Aplicação do modelo rotação por estações como forma de verificação qualitativa de aprendizagem

Karoline Reis Pinheiro

Mestranda em Educação e Ensino de Ciências e Matemática na Amazônia (UEA), licenciada em Matemática (UEA), professora da Seduc/AM

Alcides Castro Amorim Neto

Doutor em Clima e Ambiente com Ênfase em Interações Clima-Biosfera da Amazônia (INPA/UEA), mestre em Matemática com Ênfase em Geometria Diferencial (UFAM), professor adjunto e coordenador do curso de Matemática Mediado por Tecnologia da UEA

O ensino de Matemática sempre foi considerado desafiador, uma vez que, por se tratar de uma disciplina da área de Exatas, os alunos frequentemente enfrentam dificuldades, seja na interpretação, seja na resolução de problemas. Para minimizar essas dificuldades e promover familiaridade e entretenimento, é comum o uso de estratégias que envolvam os alunos, tornando-os ativos na construção do próprio conhecimento. Esse é o foco principal das metodologias ativas. Baseadas na ideia de que aprendemos de várias formas e que, ao longo da vida, praticamos uma aprendizagem ativa que nos permite vivenciar e experimentar situações para aprender com elas, as metodologias ativas buscam o protagonismo dos alunos e a contextualização do conteúdo. Além disso, incorporam o uso de tecnologias digitais para facilitar o processo de ensino-aprendizagem.

Bacich e Moran (2018, p. 3) afirmam que

os processos de aprendizagem são múltiplos, contínuos, híbridos, formais e informais, organizados e abertos, intencionais e não intencionais. O ensino regular é um espaço importante, pelo peso institucional, anos de certificação e investimentos envolvidos, mas convive com inúmeros outros espaços e formas de aprender mais abertos, sedutores e adaptados às necessidades de cada um.

Concordando com essa visão, em 2021, para comemorar o Dia da Matemática (6 de maio), foi proposta pela coordenação de Matemática, em parceria com os professores da área, a utilização do modelo de rotação por estações em uma escola estadual de tempo integral em Manaus/AM. Cada estação oferecia um jogo lógico-matemático, e uma delas incluía um jogo on-line, seguindo a proposta do modelo híbrido de ensino com atividades presenciais e, pelo menos, uma atividade on-line. O objetivo era ensinar Matemática de forma recreativa, permitindo aos alunos a participação ativa na resolução de situações-problema, tanto individualmente quanto em equipes, aplicando conhecimentos adquiridos ao longo do percurso escolar e aproveitando a data comemorativa como um momento oportuno para a atividade.

Dessa forma, o desenvolvimento deste trabalho foi possível, pois, segundo Marconi e Lakatos (2022, p. 31),

pesquisa é uma atividade que se realiza para a investigação de problemas teórico ou práticos, empregando métodos científicos. Significa muito mais do que apenas procurar a verdade: é encontrar respostas para questões propostas, utilizando procedimentos científicos.

Foi então aplicado o método de rotação por estações, uma metodologia ativa integrante do ensino híbrido que utiliza atividades presenciais e, pelo menos, uma atividade on-line. A proposta é que os alunos transitem, em grupos ou individualmente, entre as estações e, ao final, participem de uma discussão sobre o que foi abordado em cada uma delas.

Metodologia

A atividade foi realizada em uma escola pública de Manaus que atende às três séries do Ensino Médio e funciona em tempo integral. Em 2021, a escola possuía 425 alunos, que participaram da atividade proposta, divididos em seis turmas de 1ª série, três turmas de 2ª série e três turmas de 3ª série. A equipe docente envolvida incluía uma professora coordenadora da área de Matemática e três professores de Matemática, referidos como professor(a) 1, 2 e 3.

