Tecnologia educacional para o ensino de Zoologia: Uso de guia eletrônico como ferramenta de aprendizagem e divulgação científica
Wilton Ferreira da Silva
Licenciando em Ciências Biológicas (UniSales)
Melissa de Freitas Cordeiro Silva
Doutora em Biotecnologia em Saúde (Rede Nordeste de Biotecnologia), mestre em Genética (Unesp), docente do Curso de Ciências Biológicas do UniSales
A espécie humana compreende parte da biodiversidade do planeta e depende dela para garantir a sua sobrevivência (Ross, 2012). Com os animais, o ser humano mantém contato para a sua alimentação, locomoção ou para estimação . Ao longo dess e convívio com a fauna, se desenvolveu uma ligação emotiva que varia da atração à aversão, da admiração à indiferença (Santos-Fita et al., 2007).
Muitas vezes, a convivência com determinados grupos, como serpentes, morcegos, aranhas ou escorpiões, é fruto da desinformação da sociedade acerca da importância e da necessidade da existência dess es seres vivos na natureza. Atitudes relacionadas ao domínio, à exploração, ao medo e à repulsa em relação aos animais silvestres têm provocado impactos negativos n as populações das espécimes (Eagles; Muffitts, 1990; Newmark et al., 1994; Bizerril, 2004), gerando conflitos entre os humanos e a vida selvagem, impulsionando o extermínio de espécies (Barbosa et al., 2007; Baptista et al., 2008; Pough; Janis; Heiser, 2006).
Tendo isso em vista, tornar conhecimentos científicos acerca da fauna acessíveis ao público, sobretudo aos leigos, é fundamental, pois além de promover a divulgação científica, pode favorecer à conscientização d a importância da biodiversidade . O processo de divulgação científica depende cada vez mais do estabelecimento de sistemas automatizados de informação biológica, capazes de armazenar, gerenciar, analisar e disseminar dados e informações de forma rápida e prática (Canhos; Canhos, 2001).
Uma das formas de se ampliar o alcance das informações é a partir da utilização de sites, um recurso livre e acessível a qualquer indivíduo, além de ser um ambiente de fácil desenvolvimento e manutenção. Por meio de uma página na web, tem-se a possibilidade de oferta de recursos por meio de interfaces interativas e intuitivas, mesmo para quem não tem conhecimento sobre informática. Nielsen (2000) propõe que a interface de um site seja simples. Deve ser o mais intuitivo e consistente possível, facilitando a navegação e a exploração do s usuários.
No tocante à área de ensino, guias eletrônicos podem servir para complementação e revisão de conteúdos vistos em aulas práticas, como é de costume serem realizadas nas disciplinas de Ciências da Natureza. O acervo da coleção zoológica do Centro Universitário Salesiano (UniSales) é uma ferramenta didática importante, auxiliando no aprendizado de diversas disciplinas do curso de Ciências Biológicas do UniSalese e, eventualmente, n o Colégio Salesiano Nossa Senhora de Vitória (CSNSV), que também utiliza o material do acervo como forma complementar ao processo de ensino-aprendizagem do conteúdo teórico visto em sala de aula. O material também é utilizado em exposições e eventos como o Experimenta UniSales e está disponível às escolas que fizerem solicitação. Posteriormente à ministração da aula ou aos eventos didáticos, a possibilidade de retorno à coleção para nova visualização das peças pode ser inviável, devido à dificuldade de disponibilidade de professores e monitores capacitados para realizarem acompanhamento dos estudantes e demais interessados. Assim, o guia online se torna uma alternativa de ferramenta para a aprendizagem, a revisão e a fixação de conteúdo, além de servir como suporte na divulgação de Ciências.
A partir disso, embora haja um acervo didático zoológico no campus da UniSales, até o desenvolvimento do presente estudo, ainda não havia a digitalização do material e nem a sua disponibilização online, dificultando o acesso a sua rica coleção faunística.
Diante do exposto, o objetivo do vigente estudo foi catalogar, digitalizar e disponibilizar a biodiversidade zoológica conservadas em via úmida e seca no Museu de Zoologia do UniSales, além das peças osteológicas e taxidermizadas, em uma plataforma web online. Além disso, compreender o uso do acervo do Museu de Zoologia Online como ferramenta metodológica para o ensino de Zoologia e suas potencialidades pedagógicas, a partir da perspectiva dos professores de Ciências.
