abordagem de Leite (2006), que acredita que o falante tem a preocupação em falar bem a sua língua, mas falar bem significa estar alinhado com as práticas linguísticas do grupo ao qual pertence.

Leite (2006) expõe que a gramática de uso dos falantes chega a alterar a gramática normativa diacronicamente. Ou seja, as mudanças das normas que se manifestam na língua oral que, mesmo levando algum tempo, aparecem no padrão escrito.

A oralidade e o ensino

O ensino da oralidade não pode ser visto apenas como um trabalho com a língua falada em sala de aula. A situação vai além: a oralidade precisa ser apresentada com foco nos gêneros textuais orais, formais e informais. Marcuschi afirma:

A oralidade seria uma prática social interativa para fins comunicativos que se apresenta sob variadas formas ou gêneros textuais fundados na realidade sonora; ela vai desde uma realização mais informal a mais formal nos mais variados contextos de uso (Marcuschi, 2001, p. 25).

Nessa citação, a relação entre fala e contexto caracteriza o uso formal ou informal e precisa ser analisada no que se refere à oralidade. Antunes (2003) afirma que o ensino da oralidade deve priorizar as diferentes linguagens e os seus usos. As ações pedagógicas, para a autora, devem ser reais na sala de aula, cabendo ao professor deixar evidente o lugar da oralidade nos contextos sociais, criando condições para que o aluno consiga praticar seu discurso e ser capaz de elaborar uma opinião.

Porto (2009) alinha-se à ideia de Antunes quanto à oralidade (2003), quando reforça que o professor deve proporcionar um ambiente em que o aluno fale, exponha e debata suas ideias, sendo capaz de identificar diferentes intenções. A autora mostra que a variação linguística pode ser apresentada no âmbito escolar junto à oralidade.

No tocante ao ensino da oralidade, verificamos que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) indicam formas de abordar a questão em sala de aula. Segundo os PCN, a oralidade é tratada na sala de aula com práticas de escuta e de produção de texto orais, visando ao aprimoramento do domínio dos gêneros orais nos diversos contextos sociais.

Ensinar língua oral deve significar para a escola possibilitar acesso a usos da linguagem mais formalizados e convencionais, que exijam controle mais consciente e voluntário da enunciação, tendo em vista a importância que o domínio da palavra pública tem no exercício da cidadania. Ensinar língua oral não significa trabalhar a capacidade de falar em geral. Significa desenvolver o domínio dos gêneros que apoiam a aprendizagem escolar de Língua Portuguesa e de outras áreas e, também, os gêneros da vida pública no sentido mais amplo do termo (Brasil, 1998, p. 67).

Apesar de deixar evidente o trabalho pedagógico a ser traçado com a oralidade, convém destacar que os PCN também deixam em aberto a possibilidade de fazermos uma abordagem da relação escrita e oralidade, pois “a escrita transforma a fala (a constituição da ‘fala letrada’) e a fala influencia a escrita (o aparecimento de ‘traços da oralidade’ nos textos escritos)” (Brasil, 1997, p. 40).

Todas as habilidades relacionadas ao estudo da língua devem ser desenvolvidas genericamente, mas de maneira contextualizada, sendo necessários os gêneros que circulam no meio social.

O Eixo da Oralidade compreende as práticas de linguagem que ocorrem em situação oral com ou sem contato face a face, como aula dialogada, webconferência, mensagem gravada, spot de campanha, jingle, seminário, debate, programa de rádio, entrevista, declamação de poemas (com ou sem efeitos sonoros), peça teatral, apresentação de cantigas e canções, playlist comentada de músicas, vlog de game, contação de histórias, diferentes tipos de podcasts e vídeos, dentre outras. Envolve também a oralização de textos em situações socialmente significativas e interações e discussões envolvendo temáticas e outras dimensões linguísticas do trabalho nos diferentes campos de atuação (Brasil, 2017, p. 78-79).

Verificamos no excerto que a oralidade é apresentada com ou sem contato face a face e como a oralização de textos. Esse ponto final merece destaque, uma vez que Marcuschi (2001, p. 71) chama a atenção para o fato de que muitos professores confundem oralização com oralidade. Para ele, a oralização relaciona-se com o texto escrito, ou seja, com “uma escrita oralizada”, ao passo que a oralidade se refere à produção.