Foi adotada uma abordagem qualitativa. Conforme Creswell (2014, p. 50),

a pesquisa qualitativa começa com pressupostos e o uso de estruturas interpretativas/teóricas que informam o estudo dos problemas da pesquisa, abordando os significados que os indivíduos ou grupos atribuem a um problema social humano. Para estudar esse problema, os pesquisadores qualitativos usam uma abordagem qualitativa da investigação, a coleta de dados em um contexto natural sensível às pessoas e aos lugares em estudo e a análise dos dados que é tanto indutiva quanto dedutiva e estabelece padrões ou temas. O relatório final ou a apresentação incluem as vozes dos participantes, a reflexão do pesquisador, uma descrição complexa e interpretação do problema e a sua contribuição para a literatura ou um chamado à mudança.

O evento foi realizado em um único dia nas áreas abertas da escola — pátio e refeitório —, e consistiu em quatro estações: a primeira com xadrez, a segunda com dominó de operações, a terceira com competição de cubo mágico e, por fim, uma estação com o Kahoot.

Na primeira estação, ocorreu a competição de xadrez. Os alunos se inscreveram com o professor 1 para participar. Foram registradas 16 inscrições e realizado um sorteio para determinar as duplas concorrentes. Houve quatro rodadas de disputas: a primeira com oito duplas disputando quatro vagas na próxima etapa; a segunda com os vencedores da rodada anterior, resultando em quatro duplas concorrentes; a terceira, a semifinal, com quatro alunos disputando uma vaga na final; e, por fim, dois alunos disputaram a final. Uma disputa extra determinou o terceiro e quarto lugares entre os alunos derrotados na semifinal. Nesta estação, a participação foi opcional e restrita aos alunos com conhecimento prévio sobre xadrez.

A segunda estação apresentou jogos de dominó de operações matemáticas, desde as operações básicas até as trigonométricas. Os jogos foram dispostos em mesas no refeitório, permitindo que, pelo menos, duas equipes de quatro alunos jogassem simultaneamente por mesa. Os jogos foram elaborados com material didático pelos professores da escola, e a professora 2 foi responsável por instruir e acompanhar a atividade.

A terceira estação apresentou uma competição de cubo mágico, em que a disputa foi pelo menor tempo. Os alunos se inscreveram trazendo seus próprios cubos mágicos para a competição. Participaram 10 alunos com conhecimento prévio na resolução do cubo. A coordenadora e o professor 1 foram responsáveis por realizar a competição e medir o tempo de cada aluno, sendo o vencedor o aluno que resolveu o cubo em 52 segundos.

A quarta estação contou com o jogo Kahoot, uma plataforma on-line que oferece desafios de várias áreas do conhecimento, permitindo que o professor utilize atividades prontas ou crie seus próprios desafios. A professora 3 selecionou desafios da área de Matemática, com perguntas básicas e complexas envolvendo geometria, análise combinatória, ângulos e sistemas de equações. Utilizou-se uma mesa do refeitório e uma TV, e os alunos precisaram de seus celulares para baixar o aplicativo e inserir o código do desafio. As perguntas apareciam na TV, e as opções de resposta eram exibidas nos celulares. Após as respostas, a TV mostrava a resposta correta e o ranking. Para a pontuação, foi considerado o tempo de resposta, ou seja, além de responder corretamente, era necessário ser rápido para ganhar. Nessa etapa não foram contabilizados pontos, pois alguns alunos que não tinham celular acabaram se juntando em equipes e usando um único aparelho para participar. Foram utilizados, pelo menos, cinco desafios da própria plataforma para que todos os alunos que quisessem pudessem jogar, individual ou em grupos.

Todas as atividades ocorreram simultaneamente, e alguns alunos conseguiram participar de todas as estações.

Resultados

Com a realização das atividades em rotação por estações, observou-se o empenho dos alunos na participação de todas as atividades, uma vez que se tratava de uma proposta diferente do cotidiano escolar. Nas estações de xadrez e cubo mágico, que exigiam conhecimentos e habilidades prévias, foi possível observar a presença de, no mínimo, cinco alunos em ambas as atividades. Esse número reflete a falta de conhecimento e/ou interesse em atividades desse tipo.

