Elaboração e avaliação de um manual didático para alunos com dificuldades de leitura nos anos iniciais do Ensino Fundamental

Lorena Carnelossi Araujo

Mestra em Ensino (PPGEN-UENP), professora na rede municipal de Cornélio Procópio/PR

Marília Bazan Blanco

Doutora, professora no PPGEN-UENP-Cornélio Procópio/PR

O presente artigo está teoricamente embasado na dissertação de mestrado de Araujo (2022), que aborda as dificuldades de leitura de alunos da primeira etapa do Ensino Fundamental. Em um levantamento realizado pela autora (2022), foi possível constatar que pesquisas no campo da Pedagogia, da Psicologia e da Fonoaudiologia apontam problemas durante a alfabetização. No entanto, um número menor de estudos aborda as medidas interventivas e as propostas de ensino para alunos com dificuldades.

As dificuldades de aprendizagem decorrem de disfunções neurobiológicas, de causas ambientais relacionadas aos métodos de ensino e de metodologias utilizadas pelos professores em sala de aula (Ciasca, 2003). Sendo assim, alunos que apresentam dificuldades e transtornos de leitura (dislexia) necessitam de atividades específicas para desenvolver habilidades de leitura. Partindo desse pressuposto foi feito um levantamento na literatura e constatou-se que o método fônico e o método multissensorial são os mais apropriados para auxiliar alunos que passaram pela etapa da alfabetização e apresentam dificuldades de leitura, como ressaltam Oliveira (2008), Seabra e Capovilla (2010), Zorzi (2009), Seabra e Dias (2011).

A pesquisa em evidência relata a elaboração e a avaliação de uma produção técnica-tecnológica, decorrente do mestrado profissional em ensino da Universidade Estadual do Norte do Paraná: o manual didático Manual de atividades para alunos com dificuldades e transtorno de leitura.

Elaboração e estrutura organizacional do Manual de atividades para alunos com dificuldades e transtorno de leitura

As atividades que compõem o Manual foram elaboradas e/ou adaptadas pelas pesquisadoras de acordo com métodos de ensino de base fônica e multissensorial, visando favorecer o desenvolvimento das habilidades de leitura.

Como ressaltam Seabra e Dias (2011), o método multissensorial é recomendado para crianças mais velhas e para alunos que apresentam problemas na leitura e na escrita, com histórico de fracasso na aprendizagem. A orientação multissensorial segue alguns princípios, como: foco nos sons das letras e forma fonológica das palavras (audição), utilização de cores, tamanhos e formas diferentes das letras (visão), indicações com setas para melhor direcionar o traçado das letras (cinestesia), utilização de texturas variadas para fortalecer a memória tátil (tato) e ênfase na articulação das letras de forma sistemática e intencional (articulação) (Seabra; Dias, 2011).

As atividades do Manual são práticas, lúdicas e dinâmicas, com baixo custo para confecção dos materiais de apoio sugeridos. Possui grande acervo de modelos de atividades, as quais foram pensadas para serem aplicadas em sala de aula, individualmente ou em grupo, seguindo um nível de complexidade correspondente à faixa etária de estudantes dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Todas as atividades do Manual foram apresentadas em curso online para professores (Araujo, 2022).

O Manual segue uma sequência embasada na proposta de Lemle (2009), começando pelas vogais, letras com correspondências biunívocas (p, b, f, v, d, t) e as demais letras do alfabeto. Utiliza, em seu aporte teórico, referenciais como Silva, Fukuda e Capellini (2011), Soares (2017), Jardini (2011), Oliveira (2008; 2010), Sampaio (2013) e Zorzi (2003; 2017).

