Sequência didática utilizando plataformas digitais na construção do conhecimento sobre o autocuidado, autoconhecimento e saúde íntima em uma escola estadual de Vitória/ES

Ana Clara Silva da Cruz

Licenciada em Ciências Biológicas (UniSales)

Melissa de Freitas Cordeiro Silva

Mestra em Genética (Unesp), doutora em Biotecnologia em Saúde (Rede Nordeste de Biotecnologia), docente do Curso de Ciências Biológicas do UniSales

A Educação Sexual é um processo importante que fornece conhecimentos sobre o corpo humano e a sexualidade, promovendo proteção e bem-estar e, diante do cenário atual, em que a ética e os valores morais parecem tão negligenciados, torna-se cada vez mais importante refletir e discutir sobre essa temática tão abrangente nas escolas (Silva, 2016).

O ambiente escolar confere um rico espaço em diversidade cultural e social, onde jovens estão imersos em processos de aprendizagens. Portanto, a escola tem o propósito de formar cidadãos mais conscientes de seus direitos e deveres (Mamprin; Nóbrega, 2009). Apesar da relevância e da necessidade de debater questões relacionadas à Educação Sexual no contexto escolar, o tema ainda é muito tratado como um desafio pelos docentes (Barbosa; Folmer, 2019).

Com base no exposto, o presente artigo aborda a seguinte problemática: como a Educação Sexual no ambiente formal escolar pode facilitar o entendimento do autocuidado e do autoconhecimento de cada educando, bem como beneficiá-lo como cidadão?

O ensino do autocuidado e autoconhecimento torna-se urgente quando se considera a importância da Educação Sexual na prevenção de fatores de risco, como infecções sexualmente transmitidas e gravidezes precoces.

Sendo assim, o presente estudo objetivou analisar as contribuições de uma sequência didática na instrução de educandos de 9º ano do Ensino Fundamental sobre Educação Sexual e autocuidado. A sequência didática utiliza ferramentas digitais na promoção do conhecimento. Os objetivos específicos foram: verificar o conhecimento dos alunos acerca do autocuidado e o autoconhecimento no que tange à Educação Sexual; realizar um questionário com perguntas relacionadas ao conhecimento dos alunos sobre práticas saudáveis em relação à sua saúde sexual; e confeccionar um e-book contendo informações sobre métodos contraceptivos e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (IST).

Educação Sexual e teoria pedagógica

De forma conceitual, a Educação Sexual é uma ação intencional, realizada por profissionais capacitados, de forma planejada e organizada. Logo, é uma ação pedagógica que abrange a formação de indivíduos com temáticas voltadas a sexualidade, comportamentos, valores, ética e atitudes (Maia; Ribeiro, 2011).

Trazendo para o ambiente escolar, esse ensino deve ocorrer de forma acolhedora, proporcionando aos alunos saberes, concepções e valores, desenvolvimento interpessoal, momentos reflexivos e de questionamentos, tudo isso, é claro, de forma planejada, organizada e intencional (Maia; Ribeiro, 2011).

A Educação Sexual não é um assunto recente; seus primeiros relatos se dão por volta da década de 1920, porém a partir da década de 1980 começou a ser vista (não por ser um assunto importante), mas devido ao aparecimento de problemas como: gravidez na adolescência, a síndrome da imunodeficiência humana (Aids) (Ribeiro; Reis, 2020).

Segundo levantamento do Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc), do Governo Federal, no ano de 2022 a taxa de gestantes com idade inferior a 17 anos é de 57% (Agência Brasil, 2022). Dados estatísticos apontados pelo Boletim Epidemiológico HIV/Aids do Governo Federal no ano de 2021 indicaram que 52,48% dos adolescentes possuem algum tipo de infecção sexualmente transmissível (IST) (Brasil, 2021). Considerado na literatura um dos principais nomes com relação ao assunto, o Dr. José de Albuquerque possui muitas obras e foi o fundador do Ciclo Brasileiro de Educação Sexual no ano de 1933; esse Ciclo busca levar informações sobre o tema de formas política, social, pedagógica e afins (Felício, 2011).

