Alfabetização e letramento no âmbito escolar
Susany Pedro da Costa
Professora da Escola Municipal José Evaristo Costa, mestranda em Ciência e Matemática (Unemat – Câmpus Barra dos Bugres/MT), especialista em Educação de Jovens e Adultos (Unissera)
Edivânia Pedro da Costa
Professora da Escola Municipal Rosilei Pereira dos Santos, especialista em Atendimento Educacional Especializado, licenciada em Pedagogia (Unissera)
Edinaldo Aguiar de Oliveira
Professor da Escola Estadual Nossa Senhora de Fátima, licenciado em Química (IFMT) e em Física (Faveni), especialista em Metodologia de Ensino de Matemática e Física (Faveni)
Esta pesquisa sobre alfabetização e letramento no contexto escolar visa aprofundar a compreensão desses conceitos fundamentais para o desenvolvimento da leitura e da escrita entre os alunos. Para que a teoria e a prática pedagógica se concretizem de maneira eficaz, é necessário promover o envolvimento dos alunos tanto no ambiente escolar quanto na sociedade, contribuindo para sua formação integral e para o processo de aprendizagem. O direito à leitura não só desenvolve as capacidades intelectuais e espirituais dos estudantes, como também permite que eles aprendam e evoluam.
Desde os primeiros anos escolares, é fundamental incentivar a leitura com estímulos apropriados para que os alunos considerem a busca por respostas nos livros como prática natural. Isso facilita o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, promovendo uma compreensão mais profunda dos benefícios que a leitura e a escrita oferecem para sua formação. Da parte dos docentes, a análise dos comportamentos e atitudes das crianças durante os momentos de leitura e escrita é fundamental para avaliar a eficácia dos processos.
O papel dos educadores é realizar atividades que possibilitem o desenvolvimento da leitura e da escrita, observando as práticas de comunicação oral e escrita dos alunos. É necessário abranger as possibilidades de interação e apoiar a construção do conhecimento infantil. A avaliação do processo de alfabetização deve considerar os comportamentos e atitudes dos alunos durante as atividades realizadas, visando formar leitores e escritores competentes. As práticas didáticas, como a leitura de textos informativos, obras literárias, a reescrita de histórias conhecidas e a produção de textos autorais, são essenciais para que esse desenvolvimento ocorra. Portanto, as práticas pedagógicas devem ser cuidadosamente planejadas para promover a leitura e a escrita de forma eficaz.
A pesquisa foi conduzida com base em abordagem bibliográfica e qualitativa, utilizando as obras de Rangel (1990), José e Coelho (1999), Antunes (2003), Solé (1998), os PCN (Brasil, 1998), Zabala (1998) e Fontana (1996).
O processo de alfabetização e letramento
A leitura é um processo que envolve a observação, a crítica e a extração de conceitos tanto do mundo real quanto do imaginário e está diretamente ligada ao desenvolvimento cognitivo, social, crítico, linguístico e social dos indivíduos. Segundo Rangel (1990, p. 13), algumas estratégias são fundamentais para a formação de leitores críticos:
- estimular a prática da leitura em sala de aula;
- desenvolver habilidades de atenção e observação;
- incentivar a organização e expressão de ideias;
- ampliar e fixar o vocabulário;
- promover a criatividade; e
- diversificar as atividades de ensino e aprendizagem.
No contexto da alfabetização e do letramento, a leitura é um dos pilares fundamentais que permitem o desenvolvimento dos conhecimentos e habilidades necessários para o século XXI. Leitura e escrita são ferramentas complementares que promovem o desenvolvimento integral dos alunos. E os currículos escolares, elaborados conforme as diretrizes municipais, estaduais, BNCC e DRC, devem incluir práticas que garantam esse desenvolvimento.
José e Coelho (1999) destacam que o sucesso da aprendizagem da leitura na infância depende de uma série de fatores, incluindo o amadurecimento fisiológico, emocional, neurológico, intelectual e social da criança:
Através de experiências científicas, constatou-se que o sucesso da criança na aprendizagem da leitura [...] depende do seu amadurecimento fisiológico, emocional, neurológico, intelectual e social. A criança aprende naturalmente a falar a linguagem do grupo em que vive (linguagem regional ou dialeto). À escola cabe desenvolver a linguagem oral que o aluno traz, através da atividade pedagógica, que deve garantir a aprendizagem da leitura (José; Coelho, 1999, p. 75).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) foram concebidos para orientar os educadores na normatização de aspectos essenciais de cada disciplina. Para alcançar resultados satisfatórios, é necessário promover a leitura de acordo com os princípios estabelecidos.
Problemas relacionados à escrita e à oralidade são comuns durante o Ensino Fundamental. Saviani (2005) esclarece que o processo educativo não é composto por um único elemento, mas sim por uma combinação de fatores que devem ser considerados. Sob essa perspectiva, as instituições de ensino devem desenvolver metodologias diversificadas e contemporâneas para apoiar a aprendizagem da leitura. Algumas práticas recomendadas para auxiliar o docente em suas estratégias de leitura incluem as propostas de Antunes (2003), Solé (1998) e os próprios PCN (Brasil, 1998). É fundamental abandonar práticas contemporâneas inadequadas para garantir que a leitura seja conduzida de forma mais alinhada com sua proposta original. Como exemplo de exclusão necessária, os PCN (Brasil, 1998, p. 42) destacam que
a principal delas é a de que ler é simplesmente decodificar, converter letras em sons, sendo a compreensão consequência natural dessa ação. Por conta desta concepção equivocada, a escola vem produzindo uma grande quantidade de leitores capazes de decodificar qualquer texto, mas com enormes dificuldades para compreender o que tentam ler.