Na estação de dominó, verificou-se que os alunos apresentaram dificuldades mesmo em operações básicas. No dominó de frações, que relacionava a fração escrita com sua imagem correspondente, foi observado alto nível de dificuldade. Alguns alunos chegaram a preferir trocar de jogo, apesar de ser um conteúdo básico do Ensino Fundamental que, teoricamente, já deveria ter sido dominado no Ensino Médio.

Na estação do Kahoot, embora considerada a mais divertida pelos próprios alunos, também ficou evidente o quanto ainda apresentam dificuldades em Matemática, principalmente em questões relacionadas a frações, ângulos e operações. Questões sobre a nomenclatura dos ângulos, como identificar se o ângulo apresentado era reto, obtuso, agudo ou raso, destacaram-se entre as mais difíceis, segundo os estudantes. No entanto, observou-se que, mesmo diante das dificuldades com o conteúdo, o interesse em participar da atividade foi o principal fator motivador para a continuidade da ação.

Considerações finais

A experiência em sala de aula demonstra que ensinar Matemática continua sendo um grande desafio. Mesmo com a quantidade de recursos disponíveis atualmente, ainda enfrentamos problemas relacionados à falta de interesse e às dificuldades de aprendizagem, que muitas vezes têm origem na base escolar e impactam significativamente o Ensino Médio.

Para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, os professores frequentemente se veem obrigados a buscar novos métodos de ensino e ferramentas que despertem o interesse dos alunos. As metodologias ativas surgem como uma inovação na educação. Embora os estudos sobre o tema não sejam tão recentes quanto se pensa, essas metodologias trazem novas ideias e formas de entender e praticar a educação. O foco no protagonismo do aluno, a contextualização, o uso de tecnologias digitais e a autonomia do aluno constituem a base das metodologias ativas.

A aplicação do modelo de rotação por estações permitiu observar a necessidade de explorar mais as possibilidades oferecidas por essas metodologias. Temos um público nas escolas que demanda novas abordagens, além dos tradicionais livros, pincel e quadro. Nossos alunos têm à disposição inúmeras ferramentas que podem ser utilizadas para o ensino de Matemática.

O modelo de rotação por estações foi bem aceito pelos alunos, e sua aplicação possibilitou identificar as maiores dificuldades que eles enfrentam, os conteúdos em que apresentam maior deficiência ou que não foram bem assimilados. Isso permitiu aos professores fazer um diagnóstico que pode embasar futuras ações de reforço ou revisão.

Diante dos resultados obtidos, conclui-se que a atividade pode ser reproduzida em outras ocasiões, seja para trabalhar conteúdos mais específicos ou para realizar revisões. O modelo é viável, pois exige um mínimo de ferramentas digitais acessíveis, muitas delas já utilizadas pelos próprios alunos, como celulares, ou disponíveis na escola, como computadores e televisores. O modelo apresenta grande potencial para o ensino de Matemática.

É necessário continuar estudando as metodologias ativas e explorar tudo o que elas podem oferecer ao trabalho docente. Vivemos em uma era digital, onde, com um simples clique, temos acesso a inúmeras informações. Portanto, devemos alinhar o trabalho docente às constantes transformações do mundo, a fim de proporcionar aos nossos alunos as melhores oportunidades para construir e aprofundar seu conhecimento.

Referências

BACICH, L.; MORAN, J. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.

CRESWELL, J. W. Investigação qualitativa e projeto de pesquisa: escolhendo entre cinco abordagens. Trad. Sandra Mallmann da Rosa. 3ª ed. Porto Alegre: Penso, 2014.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia do trabalho científico: projetos de pesquisa, pesquisa bibliográfica, teses de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2022.

Publicado em 22 de outubro de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

PINHEIRO, Karoline Reis; AMORIM NETO, Alcides Castro. Aplicação do modelo rotação por estações como forma de verificação qualitativa de aprendizagem. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 39, 22 de outubro de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/39/aplicacao-do-modelo-rotacao-por-estacoes-como-forma-de-verificacao-qualitativa-de-aprendizagem

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