A contribuição do jogo para a alfabetização
Sandra Camargo de Andrade Borges
Mestranda (PPGE/Unioeste - Câmpus de Francisco Beltrão); licenciada em Pedagogia (Unioeste - Câmpus de Francisco Beltrão)
Adriana Dacheri Peixoto da Silva
Licenciada em Pedagogia (Unioeste - Câmpus de Francisco Beltrão)
A alfabetização, em um primeiro momento, pode se apresentar complexa e desafiadora tanto para o aluno quanto para o professor; é importante que esse docente alfabetizador não se limite às atividades teóricas, que ele possa ver no jogo grandes possibilidades de aprendizagem.
Quando a criança entra no Ensino Fundamental, logo vêm as famosas frases: “agora vai começar a aprender” ou “agora as brincadeiras acabaram, vai aprender a ler”, porque, principalmente para o senso comum, a brincadeira e a ludicidade são características da Educação Infantil – em que o cuidar é priorizado, não se tem a responsabilidade do ensino, que seria reservada ao Ensino Fundamental, período marcado pela aprendizagem da leitura e escrita.
A criança precisa ver a alfabetização como significativa; ela precisa de algo a mais que a teoria, de algo palpável e concreto. Pensando nisso e relacionando com as experiências que vivenciamos no trabalho com a alfabetização, é possível perceber o quanto as crianças apreciam os jogos, principalmente os didáticos, educativos, que ajudam na apropriação do conhecimento; elas se sentem motivadas, colocando em prática o que aprenderam e saindo da monotonia da aula tradicional. Podem ser utilizados os jogos de tabuleiro, os de encaixe, os silábicos, troca-letras, jogos com alfabeto móvel, dominós, jogos com fichas (imagem e escrita) e jogos de memória, entre outros.
É necessário compreender como inserir os jogos no processo de alfabetização, como utilizá-lo como ferramenta para melhorar a aprendizagem, como proposta pedagógica que não seja uma atividade imposta à criança, que seja um momento de prazer, respeitando a especificidade de sua idade e seu desenvolvimento. Os jogos dirigidos tornam a aula mais leve, uma vez que unem prazer à aprendizagem para crianças que estão no processo de transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental; elas se sentem familiarizadas com os jogos, que podem ser uma experiência importante para essa adaptação à nova realidade escolar.
Tendo apenas a formação básica, o professor pode encontrar dificuldade em inserir ou compreender o jogo como instrumento didático; a formação continuada pode ser um diferencial necessário; assim como as crianças mudam, em função do seu contexto histórico e social e o aumento de tecnologias, o professor também precisa estar em constante aprendizagem, buscando aperfeiçoar sua qualificação em prol da melhor aprendizagem de seus alunos.
Para a compreensão da importância dos jogos na alfabetização, buscamos autores como Magda Soares (2021), Marjorie Agre Leão (2015) e Maria Angela Barbato Carneiro (1998), entre outros teóricos da área, para discorrer sobre os jogos na alfabetização. É necessário também trazer a diferença entre jogo, brincadeira e brincar, falar da especificidade desse momento de transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental e das características da alfabetização e sua relação com os jogos didáticos.
Jogo/brincadeira e brincar
Os jogos são importantes para a aprendizagem, assim como o brincar e as brincadeiras. Brincar é o ato de entreter-se com brinquedos ou jogos infantis, divertir-se com jogos fictícios, enquanto brincadeira é a ação de brincar, de entreter, distrair, sempre relacionando e colocando como exemplo a criança, como sujeito que gosta de brincar. Jogo, segundo o Dicionário Aurélio, é "uma atividade física ou mental fundada em sistemas de regras que definem a perda ou ganho; está relacionado a uma série de coisas que formam um todo; é a ação de jogar, exercício ou divertimento sujeito a certas regras”.
Segundo Antunes (2003, p. 11), “a palavra jogo provém de jocu, substantivo masculino de origem latina que significa gracejo”. Em seu sentido etimológico, portanto, expressa divertimento, passatempo, brincadeiras, sujeito a regras que devem ser observadas quando se “joga”. Portanto, ressalta a importância e a existência das regras.