Revisão de literaturaDe acordo com Folador (2021),
as transformações tecnológicas pelas quais a sociedade contemporânea tem passado ocorreram de forma rápida, abrangente e profunda. Em função disso, a sociedade atual passa por amplo processo que envolve a intensificação do acesso à comunicação e à informação. Somadas a isso, as novas tecnologias produzem ferramentas que auxiliam na organização e disseminação do conhecimento .
Lemos (2005) destaca que a dinâmica sociotécnica da cibercultura estabeleceu assim, não algo novo, mas algo radical: uma estrutura de comunicação única na história, onde pela primeira vez, qualquer indivíduo poderia enviar e receber mensagens de informação em tempo real, em diferentes formatos e modulações, para qualquer local do planeta e, assim, modificar, adicionar e colaborar com a informação criada por terceiros (Maciel, 2019).
A criação e a expansão da internet, ao longo dos anos, têm propiciado o surgimento de diferentes formas de acesso aos conhecimentos históricos e socialmente construídos. Os museus virtuais, por exemplo, são representantes dess a nova maneira de compartilhar conhecimentos na sociedade (Cazaux, 2019). A emergência de sistemas de comunicação digital, por meio de redes informáticas, e mais especificamente da Internet, cria um novo paradigma de apresentação e acessibilidade nos museus e centros de comunicação de C iência, redefinindo o seu papel como organização que se dedica a elevar o nível de conhecimento científico e tecnológico. Portanto, a questão é como utilizar os ambientes virtuais como meio educacional e que tipo de aprendizagem é mais adequada à Internet, principalmente no que diz respeito ao ensino de C iências. O objetivo é, portanto, analisar criticamente as possibilidades e as limitações únicas da Internet para os museus de C iência (Sabbatini, 2003b).
A tendência de utilização de novas tecnologias está em ascensão na sociedade. Isso faz com que o cotidiano de crianças e adolescentes esteja imerso ness e novo ambiente. Assim, a comunidade da C iência e da popularização científica não pode permanecer isolada durante ess a mudança e a integração dess a cultura digital nas escolas se torna cada vez mais necessária (Júnior, 2015). De acordo com o autor, os recursos tecnológicos para a aplicação educacional podem ser hoje uma excelente ferramenta para a sala de aula, embora, amanhã, possam estar completamente obsoletos. T oda essa aplicação se dá a partir da organização e da forma de como utilizar esses recursos na sala de aula. Essa é uma das regras de integração da tecnologia: preocupar-se mais com a aplicação efetiva dos recursos tecnológicos do que propriamente com esses recursos (Júnior, 2013). Portanto, é importante ressaltar que não devemos ignorar os aspectos técnicos, visto que eles podem ser tratados em segundo plano, pois o objetivo principal é preparar os jovens para o ciberespaço no ensino-aprendizagem.
Rocha e Massarani (2016) indicam que a internet possibilita um acesso mais fácil às informações científicas que até então eram difundidas apenas na comunidade científica: essa facilidade de acesso permite, também, que o público discuta a C iência, a T ecnologia e sua influência no cotidiano, estimulando debates d os mais diversos temas e o desenvolvimento da criticidade do cidadão.
Valério e Bazzo (2006) sugerem que a criação de uma comunidade crítica e reflexiva é possível por meio da democratização do conhecimento, principalmente, dos valores que sustentam a C iência e a T ecnologia em seus bastidores. Sendo assim, os autores ressaltam que a divulgação da C iência pode ser considerada uma importante ferramenta educacional, prontamente disponível na mais ampla variedade de meios de comunicação, com maior acessibilidade a públicos diferentes e, ao mesmo tempo, ter a capacidade de despertar os pensamentos a respeito do impacto social da C iência e da T ecnologia.
Acesso ao acervo zoológico da coleção didáticaA tecnologia digital pode fornecer acesso incomparável ao conteúdo científico das peças digitalizadas do acervo. Quando o acervo está fora do alcance do público, a tarefa de preservação da memória não é plenamente cumprida. A barreira entre conservação e acesso pode ser quebrada pela tecnologia digital, tornando ess as duas dimensões cooperativas (Valle, 2003).
