Projeto Acolhimento: habilidades socioemocionais para 3º e 4º anos do Ensino Fundamental
Camila Fernanda Ferreira da Silva
Licenciada em Educação Especial (UFSCar), especialista em Educação: Ciência, Tecnologia e Sociedade (IFSP/São Carlos), bolsista Capes de mestrado (PPGE/UFSCar)
Fábio Ricardo Mizuno Lemos
Doutor em Educação (PPGE/UFSCar), professor do IFSP/São Carlos, líder do Núcleo de Investigações Progressistas em Educação (Ninped/IFSP)
A Educação Básica no Brasil e seu método conteudista já não são suficientes para formar cidadãos ativos e conscientes, considerando que, além de habilidades técnicas, a escola deve desenvolver competências emocionais em sala de aula. A pandemia da covid-19 trouxe à tona a urgência desse aspecto, evidenciando a interseção entre o desenvolvimento emocional e o contexto escolar, porque a situação de isolamento social e das importantes medidas de enfrentamento impostas pelos órgãos responsáveis fez com que as aulas presenciais nas escolas fossem, a princípio, suspensas. As aulas foram retomadas no formato virtual, utilizando diversas plataformas digitais para possibilitar encontros síncronos e assíncronos entre professores e alunos.
Dessa forma, as relações interpessoais, sejam de professor-estudante ou estudante-estudante, refletiram diretamente nessa questão, a do desenvolvimento das habilidades socioemocionais, que já estava em discussão e sendo posta como fundamental para a formação de pessoas no século XXI, antes mesmo da pandemia.
Segundo Pena, Alves e Primi (2020), as habilidades socioemocionais podem ser entendidas como um conjunto de características pessoais e particulares no âmbito das emoções e relações sociais, que possibilitam a mobilização, a articulação e a prática de conhecimentos, valores e atitudes necessários para se estabelecer um bom relacionamento com os outros e consigo mesmo, delimitando objetivos e enfrentando diferentes situações. Ainda de acordo com os autores, as habilidades sociais quando bem estabelecidas, influenciam positivamente na vida das pessoas e em seus resultados, nas diferentes fases do desenvolvimento, contribuindo inclusive para a promoção do sucesso escolar.
Versando sobre o embasamento legal que prevê o trabalho das habilidades socioemocionais nas escolas, destaca-se a Base Nacional Comum Curricular (BNCC); dentre as dez competências apresentadas no documento, as três últimas visam a promoção de habilidades sociais e emocionais. A ideia de trabalhar as habilidades socioemocionais não é recente; entretanto, a BNCC ressalta a necessidade de pensar e reformular ações educativas voltadas para essas competências (Canettieri; Paranahyba; Santos, 2021).
A BNCC (Brasil, 2017) propõe competências e habilidades desde a Educação Infantil, tendo em vista a garantia dos direitos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se, organizando os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Ao considerar os anos iniciais do Ensino Fundamental, o documento ressalta a importância do acolhimento e do respeito com os alunos e seu ritmo de desenvolvimento. Nos anos finais do Ensino Fundamental, a BNCC reitera que a atenção aos conteúdos e experiências adquiridos anteriormente é indispensável para que os alunos possam alcançar conhecimentos mais avançados.
De maneira geral, a BNCC reconhece que a educação se objetiva no desenvolvimento humano de maneira integral, respeitando as particularidades de cada indivíduo. As competências socioemocionais propostas pela BNCC cobrem cinco campos principais: autoconhecimento, autocontrole, automotivação, empatia e habilidades de relacionamento.
Para Ribeiro et al. (2019), essas competências, associadas à comunicação, à criatividade e à curiosidade, são de extrema pertinência na formação de cidadãos socialmente atuantes. A BNCC ressalta ainda que a educação
significa, ainda, assumir uma visão plural, singular e integral da criança, do adolescente, do jovem e do adulto – considerando-os como sujeitos de aprendizagem – e promover uma educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades (Brasil, 2017, p. 14).
Tendo a BNCC como orientadora do trabalho na escola, deve-se refletir sobre o papel da instituição escolar no que diz respeito às questões e habilidades socioemocionais.
Partindo da Teoria Histórico-Cultural, com enfoque na Pedagogia Histórico-Crítica, no contexto brasileiro cabe ressaltar Dermeval Saviani, idealizador dessa teoria, que afirma que a escola é para todos e possibilita a transmissão de conteúdos sólidos e o empoderamento de classes, especialmente das classes populares. De acordo com Gaparin e Petenucci (2014), essa vertente (Pedagogia Histórico-Crítica) é reconhecida por Saviani porque é nessa perspectiva que a educação interfere sobre a sociedade, contribuindo para sua transformação.