No jogo, a criança vai se inserindo nas primeiras regras, aprende a respeitar, a esperar sua vez, observando a disciplina e a socialização que existe tanto no jogo quanto na escola e na sociedade em que vive (Oliveira; Silva, 2014, p. 41). Portanto, compreende a existência das regras, como elas devem ser seguidas para que o resultado do jogo seja correto e justo para todos os jogadores. É necessário destacar que as regras devem ser claras e objetivas para que não ocorram interpretações equivocadas e o jogo possa fluir como o planejado.
Segundo Fortuna (2014, p. 24), “o brincar é a apropriação ativa da realidade por meio da representação”, enquanto a brincadeira “é uma atividade análoga à aprendizagem”. Portanto, a criança reproduz a realidade por meio da brincadeira, usando a imaginação, e aprende enquanto brinca. O jogo, assim como o brincar, possui função lúdica e permite às crianças participar de momentos de diversão e aprendizagem. Segundo a autora, a brincadeira não pode ser confundida com o jogo, pois, para ela, comporta uma grande família. Brincar e jogo não são sinônimos de um mesmo conceito.
Neste trabalho, vou priorizar os jogos didáticos dirigidos à criança na fase de alfabetização, mas respeitando a concepção de criança como sujeito histórico e de direitos, que produz cultura por meio das interações e vivências.
O conceito de infância e de criança foi passando por mudanças; atualmente temos muitas legislações que regem os direitos da criança e adolescentes. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/90, no capítulo IV, “Do direito à Educação, ao Esporte e ao Lazer”, registra:
Art. 53 - A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola (Brasil, 1990, p. 31).
Esse capítulo trata diretamente do direito ao desenvolvimento, à educação de qualidade; isso significa que é assegurado por lei que todas as crianças sejam estimuladas ao desenvolvimento; a escola, nesse caso, precisa oferecer condições de assegurar essa aprendizagem, e para que isso aconteça é importante destacar que a criança precisa ser considerada protagonista da sua aprendizagem, respeitada nas suas diferentes infâncias, em seu tempo de brincar e valorizadas as brincadeiras lúdicas. Por meio dos jogos, a criança consegue estabelecer significados do mundo que a cerca e apropriar-se do mundo adulto fazendo suas inferências; por isso, a escola tem o importante papel de apresentar os jogos nesse contexto, com planejamento e buscando atingir objetivos específicos (Leão, 2015, p. 650).
Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Brasil, 2017), em uma rápida pesquisa, quando colocamos a palavra “jogo”, constatamos que aparece 165 vezes, um número bem expressivo, mostrando que a importância do jogo que vai além da Educação Infantil, sendo indicado para os anos iniciais (alfabetização) e todo o Ensino Fundamental. As regras de um jogo são familiares para as crianças, pois trazem o cotidiano para a sala de aula e abrangem todas as culturas, além de promover a interação e a socialização das crianças; “os jogos e as brincadeiras norteiam o processo de aprendizagem e desenvolvimento” (Brasil, 2017, p. 199).
Os jogos e a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental
A atividade principal da criança na Educação Infantil é o brincar, o brincar livre, o brincar dirigido, uma vez que o foco está relacionado ao seu desenvolvimento integral. Contudo, quando inserida no Ensino Fundamental, essa atividade principal vai se modificando para a atividade de estudo. Conforme Carboniere, Eidt e Magalhães (2020),
o período da idade escolar tem como atividade guia a atividade de estudo. Leontiev (2016) explica que a entrada da criança na escola de Ensino Fundamental marca o início de um novo período do desenvolvimento e, com isso, muda sua relação com a sociedade: a partir de agora, ela passa a desempenhar uma atividade séria (Carboniere; Eidt; Magalhães, 2020, p. 3).
Enquanto as brincadeiras tinham como objetivo principal o desenvolvimento integral da criança, mas sem relacionar a conteúdos escolares ou à alfabetização, na atividade de estudo há um objetivo a ser alcançado; “a atividade de estudo é aquela mediante a qual a criança, orientada pelo professor, se apropria dos conhecimentos teóricos” (Carboniere; Eidt; Magalhães, 2020, p. 3). Essa atividade teórica é vista pela criança como abstrata; o professor precisa encontrar meios para facilitar essa aprendizagem, tornando-a acessível e ao mesmo tempo interessante para ela.