Um outro aspecto a ser realçado é que há situações de produção de textos em que a oralidade se aproxima da escrita e vice-versa. Diante dessa aproximação, há casos de marcas orais em textos escritos, conforme exemplifica Cagliari (1993, p. 31):

Uma criança que escreve disi não está cometendo um erro de distração, mas transportando para o domínio da escrita algo que reflete sua percepção da fala. Isto é, a criança escreveu a palavra não segundo sua forma ortográfica, mas segundo o modo como ela pronuncia. Em outras palavras, fez uma transcrição fonética. Por outro lado, uma criança que leia a palavra disse dizendo duas sílabas de duração igual está transportando para a fala algo que a escrita ortográfica insinua (ou que faz lembrar a fala artificial da professora. Se o aluno passar pela escola fazendo esse jogo de pular da fala para a escrita sem saber o que pertence à fala e o que pertence à escrita e por que as coisas são como são, ele terá dificuldades imensas em seguir seus estudos de português, por que o absurdo está presente a todo momento.

Assim, no contexto do ensino da oralidade há a real necessidade de o aluno entender as características de cada modalidade da língua. Marcuschi (2001) alerta para a centralidade da fala no dia-a-dia dos diversos contextos sociais. Entretanto, no que se refere às instituições escolares, vemos a valorização da escrita em detrimento das práticas orais da língua.

Vale destacar que o trabalho com a oralidade na sala de aula deve se alicerçar em uma trajetória focada no gênero textual oralizado e em atividades de escuta, levando o aluno a se sentir seguro para atuar em diferentes contextos.

Metodologia

Esta pesquisa é qualitativa, de caráter etnográfico colaborativo. Verificamos as práticas pedagógicas sugeridas por alunos do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Piauí, no câmpus de Teresina, a respeito da oralidade em sala de aula.

Para Chizzotti (2006, p. 79),

a abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vinculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações.

Entendemos, portanto, a pesquisa qualitativa como interpretações entre o sujeito e seu contexto. Já a pesquisa etnográfica colaborativa pode ser depreendida de questões voltadas à compreensão de vivências em sala de aula.

Bortoni-Ricardo (2008) informa que o intuito é analisar fenômenos linguísticos em ambientes escolares, explicando e resolvendo indagações educacionais para entender a compreensão que os alunos atingem. O autor, ao falar da pesquisa etnográfica, menciona:

A pesquisa etnográfica colaborativa tem por objetivo não apenas descrever, como no caso da etnografia convencional, mas também promover mudanças no ambiente pesquisado. Dessa forma ela, é ao mesmo tempo, hermenêutica e emancipatória (Bortoni-Ricardo, 2008, p. 71).

Buscamos, dessa forma, entender a concepção de alunos de Pedagogia quanto às práticas de oralidade em sala de aula. Com esse intuito, aplicamos um questionamento, via fórum inserido no Sigaa/UFPI, para sete professores em formação inicial em uma turma de dezesseis alunos. Fizemos a seguinte pergunta: “Como deve ser trabalhada a oralidade em sala de aula?”. As respostas foram dadas usando a tipologia textual dissertativa-argumentativa.

A análise das respostas teve por suporte a análise de conteúdo (AC), uma vez que ela traz um conjunto de instrumentos metodológicos capazes de verificar conteúdos verbais e não verbais.

Para Bauer (2008, p.195), “a AC trabalha tradicionalmente com materiais textuais escritos”. Bardin (1977) os enumera em pré-análise (ou fase de organização), exploração do material na codificação do material, a partir de registro e o tratamento dos resultados e a interpretação, em momento de classificação dos elementos segundo suas diferenças e semelhanças.

A prática de oralidade na sala de aula na visão de alunos de Pedagogia

Conforme já mencionamos, aplicamos um questionário via fórum Sigaa/UFPI para dezesseis alunos do curso de Pedagogia, a fim de entender quais concepções em práticas de oralidade eram realizadas dentro da sala de aula com professores em formação. Desses dezesseis alunos em sala de aula remota, apenas sete postaram suas respostas, passando a ser esse o número de participantes do estudo.

Identificamos os textos dos sujeitos que fizeram parte da pesquisa do seguinte modo: A (aluno) seguido de um numeral para os diferenciar (A1, A2, por exemplo).

Apresentamos os fragmentos do texto escrito para a pergunta feita: “Como deve ser trabalhada a oralidade em sala de aula?”.