Inicialmente, o assunto era tratado unicamente pelo viés biológico, o qual era possível ser debatido apenas nas aulas de Ciências. No entanto, conforme o tempo foi passando, pôde-se perceber que a abrangência dele não cabia unicamente nessas aulas e que sua importância era extrema (Vieira; Matsukura, 2017).

Atualmente, contorna o saber exclusivamente biológico, o qual já foi provado ser de suma importância para o tema, mas aspectos culturais, éticos, sociais e históricos também se mostraram pertinentes quando o assunto é Educação Sexual (Ribeiro; Reis, 2020).

A Educação Sexual no ambiente escolar

A Educação Sexual é de grande importância para a saúde dos adolescentes; por isso o ambiente escolar contribui com um cenário vantajoso para esse tema, dado o seu caráter democrático, sendo considerado um espaço estruturado que pode ser alcançado por quase todos os jovens, tendo relevantes recursos educativos e um espaço privilegiado para a aquisição de conhecimentos sobre sexualidade (Pereira, 2011).

A Educação Sexual nas escolas é uma das ferramentas que auxiliam na compreensão e valorização dos direitos sexuais e reprodutivos. Também ajuda a prevenir problemas mais graves, como abuso sexual e gravidez indesejada. Em relação esta última, o debate sobre os métodos anticoncepcionais e sua disponibilidade leva as pessoas a ampliar seus conhecimentos sobre os cuidados necessários para evitá-la. De forma a prevenir o abuso sexual contra crianças e jovens, a Educação Sexual nas escolas objetiva promover a apropriação do corpo e que só com o seu consentimento ou por razões de saúde e higiene outras pessoas podem tocá-lo, contribuindo com o aumento da autoestima de jovens e adolescentes (Brasil, 1998).

A escola tem papel muito importante na Educação Sexual, pois, além de ser um ambiente ideal para a aprendizagem de Anatomia, Fisiologia, métodos contraceptivos e IST, também contribui com o desenvolvimento da própria autonomia dos estudantes (Carneiro; Silva; Alves; Brito; Oliveira, 2015).

Métodos didáticos como forma de abordagem da Educação Sexual

Atualmente, o ensino de Educação Sexual realizado nos ambientes escolares tem ocorrido sem planejamento e de forma desorganizada, além de não estar incluído nas abordagens presentes nas unidades didáticas, ou seja, nas disciplinas (Mamprin; Nóbrega, 2009). Em relação aos conteúdos a serem abordados,observa-se que em sua maioria, as práticas estão restritas aos currículos. Diante disso, acredita-se que, pelo fato de as questões sobre sexualidade serem abordadas especificamente nos currículos de Ciências e Biologia, pode ser favorecido o predomínio da Educação Sexual nessas disciplinas (Nardi, 2008).

De acordo com Silva e Ribeiro (2011), para facilitar uma abordagem de Educação Sexual mais contextualizada e adequada à linguagem dos alunos, é necessário vincular diferentes meios pedagógicos de ensino e aprendizagem, como buscar uma conexão com o professor na base do diálogo e usar livros didáticos (já que são importantes instrumentos de ensino) filmes e slides, que podem ajudar estrategicamente no processo de aprendizagem, contribuindo assim no desenvolvimento do conhecimento do aluno.

Portanto, os materiais de apoio são importantes instrumentos, e sua utilização contribui no processo de ensino-aprendizagem, mas é necessário que o professor estabeleça um propósito, procure aproveitar as possibilidades didáticas e esteja vigilante às demarcações que o material apresenta. Na medida em que o material didático atenda à aprendizagem na qual o aluno possa questionar/refletir, debater/dialogar, levantar hipóteses, experimentar, investigar, buscar respostas e não apenas absorver informações prontas e acabadas (Nogueira et al., 2016).