Para Saviani (2013), a Pedagogia Histórico-Crítica compreende a prática educativa como uma atividade que faz mediação no interior da prática social. É necessário compreender o modo como a sociedade está estruturada para que se possa desenvolver uma prática educativa.
Ainda segundo Saviani (2013), a educação escolar se situa na transformação da sociedade partindo do reconhecimento e consciência de suas estruturas. Para o autor, os professores, por exemplo, podem integrar-se na luta de classes da burguesia para impedir que contradições estruturais venham à tona, ou desempenhar o papel inverso, partindo dos elementos da sociedade e integrando-se na luta do proletariado para explicitar as condições da estrutura e contribuir para uma transformação estrutural de fato. É nessa perspectiva que as habilidades socioemocionais devem ser trabalhadas no contexto escolar, pensando numa transformação micro (sujeito) e macro (sociedade).
Ainda versando no contexto histórico, Libâneo (1994) reflete sobre a educação na perspectiva histórico-social e destaca que o processo educativo depende das relações e das condições sociais, políticas e econômicas que influenciam o processo de ensino-aprendizagem. Sendo assim, as práticas educativas requerem uma direção para a formação humana, e é necessário dar aos indivíduos as orientações para que saibam o tipo de cidadão que se deseja formar e ao tipo de sociedade que se aspira.
Pensando no contexto escolar atual, é sabido que, tradicionalmente, a escola sempre teve maior preocupação com as habilidades cognitivas, na ideia de desenvolver o estudante de forma integral. Entretanto, a escola começou a perceber e dar importância às questões afetivas, emocionais e sociais, e também às relações intra e interpessoais, compreendendo que essa é uma demanda educativa dos alunos.
Segundo Martins (2023), a educação para as emoções ou habilidades socioemocionais tem grande relevância na vida cotidiana, afinal exerce forte influência nos pensamentos, nas ações e nas decisões das pessoas. O autor ainda pontua que o estado emocional dos alunos interfere diretamente na aprendizagem, afinal, algumas situações de aprendizagem podem gerar sentimentos como medo, ansiedade, angústia, entre outros, que desestabilizam a concentração, a execução e o desempenho nas atividades.
O desenvolvimento das habilidades socioemocionais constitui-se, portanto, em um processo educativo permanente que possibilita o desenvolvimento do conhecimento sobre as próprias emoções e as dos outros, tendo como objetivo a capacitação dos educandos para que adotem comportamentos que englobem os princípios de prevenção e desenvolvimento, facilitando no processo de ensino-aprendizagem.
Na escola, os sentimentos, os afetos e as emoções sempre estiveram presentes e fazem parte da instituição e de seus membros. De acordo com Silva (2019), os sentimentos não ficam do lado de fora da escola quando se entra nela. Sendo assim, deve existir um interesse significativo da escola em tratar tudo aquilo que envolve seus estudantes, afinal, eles pertencem a ela enquanto instituição (Carmo, 2023). Para o autor, os processos de aprendizagem implicam uma relação emocional entre professor e aluno, sendo base para o interesse e o desinteresse em aprender.
Tratando-se dos professores, é necessário refletir sobre a formação docente e as contínuas mudanças na política educacional, que impedem a consolidação de um sistema eficiente de formação de professores, inclusive no que tange às habilidades socioemocionais. De acordo com Cardeira (2012), vários estudos apontam que os professores reconhecem a necessidade de trabalhar as questões socioemocionais na sala de aula; entretanto, não possuem formação nem recursos para a realização desse trabalho. Portanto, a escola, além de atentar-se às questões dos estudantes, deve também preparar seus docentes para esse trabalho, fazendo com que toda a instituição esteja preparada para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais.
Pensando no que foi refletido e fazendo uma relação com as questões vivenciadas durante o período de pandemia, em especial o isolamento social, torna-se ainda mais evidente a necessidade de acolher, refletir e trabalhar as questões socioemocionais dos estudantes. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi apresentar uma sequência didática de um projeto embasado no aprendizado de valores humanos e nas habilidades socioemocionais, para turmas de 3º e 4º anos do Ensino Fundamental
Nessa sequência didática, são apresentadas possibilidades de se trabalhar as habilidades socioemocionais dos estudantes, partindo do conhecimento prévio dos docentes, ou seja, sem precisar de formação específica, e visando a melhoria das relações intra e interpessoais dos estudantes, inclusive com o professor, que também auxiliará no processo de ensino-aprendizagem de modo geral.