A respeito da estrutura, ela se organizada seguinte forma: primeiramente são apresentadas 25 atividades de consciência fonológica que abarcam as atividades de rimas, aliterações, consciência de palavras e frases, consciência silábica e consciência dos fonemas, seguidas de práticas que focam na relação grafema/fonema. Em seguida, têm-se as atividades com as vogais e com as consoantes, depois, a sequência das letras de relação biunívoca, caracterizada por Lemle (2009), como as letras do alfabeto que possuem fidelidade fonética fixa e, por fim, as relações de poligamia e concorrência que relacionam as semelhanças sonoras das letras de acordo com o posicionamento das palavras, ainda sob a concepção de Lemle (2009).

De acordo com Araujo e Blanco (2022), as 55 atividades descritas no Manual foram nomeadas e ilustradas para facilitar a busca dos professores nos momentos de intervenção. Para obter melhor resultado, a orientação é seguir a sequência de ensino proposta que foi organizada de acordo com os níveis de complexidade e compreensão das relações existentes entre o som e o nome da letra. Sendo assim, aconselha-se que o primeiro trabalho em sala de aula aconteça por meio das atividades de consciência fonológica. Em seguida, as atividades com vogais e consoantes e, depois, as atividades a partir da proposta de Lemle (2009). Por fim, as relações de poligamia e concorrência (Lemle, 2009). No entanto, os professores podem selecionar atividades unitárias, de acordo com a dificuldade de seu aluno.

Quadro 1: Estrutura do manual didático

Atividades de consciência fonológica

Atividades para trabalhar rimas

Ordem numérica

Nome da atividade

1

Vai virar o quê?

2

Você escolhe!

3

Dois em dois

4

Rima com quê?

5

Casa de quem?

 Atividades para trabalhar aliteração

6

Lado a lado

7

Descubra o som igual

Consciência de frases e palavras

8

É palavra ou não é?

9

Bate bola

10

Pinte a frase

11

Você lembra?

12

Descubra o movimento

 Atividades para trabalhar a consciência silábica

13

Encaixe as peças

14

Palavra cantada

15

Pula sílabas

16

Pedacinhos

17

Qual é a palavra?

18

De olho no dado

Atividades para trabalhar a consciência dos fonemas

19

O som das letras

20

Palavra oculta

21

Diga o som

22

Olho esperto

23

Escada das letras

24

Encontre a letra

25

Qual é a letra?

 Atividades com vogais e consoantes

26

Reino das letras

27

De furinho em furinho faz o caminho

28

Azul ou vermelho, olhe no espelho!

29

Cada letra esconde uma palavrinha.

 Atividades a partir da proposta de Lemle (2009)

30

O som da letra P

31

De olho na letra

32

Dado do P

33

O que começa com /b/?

34

Os cinco vizinhos

35

Fique ligado

36

Bingo do P e B

37

Modelando

38

Dona formiga

39

Som diferente

40

F ou V

41

O toque

42

Some as letras

43

Qual é som das letras?

44

A família do D

45

Use T ou D

46

O detetive

47

Encontre as letras

48

Ditado inteligente

Relações de poligamia e concorrência (Lemle, 2009)

49

O som da letra S

50

O som da letra Z

51

Os sons /s/ e /z/

52

Cores e letras

53

Duas pontinhas

54

Cuidado com a confusão

55

Organize a história e procure as letras

Todos os materiais confeccionados foram fotografados e anexados ao Manual Didático. Dessa forma, o professor conseguirá seguir o passo a passo de cada atividade, adaptando-a de acordo com as necessidades do aluno. As atividades sugeridas também foram anexadas, na íntegra, no final do Manual que se encontra disponível para acesso gratuito. O Manual contempla atividades direcionadas a alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental, com desdobramentos para outros níveis escolares, conforme as dificuldades de leitura apresentadas (Araujo; Blanco, 2022).

Implementação da produção técnica-tecnológica: manual de atividades apresentado em curso de formação de professores

A implementação da produção técnica-tecnológica aconteceu por meio de um curso de formação de professores realizado no período de julho a agosto de 2021. Ele contou com a participação de 13 docentes atuantes em três municípios: Cornélio Procópio, Sertaneja e São José dos Pinhais, no Estado do Paraná. Em decorrência da covid-19 e as medidas de distanciamento social, o curso foi ofertado de forma híbrida, organizado em dezencontros alternados via Google Meet e Google Classroom.