O ensino abordado em sala de aula pelo educador proporciona aos alunos uma ponte para a construção de seus valores e sua identidade sexual. O professor contribui possibilitando o bem-estar emocional e auxilia na busca de respostas para as dúvidas que os alunos têm durante a adolescência e que precisam ser consideradas como uma coisa natural ao ser humano (Lima; Almeida, 2010).

Uma estratégia para abordar a temática são as oficinas, modalidade que tem como proposta uma aprendizagem compartilhada em grupo, permitindo que todos os participantes tenham um momento de reflexão e saberes compartilhados, evoluindo em conjunto com base na vivência de cada um (Carneiro et al., 2015).

A carência e tabus da temática no enquadramento da grade curricular

No Brasil, a contar das décadas de 1940 e 1950, comportamento, diálogo e conteúdo sobre o ensino sexual geraram polêmicas religiosas, sensacionalistas, inconvenientes e impróprias, de modo que desmistificam a razão conteudista (Gonçalves et al., 2013).

Após a reabertura política, houve reestruturação e ressignificação do parâmetro da Educação Sexual, influenciado pela popularização do consumo da pílula anticoncepcional e a preocupação com as mais variadas infecções sexualmente transmissíveis (IST) (Gonçalves et al., 2013). Dez anos depois, esse tipo de ensino conquistou amplitude social, com debates profissionais nas mais diversificadas áreas, em rodas de conversas, palestras e outras interações verbais (Gonçalves et al., 2013). Esses debates apresentavam grande enfoque nas propostas educativas, como as IST, gravidez indesejada na adolescência e principalmente a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids – acquired immunedeficiency syndrome)(Gonçalves et al., 2013).

Sendo assim, o pessimismo e a dificuldade provindos da supremacia ofereceram lugar à esperança, principalmente vinda da comunidade escolar, acerca da mobilidade via debate público, para então, a partir daí, a reconstrução e a ressignificação do silêncio (Rosemberg, 1985). Há ausência de materiais, literaturas, monografias e documentos sofre, até hoje na década de 2020, bem como de localização e aceitação da sistematização dessas fontes (Rosemberg, 1985), fato pelo qual, o tabu – termo oriundo da língua da polinésia, expressando algo proibido, escasso, precioso e sagrado –empregado pela fase de arbítrio político que se perpetua até o ano de 2020, enriquecido pela censura e por regimentos (Rosemberg, 1985).

A justificativa é dada pela desvalorização do tema, tratado como não apropriado e incorporado ao panorama de insuficiências educacionais no Brasil, embora seja respaldado por lei, que estabelece o regime de aplicação da Educação Sexual em meio escolar, conforme a Lei nº 60/2009, que deixa claro, no seu Art. 1º:

A presente lei estabelece a aplicação da Educação Sexual nos estabelecimentos do ensino básico e do ensino secundário; a presente lei aplica-se a todos os estabelecimentos da rede pública, bem como aos estabelecimentos da rede privada e cooperativas com contrato de associação, de todo o território nacional (Brasil, 2009, Art.1º).

Sendo assim, é notório que, apesar da existência de uma lei que estabelece a aplicação da Educação Sexual, ainda há carência de enquadramento desse tabu no ambiente escolar, bem como o discurso formal e informal a fim de desencadear comportamentos e pensamentos progressistas ou sensacionalistas (Rosemberg, 1985).

Num outro flanco, a construção do ser humano como cidadão é feita em boa parte pela educação, em assimilação a uma série de princípios e normas – sejam elas morais, comportamentais, éticas, religiosas – na família ou no ambiente formal institucionalizado (Montardo, 2008).

Posto isso, a arte de educar promove para o educando ações de conduta a serem definidas como adequadas sem a presença de responsáveis. A Educação Sexual em nada difere desses caracteres, visto que atua no sentido explícito de prevenir erros e prováveis situações de periculosidade e, nas entrelinhas de seu discurso, moldar um sujeito adulto responsável por seus atos, destruindo e desmistificando a temática e seus tabus (Montardo, 2008).