Percurso metodológico
A sequência didática a seguir, intitulada Projeto Acolhimento, foi elaborada para turmas de 3º e 4º anos do Ensino Fundamental, abrangendo estudantes com idades entre sete e nove anos, na disciplina de Língua Portuguesa. No entanto, ela pode ser adaptada para outras turmas e disciplinas. Embora a coleção de livros utilizada na sequência didática seja inicialmente indicada para crianças entre três e seis anos, acredita-se que a combinação de livros, rodas de conversa e dinâmicas atende adequadamente à faixa etária do público-alvo.
Os conteúdos abordados durante a aplicação das atividades são baseados na coleção de livros intitulada “O que cabe no meu mundo”, de Kátia Trindade (2010a; 2010b; 2010c; 2010d; 2010e; 2010f; 2010g; 2010h; 2010i; 2010j). A coleção é composta por dez livros e aborda o tema dos valores humanos. Cada livro permite refletir sobre uma palavra norteadora que será trabalhada em uma aula e, a partir daí, desenvolver atividades e dinâmicas que correspondam à reflexão da palavra em destaque. Os títulos dos livros, ou seja, as palavras norteadoras das atividades, são: respeito, humildade, gentileza, solidariedade, perseverança, honestidade, amizade, responsabilidade, justiça e generosidade.
Figura 1: Livros da coleção “O que cabe no meu mundo”
Fonte: Arquivo da autora, 2023.
Considerando a faixa etária dos estudantes e a complexidade do tema, é necessário contextualizar a temática antes de iniciar as atividades. Essa contextualização pode levantar diversas dúvidas entre os estudantes e uma possível demonstração de desinteresse, considerando os problemas de socialização da sala de aula — problemas esses que motivam a necessidade da aplicação desta sequência didática.
As dúvidas e o possível desinteresse dos estudantes são desafios a serem enfrentados pelo professor. Portanto, é essencial mostrar a importância da temática e abordar o assunto de maneira gradual. A cada atividade, o docente deve retomar o motivo pelo qual está aplicando essa sequência didática, para que os estudantes compreendam a importância da atividade do dia e possam refletir sobre o que estão realizando, e não apenas cumprir comandos ou obedecer às regras.
Diante disso, a sequência didática foi dividida em três etapas distintas:
· 1ª Etapa: Contextualização do tema, da importância das atividades a serem realizadas, e apresentação do material que será utilizado.
· 2ª Etapa: Realização das atividades como forma de instrumentalização dos alunos sobre os temas trabalhados.
· 3ª Etapa: Avaliação do projeto entre professor e estudantes, como momento de catarse, para compreender se houve a passagem do senso comum para um conhecimento mais aprofundado do que foi trabalhado.
Todas as aulas dessa sequência didática foram planejadas em um mesmo modelo. Todas terão o mesmo formato (exceto as aulas de contextualização e de avaliação) e serão divididas em três momentos:
1. Leitura do livro com a palavra norteadora da aula.
2. Roda de conversa sobre a palavra e o entendimento quanto ao que foi lido.
3. Dinâmica.
Considerando que as atividades da sequência didática foram embasadas na coletânea composta pelos dez livros e que a sequência prevê uma etapa inicial (Contextualização e apresentação do material) e uma etapa final (Avaliação do projeto), espera-se que o projeto tenha a duração de aproximadamente doze semanas. Cada atividade deve ser realizada em uma aula de quarenta e cinco minutos por semana, entretanto, o período pode variar de acordo com as demandas da turma e do calendário escolar.
No Quadro 1 está a proposta da sequência didática.