Com a adoção da tecnologia digital, o cenário se transforma completamente, pois esses aspectos se interligam . Para classificar a digitalização como estratégia de preservação é necessário conceber métodos especializados de recuperação de informação.
Gerar uma cópia de preservação de um livro deteriorado […] sem tornar possível sua localização […] é um desperdício de dinheiro. A preservação no mundo digital rejeita qualquer noção vaga de preservação e acesso como atividades separadas (Conway, 1997).
Isso se refere à ideia de que a memória tem uma importância social que vai além do simples armazenamento de um acervo.
Como uma instituição de ensino atualizada, é necessário investir no uso de tecnologias, elaborar materiais digitais e fomentar a alfabetização digital, dentro e fora da sala de aula, fazendo com que os alunos estejam cada vez mais inclusos e imersos nos conteúdos ministrados presencialmente. A disponibilização das peças dos acervos, acessíveis in loco, faz com que os discentes e os demais públicos desenvolvam a autoaprendizagem por meio da pesquisa, descobrindo novas temáticas e ampliando o seu repertório de conhecimento a respeito de determinado assunto (Dantas da Silva et al. , 2018).
Metodologia
Atualmente, na era da globalização tecnológica, a disponibilização de coleções científicas de forma online desempenha um papel importante, pois garante uma organização padronizada do acervo zoológico para apresentação pública, seja com estudantes, pesquisadores e/ou demais interessados no conteúdo, bem como o acesso rápido às informações armazenadas (Abramov, 2022).
Local de implementação do estudo
O Museu de Zoologia do UniSales está localizado no Ciasc (Centro Integrado de Atenção à Saúde da Comunidade) , no bairro Forte São João, município de Vitória/ES. O museu possui uma vasta gama de espécies catalogadas, contendo mais de mil espécimes de animais vertebrados/ invertebrados e é utilizado para aulas práticas com exposição em eventos acadêmicos (Gonçalves de Sá; Duda, 2022).
Fotografia
No tocante à disponibilização da coleção publicamente na internet, a fotografia pode ser considerada como recurso valioso para os procedimentos de ensino-aprendizagem de conceitos e de linguagens científicas. Nesse sentido, a fotografia busca atrelar a necessidade de renovação à era da informação e comunicação, pois as novas tecnologias desafiam os modelos tradicionais no ensino de Ciências (Vogt; Cunha, 2019).
A implementação e organização das informações do acervo zoológico digital começou com 14 grupos taxonômicos, sendo eles: anfíbios, aracnídeos, aves, cnidários, crustáceos, equinodermos, insetos, mamíferos, miriápodes, moluscos, nematoides, peixes, poríferos e répteis.
Foi utilizado um smartphone com uma câmera de resolução de 4608x2592 pixels para o registro dos espécimes do museu. Os animais foram retirados de seus potes de armazenamento e sobrepostos no balcão de mármore. Coberto por duas folhas de EVA lisos, na cor preta ou branca, eles serviram de plano de fundo ou background das peças fotografadas. A iluminação foi proporcionada por uma lâmpada de led de luz neutra de 3000k (Kelvins) em uma luminária articulável de mesa. Foram registradas de uma a dez fotos de cada exemplar, demonstrando os animais e/ou suas partes anatômicas em plano geral (wide shot), plano de identificação (label shot), plano de detalhes isolados (detail isolated shot), frontais (frontal shot), laterais (side shot) e close-up. Também houve, posteriormente, um tratamento das fotografias coletadas no aplicativo de edição de imagens Photoroom, para uma melhor qualidade de visualização, neutralizando o fundo das fotografias, como é geralmente visto em registros científicos e iluminando a peça em exposição, dando destaque aos atributos morfológicos de cada espécime fotografado (Figura 1).
Figura 1: Atributos morfológicos de Caiman latirostris: plano geral (A); plano lateral (B); plano de detalhes isolados (C e D)
Todos os animais utilizados foram anotados em uma planilha e , posteriormente, serviram de material para o catálogo das informações coletadas. R ealizou-se pesquisas em diversos sites científicos de animais, sendo todas elas referenciadas e registradas na plataforma web online em desenvolvimento.