Metodologia

O estudo foi realizado na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Major Alfredo Pedro Rabaioli, localizada em Vitória/ES, no segundo semestre de 2022, no turno matutino. Os sujeitos da pesquisa são 25 alunos do 9º ano, residentes na Grande Vitória, com faixa etária entre 14 e 15 anos de idade.

O presente estudo caracteriza-se como pesquisa participante de cunho quali-quantitativo. De acordo com Neves (1996), a pesquisa qualitativa é aquela que tem como objetivo um foco mais amplo e uma perspectiva diferenciada daquela abordada no método quantitativo, buscando entender o fenômeno a partir do ponto de vista dos participantes da situação estudada. A pesquisa quantitativa é baseada na medição de alguma variável objetiva (geralmente numérica), enfatizando a comparação de resultados e o uso intensivo de técnicas estatísticas (Wainer, [20--]).

Nesse sentido, foram realizadas na coleta e no processamento dos dados análises do discurso, bem como elaborado um gráfico de setores, que consiste na ferramenta aplicada à quantificação porcentual.

A proposta pedagógica com a sequência didática ocorreu de acordo com o Quadro 1.

Quadro 1: Sequência didática

Fonte: Cruz, 2022.

Na primeira aula da sequência didática aplicou-se um questionário com perguntas fechadas relacionadas ao conhecimento histórico, social e cultural dos alunos, ou seja, a principal função foi diagnosticar o nível de compreensão dos alunos sobre a temática para que seja planejada uma intervenção ponderada e relevante. Em seguida, utilizando o aplicativo Mentimenter, os alunos criaram uma nuvem de palavras a partir da seguinte pergunta: "Qual é a primeira coisa em que você pensa quando escuta ou lê a frase Educação Sexual?”.

Na segunda aula, os alunos conheceram as teorias sobre higiene pessoal, importância e cuidados, além da participação no Kahoot, um jogode perguntas (verdadeiro e falso) via internet. Outro tema abordado foi infecções sexualmente transmissíveis (IST), quando foram explicados alguns métodos contraceptivos e aplicado um jogo da memória do Wordwall. Ao final da aula, reproduziu-se um vídeo da plataforma YouTube que buscou dialogar sobre as principais IST, o que elas causam e métodos de prevenção.

Na terceira e última aula, o questionário foi aplicado novamente na intencionalidade de comparar as respostas obtidas antes e após a aplicação da sequência didática; em seguida, foi aplicada a ferramenta e-book objetivando a complementação das informações trabalhadas no decorrer da pesquisa acadêmica. Um produto que não possui custo, totalmente tecnológico, prático e simples, já que pode ser acessado em smartphones, computadores, tablets e outros dispositivos digitais e tecnológicos.

Resultados e discussões

Durante o desenvolvimento das atividades, foi perceptível que os educandos apresentavam conhecimentos prévios limitados sobre o tema, restringindo-se aos conhecimentos de mundo que já possuiam. No entanto, percebeu-se a falta de entendimento sobre o autocuidado, o autoconhecimento e a saúde íntima, além da abordagem dos contextos discutidos a seguir.

Contexto histórico

Ao longo das aulas e momentos propostos, os estudantes desconstruíram seus saberes históricos advindos do saber de mundo que já possuiam, conforme adquiriam percepções teóricas, como no desenvolvimento do jogo de perguntas e respostas sobre higiene pessoal, como apresentado nos resultados de cada pergunta no Quadro 2.

Quadro 2: Resultados do jogo de perguntas (verdadeiro e falso)

Fonte: Cruz, 2022.

Nesse jogo, com explicações teóricas sobre higiene pessoal, os alunos notaram e deduziram que atos do dia a dia beneficiam a saúde íntima e o autocuidado, visto que, perpetuaram que alguns cuidados são simples, facultativos e qualitativos. Discursos e relatos de alguns alunos transcorreram de imediato, como: “Minha mãe sempre falou comigo desde pequeno que não devo ficar com roupa de banho por muito tempo”.