O critério estabelecido para participar do curso foi a atuação em salas dos anos iniciais do Ensino Fundamental, pelo menos nos últimos dois anos. A implementação teve o objetivo de apresentar as propostas de atividades do Manual, propiciando uma discussão em torno do método fônico e multissensorial.

A carga horária de 30 horas totalizou dez encontros subdivididos da seguinte forma: dois encontros semanais síncronos, via Google Meet, e outro encontro assíncrono, com atividades realizadas na plataforma Google Classroom, uma proposta combinada de ensino híbrido.

Os seis encontros via Google Meet com duração semanal de duas horas, computaram um total de 12 horas de carga horária. Os quatro encontros na plataforma Google Classroom complementam mais 18 horas destinadas à avaliação e ao preenchimento do formulário para sugestões e adaptações de atividades, assim como a leitura de um artigo e a aplicação de uma atividade do Manual Didático com uma criança que estava cursando os Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

O intuito do curso foi apresentar as 55 atividades do Manual aos docentes participantes, de modo que as propostas interventivas elaboradas pelas pesquisadoras pudessem ser analisadas por eles durante o curso de capacitação. O Quadro 2 apresenta a organização do curso.

Quadro 2: Estrutura organizacional do curso

Encontro 1

12/07/2021

Síncrono – via Google Meet

Avaliação inicial; exposição teórica sobre linguagem; leitura e habilidades necessárias.

Encontro 2

15/07/2021

Síncrono – via Google Meet

Exposição teórica sobre consciência fonológica; alfabetização; transtornos e dificuldades de leitura.

Encontro 3

19/07/2021

Assíncrono –

Google Classroom

Análise das atividades do Manual Didático (atividades de 1 a 25); preenchimento do formulário (Apêndice D) para sugestões e adaptações das atividades, disponibilizado no Classroom.

Encontro 4

29/07/2021

Síncrono – via Google Meet

Exposição teórica sobre propostas de intervenção para dificuldades de leitura; vogais e consoantes; letras com correspondências biunívocas, Lemle (2009); apresentação das atividades do Manual Didático analisadas pelos participantes no terceiro encontro.

Encontro 5

02/08/2021

Assíncrono –

Google Classroom

Análise das atividades do Manual Didático (atividades de 26 a 40); preenchimento do formulário (Apêndice D) para sugestões e adaptações das atividades, disponibilizado no Classroom; leitura de um artigo disponibilizado no Classroom.

Encontro 6

05/08/2021

Síncrono – via Google Meet

Letras com correspondências biunívocas; relações poligamia e concorrência (Lemle, 2009); apresentação das atividades do Manual Didático analisadas pelos participantes no quinto encontro.

Encontro 7

09/08/2021

Assíncrono –

Google Classroom

Análise das atividades do Manual Didático (atividades de 41 a 55); preenchimento do formulário (Apêndice D) para sugestões e adaptações das atividades, disponibilizado no Classroom.

Encontro 8

12/08/2021

Síncrono – via Google Meet

Apresentação das atividades do Manual Didático analisadas pelos participantes no sétimo encontro; discussão geral das atividades da PTT.

Encontro 9

16/08/2021

Assíncrono –

Google Classroom

Escolha de uma atividade do Manual Didático para aplicar com uma criança dos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Encontro 10

19/08/2021

Síncrono – via Google Meet

Apresentação da atividade implementada pelos participantes do curso; discussão acerca das atividades apresentadas; discussão geral do curso e PTT; avaliação final.

Os dez encontros demonstram, de forma mais clara, todo o conteúdo abordado durante o curso.