No primeiro grupo, colocamos as respostas exatamente como produzidas pelo aluno, destacando a valorização do contexto desses falantes e suas variações linguísticas:

Deve ser trabalhada no aluno uma relação consciente e voluntária com o seu próprio comportamento linguístico, considerando o seu contexto social, favorecendo instrumentos capazes de melhor conhecer os gêneros da oralidade numa prática pedagógica eficiente (A2, grifo nosso).

A oralidade deve ser trabalhada fazendo-se referências às situações que acontecem no dia a dia mostrando que na língua existem certos aspectos que fazem parte da comunicação oral e eles devem ser identificados e entendidos para melhor compreensão e desenvolvimento da oralidade. Exemplo: quando estamos falando com os nossos amigos íntimos usamos gírias, hesitamos de alegria ou de espanto quando somos surpreendidos ou quando gritamos para alguém nos ouvir ao longe. Esses são aspectos da oralidade que devem ser esclarecidos e explicados aos alunos no momento do ensino da Língua Portuguesa. Também podemos explicar a importância de saber que nem sempre o que se fala é como se deve escrever. Para exemplificar, podemos pedir aos alunos que contem uma história e posteriormente a escrevam (A3, grifo nosso).

O professor deve apresentar e discutir criticamente as diversas variações linguísticas, a fim de ensinar o aprendiz a transitar entre elas em diversas situações de oralidade, além de proporcionar o abandono dos estigmas linguísticos (A5, grifo nosso).

Verificamos que o sujeito A1 destaca a relação consciente do aluno com o seu contexto social. Os sujeitos A3 e A5 fazem menção às situações presentes no dia a dia dos falantes. Para Fávero, Andrade e Aquino (2000), a oralidade apresenta as características da classe social na qual o indivíduo está inserido.

A concepção dos alunos de Pedagogia sobre a oralidade recai nos estudos das variações linguísticas. Isso é possível, na visão de Leite (2006), porque a oralidade reflete a maneira como usamos a língua. Assim, para o autor, o falante procura usar bem essa língua no seu contexto, visto que falar bem, para ele, é poder participar das práticas sociais de seu grupo.

Outro ponto observado nas respostas foi a ênfase dada aos gêneros textuais oralizados como aspectos a serem abordados na sala de aula. Vemos isso nas respostas a seguir:

A oralidade deve ser trabalhada em sala de aula de modo que ressalte sua importância para o aluno, podendo ser trabalhada por meio de debates, seminários, contação de histórias ou outros. É fundamental que o professor busque contemplar o trabalho da oralidade, como fator essencial em sala de aula, de forma planejada e organizada, contribuindo para que o aluno se torne um sujeito falante, participativo e crítico na sociedade (A1, grifo nosso).

A oralidade deve ser trabalhada com contação de histórias, recintos, conversas em grupos e fazer pequenos vídeos para os alunos observarem onde podem melhorar suas falas (A4, grifo nosso).

O relevo atribuído aos gêneros orais esteve presente nas respostas de muitos alunos. Para exemplificar, indicamos as respostas de A1 que apontou debates, seminários e contação de histórias como gêneros a serem explorados em sala de aula e A4 destacou a contação de histórias, as conversas em grupos e a análise de vídeos como propostas de trabalhos com a oralidade.

Esse aspecto é destacado pelos PCN (Brasil, 1998), quando apontam que o ensino da oralidade volta-se para os usos da língua, formal e informal, implicando na capacidade de elaborar oralmente gêneros orais.

No tocante à BNCC, há a enumeração de práticas de linguagem oral que podem estar no contexto da sala de aula. Essas práticas englobam situações que vão desde a língua falada face a face aos gêneros textuais orais, presentes no contexto real e digital.

Além dos aspectos elencados, percebemos que as respostas estabelecem uma aproximação entre a oralidade e a escrita. A fim de melhor entendermos essa relação, elencamos as respostas que seguem:

Notamos, no texto escrito, o contraste entre ele e o texto oralizado, marcados pelas características da oralidade. Assim, o professor deve explicar as características da narrativa oral e da narrativa escrita, mostrando ao aluno a diferença de como se fala e de como se escreve, a partir das variações linguísticas: a exemplo, a questão do sotaque que não aparece no texto escrito. Também, as repetições, as digressões, as paráfrases, como elas são escritas no texto e se devem ou não ser colocadas, ou seja, esclarecer aos alunos as características da língua falada (A3, grifo nosso).