A subcategoria Contexto Histórico esteve expressa em todos os momentos e aulas, de modo que os conhecimentos perpetuados entre os familiares conceitualizam e caracterizam uma abordagem tradicionalista, como exemplo o seguinte discurso: “Vovó sempre me diz que é necessário enxugar bem a região íntima depois do banho”. Como apontado por Cambaúva e Silva (2009), a linguagem e o diálogo são instrumentos que perpetuam as experiências de uma geração à outra, auxiliando e cooperando para as novas transformações.

É por meio da linguagem verbal e da escrita que o indivíduo compreende o mundo, formaliza conceitos, inter-relaciona e expressa por meio da fala em transmissão do conhecimento (Reynell; Gruber, 1990).

Contexto social

O tema sexualidade e reprodução é considerado importante em cada ciclo, perante e diante dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), pois são conteúdos/assuntos de grande interesse e relevância social conectados à transversalidade cultural e histórica.

As análises e discussões dessa subcategoria foram englobadas nas abordagens dos formulários. As aplicações foram realizadas no primeiro momento da primeira aula (Gráfico 1) e no primeiro momento da terceira aula (Gráfico 2). Uma das perguntas foi: o que significa para você a Educação Sexual? (Figura 1).

Figura 1: Resultados percentuais da pergunta 1, “O que a Educação Sexual significa para você?”

No princípio, no Gráfico 1 é visualizado um resultado de 61,1% dos educandos que compreendem que a Educação Sexual significa o diálogo sobre as IST, higiene, cuidado com o corpo, saúde (física e psicológica) e bem-estar; no Gráfico 2, 89,5% apontam a mesma opção. Portanto, a observação feita nesse último resultado é que os adolescentes conseguiram compreender e entender que a opção enfatizada é coerente, logo após o cumprimento da proposta e da sequência didática.

Soares e Alves (2007) apontam que a compreensão desse fenômeno se manifesta de diversas formas, que variam de acordo com conceitos e ideologias dominantes em diferentes contextos e culturas. Em outras palavras: não é um fenômeno universal, mas uma construção social que apresenta variações conceituais e diferenças na forma como os indivíduos vivenciam e se expressam.

Nessa perspectiva, a adolescência é compreendida como um fenômeno socialmente construído em determinado contexto histórico e cultural que é moldado pelas interações do indivíduo com o meio, pessoas e objetos (Bronfenbrenner, 2011). Deve-se destacar também que, durante a adolescência, os sujeitos não apenas mudam de acordo com os contextos que vivenciam, mas também provocam mudanças e efeitos em seu ambiente (Bronfenbrenner, 2011; Fernandes, 2007).

Contexto cultural e as metodologias ativas

As metodologias ativas de aprendizagem são preocupações comuns, mas não podem ser consideradas uniformes, tanto em termos de pressupostos teóricos como metodológicos, identificando assim diferentes modelos e estratégias para sua implementação, que representam alternativas de ensino-aprendizagem com diferentes vantagens e desafios em diferentes níveis de ensino (Paiva et al., 2016).

As tendências do século XXI mostram que a principal característica da educação é a mudança de um enfoque individual para um enfoque social, político e ideológico (Paiva et al., 2016). A educação ocorre ao longo da vida, e não é um processo neutro. Um estudo propôs quatro pilares de competência e educação continuada que foram considerados líderes: a) aprender a conhecer; b) aprender a fazer; c) aprender a conviver; e d) aprender a ser (Delors, 2000). Esses pilares são um novo rumo nas propostas educativas; expressam a necessidade de atualizar os métodos educativos à luz das realidades atuais (Paiva et al., 2016).

Diante dessas abordagens bibliográficas, pode-se citar as metodologias ativas que funcionaram dinamica e efetivamente no decorrer das aulas e em momentos do estudo: a nuvem de palavras do site Mentimeter,jogo da memória no Wordwall e o e-book.

