O lugar onde estamos vivendo X O lugar que queremos
Shirlei Alexandra Fetter
Doutora em Educação (Unilasalle), professora da Educação Básica
Thais Nunes Vargas
Pedagoga, professora da Educação Básica
Considerações iniciais
Este estudo faz parte de uma sequência de atividades realizadas para o Programa de Saneamento na Escola - Consórcio Pró-Sinos, em parceria com a Secretaria de Educação e o Meio Ambiente de Parobé/RS. O projeto está partindo do princípio de que a Educação Ambiental é um processo longo e contínuo, que devemos mudar hábitos e atitudes de maneira espontânea. Assim, nos esforçamos para que a escola realize um trabalho de conscientização e transpasse a toda comunidade escolar.
A temática está voltada ao meio ambiente e buscou o questionamento sobre como podemos mudar a realidade da nossa localidade por meio da preservação do meio ambiente em sala de aula e na nossa casa. Assim, tem por objetivo proporcionar o conhecimento e a conscientização para a preservação do meio ambiente com atividades lúdicas usando elementos da natureza. Especificamos as ações desenvolvidas no projeto:
- identificar situações que causam danos ao ecossistema;
- cuidar e preservar o meio em que vivemos como um todo e em todos os aspectos;
- caracterizar a problemática causada pelo acumulo do lixo, a fim de encontrar solução pela reciclagem;
- conscientizar a comunidade escolar sobre a importância da coleta seletiva do lixo;
- refletir sobre o tempo de decomposição e a possibilidade de reaproveitamento dos materiais descartados;
- destacar a importância e as formas corretas de descarte dos diversos materiais que utilizamos diariamente em nossas casas e escolas;
- relacionar as cinco cores básicas aos lixos correspondentes;
- incentivar a prática de atitudes conscientes quanto à limpeza das salas de aula da escola;
- sensibilizar os estudantes a auxiliar no cuidado com o descarte de lixo da escola;
- produzir brinquedos e outros objetos com materiais dispostos na beira do Rio dos Sinos.
Figura 1: Visita às margens do Rio dos Sinos
Fonte: Professora Thais Nunes Vargas.
O trabalho teve como metodologia um estudo/pesquisa de natureza qualitativa; a abordagem qualitativa é utilizada no contexto educacional porque revela aspectos do registro sistemático dos dados. Tornou-se notório que abordaria questões relacionadas à Educação Ambiental na perspectiva de desenvolver a cultura de sustentabilidade, que trata de discussões de preservação ao meio ambiente, pois o ecossistema revela-se cada vez mais prejudicado pelas ações inconsequentes dos seres humanos.
Como resultados, até o momento fizemos uso de matérias que contemplam diversificadas atividades em variados níveis de aprendizado e as descrevemos por etapas. Consideramos que é fundamental contribuir para a formação de uma geração consciente em relação ao seu papel como cidadãos voltados para a valorização ambiental, além de pensar numa escola que promova esse aprendizado, a fim de ensinar a importância de atitudes de preservação e sustentabilidade para que as gerações futuras não sofram com a destruição ambiental. Portanto, esse processo não se acaba na apresentação, já que os cuidados com o meio ambiente são importantes para a existência humana.
Figura 2: Produção de brinquedos
Fonte: Professora Thais Nunes Vargas.
Fundamentação teórica
Este trabalho busca sensibilizar os alunos quanto à importância da reciclagem e da preservação do meio ambiente. O projeto teve como objetivo a conscientização na separação e coleta do lixo para dar destino correto a esses resíduos, a preservação e a restauração do meio ambiente em que os alunos estão inseridos.
É necessário tratar o lixo adequadamente, para que não prejudique o meio ambiente. Então, o tema do trabalho, “O lugar onde estamos vivendo X O lugar que queremos”, busca evidenciar a reciclagem e a plantação de árvores como uma das maneiras mais corretas de tratar o meio ambiente. Assim sendo, é possível que os alunos percebam que por essas atividades ocorra uma transformação em suas ações, impedindo assim a poluição e o desmatamento.
Figura 3: Plantio de flores em material reciclado
Fonte: Professora Thais Nunes Vargas.
Segundo Valle (1995), “o ato de reciclar significa refazer o ciclo, permitir trazer de volta à origem, sob forma de substâncias que não se degradam facilmente e que podem ser utilizadas novamente, mantendo suas características básicas”.
O processo de reciclagem é uma forma de reaproveitamento das matérias-primas que são descartadas. Nesse sentido, reciclar significa diminuir a quantidade de resíduos provenientes dos produtos consumidos pela sociedade.
O lixo vem sendo um dos maiores causadores da degradação do nosso meio ambiente, já que a população não faz o uso dele corretamente; nesse sentido, o desenvolvimento sustentável surge como solução viável, pois vem sendo fundamentada para a preservação do meio em que vivemos.