Análise dos dados

Desde a aceitação na pesquisa à assinatura dos termos de compromisso, os participantes foram informados sobre a divulgação dos resultados. Dessa forma estavam cientes de seus registros escritos, nos questionários inicial e final do curso de capacitação, assim como a respeito da transcrição da fala dos encontros gravados via Google Meet. Por esse motivo, destacamos que os excertos foram transcritos na íntegra, sem correções ortográficas. As suas identidades foram mantidas em sigilo e, portanto, os 13 participantes foram codificados por uma letra e um número, da seguinte forma: P (participantes) com numeração do 1 a 13: P1, P2, P3 ... P13, seguindo a ordem de respostas do questionário inicial, sendo P1 para o primeiro participante, que respondeu ao questionário inicial na plataforma Google Classroom, e P13 para o último participante.

Em consonância com os requisitos estabelecidos para participar do curso de formação era importante caracterizar também o perfil dos 13 professores envolvidos. Dentre todos, apenas um participante era do sexo masculino, enquanto os demais participantes eram do sexo feminino.

A partir do formulário de inscrição no curso, os dados sobre o nível de escolaridade, a área de formação (graduação), o tempo de atuação profissional, o tipo de instituição que atua: pública, privada ou clínicas, o tipo de atuação: classe comum, AEE, atendimento psicopedagógico/clínico ou outros, foram evidenciados:

  1. Nível de escolaridade dos participantes do curso: 69,2% dos professores (nove professores) possuem especialização completa, 15,4% deles (dois professores) já são mestres, 7,7% (um professor) está cursando mestrado e 7,7% (um professor) tem ensino superior completo.
  2. Área de formação: 92,2% dos participantes são pedagogos (12 participantes) e 7,7% possuem licenciatura em Ciências - habilitação em Química (um participante). Do total de pedagogos, nove possuem Pedagogia como primeira e única graduação, enquanto um cursista é formado em Administração de Empresas e 15,4% deles possuem licenciatura plena em Letras (dois cursistas), como primeira graduação.
  3. Tempo de atuação no Ensino Fundamental, como professor(a): 38,5% dos participantes do curso de formação (cinco participantes) atuam como professores no Ensino Fundamental há 15/20 anos. Outros 23,1% (três professores) assinalaram cinco a dez anos de experiência profissional. A porcentagem dos professores entre 20 a 25 anos de docência e também entre 20 e 25 anos de trabalho foram as mesmas, referentes a 15,4% do total do gráfico (dois professores cada). Apenas um professor assinalou o campo do questionário com dois a cinco anos de experiência profissional, representando 7,7% do total.
  4. Tipos de instituições em que os professores trabalham: escolas públicas, escolas privadas ou clínicas/outros. Constatou-se que 86,6% dos participantes do curso atuam em escolas públicas (11 professores), enquanto 15,4% atuam em clínicas psicopedagógicas ou outros (dois professores); nenhum cursista atua em instituição privada.
  5. Atuação profissional dos participantes: 61,5% dos professores (oito participantes) atuam em classe comum, 23,1% (trêsparticipantes) são professores de Atendimento Educacional Especializado, 7,7% (um professor) atua em clínica com atendimento psicopedagógico e 7,7% (um professor) marcou a opção outros, explicando que trabalha em um espaço pedagógico unificado com uma clínica psicopedagógica.

Os dados analisados na presente pesquisa foram oriundos de: 1) Questionário inicial anexado ao Google Classroom e respondido durante o primeiro encontro do curso, via Google Meet, 2) Gravações dos encontros síncronos, 3) Atividades no Google Classroom e 4) Questionário final.

