Experiência da prática de ensino a partir da metodologia por projeto de trabalho
Gillana Oliveira da Costa
Graduanda de Pedagogia (Unioeste - Câmpus de Francisco Beltrão)
Kelin Amaral Saldanha
Graduanda de Pedagogia (Unioeste - Câmpus de Francisco Beltrão)
A pedagogia por projetos é uma abordagem educacional que busca promover o aprendizado de forma significativa, relacionando os conteúdos escolares com situações e contextos reais. Nessa perspectiva, os alunos são convidados a investigar, planejar, executar e avaliar projetos, desenvolvendo habilidades e conhecimentos de maneira integrada e interdisciplinar. Ao envolver os estudantes em projetos autênticos e desafiadores, a pedagogia por projetos estimula a autonomia, a colaboração, a criatividade e o pensamento crítico, preparando os estudantes para enfrentarem os desafios do mundo contemporâneo.
Nesta introdução, exploraremos os princípios e os benefícios dessa abordagem pedagógica, além de destacarmos exemplos práticos de sua aplicação.
Se definirmos interdisciplinaridade como junção de disciplinas, cabe pensar currículo apenas na formatação de sua grade. Porém se definirmos interdisciplinaridade como atitude de ousadia e busca frente ao conhecimento, cabe pensar aspectos que envolvem a cultura do lugar onde se formam professores. Assim, na medida em que ampliamos a análise do campo conceitual da interdisciplinaridade, surge a possibilidade de explicitação de seu espectro epistemológico e praxeológico (Fazenda, 2008, p. 17-18).
O presente trabalho constitui um relato sobre a experiência de ensino relacionada à disciplina Prática de Ensino e Pesquisa, sob a forma de Estágio Supervisionado IV. Todas as atividades de estágio foram realizadas na Escola Municipal Juscelino Kubistchek (EIEF), em uma turma do 3º ano do 1º ciclo do Ensino Fundamental, com onze alunos entre oito e nove anos.
As atividades de estágio foram realizadas por meio de diferentes inserções de práticas de ensino e observações em sala de aula. As inserções ocorreram mensalmente, em dois dias da semana, quando tínhamos que desenvolver um plano de ensino para determinada disciplina (Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História e Geografia). Além dessas inserções pontuais, tivemos que desenvolver um planejamento para uma semana de regência, envolvendo todas essas disciplinas de maneira interdisciplinar.
Nas inserções houve momentos de observação das atividades desenvolvidas pela escola, como também das atividades realizadas pela professora regente. Isso nos permitiu, sobretudo, conhecer como era desenvolvido o ensino por meio da metodologia de projetos de trabalho, com a qual a escola se propõe trabalhar. Na sequência desta escrita, discutiremos alguns aspectos teórico-metodológicos da proposta.
Durante as observações, participamos de um encontro coletivo promovido pela instituição, uma formação continuada para professores (além da que já acontece e é ofertada pela Secretaria Municipal de Educação). O encontro ocorre sempre com a participação de professores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Os temas dos estudos podem ser situações que afligem os professores ou mesmo aspectos pedagógicos que merecem destaques por terem dado certo. Nesse encontro foram discutidos diversos assuntos relacionados às práticas de ensino com Projetos nas diferentes turmas, assim como aspectos avaliativos sobre o que poderia ser melhorado.
No período em que estivemos presentes no meio escolar, fizemos as inserções de prática de ensino e interagimos com as crianças por meio da metodologia por projeto de trabalho com que a escola trabalha. Durante o estágio, nosso principal objetivo foi contribuir para o processo de ensino-aprendizagem dos alunos. Para isso, procuramos elaborar roteiros de trabalho que consistiam em um planejamento diário com conteúdos e atividades para o desenvolvimento das aulas, tendo como base a proposta curricular da escola, juntamente com o envolvimento das crianças e da equipe escolar.
