A Educação com Pessoas Jovens, Adultas e idosas (Epjai), a Matemática e o Cordel: a história de um encontro

Jabson Costa Santos

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação Cientifica e Formação de Professores (UESB – Câmpus Jequié)

Jonson Ney Dias da Silva

Doutor em Educação Matemática (Unesp – Rio Claro), professor da UESB - Câmpus Vitória da Conquista

Maria da Conceição Ferreira Reis Fonseca

Doutora em Educação (Unicamp), professora da UFMG

Este trabalho apresenta,
escrito sobre o papel,
oficina trabalhada
por professor menestrel,
que buscou relacionar
Epjai, Matemática e Cordel.

Educação com Pessoas Jovens, Adultas e Idosas.

O cordel literatura
tem origem indefinida.
Muitas fontes não concordam,
mas também não fazem briga.
Portugal, Itália, França?
Não se sabe a partida!

O que todo mundo sabe
é da chegada ao Brasil
por meio das caravelas,
navegando em navios;
e depois disseminando
por estradas, céus e rios.

O Cordel, ganhando força,
no país foi adentrando;
e, com o êxodo rural,
às cidades foi chegando,
falando sobre as culturas
qu’ele ia encontrando.

Marinho; Pinheiro (2012).

Com o público gostando
dos versos apresentados
nas feiras, nas grandes praças,
o Cordel foi recitado,
e ganhou notoriedade,
passando a ser bem falado.

E até na escola o Cordel
tem sua contribuição:
confere à educanda e ao educando
maior participação
na promoção de debates,
boa prosa, discussão.

Marinho; Pinheiro (2012).

Já na Epjai o Cordel
ainda tem mais condição
de nos temas trabalhados
provocar reflexão
sobre a vida dos sujeitos
que estão na discussão.

E no ensino de Matemática,
Cordel sendo trabalhado
promove um grande legado
de um conhecer, de uma tática,
pois, na linguagem da gente,
se entende melhor o falado.

Trigueiro; Santos (2019).

Já falei do tal cordel,
embasando o meu leitor,
sobre essa literatura,
que meu coração ganhou.
Vamos tocando a conversa,
vamos seguindo o andor.

São três mundos em narrativa,
cada um em seu lugar.
Meu objetivo aqui
é poder interligar,
fazendo os mundos “distintos”
entre eles conversar.

Mas Cordel e Matemática?
Será que tem relação?
Leitura não é “Português”?
Isso não dá certo, não!
Eu nunca ouvi nem dizer!
Vai ser só decepção!

E num campo especial
como que o Cordel se sai?
Na escola para jovem,
gente adulta, mãe e pai,
e até pra gente idosa
– a chamada Epjai –,
se usar Cordel na aula
isso afasta ou isso atrai?

Será que o cordel na Epjai
terá boa aceitação?
Será que a Matemática
não é um bicho papão?
Será mesmo que, na aula,
haverá reflexão?

O que será que se pensa
sobre a união desses mundos?
O que dizem os documentos?
Estão claros ou me confundo?
São muitos questionamentos!
Sobre eles me aprofundo.

Vou querendo esclarecer,
e fazer essa união.
Dos mundos que são “distintos”,
fazer aproximação,
pois é possível notar
que existe relação.

Unir essas três esferas:
proponho a provocação.
O Cordel que é uma arte,
Epjai, Educação,
e de quebra a Matemática,
no mundo do cidadão.

Então ’bora papear,
que a vida é preciosa,
sobre as possibilidades,
pois são elas curiosas.
Convido o caro leitor
para essa mão de prosa.

E é nessa mão de prosa
que contarei pra vocês
sobre uma experiência...
Que alegre ela me fez!
Pois trabalhei com as esferas
que mencionei, todas as três.

ABC do pé da cerca
foi o nome do Cordel
que o professor, pesquisando,
que era também menestrel,
trabalhou com os educandos,
na tela, na voz, e no papel.

A oficina foi remota,
por conta da pandemia;
e ela foi realizada,
dividida entre dois dias,
com muita conversação,
e repleta de alegria.

Em turma de Ensino Médio,
composta por onze educandos,
(faixa etária de dezoito
a cerca de quarenta anos),
numa cidade situada
no sudoeste baiano.

A Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia
é o lugar que o ministrante
frequenta todos os dias:
professor vai se tornar,
com louvor e maestria.

Para a turma convidar
pra mais participação,
o ministrante, de início,
fez contextualização
sobre a história do Cordel
e a sua evolução.

Foi por meio de slides
que eles foram questionados
sobre o gênero textual,
a estrutura do contado,
bem como de outras questões,
promovendo aprendizado.

Nesses momentos do início,
de conversa e informação,
educandos e Cordel
tiveram aproximação.
E isso só foi possível
por conta da discussão.

Discussão se baseou
em uma perspectiva
que permite ao educando
participação ativa,
sendo o protagonista
de uma conquista efetiva.

Já num segundo momento,
foi proposta aos educandos
a leitura do Cordel
de que estou sempre falando.
Foi leitura coletiva,
com todos participando.

O texto já mencionado
é uma história no sertão,
baseada na conversa
de Seu José e Seu João,
que conversam ao pé da cerca,
falando de sua dimensão.

No falar da dimensão,
lá vem a dificuldade:
Seu João mora no campo,
Seu José é na cidade;
Seu João mediu em braça,
e veio a contrariedade.