Quadro 1: Síntese da proposta da sequência didática
Tema | Aula |
1ª Etapa | |
Contextualização do tema – habilidades socioemocionais – e da importância das atividades a serem realizadas. Apresentação do material que será utilizado – Coletânea de Livros: “O que cabe no meu mundo” (Trindade, 2010a; 2010b; 2010c; 2010d; 2010e; 2010f; 2010g; 2010h; 2010i; 2010j). | Aula 1 |
2ª Etapa | |
Livro do dia: Respeito (Trindade, 2010a); Roda de conversa; Dinâmica. | Aula 2 |
Livro do dia: Humildade (Trindade, 2010b); Roda de conversa; Dinâmica. | Aula 3 |
Livro do dia: Gentileza (Trindade, 2010c); Roda de conversa; Dinâmica. | Aula 4 |
Livro do dia: Solidariedade (Trindade, 2010d); Roda de conversa; Dinâmica. | Aula 5 |
Livro do dia: Perseverança (Trindade, 2010e); Roda de conversa; Dinâmica. | Aula 6 |
Livro do dia: Honestidade (Trindade, 2010f); Roda de conversa; Dinâmica. | Aula 7 |
Livro do dia: Amizade (Trindade, 2010g); Roda de conversa; Dinâmica. | Aula 8 |
Livro do dia: Responsabilidade (Trindade, 2010h); Roda de conversa; Dinâmica. | Aula 9 |
Livro do dia: Justiça (Trindade, 2010i); Roda de conversa; Dinâmica. | Aula 10 |
Livro do dia: Generosidade (Trindade, 2010j); Roda de conversa; Dinâmica. | Aula 11 |
3ª Etapa | |
Avaliação do projeto entre professor e estudantes. | Aula 12 |
Detalhamento da sequência didática
1ª Etapa
Aula 1 – Contextualização do tema e da importância das atividades a serem realizadas e apresentação do material que será utilizado
Momento 1 – Roda de conversa
Para uma contextualização eficaz sobre a temática, é recomendável iniciar questionando os alunos sobre o conceito de emoções e sentimentos, bem como levá-los a refletir sobre o ambiente em que vivem e as diversas estruturas sociais presentes. Além disso, é pertinente explorar suas interações com colegas, familiares e a escola, bem como estimulá-los a expressar seus próprios sentimentos. Expandir a discussão para temas como bullying, valores humanos e dinâmicas sociais amplia a compreensão dos alunos sobre a complexidade das relações interpessoais. É fundamental também abordar os comportamentos adequados e inadequados, tanto dentro quanto fora da escola. Essa discussão pode ser retomada no início de cada aula ao longo do projeto, pois os alunos podem apresentar diferentes questões e insights ao longo do processo. Devido à importância e sensibilidade do tema, é importante estar aberto a diferentes situações e questionamentos dos alunos durante a discussão.
Momento 2 – Apresentação do material que será utilizado
O docente deve apresentar aos alunos a coleção de livros que será utilizada nas semanas seguintes, destacando brevemente o tema de cada título e ressaltando a importância dos valores humanos que serão abordados. Além disso, neste momento, os estudantes podem receber informações sobre a realização do Projeto Acolhimento, incluindo sua duração e objetivos. É especialmente relevante refletir sobre a construção de uma relação positiva na sala de aula e os comportamentos que contribuirão para uma aprendizagem eficaz.
2ª Etapa
Aula 2 – Respeito
Momento 1 – Leitura do livro do dia: O que cabe no meu mundo: respeito (Trindade, 2010a)
Os alunos podem ser convidados a se sentarem em roda ou até mesmo a se deslocarem para outro espaço da escola, como o pátio ou o jardim. A leitura do livro pode ser conduzida pelo professor, especialmente se houver demanda por um leitor experiente, ou pode ser compartilhada entre os estudantes e o professor, envolvendo toda a turma.
No livro da Aula 2, as crianças são levadas a refletir sobre o respeito, indo além das leis e regras. O livro destaca a importância de compreender a individualidade de cada pessoa e reconhecer que cada indivíduo sente de maneira única. Portanto, enfatiza-se a relevância de respeitar a todos, independentemente das diferenças.
Momento 2 – Roda de conversa
Após a leitura do livro, o professor pode questionar os estudantes sobre o que entenderam da história e, principalmente, se estão familiarizados com a palavra "respeito" e o que pensam sobre seu significado. Todos os estudantes têm o direito de responder, e caso ninguém se manifeste, o professor pode chamar aleatoriamente alguns nomes da turma para participarem desse momento de interação.
Momento 3 – Dinâmica das diferenças
Cada estudante será convidado a identificar uma diferença em um colega de sua escolha, por exemplo, "Meu cabelo é loiro e o do João é preto". Nesse momento, o professor conversa rapidamente sobre a diferença mencionada e, em seguida, outro estudante é convidado a prosseguir com a dinâmica. Quando todos os estudantes tiverem participado, o professor pode conduzir uma breve roda de conversa sobre as diferenças encontradas e discutir por que as diferenças devem ser respeitadas. Essa discussão pode ser relacionada à leitura inicial, destacando que as diferenças fazem parte da vida e devem ser respeitadas e valorizadas em todos os ambientes, inclusive na sala de aula.
Aula 3 – Humildade
Momento 1 – Leitura do livro do dia: O que cabe no meu mundo: humildade (Trindade, 2010b)
Com as crianças já posicionadas, o professor realiza a leitura do livro ou propõe uma leitura compartilhada, mostrando as ilustrações. Nesse livro, os estudantes podem refletir sobre a palavra "humildade", que, segundo Trindade (2010b), está associada à sabedoria e permite que as crianças se libertem das ilusões que têm sobre si mesmas, abrindo espaço para aprenderem sempre mais e buscarem a verdade.