No início das atividades de estágio, passamos por muitas inquietações. Pensamos que poderíamos desenvolver o planejamento ao longo do ano, contemplando as exigências da instituição. Assim, uma das primeiras questões que pensamos foi a respeito da escola que iríamos escolher a fim de cumprirmos com todas as atribuições das atividades de estágio do ano da graduação. Consideramos que definir qual seria a escola foi simples, pois um dos pontos observados como critério foi a forma de trabalho da instituição. Nesse caso, prevaleceu o fato de a escola trabalhar com conteúdos de forma interdisciplinar, ponto significativo no que diz respeito ao modo de organização dos conteúdos envolvendo diferentes áreas do conhecimento. Segundo Fazenda (apud Urban et al., 2009, p. 184),
no projeto interdisciplinar não se ensina nem se aprende: vive-se, exerce-se. A responsabilidade individual é a marca do projeto interdisciplinar, mas essa responsabilidade está imbuída do envolvimento – envolvimento esse que diz respeito ao projeto em si, às pessoas e às instituições a ele pertencentes.
Na prática, a interdisciplinaridade é uma forma de relacionar as diferentes áreas do conhecimento ao se ensinar um conceito, buscando romper com a fragmentação de conceitos. Então, seguindo esse princípio de organização do trabalho pedagógico, elaboramos nossos planejamentos e a nossa prática relacionando-as às diferentes áreas do saber.
A instituição onde o estágio foi feito traz princípios didáticos fundamentados numa proposta de organização do planejamento por projetos de trabalho, seguindo princípios da Escola Ativa (Hernández; Ventura, 1998). Tais princípios orientam o processo educativo para a liberdade e a autonomia com a participação nas decisões em sala de aula.
A escola, por meio dessa orientação didática, baseia-se numa organização de trabalho pedagógico fundamentada na concepção de globalização de conhecimentos e conteúdos. Assim, as relações entre as áreas caminham juntas e o aluno poderá fazer uso de seus conhecimentos e ter participação ativa no processo de ensino-aprendizagem. Nessas relações entre aluno e professor, aluno e aluno, aluno e escola e professor e escola, ocorrem diferentes aprendizados.
Sobre a metodologia de projeto de trabalho, Hernández e Ventura (1998, p. 61) afirmam:
a função do projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação a: 1) o tratamento de informação, e 2) a relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção de seus conhecimentos, a transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio.
Dessa forma, abordaremos os princípios que norteiam o desenvolvimento de projeto de trabalho, tendo como base a teoria e a prática realizada em nossas atividades de estágio.No primeiro momento discutiremos sobre as principais fases (etapas) da metodologia por projeto de trabalho, tomando como referência as discussões e as abordagens de Hernández e Ventura (1998). Juntamente, relacionamos à discussão a nossa experiência prática, apresentando como foi relacionar os conhecimentos da teoria com a prática, especialmente quando pensados à luz da metodologia de projetos.
Organização do planejamento por projetos de trabalho: princípio teórico-metodológico
No contexto brasileiro, a Pedagogia de Projetos emergiu na década de 1920 e alguns autores se dedicaram a aprofundar e a disseminar seus estudos. A abordagem pedagógica demanda uma mudança de postura fundamentada na ideia de que a aprendizagem ocorre por meio da resolução de situações didáticas significativas, aproximando os estudantes de seus contextos sociais e promovendo neles o desenvolvimento do senso crítico, da autonomia, da vontade pela pesquisa e da solução de problemas.
Os princípios de Dewey, amplamente divulgados em periódicos especializados na área da educação, influenciaram o movimento escolanovista brasileiro também a partir do final da década de 1920. As suas ideias foram objeto de diversos estudos e pesquisas acadêmicas em momentos posteriores a 1930. A influência de Dewey no Brasil ocorreu principalmente por meio de Anísio Teixeira (1900-1971), dando início a processos de reformas na educação.
Essas reformas foram orientadas pelos princípios da Educação Nova e Pragmática, buscando conciliar a gratuidade com a obrigatoriedade. Conforme Saviani (2008) afirma, é importante destacar que, ao longo de 43 anos do regime republicano, as reformas econômicas e educacionais no Brasil estiveram dissociadas, resultando na falta de um sistema escolar adequado às necessidades do país, levando a uma situação de desarticulação e fragmentação, marcada por reformas parciais devido à falta de uma visão global do problema.
A metodologia por projetos no Brasil tem raízes tanto na tradição pedagógica brasileira quanto na influência de pensadores internacionais como Dewey, contribuindo para a busca de uma educação mais significativa e alinhada às necessidades da sociedade.O planejamento por projetos segue uma estrutura bem definida, composta por diferentes passos que orientam o desenvolvimento das atividades. De acordo com Hernández e Ventura (1998), o planejamento por projeto de trabalho envolve quatro etapas: 1ª: a intenção; 2ª: a preparação; 3ª: a execução; e 4ª: a avaliação.