Por consequência, essa transição é uma mudança muito repentina e brusca para a criança, que pode ter dificuldades em se adaptar à nova rotina, ao distanciamento das atividades lúdicas; portanto, os jogos pedagógicos e dirigidos são uma ótima opção para mediar esses novos conhecimentos. Para Leão (2015),
o uso de jogos pode despertar nas crianças a motivação, a expressividade, a imaginação, a linguagem comunicativa, a atenção, a concentração o raciocínio lógico; podem englobar diferentes áreas do conhecimento, por isso constitui um recurso de ponta no processo de alfabetização/letramento (Leão, 2015, p. 650).
É necessário considerar as transformações em nível psicológico e as implicações que acontecem com a criança nesse período transitivo, marcado pelas crises do desenvolvimento infantil, analisadas por Vygotsky, as quais “surgem no limite entre as idades e marcam o final de uma etapa do desenvolvimento e o começo da seguinte”, (Martins; Facci, 2016, p. 26), provocando significativas mudanças na personalidade da criança. Mas as crises de idade não são leis universais, pois não se aplicam a todos de forma igualitária; têm influência do ambiente social em que a criança está inserida.
A primeira crise identificada por Vygotsky é “a crise dos sete anos”, que se relaciona à passagem da idade pré-escolar para a idade escolar. Todavia, quando acontece esse período de crise, considera-se que a criança começa a perder o interesse pelas atividades propostas na idade pré-escolar e abre espaços para o conhecimento mais sistematizado; por isso é necessário ter claros os objetivos e conceitos a serem ensinados para essas crianças, a fim de contribuir para sua formação. Os jogos didáticos se apresentam como ferramenta valiosa para o processo pedagógico, por se tratar de algo lúdico; conseguem mediar parte dessa transição, desde que o professor tenha condições de elaborar um encaminhamento coerente em sala de aula, pois o jogo não pode ser visto como instrumento de castigo ou recompensa ou ferramenta para preencher o tempo; deve ser planejado com antecedência para enriquecer a prática pedagógica, uma vez que seu objetivo é contribuir para a assimilação de conteúdos e aprendizagens.
Alfabetização, letramento e jogos didáticos
A alfabetização é a aprendizagem do sistema de escrita; letramento é a ação de reconhecer as práticas sociais de leitura e escrita (Soares, 2021); para a autora, alfabetização e letramento, apesar de serem termos distintos, devem andar juntos para que a aprendizagem aconteça de forma significativa; portanto, durante a alfabetização é importante que a criança seja letrada e alfabetizada ao mesmo tempo, independentemente de técnicas ou métodos. Pensar em jogos que contribuam para o processo de alfabetização das crianças é fundamental.
O domínio, portanto, de um aspecto material ou simbólico da realidade humana, ainda fora de seu alcance, só se torna possível mediante um jogo. É assim que a criança assimila, compreende e aprende a viver no mundo humano, social, em que se está inserindo (Arce; Duarte et al., 2006, p. 57).
Na alfabetização, podemos trabalhar a consciência fonológica com inúmeras ideias de jogos, principalmente com as crianças que têm mais dificuldades, como ditado estourado, sílabas invertidas, aliteração, rimas, fichas com a figura e a escrita e outros jogos. "Trinca mágica" e "palavra dentro da palavra" são exemplos de jogos que o professor pode criar, com regras, para que as crianças se sintam desafiadas e assim realizar a teoria na prática (Leão, 2015).
Quando se utiliza o jogo na alfabetização, é importante compreender que a criança, ao jogar, faz a junção de sua vontade e do prazer em estar em uma atividade que trabalha suas emoções. Segundo Vygotsky (1991), o jogo pode trazer oportunidade para o preenchimento de necessidades irrealizáveis e a possibilidade para se exercitar no domínio do simbolismo.
Ao utilizar o jogo, a criança coloca o mundo ao seu redor em ordem, vivenciando emoções, expectativas, mas principalmente interagindo com os outros sujeitos; sendo assim, na alfabetização, uma etapa tão delicada para ela, na relação do jogo com o outro sujeito, ela vai construindo de forma espontânea o saber trabalhado pelo professor dentro dessas relações mediadas. É no jogo que a criança interage socialmente; isso contribui para sua autoestima, ela se sente parte do todo, importante para o grupo, elevando sua confiança.