Momento 2 – Roda de conversa
Após a leitura, o professor pode iniciar a roda de conversa questionando se os estudantes compreenderam o sentido da palavra trabalhada no livro e se conseguem identificar momentos em que perceberam a humildade em outras pessoas e/ou se sentiram humildes. O professor também pode compartilhar outros exemplos e simular situações para que os estudantes identifiquem atos de humildade, como: "quando preciso de ajuda com algo e peço para um colega"; ou "quando magoei alguém e peço desculpas pelo que fiz"; e até mesmo "quando tenho dúvidas sobre um assunto e pergunto a alguém que sabe mais do que eu sobre o assunto".
Momento 3 – Dinâmica
O professor disponibilizará papel em branco e caneta para cada estudante, orientando que devem escrever no papel um "pedido de desculpas" a algum colega que tenham causado alguma situação ruim. Após a escrita, um a um dos alunos poderá entregar o seu pedido de desculpas ao colega escolhido, num gesto de humildade. Ao final da dinâmica, o professor pode conduzir novamente uma breve roda de conversa sobre a atividade realizada e mostrar que o pedido de desculpas foi uma oportunidade de serem humildes uns com os outros, retomando o que foi visto na leitura inicial e ensinando-lhes sobre esse gesto em relação a outras pessoas além dos colegas da turma.
Aula 4 – Gentileza
Momento 1 – Leitura do livro do dia: O que cabe no meu mundo: Gentileza (Trindade, 2010c)
O professor realiza a leitura em voz alta ou propõe uma leitura compartilhada e mostra as ilustrações do livro. Os estudantes podem estar sentados em roda dentro ou fora da sala de aula.
No livro O que cabe no meu mundo: Gentileza (Trindade, 2010c), os estudantes podem refletir sobre boas ações e ter contato com as palavras que já aprenderam em outros momentos, tais como "Por favor", "Obrigado" e "Desculpa".
Momento 2 – Roda de conversa
O professor pode iniciar a roda de conversa retomando as palavras vistas no livro e questionando os estudantes sobre quando se usa cada uma das palavras. Em seguida, pode propor aos alunos que desejarem que compartilhem o que entenderam do livro com seus colegas.
Momento 3 – Dinâmica
O professor distribuirá uma caixa fechada para cada estudante. Dentro dessas caixas, haverá frases amistosas e gentis. Os estudantes devem retirar uma frase da caixa, ler para si mesmos e entregá-la a um colega. O colega que receber pode então ler a frase para os demais colegas da turma e dar continuidade à atividade. Após todos os estudantes participarem da dinâmica, o professor pode questioná-los sobre como se sentiram ao receberem as frases e ao entregá-las aos colegas, destacando que o gesto de dizer ou entregar uma frase bonita a alguém é um ato de gentileza. Esse momento pode servir como encerramento da atividade, integrando elementos da leitura inicial com a dinâmica realizada.
Aula 5 – Solidariedade
Momento 1 – Leitura do livro do dia: O que cabe no meu mundo: Solidariedade (Trindade, 2010d)
O professor realizará a leitura deste livro ou proporá uma leitura compartilhada entre os estudantes e o professor, que aborda momentos em que se pode ser solidário. De acordo com Trindade (2010d), a solidariedade pode ser praticada desde pequenos momentos do dia até em situações muito difíceis de serem resolvidas.
Momento 2 – Roda de conversa
Na roda de conversa, além de discutir a compreensão do livro, o professor pode indagar aos estudantes se reconhecem algum ato solidário que tenham realizado em algum momento, assim como se percebem atos solidários praticados por outras pessoas. Os alunos podem compartilhar suas experiências, e o professor pode mediar esse diálogo.
Momento 3 – Dinâmica
Os estudantes devem escrever palavras de incentivo em pequenos pedaços de papel para enfrentar um problema, como "Você pode superar qualquer desafio", "Seja forte e persistente" ou "Mantenha a calma, as férias estão quase chegando". Em seguida, devem entregar esses papéis a diversas pessoas que não necessariamente pertençam à sala de aula, como a diretora da escola, as merendeiras ou professores de outras turmas.
O professor orientará quanto à escrita e também mediará o momento da entrega dos papéis. Após essa etapa, pode reunir novamente os alunos e explicar o quanto incentivar alguém ou auxiliar no enfrentamento de um problema é um ato solidário, relacionando o que foi discutido na leitura inicial com a experiência vivenciada durante a dinâmica.