A primeira fase é o início do projeto, quando se dá aintenção da proposta. Os objetivos e as necessidades de aprendizagem da turma aparecem, mas isso é definido pelo professor, tendo como base os interesses e as necessidades dos alunos para a definição do tema que comporá o Projeto no nível de aprendizagem que o aluno se encontra: o que ele já sabe e o que ele tem interesse em saber sobre o tema definido. Isso se dá por meio de hipóteses e problematizações que auxiliarão o professor junto com as crianças na definição das estratégias didáticas. Com relação à escolha do tema do projeto, Hernández e Ventura (1998, p. 68) orientam que
o critério de escolha de um tema não se baseia num “porque gostamos”, e sim sua relação com os trabalhos e temas precedentes, porque permite estabelecer novas formas de conexão com a informação e a elaboração de hipóteses de trabalho, que guiem a organização da ação. Na etapa inicial, uma função primordial do docente é mostrar ao grupo ou fazê-lo descobrir as possibilidades do Projeto proposto (o que se pode conhecer) para superar o sentido de querer conhecer o que já sabem.
Uma das estratégias utilizadas ainda nessa primeira fase de elaboração do projeto é o “mapa conceitual”, também chamado de “índice” por Hernández e Ventura (1998, p. 76-77).
No mapa conceitual é descrito o tema central do Projeto e o que as crianças já sabem ou gostariam de saber a respeito do tema. Isso servirá como instrumento para o professor definir os conteúdos que serão trabalhados no contexto do projeto. Para esse processo, o professor tem como referência a proposta curricular da escola (por série).
Em nossas observações, podemos acompanhar a construção de um mapa conceitual com as crianças e a professora. Além disso, nossos planos de ensino e nossas ações se deram em cima dessa construção, considerando que, para a elaboração do mapa conceitual, a Escola Municipal Juscelino Kubistchek, especificamente o professor de cada turma, conta com a participação ativa dos alunos na sua elaboração do princípio ao fim, bem como na sua execução.
A seguir está a imagem de um “mapa conceitual inicial” elaborado junto à turma do 3º ano do 1º ciclo com a participação da professora regente e da pedagoga da escola. O tema foi decidido coletivamente com as crianças, que o intitularam “O maravilhoso mundo dos vegetais”. É possível observar frases organizadas e categorizadas pela professora representando as falas das crianças sobre o que elas já conhecem ou gostariam de saber.
Figura 1: Registro de frases das crianças sobre vegetais
Fonte: Gillana Oliveira.
Participar junto às crianças e às professoras na elaboração desse mapa conceitual contribuiu para que conseguíssemos compreender na prática como ele é organizado e construído. É de grande importância todo esse processo, pois a participação constante das crianças contribui para seu aprendizado e sua autonomia como sujeitos, visto que o mapa é um exemplo de como elas podem participar ativamente do processo pedagógico ao expor seus conhecimentos, seus interesses e suas curiosidades.
A segunda fase do projeto é a preparação (Hernández; Ventura, 1998), momento de definir e organizar as atividades que serão desenvolvidas, fazendo a coleta e a seleção dos materiais de apoio. É importante dizer que a escola não segue o livro didático como único recurso; assim, somente algumas atividades o têm como referência, pois são incluídos outros materiais de apoio: revistas, internet, documentário, textos diversos etc.
Em nossa prática de ensino na primeira inserção do estágio, abordamos os seguintes aspectos do tema em subtemas:
- Existem plantas diferentes em lugares diferentes;
- Os tipos de plantas dependem do clima.
Esses subtemas remetem à imagem anterior. Questionamos as crianças sobre o que elas entendiam de “plantas nativas” e, após a explicação, iniciamos o estudo das plantas nativas de nossa região e das Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudoeste e Sul, fazendo a relação com o clima e o solo, para só então realizarmos algumas atividades nos grupos.