Potencial educativo do acervo de Zoologia
O site foi disponibilizado em forma de questionário qualiquantitativo contendo cinco perguntas com respostas objetivas e discursivas, feito na plataforma Google Forms e direcionado a 23 professores de Ciências da Natureza do E nsino F undamental de escolas públicas e particulares. O objetivo era coletar a percepção de cada docente a respeito da plataforma online da coleção zoológica. Para que os docentes respondessem ao questionário, foi necessário que todos os interessados concordassem com um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), destacando os benefícios, os esclarecimentos, os direitos, a confidencialidade e a avaliação dos registros.
Resultados e discussão
Este trabalho se limitou a catalogar de forma online os exemplares que estão em melhor estado de conservação e os que possuem sua classificação taxonômica parcial ou totalmente descritas, contendo a classe, a ordem, a família e o gênero, totalizando 105 espécimes (Q uadro 1).
Quadro 1: Relação da representatividade taxonômica fotografada e digitalizada do acervo do Museu Zoológico UniSales fixada em via úmida, seca, osteológica e taxidermizada do Centro Universitário Salesiano
Filo |
Táxon |
Espécimes por táxon |
Espécimes |
Arthropoda |
Chelicerata, Crustacea, Hexapoda, Myriapoda, Trilobite |
Chelicerata (8), Crustacea (6), Hexapoda (3), Myriapoda (2), Trilobite (1) |
20 |
Chordata |
Peixes (Chondrichthyes), Actinopterygii), Amphibia, Reptilia, Aves, Mammalia |
Chondrichthyes (3), Actinopterygii (1), Amphibia (8), Reptilia (21), Aves (5), Mammalia (14) |
47 |
Cnidaria |
Schyphozoa, Anthozoa |
Anthozoa (4), Hydrozoa (2) |
6 |
Echinodermata |
Asteroidea, Crinoidea, Echinoidea, Holothuroidea |
Asteroidea (4), Crinoidea (1), Echinoidea (4), Holothuroidea (1) Ophiuroidea (1) |
11 |
Mollusca |
Bivalvia, Cephalopoda, Gastropoda |
Bivalvia (3), Cephalopoda (1), Gastropoda (14) |
18 |
Nematoda |
Secernentea |
Secernentea (2) |
2 |
Porifera |
- |
- |
1 |
Total |
105 |
Desenvolvimento web
Desenvolvimento web é o desenvolvimento de software voltado para a internet. Isso significa que esse software deve ser executado dentro do navegador, ser mantido e distribuído sem a necessidade de instalar programas nos computadores de seus usuários. Os navegadores executam nativamente softwares desenvolvidos em HTML, CSS e Javascript. D essa forma, eles devem ser desenvolvidos nessas linguagens (Ferreira, 2015).
Criador de imagens Bing
O Bing Image Creator ou Criador de Imagens Bing é uma plataforma que permite a criação de imagens por meio da I nteligência A rtificial (IA). Assim, com a plataforma quinze imagens foram produzidas para representar cada um dos táxons apresentados na plataforma do acervo de zoologia online. Para seguir um padrão de formato e de cores, se solicitou à IA a criação de uma figura abstrata do táxon de interesse, adicionando o comando ou promptSilhouetteRetrowave, obtendo os resultados observados na Figura 2.
Figura 2: imagens criadas por meio do Bing Images Creator
HTML e CSS
HTML é a linguagem de marcação usada para a criação de páginas da web. É uma forma de descrever os componentes de um documento, sejam eles elementos de decoração de texto, de definições de listas, de montagem da estrutura ou de importação de recursos. O HTML é uma linguagem de marcação, assim , não é necessário nenhum conhecimento em lógica da programação para utilizá-lo (Robbins, 2018). O CSS ou Cascading Style Sheets cuida da camada de apresentação da página. Ele consiste em uma série de regras que determinam como um determinado pedaço de HTML deve se comportar, como deve ou não ser visto , entre outras propriedades. A determinação de quais pedaços receberão quais regras é feita e m seletores que tem uma sintaxe particular, permitindo identificar um ou mais elementos da página, ao mesmo tempo (Dean, 2018).