A braça é uma unidade
de medida de comprimento
que se usa mais no campo,
desde o seu surgimento.
Pra quem mora na cidade,
dificulta o entendimento.

Coutinho (2020).

Quando narrava o Cordel,
o professor percebeu
que o ambiente da história
com o dos educandos pareceu,
pois eles vinham do campo
ou foi lá que se nasceu.

Prosseguindo a oficina,
terminada a tal leitura,
começou-se a discussão,
todos com desenvoltura,
falando da situação
narrada na literatura.

Em uma das discussões,
a “braça” ganhou destaque:
tinha ali muito educando
que em seu uso era craque,
e tinha opiniões,
argumento e contra-ataque.

A conversa foi na área
de grandezas e medidas.
Trabalhou-se com conceitos,
da escola e da vida.
Surgiu a unidade palmo,
outra que é bem conhecida.

Já em um outro diálogo,
a conversa circulou
em torno de como medir
a braça de que se falou.
E foi essa medição
que se problematizou.

Pois é essa a função
de quem é educador:
discutir os conteúdos,
que trabalha e trabalhou,
e não mostrar algo feito,
terminado, que acabou.

Freire (2014).

Percebeu-se na conversa
com os educandos tida
que eles conheciam a braça,
mas não a sua medida.
E, naquela discussão,
ela foi esclarecida.

Em seguida o ministrante,
dando continuidade,
perguntou aos educandos
sobre outra unidade
que fez surgir do Cordel,
usando de habilidade.

O metro surge na prosa,
na prosa esteve presente,
e o professor explicou,
de maneira eloquente,
que são unidades usadas
em contextos diferentes.

O metro é mais comum
na cidade ser usado.
A braça já é mais no campo
para medir o trabalho
de fazer cerca, arar terra,
fazer estrada e atalho.

Para entender o metro,
exemplos foram pedidos
de objetos corriqueiros
que poderiam ser medidos
usando-se essa unidade
que se havia discutido.

Prontamente, os educandos
responderam essa questão:
porta, mesa e cortina
entraram na discussão.
Coisas do cotidiano
de estudante cidadão.

Conversado sobre o metro,
a braça e sua função,
começou-se outra conversa
pra fazer a conversão.
Quantos metros equivale
a uma braça de João?
Os educandos, engajados,
buscaram solucionar...
E as quatro operações
foram eles relembrar,
e pensar sobre a maneira
que iriam calcular.

Mas encerro a contação,
nesse cordel recitado,
estando bem satisfeito
e também realizado
por ter proposto a oficina,
e o objetivo alcançado.

A oficina ajudou
educando e educador,
a debater os saberes
do urbano e do lavrador.
De contextos tão distintos,
na aula se conversou:

os saberes da escola,
conteúdo escolar;
as quatro operações
usadas pra calcular;
a conversão de medidas
usadas para mensurar.

É tanto conhecimento
que vem do saber popular!
O Cordel do dia a dia,
que é busca do esperançar,
fez ali os educandos
da aula participar.

Dá certo, então, trabalhar
Matemática com o Cordel,
pois, quando narra uma história,
não importa o menestrel,
Cordel faz com que o estudante
tire o lápis do papel...

Tire o lápis do papel
e comece a refletir
sobre a intimidade
que se deve construir
entre o saber que é da escola
e o que a vida faz fluir.

(Freire, 2021).

Finalizo este cordel
repleto de gratidão,
por ter conseguido alcançar
grande participação
dos educandos presentes
bem naquela ocasião.

Matemática, Cordel e Epjai:
os mundos estão ligados!
O objetivo aqui
foi com certeza alcançado!
E o Cordel com a Matemática,
foi na Epjai trabalhado.

Referências

COUTINHO, E. P. “Não precisa pensar que é coisa com coisa, porque não é coisa com coisa não!”. Práticas de numeramento na produção do chapéu de palha de coqueiro Indaiá na comunidade Lapinha em Morro do Pilar/MG. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Educação do Campo) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2020.
FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 70ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2021.
MARINHO, A. C.; PINHEIRO, H. O Cordel no cotidiano escolar. São Paulo: Cortez, 2012.
TRIGUEIRO, A. N.; SANTOS, R. M. B. Estudos dos sólidos geométricos por meio do gênero literário popular “Cordel”: uma abordagem interdisciplinar nas aulas de matemática. In: XV CONFERÊNCIA INTERAMERICANA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 2019. Medellín: XV Ciaem, 2019.

Publicado em 06 de fevereiro de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

SANTOS, Jabson Costa; SILVA, Jonson Ney Dias da; FONSECA, Maria ca Conceição Ferreira Reis. A Educação com Pessoas Jovens, Adultas e idosas (Epjai), a Matemática e o Cordel: a história de um encontro. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 4, 6 de fevereiro de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/4/a-educacao-com-pessoas-jovens-adultas-e-idosas-epjai-a-matematica-e-o-cordel-a-historia-de-um-encontro

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1 Comentário sobre este artigo

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Luciana Borges • 2 meses atrás

Iniciativa brilhante, parabéns! Além do poema matemático, do Millôr Fernandes, uso meu "matematiquês" e até já mostrei alguns dos meus cordéis (acervo pessoal) para alguns dos meus alunos. Unir a matemática ao Cordel será meu mais novo desafio!

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