A terceira fase apresentada por Hernández e Ventura (1998) é a execução, momento de desenvolver o projeto, colocando em prática as estratégias e as problematizações. Nesse momento, o professor sempre faz indagações às crianças, confrontando seus pontos de vista com as respostas que vão surgindo e realizando análises para rever certos conceitos para sistematizar ideias. Tudo de forma que possibilite a participação ativa dos alunos. Assim, torna-se possível “encontrar uma turma que utilize os projetos para tentar favorecer uma construção dos conhecimentos de maneira significativa e favorecendo a autonomia na aprendizagem” (Hernández; Ventura, 1998, p. 72).
Observamos que a professora procura sempre interagir com os alunos, fazendo com que eles reflitam sobre o conteúdo e as atividades apresentadas. Colocando em prática, assim, o que foi proposto na primeira e na segunda fases do projeto. Dessa forma, as crianças vão se apropriando do conhecimento que está sendo estudado. A professora também realiza a retomada dos assuntos discutidos no decorrer da semana, tendo como auxílio o mapa conceitual já elaborado e que passa ser uma das principais referências para o cronograma de trabalho e dos conteúdos que deverão ser estudados. O mapa conceitual (instrumento pedagógico da professora e das crianças) serve para que todos se localizem no conteúdo a ser abordado. Além disso, auxilia o professor e as crianças para que nenhum conteúdo fique sem ser estudado. As crianças sempre estão a par do que irá acontecer, como também os pais, pois eles recebem o que será trabalhado em cada projeto para que possam fazer o acompanhamento do ensino, em casa, em conjunto com a escola.
Para finalizar, na quarta fase Hernández e Ventura (1998) destacam a avaliação, o momento em que o professor irá analisar se os objetivos foram alcançados, quais foram os conhecimentos atingidos e o que deve ser retomado e melhorado para o próximo projeto. Um dos instrumentos utilizado é o “mapa conceitual final”, realizado da mesma forma que o inicial. No entanto, ele é exposto ao conhecimento que a criança adquiriu no desenvolvimento do projeto e aquilo que ainda precisa ser explicado novamente.
A Escola Municipal Juscelino Kubistchek utiliza como instrumento didático, no final do projeto, o circuito do conhecimento. Por ele, o aluno irá apresentar e ensinar aos demais alunos de outras turmas da escola o que ele aprendeu durante o estudo de determinado projeto. Esse é o momento em que as crianças podem expressar seus conhecimentos adquiridos e quando o professor realiza a avaliação. Vale ressaltar que a avaliação é contínua e se dá em todo o desenvolvimento do projeto pela participação das crianças nas atividades em observação de suas evoluções e suas dificuldades.
Vale ressaltar que a escola adaptou a metodologia de projeto de trabalho de acordo com a sua necessidade e realidade. O circuito do conhecimento é um exemplo de estratégia que a escola oferece para compartilhar os aprendizados das crianças e os projetos trabalhados nas diferentes turmas.
Pedagogia de Projetos: desafios e viabilidades
Sob tais bases, podemos perceber que a escola não segue uma sequência lógica de disciplinas e conteúdos como estamos acostumados (lista de conteúdo sem diálogo entre si). Na maioria das escolas, tem-se como referência o livro didático e cada disciplina é trabalhada isoladamente, sem ligação com as outras. À criança cabe apenas aprender e receber o conteúdo conforme traz o livro didático e separá-lo em cadernos de Matemática, História, Língua Portuguesa, Geografia etc. Na escola em que desenvolvemos o estágio, o professor trabalha os conteúdos da proposta curricular da série definidos a partir de um tema, de maneira que a cada tema trabalhado contemple os conteúdos das diferentes disciplinas.
Com isso, a proposta de trabalhar por projetos tem uma base que se dá pela intenção de um ensino-aprendizagem progressivo, durante o ano, que exige a soma de conhecimentos da qual a própria criança se apropria.
a busca das fontes de informação favorece a autonomia dos alunos, é sobretudo o diálogo promovido pelo educador paratratar de estabelecer comparações, interferênciae relações, o que ajuda a dar sentido à forma de ensino e aprendizagem que se pretende com os projetos. Nesse diálogo, é essencial livrar-se de um duplo preconceito: por um lado, pode aprender tudo por si mesmo; por outro, quer ser receptivo frente à informação apresentada pelo professorado. A função dele como facilitadores se faz aqui evidente, de forma especial a partir de sua capacidade para transformar as referências informativas em materiais de aprendizagem com uma intenção crítica e reflexiva (Hernández; Ventura, 1998, p. 76).