Os PCN abrangem tanto a rede pública quanto a privada de ensino, considerando o nível escolar dos alunos. Eles visam garantir que todos os educandos tenham acesso aos conhecimentos essenciais. Os PCN orientam professores, coordenadores e diretores na adaptação às especificidades locais e funcionam como referência importante para a revisão de objetivos, conteúdos e métodos didáticos.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, as pesquisas na área da aprendizagem da escrita nos últimos vinte anos têm provocado uma revolução na forma de compreender como esse conhecimento é construído. Hoje já se sabe que aprender a escrever envolve dois processos paralelos: compreender a natureza do sistema da escrita da língua – os aspectos notacionais – e o funcionamento da linguagem que se usa para escrever – os aspectos discursivos. É possível saber produzir textos sem saber grafá-los e é possível grafar sem saber produzir; o domínio da linguagem escrita se adquire muito mais pela leitura do que pela própria escrita; que não se aprende a ortografia antes de se compreender o sistema alfabético de escrita, e a escrita não é o espelho da fala (Brasil, 1998, p. 66).
O conhecimento adquirido por meio da alfabetização tem implicações profundas. Não devemos nos limitar à codificação de sons e letras, mas oferecer aos alunos diversas oportunidades para aprender a escrever em condições semelhantes às que encontrarão fora da escola. O processo de aprendizagem deve incluir a interpretação dos textos e a análise crítica.
Para aprender a escrever, é necessário ter acesso à diversidade de textos escritos, testemunhar a utilização que se faz da escrita em diferentes circunstâncias, defrontar-se com as reais questões que a escrita coloca a quem se propõe produzi-la, arriscar-se a fazer como consegue e receber ajuda de quem já sabe escrever" (Brasil, 1998, p. 66-67).
As práticas pedagógicas, que são os meios pelos quais os professores desenvolvem seu trabalho educacional no ambiente escolar, não são abstratas e há conhecimento acumulado sobre sua efetividade, reconhecido por meio de observações, estudos e reflexões. Zabala (1998) afirma que "por trás de qualquer proposta metodológica se esconde uma concepção do valor que se atribui ao ensino, portanto, certas ideias formalizadas e explícitas em relação aos processos de ensinar e aprender". O autor destaca que
as práticas pedagógicas, meios pelos quais os professores desenvolvem seu trabalho educacional, são baseadas em conhecimento acumulado sobre sua efetividade, obtido por meio de observações, estudos e reflexões; [...] por trás de qualquer proposta metodológica se esconde uma concepção do valor que se atribui ao ensino, portanto, certas ideias formalizadas e explícitas em relação aos processos de ensinar e aprender.
Ainda de acordo com Zabala (1998, p. 29),
nós, os professores, podemos desenvolver a atividade profissional sem nos colocar o sentido profundo das experiências que propomos e podemos nos deixar levar pela inércia ou pela tradição. Ou podemos tentar compreender a influência que essas experiências têm e intervir para que sejam as mais benéficas possíveis para o desenvolvimento e o amadurecimento dos meninos e meninas.
A prática pedagógica deve contribuir para que os alunos construam conhecimento teórico que ilumine sua prática cotidiana e possibilite a reflexão sobre o papel do professor. Este deve estar sempre atento às inovações, aproximando os alunos das novidades, descobertas e informações relevantes, orientando-os para a efetivação da aprendizagem.
Fontana (1996) argumenta que as crianças escutam o que os professores dizem e, com base nisso, constroem imagens que legitimam o saber. Segundo Fontana (1996, p. 72),
mais do que observar as crianças e garantir o espaço para seus dizeres, é preciso assumir também seu papel e seu espaço (o de um adulto com um objetivo explícito), nessa relação intencional que é a relação de ensino, tendo em conta a condição de ambos – adultos e crianças – como parceiros intelectuais, desiguais em termos de desenvolvimento psicológico e dos lugares sociais ocupados nessa relação, mas por isso mesmo parceiros na relação contraditória de conhecimento.
Considerações finais
A leitura e a escrita devem estar em harmonia com o universo infantil e, mais adiante, com a vida adulta dos indivíduos. O acesso à educação e ao mundo da linguagem é um direito fundamental para todos. A alfabetização não se limita apenas à fase da educação infantil, mas envolve também o ambiente familiar e se estende além das instituições escolares.
É importante reconhecer que a alfabetização não se encerra na Educação Infantil. Essa fase representa apenas o início do processo de despertar o interesse pela leitura e pela escrita. É essencial que os esforços para incentivar a leitura e a escrita sejam contínuos, estimulando as crianças a acreditar em sua capacidade de aprender e a se qualificar ao longo de sua vida. Esse processo deve promover o desenvolvimento contínuo das habilidades de leitura e escrita, preparando os alunos para uma vida de aprendizado e crescimento constante.
Referências
ANTUNES, I. Aula de Português: encontro & interação. São Paulo: Parábola, 2003.
BRASIL. MEC/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais (5ª a 8ª séries). Brasília: MEC, 1998.
FONTANA, R. A. C. Mediação pedagógica na sala de aula. Campinas: Autores Associados, 1996.
JOSÉ, E. da A.; COELHO, M. T. Leitura, escrita e aritmética. São Paulo: Ática Didático, 1999.
RANGEL, M. Dinâmica de leitura para sala de aula. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 1990.
SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica. 9ª ed. Campinas: Autores Associados, 2005.
SOLÉ, I. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998.
ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Publicado em 24 de setembro de 2024
Como citar este artigo (ABNT)
COSTA, Susany Pedro da; COSTA, Edivânia Pedro da; OLIVEIRA, Edinaldo Aguiar de. Alfabetização e letramento no âmbito escolar. Revista Educação Pública, v. 24, nº 35, 24 de setembro de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/35/alfabetizacao-e-letramento-no-ambito-escolar
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.