O questionário final foi de suma importância para compor os resultados do presente estudo. Por meio deste, os participantes validaram as propostas de atividades do manual elaborado e avaliaram todas as etapas do curso intitulado Propostas de Intervenção para Alunos com Dificuldades de Leitura nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

A pesquisa se desenvolveu sob abordagem qualitativa e os dados foram analisados pela Análise Textual Discursiva (ATD), de acordo com o pensamento de Moraes e Galiazzi (2016), cuja intenção é compreender e reconstruir os conhecimentos a respeito de assuntos investigados. Os autores destacam ainda que

a opção por uma Análise Textual Discursiva requer que o pesquisador se defina em relação a conjuntos de pressupostos que fundamentarão seu trabalho. Dependendo dos pressupostos assumidos, a análise pode ter diferentes encaminhamentos e resultados. Esses pressupostos podem ser de natureza ontológica, epistemológica e axiológica, correspondendo a modos de entender a realidade, a produção de conhecimentos e a valores (p. 157).

Na Análise Textual Discursiva os materiais analisados formam um conjunto de informações que permitem a organização do todo em partes e vice-versa. Esses materiais são constituídos por significados. Cabe ao pesquisador, atribuir os devidos significados durante as análises, mantendo um rigor metodológico para obter qualidade na pesquisa (Moraes; Galiazzi, 2016).

Para analisarmos as partes do trabalho construído, é necessário traçar critérios e estabelecer objetivos a serem alcançados. Para isso, estabelecemos categorias de análise por meio das quais os participantes do curso demonstraram seus conhecimentos acerca da temática e puderam validar as propostas apresentadas. Para compor as unidades de análise, utilizamos as respostas dos cursistas desde o questionário inicial, durante o curso, até o questionário final, acerca dos aspectos positivos e negativos das atividades, observando-se a aplicabilidadedo curso em sua totalidade, como contribuição para a formação dos professores envolvidos.

 A categoria de análise intitulada Produção Técnica-Tecnológica apresentada na presente pesquisa abarcou duas subcategorias: Manual Didático e Curso. Na subcategoria Manual Didático, as unidades definidas foram: Aspectos Positivos, Aspectos Negativos e Aplicabilidade, na qual os professores teriam de validar as propostas de atividade contidas no Manual Didático. As atividades foram avaliadas da seguinte forma: primeiramente, pela leitura e pela interpretação do passo a passo das atividades que estavam disponibilizadas na sala do Classroom; num segundo momento, os encontros via Google Meet, durante as discussões.

Na subcategoria Curso, as unidades estabelecidas foram: Aspectos Positivos, Aspectos Negativos e Contribuições para a Prática Docente. Nessa unidade, investigou-se também a aprendizagem dos conteúdos teóricos do curso, analisando se os participantes sabem as habilidades necessárias para a aprendizagem da leitura e quais estratégias elas pretendem utilizar com os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem.

Em relação à subcategoria Manual Didático, no Quadro 3 são apresentados os Aspectos Positivos do Manual, assim como a Aplicabilidade das atividades.

Quadro 3: Atividades do Manual Didático: concepção dos professores

Manual Didático

Aspectos positivos

Aplicabilidade das atividades

- Atividades simples e criativas, de baixo custo, possíveis de serem confeccionadas com materiais encontrados nas escolas;

- Os encaminhamentos metodológicos são bem detalhados e fáceis de serem seguidos e adaptados;

- O material explora a consciência fonológica e enfatiza o método fônico que parte do ensino do nome das letras e o som das letras (fonemas), consequentemente trabalha as junções fonêmicas e por fim formação de palavras, leitura e interpretação das mesmas.

- Apresenta brincadeiras, jogos e materiais que podem ser reaproveitados várias vezes.

- As atividades são dinâmicas e envolventes com várias opções metodológicas e práticas a serem seguidas e adaptadas de acordo com os níveis de aprendizagem e dificuldades dos alunos.

- Objetivos adequados e estratégias variadas que enfatizam a aprendizagem da leitura de forma lúdica e contextualizada.

- Um manual que serve de suporte até mesmo para professores iniciantes, pois segue uma sequência descritiva detalhada com o passo a passo para aplicação das atividades propostas.