Embora essas questões pareçam lógicas ou de simples compreensão, na realidade não o são, pois dependem do engajamento de todos os membros da escola para um funcionamento efetivo, assim como foi discutido no encontro coletivo, que podemos observar em nossas atividades de estágio como possibilidade de formação continuada desenvolvida na escola para uma unicidade no trabalho pedagógico por projetos.
As discussões do “encontro coletivo” dos professores são feitas a partir de uma estrutura de questões sugeridas por todos os professores, pela diretora e pela pedagoga. Os pontos em pauta são situações que afligem a todos e os aspectos pedagógicos são destacados por terem sido efetivados de maneira satisfatória em determinada turma.
A partir disso, apresentamos alguns dos pontos que foram levantados e discutidos num dos encontros coletivos com os professores da Escola Juscelino Kubitschek. Nesse encontro os professores refletiram e avaliaram principalmente como estava sendo o trabalho a partir da metodologia por projetos. Citamos algumas das questões e dos aspectos que surgiram durante o encontro com os professores:
- O que é necessário para que o projeto funcione?
- Os professores consideraram que o primeiropasso da metodologia éo aluno saber o que irá acontecer na aula e que ele construa o conhecimento juntamente com o professor.
- Preocupar-se com a avaliação, visto que é mais uma explicação formal para os pais, pois a escola sabe que ela é feita de forma contínua.
- Discutir se o circuito do conhecimento é uma forma avaliativa.
- Acompanhar o professor no circuito do conhecimento para registrar o que o aluno aprendeu no processo como possibilidade de o docente repensar a sua prática.
- Pensar sobre a participação ativa do aluno no desenvolvimento do projeto.
- O projeto tem que ser visto com seriedade.
- Modo de envolver determinados conteúdos no estudo do tema.
- Fazer uso de atividades de pesquisa que envolvam toda a comunidade escolar, livros, revistas etc.
- O cuidado metodológico para definir e delimitar os conteúdos.
- Organizar o “mapa conceitual” com coerência a partir do conteúdo proposto.
- Como organizar as estratégias metodológicas que insiram o uso do caderno. Os professores consideraram esse ponto como “um dos maiores problemas”, ou seja, o fato de não utilizarem tanto o caderno.
- Informações coletadas durante a construção e o desenvolvimento do “mapa conceitual” devem ser compartilhadas com as crianças e demais professores, pois o conhecimento é construído a todo instante.
- A importância da escrita para a aprendizagem das crianças, pois o registro pessoal representa a cultura letrada.
- Compreender que a aprendizagem da criança parte do espontâneo para o científico.
- Considerar que a escrita é um instrumento de pensamento e ajuda a criança a (re)formular o conceito em uma sequência lógica. A escrita auxilia a criança no seu desenvolvimento pessoal e de pensamento.
- O título para o projeto e o “mapa conceitual” devem inserir a fala espontânea da criança, mas ela precisa ser categorizada.
- A objetividade do projeto comum deve ser definida.
- A representação e o acompanhamento do “mapa conceitual” como estratégia didática servem para acompanhar o movimento do processo educativo.
Outros aspectos sobre a metodologia se referem a algumas dúvidas que tínhamos e que foram respondidas pela professora e pela pedagoga da escola, a respeito de como pode ser pensada a organização de um planejamento de ensino por projetos.
De acordo com a professora, a metodologia de organização do trabalho pedagógico segue um roteiro por projeto que se inicia a partir de um tema e de uma unidade temática, seguindo princípios didáticos, como: dar liberdade e autonomia às crianças nas tomadas de decisões e permitir que experimentem o conteúdo.
Durante o período em que estivemos na escola, foi possível perceber que no ambiente escolar as reflexões em relação à prática são constantes. Percebemos que, para alguns professores, a metodologia por projetos ainda é difícil, assim como foi para nós, pois conhecíamos a metodologia pelos estudos teóricos que fizemos em disciplinas no curso de Pedagogia, sem tê-la vivenciado na prática.
Então, ao ter de organizar nossos planejamentos, a todo momento nos questionávamos se aquele assunto de fato estava contemplando uma ou outra disciplina. Avaliávamos que não poderíamos pensar que só porque estávamos propondo um texto e uma atividade de interpretação poderíamosdenomina-la como uma atividade específica de Língua Portuguesa, considerando ainda que o projeto deve se relacionar com os conteúdos da proposta curricular da escola e os conteúdos devem ser definidos de acordo com o tema do projeto e o ano de escolaridade da turma.