Aula 6 – Perseverança
Momento 1 – Leitura do livro do dia: O que cabe no meu mundo: perseverança (Trindade, 2010e)
O professor pode convidar a turma a ir para outro espaço fora da sala de aula ou sentar em roda para que ele faça a leitura em voz alta e mostre as ilustrações. A leitura também poderá ser compartilhada entre professor e estudantes.
No livro O que cabe no meu mundo: perseverança (Trindade, 2010e), ensina-se o valor da paciência, da resistência e da autodisciplina. Além disso, Trindade (2010e) diz que a perseverança vai além de só tentar de novo até conseguir alcançar um objetivo; é preciso confrontar o medo, a incerteza e a insegurança.
Momento 2 – Roda de conversa
Por se tratar de uma palavra pouco utilizada pelos estudantes, o professor pode questioná-los sobre a compreensão de seu significado e questionar os alunos sobre situações em que é preciso perseverar, por exemplo: "quando alguém não obtém um bom resultado numa prova, mas não desiste de ter uma boa média, então, persevera nos estudos para a prova de recuperação"; ou "quando alguém não vai bem em determinado jogo nas aulas de Educação Física e não desiste de tentar outras vezes".
Momento 3 – Dinâmica
O professor disponibilizará um dado grande para os estudantes e orientará em relação às regras. Cada vez que um estudante jogar o dado e este cair num número par, o estudante compartilhará um momento em que se sentiu feliz por fazer algo; e cada vez que o dado cair em um número ímpar, o estudante compartilhará um momento em que não se sentiu muito bem com alguma situação e precisou ser perseverante para enfrentá-la. Ao encerrar a atividade, o professor pode retomar o conteúdo do livro lido, relacionando-o com as situações compartilhadas pelos alunos, destacando a importância de manter a perseverança em momentos difíceis e não desistir até alcançar o sucesso.
Aula 7 – Honestidade
Momento 1 – Leitura do livro do dia: O que cabe no meu mundo: honestidade (Trindade, 2010f)
Com os estudantes posicionados, o professor fará a leitura do livro enquanto mostra as ilustrações, ou a leitura será compartilhada entre os estudantes e o professor.
No livro O que cabe no meu mundo: honestidade (Trindade, 2010f), os estudantes são levados a refletir sobre o cumprimento de leis e regras e sobre a importância de estar disposto a cumpri-las. Além disso, Trindade (2010f) destaca em seu livro que a honestidade também envolve a autoavaliação e a manifestação de desagrado diante de atitudes de outras pessoas.
Momento 2 – Roda de conversa
O professor conduzirá a roda de conversa por meio de questionamentos sobre o conteúdo do livro, além de indagar os estudantes sobre a palavra em destaque. Por exemplo: “Vocês acham que expressar seus sentimentos sobre uma situação é um ato de honestidade?”; ou “Devo ser honesto apenas com as pessoas mais velhas ou com todos?”; ou “Ser honesto também significa admitir meus erros?”.
Momento 3 – Dinâmica
Com os estudantes em pé formando uma grande roda, o professor dará os comandos da atividade. Um a um, os alunos compartilharão com os colegas um momento em que se sentiram desconfortáveis com uma situação. Por exemplo: “Eu me sinto desconfortável quando falam sobre a minha letra”; “Não gosto quando meus colegas falam enquanto o professor está explicando”; “Não gostei de ter brigado com minha amiga por causa de um lápis que peguei emprestado”. O professor mediará a dinâmica e, ao final, fará um encerramento destacando a importância da honestidade demonstrada pelos estudantes ao compartilharem seus sentimentos, tanto consigo mesmos quanto com os colegas. Pode-se revisitar a leitura inicial para complementar o encerramento da atividade.
Aula 8 – Amizade
Momento 1 – Leitura do livro do dia: O que cabe no meu mundo: amizade (Trindade, 2010g)
O professor fará a leitura do livro em voz alta e mostrará as ilustrações, ou realizará uma leitura compartilhada entre ele e os alunos. Os estudantes deverão sentar-se em duplas.
No livro O que cabe no meu mundo: amizade (Trindade, 2010g), destaca-se a importância de compreender o verdadeiro sentido da amizade, respeitando a liberdade do outro e encontrando segurança no apoio dos amigos verdadeiros.
Momento 2 – Roda de conversa
Enquanto as crianças estão sentadas em duplas, o professor pode questioná-las sobre os motivos que as levaram a escolher aquele colega como parceiro e o quanto se gostam mutuamente.