De acordo com o relato dos professores a respeito da aplicabilidade das atividades contidas no Manual Didático, eles destacaram que são simples, fáceis de confeccionar e adaptáveis a níveis distintos de aprendizagens e anos escolares, de acordo com as necessidades dos alunos. 

Segundo a concepção dos professores, as propostas interventivas contidas no Manual Didático poderão ser utilizadas futuramente nas escolas, pois as atividades modelo suprem e atendem às necessidades de leitura dos alunos, seguindo uma sequência lógica baseada na concepção de Lemle (2009), com foco na relação grafema-fonema.

Partindo do delineamento do Manual Didático elaborado, aconselha-se que os professores retomem conceitos da consciência fonológica e posteriormente acrescentem, com o treino da leitura e de forma gradativa, retomadas e avanços, conforme orientações do manual, até que o aluno consiga compreender os mecanismos da leitura, obtendo fluência leitora e compreensão daquilo que leu, em situações e contextos distintos.

De acordo com Leite (2013), as orientações metodológicas apresentadas nos manuais didáticos precisam estar correlacionadas com a realidade da sala de aula, com atividades expressivas e detalhadas, pois o que define e classifica um manual é a sua estruturação. O conjunto de conteúdos a serem ensinados precisa estar descrito de forma muito clara. O autor ressalta que os manuais didáticos surgiram no século XVIII, com o propósito de organizar o ensino. Eles foram elaborados com o intuito de serem instrumentos norteadores para o professor.

No que tange ao Manual em si, analisado a partir da segunda subcategoria, a aplicabilidade foi destacada. Os cursistas elogiaram toda a estrutura, o delineamento das atividades, as músicas, os jogos, as brincadeiras propostas, os materiais confeccionados e os modelos de atividades que podem ser facilmente adaptadas. Quando os professores foram questionados a respeito dos aspectos negativos do curso, 100% dos participantes responderam que não houve.

Sobre as contribuições do curso, 100% dos professores afirmaram que ele contribuiu para auxiliá-los em suas práticas pedagógicas. O P9 e o P12 citaram as letras com correspondência biunívoca e as estratégias de ensino de Lemle (2009), anteriormente desconhecidas por eles. Importante destacar que o Manual Didático foi elaborado a partir da concepção da autora mencionada.

Ainda sobre as contribuições, P5, P6 e P7 relataram que foi um aprendizado significativo, com técnicas sonoras diferentes dos outros métodos, tanto em relação à sequência das letras e dos sons a serem ensinados, quanto em relação à compreensão de como a criança aprende, porque troca os sons durante a leitura e, por vezes, essa incompreensão sonora reflete na escrita.

O curso contribuiu sim e continuará contribuindo através das atividades e do embasamento teórico apresentado (P5).

Muito, me ajudando a entender mais sobre o método que eu trabalho em sala de aula, em fazendo repensar e estudar mais sobre o assunto (P6).

Sim. Serviu de alerta para eu aprimorar a minha prática (P7).

Os excertos descritos indicam que os conteúdos teóricos e práticos expostos no curso contribuíram para aperfeiçoar a prática pedagógica dos participantes.

Nessa unidade, enfatizou-se a importância de aplicar atividades bem elaboradas em consonância com métodos apropriados para alunos com dificuldades, relacionando suas práticas diárias às propostas do Manual, apresentadas durante o curso. Um fator relevante identificado a partir dos excertos dos professores foi a intensidade de respostas, positivando o uso futuro do método fônico que, segundo Seabra e Capovilla (2010), traz um método com técnicas que ajudam no desenvolvimento da consciência fonológica. Oliveira (2008), Seabra e Capovilla (2010), Zorzi (2009), Seabra e Dias (2011) enfatizam que o método fônico é sistematizado de forma gradual, pois a alfabetização, com a aprendizagem da leitura, se consolida por meio de correspondências grafêmicas e fonêmicas.