Conclusão – algumas considerações
Ao vivenciarmos situações de prática de ensino com a metodologia por Projetos, acompanhando o desenvolvimento de cada passo metodológico junto às crianças, percebemos que há um trabalho capaz de romper com as fronteiras disciplinares, favorecendo o estabelecimento de elos entre as diferentes áreas de conhecimento numa situação contextualizada da aprendizagem.
Concluímos que um ensino não fragmentado é muito significativo para a aprendizagem das crianças, sendo possível realizar a interação das diferentes áreas do conhecimento, compartilhando ideias a fim de obter um ótimo resultado ao final do trabalho, de forma a possibilitar ao aluno sair do senso comum e apropriar-se do conhecimento científico.
A organização dos projetos de trabalho se baseia fundamentalmente numa concepção da globalização entendida como um processo muito mais interno do que externo, no qual as relações entre conteúdo e áreas de conhecimento têm lugar em função das necessidades que traz consigo o fato de resolver uma série de problemas que subjazem na aprendizagem. Essa seria a ideia fundamental dos projetos (Hernández; Ventura, 1998, p. 63).
Isso foi relevante, pois pudemos vivenciar na prática uma experiência de ensino que já defendíamos na teoria, um ensino mais dinâmico e menos autoritário, no qual o aluno, com uma ação mais ativa dentro da escola, pode construir uma aprendizagem mais completa e menos fragmentada.
Certamente essa experiência na escola Juscelino Kubistchek nos fez acreditar em uma escola diferente, sobretudo, acreditar que a teoria junto com a prática consegue traçar um caminho paralelo, pois nessa realidade acreditamos que o ensino e o conhecimento emergem.
Dessa maneira, a ação pedagógica por meio dessa metodologia colabora na constituição de uma instituição participativa, gerando um ensino de qualidade para a formação social do sujeito.
A partir da experiência do estágio, compreendemos a importância do ambiente escolar e de suas ferramentas para a construção do conhecimento. Assim, se não temos um quadro-negro que cumpra a sua função, devemos levar um retroprojetor, uma cartolina ou escrever uma frase por vez. Esses desafios levam o professor a sair do comodismo e acreditar que antes de tudo ele precisa acreditar no ensino. No entanto, defendemos que é de grande importância um ambiente adequado para a aprendizagem das crianças, o que inclui boas instalações físicas e materiais.
Outro ponto positivo que não pode ser relegado é o fato de termos trabalhado com uma turma pequena de alunos, pois quando falamos em onze alunos na sala a resposta é: “isso seria o ideal para todas as salas para que de fato conseguíssemos ter um ensino de qualidade”.
Além disso, nesse ano, o estágio promoveu maiores inserções de práticas de ensino que fizeram com que pudéssemos acompanhar o crescimento dos alunos, facilitando o trabalhopedagógico. Com isso, tentamos construir um planejamento a partir da realidade do desenvolvimento da criança, pois em outras situações tínhamos de ir à instituição para conhecer a turma e, meses depois, voltar em uma outra realidade, com um plano de aula adaptadopara uma nova realidade. Embora isso tenha acontecido, foi em proporções menores se em comparação a outros anos.
Dessa forma, o estágio é muito importante para a aquisição da prática profissional, pois durante esse período pudemos vivenciar todo o conhecimento que adquirimos durante a graduação. Além disso, aprendemos a resolver problemas e passamos a entender a grande importância que tem o educador na formação pessoal e educacional de seus alunos, destacando-se aqui a mediação do professor com o aluno, pois ela gerar equilíbrio e autonomia.
Referências
FAZENDA, Ivani. O que é interdisciplinaridade? São Paulo: Cortez, 2008.
HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projeto de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 1998.
SAVIANI, Dermeval. História das idéias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2008.
Publicado em 13 de agosto de 2024
Como citar este artigo (ABNT)
COSTA, Gillana Oliveira da; SALDANHA, Kelin Amaral. Experiência da prática de ensino a partir da metodologia por projeto de trabalho. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 29, 13 de agosto de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/29/experiencia-da-pratica-de-ensino-a-partir-da-metodologia-por-projeto-de-trabalho
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