O jogo tem a capacidade de promover reforço pedagógico, principalmente para aqueles alunos que apresentam maiores limitações no processo de alfabetização; o jogo é uma forma de linguagem e expressão, auxilia na integração e na vida social, além de trabalhar relações interpessoais, regras, afetividade, o cognitivo e a linguagem (Leão, 2015). Geralmente, na alfabetização aparecem as primeiras dificuldades de aprendizagem, os rótulos – que muitas vezes nem são dificuldades reais, é preciso observar com atenção as crianças, muitas vezes é o método de ensino que precisa ser modificado, alterado; deve-se evitar as comparações, que podem prejudicar na avaliação dessa aprendizagem. Lembro-me de uma das minhas observações de estágio supervisionado, em uma escola pública, em uma sala de 1° ano, as crianças tinham lugares específicos, que variavam de acordo com seu nível de aprendizagem; segundo a professora, a organização ajudava na hora das atividades. As crianças podem não verbalizar, mas percebem, e isso acaba prejudicando a autoestima e a aprendizagem; ser definida por um rótulo pode afetar toda a sua trajetória escolar.
Em suma, “o jogo cria uma predisposição para aprender, porque desafia, liberta, enquanto normatiza, organiza e integra” (Carneiro, 1998, p. 96). É como se a criança aprendesse sem perceber, enquanto joga ela não se sente pressionada a aprender, o que torna a aprendizagem significativa, fugindo também da memorização, pois no jogo a criança se envolve com regras e conteúdos implícitos e explícitos que estão ali.
É necessário observar a faixa etária e o nível de desenvolvimento do aluno; o jogo deve ser atrativo e desafiante, não ser tão fácil, para que ela não perca o interesse, nem tão complexo a ponto de ela ter dificuldades para desenvolvê-lo, o que ocasiona queda da autoestima e frustração (Oliveira; Silva, 2014).
Na busca de fonte teórica sobre utilização dos jogos e a importância deles para a alfabetização, notei que há pouca informação sobre esse recurso na sala de aula; parece que há, por parte de muitos professores, receio na utilização; eles preferem continuar com as aulas tradicionais e expositivas, que muitas vezes são exaustivas e abstratas para os alunos (Carneiro, 1998). Para ela,
o que caracteriza o “jogo didático”, na realidade, é a sua finalidade básica: a aprendizagem. Ele é dirigido através da intervenção pedagógica, com o objetivo de minimizar as dificuldades dos alunos e de orientá-los ao estudo: está voltado, assim, para a aprendizagem de conteúdos específicos. É o que ocorre em um “jogo de bingo”, constituído de cartelas que têm dificuldades ortográficas apresentadas pelos alunos (Carneiro, 1998, p. 103).
A autora usou um tipo de jogo para explicar como está inserido o conteúdo; podemos citar outros exemplos, o professor é quem vai definir o jogo adequado para cada turma, usar a criatividade, conhecendo as especificidades de cada criança e até as preferências; o jogo é produtivo quando planejado e quando é bem recebido pela turma; é bem válido ressaltar que esteja dentro do contexto da criança, nada que fuja totalmente da realidade social em que ela vive. “A verdadeira contribuição que o jogo dá à educação é ensiná-la a rimar aprender com prazer” (Fortuna, 2014, p. 25). O professor pode buscar ideias na internet ou com colegas, adaptar para os recursos disponíveis.
Um jogo com o qual tivemos experiência significativa foi o de “fichas e figuras”, no qual o material é constituído de fichas com figuras coloridas em que, de um lado está a escrita e no verso está a figura que representa a escrita. O jogo pode ser desenvolvido em grupo ou duplas, as palavras variam de acordo com o nível de desenvolvimento da criança. As regras podem ser modificadas pelo professor, mas consistem em que o aluno veja a escrita e tente ler a seu modo; depois é mostrada a figura e ele mesmo pode ver se errou ou acertou; se acertou, ele ganha um ponto e segura a ficha consigo; se errou o ponto é para o outro que está mostrando a ficha, podendo intercalar; cada um tem uma vez de pegar e mostrar a figura. O jogo termina com o fim das fichas, quando todas foram mostradas e lidas.
Quando foi utilizado esse jogo, foi perceptível a interação coletiva das crianças, a comemoração de cada palavra lida e principalmente porque aquelas que não gostavam de ler livros nem perceberam o quanto leram durante a dinâmica. Com o jogo das fichas, as crianças desenvolvem a consciência silábica, tão valorosa para a consciência fonêmica, ao serem instigadas a descobrir a palavra. Parece uma tarefa simples para o adulto, mas, para a criança, ela estimula o raciocínio lógico e a consciência fonológica (Oliveira; Silva, 2014).