Além da quantidade de lixo, é importante salientar outro problema: a degradação ambiental; ao longo dos anos, as pessoas perceberam a importância de plantar árvores para o meio ambiente.
Figura 4: Distribuição de flores para professores e funcionários
Fonte: Professora Thais Nunes Vargas.
As árvores fornecem sombra, melhoram a qualidade do ar e são essenciais para a vida selvagem. Além disso, elas ajudam a absorver a água da chuva, prevenindo enchentes e deslizamentos de terra. E não é só a plantação de árvores que ajuda o ecossistema; também devemos evitar o desmatamento excessivo do nosso meio ambiente.
Parte-se do pressuposto exposto por Oliveira (2008), de que de nada adiantará o desenvolvimento de estratégias sustentáveis se a valorização da vida humana não for resgatada, o que passa pelo desenvolvimento de valores redefinidos pelo desenvolvimento sustentável.
Figura 5: Coleta de resíduos
Fonte: Professora Thais Nunes Vargas.
Com este projeto, buscamos trabalhar o meio ambiente e a sustentabilidade de maneira integral, levando os alunos a desenvolver atividades práticas e educativas seguindo o ponto de vista de Travassos (2006, p. 18):
>>O papel da escola não se reduz simplesmente a incentivar a coleta seletiva do lixo, em seu território ou em locais públicos para que seja reciclado posteriormente. Os valores consumistas da população tornam a sociedade uma produtora cada vez maior de lixo. A necessidade que existe é, na verdade, de mudanças de valores.<<
O lúdico abrange o brinquedo, a brincadeira e o jogo. Esses elementos fazem parte do mundo infantil, pois são atividades exercidas pelas crianças desde o início da humanidade. Na atualidade, não é possível pensar o desenvolvimento da criança sem momentos de diversão; por isso, Santos (1997) afirma que as atividades lúdicas são as experiências significativas e a aprendizagem na infância.
A importância do lúdico como recurso educacional na aprendizagem, os jogos e as brincadeiras traduzem a capacidade do homem de criar e reinventar. Estudos arqueológicos dão conta de que essas atividades acompanham a humanidade desde a Pré-História, apresentando-se como manifestações culturais ligadas à transmissão oral, folclore e cultura popular; a construção lúdica é parte essencial na formação do ser humano. O lúdico é um adjetivo masculino com origem no latim ludos, que remete a jogos e divertimentos.
Atividades lúdicas são um veículo para incentivar a interação em sala de aula e promover um melhor processo de aprendizagem. Com relação aos benefícios do lúdico na educação, há consenso de que a ludicidade supera qualquer forma de ensino tradicional, porque trabalha a formação do caráter da criança, sua imaginação, cria e fortalece laços afetivos, promove o desenvolvimento de concentração e pensamento lógico.
Figura 6: Reutilização do material coletado
Fonte: Professora Thais Nunes Vargas.
Metodologia
A pesquisa qualitativa é relevante, já que permite visualizar os movimentos didático-pedagógicos, os quais viabilizam a compreensão da interação professor-aluno, como o professor ensina e como o aluno aprende, além de relações e interações entre os pares, podendo ser observado como se dá o processo de aprendizagem em grupo. Ao discorrer sobre as abordagens quantitativas e qualitativas, Gatti (1974) afirma que os métodos de análise de dados se caracterizam como dois tipos distintos de pesquisas, que podem ser muito úteis. Esse processo de aprendizagem possibilita colocar os alunos como protagonistas, ensiná-los de forma natural e fazendo-os ter iniciativa e os instruindo a ter discernimento frente às adversidades.
Na realização do projeto, a proposta é promover momentos de participação ativa das crianças, orientando e intervindo quando necessário para que possam ampliar suas capacidades de apropriação dos conceitos por meio de comunicação de ideias, da pesquisa, da observação, da reflexão e da construção do conhecimento.
A proposta inicial do estudo de "O lugar onde estamos vivendo X O lugar que queremos" surgiu em decorrência da sequência de atividades realizadas para o Programa de Saneamento na Escola - Consórcio Pró-Sinos, em parceria com a Secretaria de Educação e do Meio Ambiente.
O projeto científico está sendo desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Pe. Afonso Kist, localizada na cidade de Parobé/RS, com a colaboração da turma 150, no turno da manhã, que tem como objetivo realizar pesquisa.
O estudo se iniciou no mês de junho e tem previsão de encerramento das atividades no mês de outubro, com a apresentação do projeto na mostra de trabalhos da escola no mês de agosto, na VI Feicipa.
Figura 7: Reconstituição da mata ciliar
Fonte: Professora Thais Nunes Vargas.
A coleta de dados tem se realizado em pesquisas na internet, em sala de aula e na comunidade. Os procedimentos realizados para coletar os dados são:
- Aprender o que é poluição e quais são os tipos que existem. Debater a poluição e o que podemos fazer para melhorar.