Momento 3 – Dinâmica
Cada dupla receberá uma cartolina em branco e lápis ou giz de cera. O professor explicará a dinâmica, na qual cada dupla deverá criar um desenho compartilhado que represente a amizade para eles. Ao término, os desenhos poderão ser expostos na parede da sala de aula, e cada dupla terá a oportunidade de compartilhar o significado por trás de seu desenho. O professor pode conduzir esse momento relembrando partes do livro, destacando a importância de confiar no colega para desenharem juntos e ressaltando o valor dos bons amigos.
Aula 9 – Responsabilidade
Momento 1 – Leitura do livro do dia: O que cabe no meu mundo: responsabilidade (Trindade, 2010h)
Como nas outras aulas, o professor pode propor que os alunos se sentem em roda ou em outro espaço além da sala de aula e realizar a leitura, que pode ser compartilhada entre o professor e os estudantes.
No livro que aborda a responsabilidade, Trindade (2010h) afirma que ela está relacionada à colheita dos frutos das escolhas no futuro. A autora ainda destaca que ensinar sobre a responsabilidade é contribuir para a formação de pessoas mais capazes de cuidar das coisas, das pessoas e do mundo.
Momento 2 – Roda de conversa
A discussão será iniciada pelo professor, que abordará o que os alunos leram e entenderam do livro. Em seguida, o professor poderá questionar os estudantes sobre suas opiniões a respeito da responsabilidade.
Momento 3 – Dinâmica
Após o término da aula do projeto, o professor proporá aos alunos que troquem de materiais naquele dia, e cada um deverá agir com responsabilidade ao utilizar o material do colega. Ao final do dia letivo, o professor pode questionar os estudantes sobre como se sentiram ao usar o material do colega e se agiram com responsabilidade em relação ao que não lhes pertencia. Nessa conversa, o professor poderá integrar elementos da leitura inicial, especialmente destacando o cuidado com as posses alheias, com as pessoas e com o meio ambiente.
Aula 10 – Justiça
Momento 1 – Leitura do livro do dia: O que cabe no meu mundo: justiça (Trindade, 2010i)
O professor fará a leitura do livro em voz alta, mostrando as ilustrações para a turma. A leitura também poderá ser compartilhada entre os estudantes e o professor.
O livro O que cabe no meu mundo: justiça (Trindade, 2010i) mostra que todos os seres humanos, independentemente de suas diferenças, têm igual valor e importância. A leitura permite refletir sobre a ideia de igualdade, em que todos possuem os mesmos direitos e não deve haver privilégios para algumas pessoas em detrimento de outras.
Momento 2 – Roda de conversa
Após a leitura, o professor pode questionar os estudantes se já conheciam a palavra “justiça” e o que sabem sobre ela. Em seguida, pode explicar um pouco mais sobre seu significado usando um dicionário, além de responder aos possíveis questionamentos dos alunos. O professor também pode exemplificar a palavra mostrando atos de injustiça, como praticar bullying com algum colega, querer ser sempre o primeiro da fila, ou colar numa prova.
Momento 3 – Dinâmica
Com os estudantes divididos em dois grupos, o professor proporá um debate sobre uma situação de bullying. Os estudantes deverão argumentar sobre a situação e o que aprenderam sobre justiça. Durante e após o debate, o professor deve trazer elementos da leitura e dos exemplos que apresentou sobre injustiça. É importante que, ao final da dinâmica, os estudantes possam refletir sobre o que é justo e o que não é, lembrando o que leram, especialmente que todas as pessoas têm igual valor e os mesmos direitos, independentemente de suas diferenças.
Aula 11 – Generosidade
Momento 1 – Leitura do livro do dia: O que cabe no meu mundo: generosidade (Trindade, 2010j)
Com os estudantes sentados em roda, dentro ou fora da sala, o professor fará a leitura do livro e mostrará as ilustrações ou proporá que a leitura seja realizada de maneira compartilhada.
No livro que fala sobre a generosidade, Trindade (2010j) explora atos generosos como dar algo a alguém sem esperar nada em troca, compadecer-se com a dor do outro e dedicar-se a ajudar alguém.
Momento 2 – Roda de conversa
Após a leitura e a explicação sobre a palavra “generosidade”, o professor pode questionar os alunos sobre atos generosos e dar exemplos, como “quando temos duas balas e damos uma a um colega”, “quando ofereço ajuda ao meu colega que está com a matéria atrasada”, ou “quando um colega se machuca e o ajudo conforme sua necessidade, auxiliando-o a ir até o banheiro ou pedindo um curativo a um adulto”.