Javascript
A linguagem de programação JavaScript foi criada para possibilitar a adição de programas a páginas da web dentro do navegador. Assim, ela permite tornar a página do site mais interativa, criando efeitos visuais e animações. Essa linguagem também nos permite dar respostas imediatas ao usuário, ao contrário das linguagens que precisam se comunicar com um servidor para o processamento.
Git
Levando-se em conta a importância primordial do site estar disponível ao público para a ampla divulgação dos dados das coleções, esse projeto foi implementado no GitHub Pages (Figuras 3 e 4). Nele, é possível criar um site simples com as informações disponibilizadas, hospedando-as e publicando-as gratuitamente no GitHub, uma das maiores plataformas online de trabalho colaborativo do mundo.
O Git permite que, a cada alteração, o usuário capture o estado atual dos arquivos e salve esse estado com os chamados commits (Blischak et al., 2016). Também permite que os usuários “naveguem” pelos commits para acessar versões anteriores dos arquivos e comparem versões específicas dos arquivos. Outra função importante do Git são os branches. Eles permitem suporte a várias versões paralelas da base de código e que o desenvolvedor as combine quando julgue necessário (Chacon; Straub, 2014).
Figura 3: Versão final do site do Museu Zoológico UniSales na versão desktop
Figura 4: Versão final do site do Museu Zoológico UniSales na versão mobile
O acesso ao site pode ser feito por pesquisa em ferramentas de buscas, acessando o link ou por meio de QR Codes (Figura 5) disponíveis no Museu de Zoologia UniSales em aulas práticas do curso de Ciências Biológicas ou em eventos para a comunidade em geral.
Figura 5: QR Code de direcionamento ao site do Museu Zoológico UniSales
Uso de ferramentas digitais
Na análise dos resultados, se verificou que a maioria dos docentes utiliza recursos pedagógicos digitais (como sites, aplicativos e vídeos educacionais) em suas aulas de C iências (Gráfico 1); 39,1% dos docentes fazem uso diário , 26,1%, utilização semanal, 26,1%, utilização mensal e 8,6%, raramente ou nunca.
Gráfico 1: Frequência de uso de recursos pedagógicos digitais pelos docentes nas aulas de Ciências
Diferentes recursos educacionais disponibilizados em plataformas digitais e direcionados à área de Ciências e Biologia – como sites de jogos e quiz – mostram avanços significativos nas alternativas de ensino (Carneiro, 2019), de modo que não há mais como ignorar ou negar os benefícios que o uso de recursos didáticos, aliados às tecnologias, podem proporcionar a o processo de ensino-aprendizagem.
A fim de obter informações especificamente para o ensino de Z oologia, as ferramentas digitais ainda são pouco difundidas, apontando que 56,52% dos professores não as utilizam para ess a finalidade. Os entrevistados que responderam “sim”, totalizando 43,48% (gráfico 2), quando perguntados em relação a quais instrumentos digitais utilizam no ensino de Z oologia, responderam: fotos e vídeos educacionais no Youtube, modelos anatômicos, aplicativos de jogos como o Kahoot ou pesquisas em plataformas de busca.
Gráfico 2: Frequência de utilização de ferramentas digitais no ensino de zoologia pelos docentes nas aulas de Ciências
De acordo com Araújo et al. (2011),
no ensino de Ciências Naturais, onde está situado o ensino de Zoologia, observa-se que, a mesma, sofre com uma série de problemas, tais como: o uso exclusivo do livro didático, a falta de recursos didáticos alternativos, a exposição oral como único recurso por parte do professor para ministrar os conteúdos de Zoologia em sala de aula. Santos e Terán (2009) apontam, ainda, o tempo reduzido para planejamento e execução de atividades em sala de aula e a falta de recursos didáticos alternativos como os principais problemas do ensino de Zoologia.
As questões dissertativas possibilitaram complementar est a pesquisa analítica. Nesse sentido, quando questionados se além do acervo do Museu Zoológico UniSales, eles já haviam ouvido a respeito do site de acervos de espécimes no ensino de Z oologia ou utilizado o acervo, apenas 30,43% responderam que sim, por mio de plataformas digitais comosites dos museus de São Paulo, Minas Gerais e aplicativos como WikiAves.
Para Russo (2006), a utilização das mídias sociais pelos museus pode promover um diálogo consistente entre o público e os espaços culturais menores, o que é vantajoso por sua acessibilidade.