A oralidade em sala de aula deve ser trabalhada com a valorização que apresenta, pois oralidade e escrita são dois vieses que não se separam. Essa valorização ocorre quando o aluno desenvolve a criticidade, de tal forma que contribui para o seu desenvolvimento no campo do domínio dos gêneros. A oralidade, dentro do ambiente da sala de aula, deve ser trabalhada com  planejamento, de forma estruturada para que se tenha o valor e a apreciação adequados (A6, grifo nosso).

Fica evidente, após a análise das respostas dadas por A3 e A6, que na visão dos alunos os textos oralizados podem causar interferências nos textos escritos, aspecto que o professor poderá fazer uso, em sala de aula, para o ensino de cada modalidade. Sobre essa aproximação, Cagliari (1993) mostra que cabe à escola ensinar o que pertence à escrita e o que pertence à fala.

Por fim, a resposta do aluno 7 indica que não deve haver prioridades quanto ao ensino da língua, pois as duas modalidades devem ter os mesmos espaços no contexto da sala de aula.

A oralidade dentro da sala de aula se inicia com o conhecimento do professor sobre a modalidade e assim conseguirá traçar metodologias pedagógicas com bons resultados. Deve-se ensinar tanto a modalidade escrita como a oral, sem privilegiar uma e menosprezar outra, pois se completam e fazem parte da comunicação. Os documentos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) orientam que a escola propicie a prática da modalidade oral, podendo se usar debates, entrevistas,seminários entre outros, Também podemos trabalhar por meio da música, da TV, do rádio (observando o contraste entre o sotaques de outras regiões com o seu sotaque). Os alunos podem narrar um fato e logo transcreverem-no para a escrita, mostrando a diferença dentro da sala (A7, grifo nosso).

A fim de sintetizarmos o que foi considerado como possíveis práticas de oralidade em sala de aula, criamos o Quadro 1.

Quadro 1: Práticas de oralidade

Práticas com a língua oralizada em sala de aula

Debates, seminários, contação de histórias

O comportamento linguístico do aluno (grifo nosso)

Situações do dia a dia (grifo nosso)

Contação de histórias, conversas em grupos, fazer pequenos vídeos para os alunos observarem como podem melhorar suas falas (grifo nosso)

Apresentar e discutir criticamente sobre as diversas variações linguísticas (grifo nosso)

Exposto com direcionamento entre a escrita e a oralidade

Debates, entrevistas, seminários entre outros, mas também podemos trabalhar através da música, da TV, do rádio

Fonte: Respostas dos alunos que fizeram parte da pesquisa.

Diante do que foi analisado, constatamos que todos os professores em formação inicial de Pedagogia veem a necessidade de inserir práticas educativas que tratem a oralidade em sala de aula. O que é mais enfatizado como prática de ensino da oralidade é a análise do comportamento linguístico do aluno (variação linguística na sala de aula). Além disso, verificamos que há uma preocupação dos alunos em indicar os gêneros textuais orais que devam ser trabalhados em sala.

Considerações finais

Urge o tratamento da oralidade em sala de aula como um componente do ensino da Língua Portuguesa. Para que isso se efetive com total segurança por parte dos professores da Educação Básica, torna-se premente que a oralidade deva ser implantada na sala de aula desde a formação inicial desses futuros professores.

Os professores em formação inicial que participaram da pesquisa já possuem conhecimentos sobre a necessidade de se tratar da oralidade na sala de aula.

As situações didáticas propostas pelos futuros professores como requisito de domínio da oralidade trazem a elaboração de textos de domínios informais, nos quais podemos encontrar variações linguísticas e textos de domínios formais (contação de histórias, seminários, debates).

Embora exista preocupação com o ensino da oralidade para docentes em formação, falta a observação de que para essas aulas existe a necessidade de planejamento na sua implementaçãor.

Referências

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BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

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Publicado em 06 de agosto de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

CONDE, Erica Pires. Oralidade e ensino: a concepção de professores em formação inicial no curso de Pedagogia. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 28, 6 de agosto de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/28/oralidade-e-ensino-a-concepcao-de-professores-em-formacao-inicial-no-curso-de-pedagogia

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