- Quais são os 5R e qual a importância deles para o meio ambiente. Assistir a um filme da Mônica sobre meio ambiente.
- Visita ao Rio dos Sinos e fazer um desenho sobre a poluição encontrada e como os alunos queriam que ele estivesse.
- Fabricar brinquedos reciclados e vasos para a plantação de flores.
- Plantar flores nos vasos e entregar para as professoras como presente.
- Assistir ao filme O Lorax: em busca da trúfula perdida.
- Ida ao Rio dos Sinos após a enchente que a comunidade sofreu.
- Debater quanto à poluição que ficou após a enchente e meios de se prevenir delas.
- Plantar árvores no entorno do Rio dos Sinos.
- Limpar o entorno do Rio dos Sinos.
- Reutilizar as garrafas retiradas do Rio dos Sinos e confeccionar enfeites e vasos de flores.
Nosso projeto continua até o mês de outubro, com visita à Corsan (Companhia Rio-Grandense de Saneamento) e atividades sobre a bacia hidrográfica do Rio dos Sinos.
Resultados
No decorrer das atividades, foi possível evidenciar a importância de trabalhar reciclagem e o meio ambiente, pois verificou-se a diferença nas ações, atitudes e respeito ao meio ambiente e a sociedade de forma consciente.
Figura 8: O mundo que temos X O mundo que queremos
Fonte: Professora Thais Nunes Vargas.
Os resultados obtidos até agora foram considerados positivos, pela constante participação dos alunos nas atividades desenvolvidas em sala de aula e na saída de campo. Mesmo que a reciclagem apresente dificuldades, vimos que não é impossível colocá-la em prática, forjando uma educação sustentável e a conscientização de que podemos melhorar nossa qualidade de vida por meio de pequenas ações. Mudar não é fácil; exige esforço, envolvimento, participação, alto nível de conscientização (não apenas individual, mas também grupal), comprometimento e engajamento.
Considerações finais
A escola é o espaço que busca a formação de cidadãos críticos e responsáveis. Nesse sentido, nosso trabalho de Educação Ambiental pôde contribuir para o saber socializado, pois permitiu o conhecimento dos problemas ambientais na localidade em que estão inseridos.
Os alunos chegaram à conclusão de que a reciclagem e a reutilização de objetos são dos processos mais viáveis para a proteção do nosso ambiente, assim como a plantação de árvores para prevenir enchentes e para a redução da poluição.
A confecção de objetos com materiais recicláveis contribuiu para o entendimento prático do processo de reaproveitamento. Até o momento, este trabalho teve seus propósitos alcançados, visto que permitiu o diálogo, a compreensão e possíveis mudanças de atitude em relação ao destino de resíduos que são diariamente produzidos.
Devemos ter um meio ambiente saudável, sem poluição de qualquer natureza. Matas, ar, rios, lagos, mares e animais silvestres necessários ao ecossistema e ao equilíbrio ecológico são bens preservados para uma vida pura.
Nesse sentido, propõe-se prosseguir com as propostas já em desenvolvimento, incluindo a possibilidade da adesão de novos objetos de estudos e a revisão dos que já estão em vigor.
Referências
BERNA, V. Como fazer Educação Ambiental. São Paulo: Paulus, 2001.
BRANCO, S. M. O meio ambiente em debate. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2004.
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GATTI, B. A.; GOLDBERG, M. A. A. Influência dos "kits": os cientistas no desenvolvimento do comportamento científico em adolescentes. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, nº 10, p. 13-23, ago. 1974.
GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus, 2005.
OLIVEIRA, E. M. Sustentabilidade humana e o quadrante vital – o desafio do século XXI. In: II SEMINÁRIO DE SUSTENTABILIDADE. Curitiba: Unifae, 2008.
REIGOTA, M. Meio ambiente e representações sociais. São Paulo: Cortez, 2004.
SANTOS, S. M. P. (org.). O lúdico na formação do educador. Petrópolis: Vozes, 1997.
SCARLATO, F. C. Do nicho ao lixo: ambiente, sociedade e educação. São Paulo: Atual, 1992. (Série Meio Ambiente.)
TALAMONI, J. L. B; SAMPAIO, A. C. Educação Ambiental: da prática pedagógica à cidadania. São Paulo: Escrituras, 2003.
TRAVASSOS, E. G. A prática da Educação Ambiental nas escolas. Porto Alegre: Mediação, 2006.
VALLE, C. E. Qualidade ambiental: como ser competitivo protegendo o meio ambiente. São Paulo: Pioneira, 1995.
Publicado em 24 de setembro de 2024
Como citar este artigo (ABNT)
FETTER, Shirlei Alexandra; VARGAS, Thais Nunes. O lugar onde estamos vivendo X O lugar que queremos. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 35, 24 de setembro de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/35/o-lugar-onde-estamos-vivendo-x-o-lugar-que-queremos
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