Autores como Sá, Teixeira e Fernandes (2007) salientam que o uso de jogos no ensino possibilita ao aluno momentos divertidos e interativos como etapas de aprendizagem. Os jogos podem ajudar o professor no desenvolvimento e na implementação de forma crítica para uma aprendizagem significativa do aluno (Gros, 2003).

Alguns educandos apontaram algumas ideias, como “Os jogos me auxiliam para o aprender melhor. Ainda mais esse que você usou, aprendi bem mais sobre o tema!”. Alves (2005) evidencia que os jogos eletrônicos de aprendizagem estimulam a reorganização das funções cognitivas, como criatividade, atenção, imaginação, coordenação motora e memória. Aliás, eles ajudam a estipular o modo de interpretação e aprendizado pelo qual o aluno conhece o alvo. Os professores devem lidar com a interatividade dos jogos eletrônicos, que são pouco explorados pelas escolas e que ainda reproduzem a lógica linear inerente a esse tipo de tecnologia.

Outra tecnologia praticada foi o e-book (electronic book), um instrumento digital que pode ser encaixado em diversas formas literárias, como livros de ficção e artigos. A ideia principal desse utensílio é conjugar a tecnologia, o baixo custo de impressão e a simplicidade, processos práticos e meramente facilitadores na disseminação de cultura e aperfeiçoamento da leitura (Dziekaniak et al., 2010). Os e-books podem ser acessados em smartphones, computadores, tablets e outros dispositivos digitais, de maneira totalmente adaptável quanto ao estilo da leitura, que dependerá da adaptação e da preferência do leitor ou leitora, bem como a possibilidade de zoom (aproximação ou afastamento do objeto), além dos modelos que permitem acesso à internet sem fio e gratuita, possibilitando o download das obras em intermediação com as livrarias eletrônicas. Também é possível adquirir uma obra em capítulos ou até mesmo um único capítulo (Dziekaniak et al., 2010). Esse aparato enriqueceu e favoreceu o aprendizado dos educandos, visto que um comentário foi ressaltado: “Gostei demais dessa cartilha eletrônica. Gostei mais ainda que posso acessar pelo celular. Muito bacana!!!!!”.

Considerações finais

Diante dos resultados e das discussões, considera-se que a temática trabalhada foi necessária e positiva na instrução dos educandos sobre Educação Sexual e autocuidado, contribuindo por intermédio do manuseio de ferramentas digitais na promoção do conhecimento – formatos facilitadores para o entendimento e a abordagem integracionista dos educandos com a mídia, ressaltando a importância de novas reflexões sobre práticas pedagógicas.

Além disso, é notória a importância de abordar o tema no âmbito escolar, além da iniciativa de partir do círculo familiar, uma vez que a escolarização é uma fase muito importante no desenvolvimento humano, caracterizada pelo progresso cronológico e por mudanças biológicas, psicológicas, sociais e culturais e no desenvolvimento intelectual e social, habilidades de comunicação, de relacionamento com os outros e de autoconhecimento.

À vista disso, é preciso ressaltar a importância da Educação Sexual no processo de formação dos indivíduos, principalmente no período de juvenilidade, pois é por meio da Educação Sexual que os jovens, neste momento de mudança, recebem informações sobre o corpo, a sexualidade, métodos preventivos e relacionamentos e a partir daí têm a oportunidade de refletir, aprender, rever seus conceitos e desfazer tabus.

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Publicado em 15 de outubro de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

CRUZ, Ana Clara Silva da; SILVA, Melissa de Freitas Cordeiro. Sequência didática utilizando plataformas digitais na construção do conhecimento sobre o autocuidado, autoconhecimento e saúde íntima em uma escola estadual de Vitória/ES. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 38, 15 de outubro de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/38/sequencia-didatica-utilizando-plataformas-digitais-na-construcao-do-conhecimento-sobre-o-autocuidado-autoconhecimento-e-saude-intima-em-uma-escola-estadual-de-vitoriaes

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