Momento 3 – Dinâmica
Por se tratar da última leitura do projeto, nesse dia, em parceria com a escola, o professor poderá providenciar um bolo para os estudantes. Durante a dinâmica, cada aluno dará um pedaço de bolo a um colega da turma, dizendo-lhe palavras amistosas. Para encerrar a dinâmica, após todos terem recebido um pedaço de bolo, o professor pode retomar a roda de conversa e relacionar o ato de entregar um pedaço de bolo com o que foi lido no livro sobre dar algo a alguém, mostrando que, mesmo que todos tenham ganhado o bolo, foram generosos ao darem um pedaço e uma palavra amistosa a um colega.
3ª Etapa
Aula 12 – Avaliação do projeto
O professor proporá uma roda de conversa aos estudantes para avaliarem juntos as atividades realizadas ao longo das dez semanas anteriores. Todos poderão expor o que mais gostaram e o que menos gostaram, além de sugerirem outras intervenções e atividades que podem ser realizadas em outros momentos. O professor pode solicitar que os estudantes façam uma breve produção de texto sobre o que foi conversado e que relatem como se sentiram após as atividades. Nesse momento, o professor também poderá avaliar se o conhecimento dos estudantes evoluiu do senso comum para umaapropriação mais aprofundada, verificando se realmente absorveram os conteúdos trabalhados.
Considerações
A sequência didática foi detalhada considerando uma sala de aula regular, com alunos típicos matriculados. Na presença de um ou mais estudantes com deficiência, as atividades devem ser adaptadas para que todos possam participar. É importante destacar também que a sequência didática proposta não é inflexível e pode e deve ser adaptada à realidade e às necessidades de cada turma.
Conforme observado na sequência didática, os valores humanos podem servir de base para trabalhar as habilidades socioemocionais na escola. A leitura compartilhada, a roda de conversa e as dinâmicas proporcionam aos estudantes momentos de interação diferenciados, além de promoverem a aprendizagem de novos vocabulários, atitudes, comportamentos adequados e boas maneiras.
Retomando a Pedagogia Histórico-Crítica, cabe destacar que a existência humana, segundo Saviani (2015), deve ser produzida pelos próprios homens, considerando que não é uma dádiva natural. Para o autor, o homem não nasce homem, mas se forma homem. É necessário que o ser humano aprenda a produzir sua própria existência num processo educativo.
É pelas boas experiências que os estudantes podem demonstrar mais interesse no processo de ensino-aprendizagem, além de tornar a escola um ambiente mais atrativo e acolhedor. Outro ponto importante é que os estudantes constroem suas vivências com base nos grupos de convivência próximos. Ou seja, ao vivenciar situações com seus pares, o estudante se torna capaz de aplicar o que aprendeu para além da sala de aula. A produção da existência acarreta o desenvolvimento de formas e conteúdos validados pela experiência (Saviani, 2015).
A intenção desta proposta de sequência didática corrobora o que foi dito por Libâneo, Oliveira e Toschi (2012), ao afirmarem que os estudantes precisam estar preparados para serem críticos quanto às transformações que ocorrem em escala mundial. A escola deve contribuir para uma postura ético-valorativa, ao ressaltar valores humanos fundamentais, além do reconhecimento da diversidade e das diferenças.
Para Welchen e Oliveira (2013), a educação exige uma adaptação crítica ao meio, abstraindo não apenas os valores tradicionais e idealizados como eficientes, mas também incorporando uma visão mais ampla e precursora de novas escolhas que não são necessariamente impostas como padrão. Assim como outros conhecimentos trabalhados na escola, os valores e as habilidades socioemocionais devem ser construídos pelos estudantes, baseados num processo de reflexão e argumentação. Dessa forma, espera-se que a sequência didática proposta possibilite a reflexão e a (re)formulação de estratégias para o trabalho voltado às habilidades socioemocionais, ressaltando sua importância e necessidade nos dias atuais no contexto escolar. Afinal, a escola e o docente que se abrem para novas experiências possibilitam um novo caminho para o processo de ensino-aprendizagem.
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Publicado em 27 de agosto de 2024
Como citar este artigo (ABNT)
SILVA, Camila Fernanda Ferreira da; LEMOS, Fábio Ricardo Mizuno. Projeto Acolhimento: habilidades socioemocionais para 3º e 4º anos do Ensino Fundamental. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 31, 27 de agosto de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/31/projeto-acolhimento-habilidades-socioemocionais-para-3-e-4-anos-do-ensino-fundamental
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