O Quadro 4 apresenta alguns excertos que exemplificam a percepção dos professores das habilidades necessárias para a aprendizagem da leitura, assim como as estratégias que pretendem utilizar com os alunos, a partir da participação no curso.

Quadro 4: Percepção dos professores após o curso

Habilidades de leitura necessárias aos alunos

Estratégias que pretendem utilizar

“É necessário o conhecimento dos fonemas, que tudo aquilo consciência de sílaba, palavra, frase, direcionalidade, que existe uma norma culta a ser seguida, por isso não escrevemos do jeito que achamos, aquilo que se escreve precisa ser compreendido pelo leitor” (P9).

“As habilidades de reconhecimento dos símbolos da escrita e sua correspondência com os sons da linguagem, isto é, os fonemas” (P11).

“Habilidade necessária para a leitura, é fundamental a consciência a fonológica, a rima, aliteração, também estimular o desenvolvimento de outras funções como atenção, memória, percepção, audição” (P12).

“Depois do curso, com certeza usarei o método fônico” (P3).

“Método fônico, ensinando as vogais, os sons das letras, letras com relação biunívoca, formação de sílabas e, depois palavras” (P4).

“Após a experiência com as atividades do manual e as experiências trocadas entre as participantes buscarei me aperfeiçoar no método fônico buscando inclui-lo nas minhas praticas pedagógicas” (P10).

“Eu gostei de aprender sobre o método fônico, o fonoarticulatório e devo tentar usá-lo” (P13).

A partir das respostas, pode-se identificar que os professores apreenderam os conceitos discutidos no curso, pois todos souberam relatar e descrever o que é necessário para a aprendizagem da leitura. Isso sinaliza os caminhos que os professores podem percorrer para alcançar resultados mais eficazes, elencando, após o curso, o método fônico como o mais usual e propício para os alunos com dificuldades na leitura, indo ao encontro da abordagem de Oliveira (2008), Seabra e Capovilla (2010), Zorzi (2009), Seabra e Dias (2011).

Destaca-se, aqui, a intencionalidade das atividades que se pretende trabalhar em sala para aprimorar a leitura dos alunos com dificuldades.

Em suma, as atividades do Manual Didático atingiram os objetivos propostos: auxiliar os docentes em suas práticas pedagógicas com alunos que apresentam dificuldades de leitura e propiciar, aos alunos, atividades variadas, a partir da relação grafema/fonema.

Considerações finais

As propostas de intervenção do Manual Didático objetivam o aperfeiçoamento das habilidades de leitura dos alunos que passaram pelo processo de alfabetização e ainda apresentam dificuldades na leitura. As 55 atividades modelo, elaboradas e demonstradas pelas pesquisadoras, avaliadas pelos docentes que participaram do curso de formação, preveem a utilização do material em salas de aulas nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. A proposta servirá também como suporte teórico e prático aos docentes que se deparam com alunos que necessitam de um olhar especial para alavancar a aprendizagem e o domínio da leitura.

Cabe destacar que o material elaborado se fundou nos métodos fônico e multissensorial. É sabido que além da importância de entender os métodos adequados para suprir as necessidades dos alunos na leitura, propiciar atividades diferenciadas que contemplem o desenvolvimento das habilidades de leitura é importante. Dessa forma, as possibilidades dos alunos avançarem, tornam-se mais sólidas e vão dominando e compreendendo os processos subjacentes da leitura.  Espera-se que o Manual Didático seja divulgado e que seu conteúdo seja disseminado, readaptado e utilizado pelos professores em suas práticas pedagógicas cotidianas.

Referências

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Publicado em 08 de outubro de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

ARAUJO, Lorena Carnelossi; BLANCO, Marília Bazan. Elaboração e avaliação de um manual didático para alunos com dificuldades de leitura nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 37, 8 de outubro de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/37/elaboracao-e-avaliacao-de-um-manual-didatico-para-alunos-com-dificuldades-de-leitura-nos-anos-iniciais-do-ensino-fundamental

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