Benefícios
A respeito dos benefícios específicos que os professores apontaram ao utilizar os sitesde acervos de espécimes no ensino de Z oologia, eles afirmaram que ajuda: na divulgação científica, na intensificação do ensino-aprendizagem, a tornar o conteúdo mais visual e próximo do dia a dia e pela variedade de coleções.
Tais tecnologias possibilitam novas formas de uso de dispositivos, tornando possível a distribuição democrática da educação, de informações e dessocialização (Daros et al., 2019).
Importância percebida
Por fim, levantou-se a opinião dos docentes a respeito d a importância de um acervo de espécimes online no ensino, onde há uma escala de um a quatro ( um é pouco importante e quatro é muito importante). Foi constatado que 73,9% dos entrevistados consideram que um acervo de Z oologia online é muito importante ( 21,7% consideram importante e 4,3% neutros), como no Gráfico 3 .
Gráfico 3: Percepção dos docentes sobre a importância de um acervo de espécimes online no ensino de Zoologia
A partir desses dados, pode-se perceber que a utilização de ferramentas digitais está presente no cotidiano dos professores e auxiliam no processo de ensino de C iências. Especificamente no ensino de Z oologia, os docentes ainda não têm referência de recursos didáticos para a modalidade, demonstrando que ferramentas digitais, como o acervo online do Museu de Zoologia UniSales, são necessária s e podem impactar positivamente no processo de ensino- aprendizagem, proporcionando um conteúdo de fácil acesso e visualização na intensificação do aprendizado discente .
A BNCC (Brasil, 2018) cita a necessidade dos estudantes explorarem, nas aulas de Ciências, a biodiversidade, os diferentes níveis de organização dos seres vivos e a influência ambiental d esses seres. Nessa abordagem, o professor pode fazer uso de dispositivos e aplicativos digitais. Logo, o documento deixa claro que as tecnologias digitais devem ser contempladas no ensino da Zoologia.
Ness e sentido é importante compreender que, no contexto educativo, as tecnologias não substituem os materiais já utilizados pelos professores em sala de aula, mas os complementa . Os novos elementos visam facilitar tanto o ensino como a aprendizagem, proporcionando a possibilidade de aulas mais interativas e dinâmicas (Schuhmacher et al., 2017).
Conclusões
O site de coleções tem funcionalidade rica, que o torna conveniente tanto para professores quanto para profissionais da comunidade científica em geral, pois sua utilização é intuitiva e serve como um complemento para o ensino de Z oologia na identificação de espécimes e em suas estruturas anatômicas, além de informações comportamentais e morfológicas a respeito dos animais. Para estudantes e entusiastas da Z oologia, as coleções enriquecem o aprendizado, pois trazem a visualização dos exemplares por meio de seus computadores e smartphones. Além disso, todos os interessados poderão realizar a leitura de QR codesdisponíveis no Museu de Zoologia, seja d urante as aulas práticas do curso de C iências B iológicas, em exposições acadêmicas do curso, em eventos para as comunidades do entorno da instituição ou por meio da busca em ferramentas de pesquisa disponíveis em navegadores de dispositivos eletrônicos.
As tecnologias associadas ao ensino de C iências contribuem com um aprendizado que não se encontra limitado às práticas tradicionais como os livros didáticos, visto que o uso dos guias eletrônicos está difundido na sociedade, possibilitando a interação do aluno com o conteúdo didático a todo momento. Além do mais, é fundamental uma formação contínua para que os professores saibam utilizar e escolher as estratégias e os recursos pedagógicos, a fim de se adaptarem à realidade tecnológica, diversificando o processo de ensino. O docente deve ser um facilitador da aprendizagem, proporcionando meios adequados e atualizados que contribuam na formação de seus alunos.
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Publicado em 26 de novembro de 2024
Como citar este artigo (ABNT)
SILVA, Wilton Ferreira da; SILVA, Melissa de Freitas Cordeiro. Tecnologia educacional para o ensino de Zoologia: Uso de guia eletrônico como ferramenta de aprendizagem e divulgação científica. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 43, 26 de novembro de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/43/tecnologia-educacional-para-o-ensino-de-zoologia-uso-de-guia-eletronico-como-ferramenta-de-aprendizagem-e-divulgacao-cientifica
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