Outro jogo muito solicitado pelas crianças é o “troca letras”, que pode ser facilmente confeccionado com cartolina e canetas coloridas ou até mesmo escrito na lousa; por exemplo, é colocada a palavra gato, em seguida é estimulada uma das crianças a falar o som de cada letra e em seguida o som da sílaba; formada a palavra, o professor troca a primeira letra por outra (por exemplo, troca a letra G pela letra R, resultando na palavra rato) e assim sucessivamente, orientando as crianças a perceber que o som de uma letra muda totalmente a palavra; esse jogo pode ser realizado em grupo, é bem valoroso para o desenvolvimento da consciência fonológica, que vai desde a simples percepção global do tamanho da palavra e de semelhanças fonológicas entre as palavras até a segmentação e manipulação de sílabas e fonemas.
Além da alfabetização, que muitas vezes pode se tornar uma tarefa desafiadora, “o uso do jogo pode despertar nas crianças a motivação, a expressividade, a imaginação, a linguagem comunicativa, a atenção, a concentração e o raciocínio lógico e pode englobar diferentes áreas do conhecimento” (Leão, 2015, p. 650). A autora reforça a significativa contribuição do jogo, que pode parecer uma atividade simples, mas, se bem explorada, pode trazer benefícios à prática docente, até para outras disciplinas; a alfabetização é apenas um campo específico, o professor pode buscar ideias e adaptações para qualquer disciplina, tornando uma prática comum na sala de aula.
Na graduação, aprendemos pouco sobre ludicidade, geralmente associada ao estudo da Matemática; contudo, compreendemos a importância dela também na alfabetização, deixando os preconceitos de lado, vendo o jogo como uma possibilidade de aprendizagem, que deveria ter seu lugar na formação continuada em serviço, com momentos de compartilhamento de saberes e experiências – mas não vamos falar aqui desse outro campo extenso de pesquisas.
Considerações finais
Concluímos, assim, que o uso dos jogos pode despertar a motivação das crianças; pela sua ludicidade, também auxilia no desenvolvimento de outras habilidades. Portanto, o jogo constitui-se numa ferramenta, num recurso valoroso no processo de alfabetização e letramento.
A escola precisa aprender a utilizar mais os jogos, eles cativam as crianças; quando pensamos em alfabetização, todos os recursos são necessários; principalmente nessa faixa de idade, momento em que a criança faz a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, os jogos contribuem de maneira significativa para o processo de adaptação e o processo de aprendizagem. Compreendemos que a finalidade dos jogos é qualificar a aprendizagem, por isso ressaltamos a importância dessa possibilidade para a prática docente. “A criança age, experimenta, reflete e aprende com os jogos lúdicos. No espaço escolar, o lúdico deve ser apresentado com amor, dedicação e, especialmente, atribuição de significados, pois requer do professor certa atenção e seriedade” (Gomes; Jordão, 2022, p. 6).
Quando frisamos que a escola precisa aprender a utilizar os jogos, destacamos a importância e a necessidade da formação continuada como meio de nos adaptarmos às mudanças e aprofundarmos os conhecimentos prévios; buscar instrumentos para a prática em sala de aula é buscar uma melhor qualificação.
É preciso desmistificar a ideia de que não se aprende brincando ao introduzir esses momentos com jogo na sala de aula; a dinâmica pode dar trabalho, porém vale o esforço na tentativa de agregar mais significativo na alfabetização das crianças. É mais subsídio para o trabalho do professor e um meio para fugir do retorno aos métodos tradicionais. É difícil se reinventar todos os dias em meio à precarização do ensino e à falta de estrutura, sem falar na desvalorização da profissão docente; contudo, o que nos faz professores é fazer a diferença na busca de uma educação libertadora e humanizada.
Referências
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VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
Publicado em 13 de agosto de 2024
Como citar este artigo (ABNT)
BORGES, Sandra Camargo de Andrade; SILVA, Adriana Dacheri Peixoto da. A contribuição do jogo para a alfabetização. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 29, 13 de agosto de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/29/a-contribuicao-do-jogo-para-a-alfabetizacao
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