A Cultura de Paz nas escolas brasileiras: estado da arte no pós-covid-19

Isabel Cristina Weisz

Doutoranda em Psicologia da Educação (PUC-SP), licenciada e mestra em Língua Portuguesa (PUC-SP), especialista em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem (PUC-RS), pedagoga especializada em Alfabetização e em Gestão e Supervisão Escolar

Sabemos que, para além de sua função básica de comunicar e construir conhecimentos, a escola vem sendo caracterizada já há algumas décadas como um ambiente de pluralidade de relações interpessoais e de desenvolvimento global de crianças e jovens. Isso aconteceu em virtude de diversas modificações da sociedade, como o ingresso massivo da mulher no mercado de trabalho – com a subsequente necessidade do ingresso precoce de crianças em creches e escolas infantis – e o processo de inclusão de pessoas com deficiência na educação escolar regular.

Assim, como não poderia deixar de ser, ela foi fortemente impactada durante o longo período de atividades não presenciais ocasionado pela pandemia da covid-19, fator que ajudou a tipificar o então chamado “novo normal”.  A volta às aulas presenciais revelou uma severa defasagem de desenvolvimento tanto cognitivo quanto socioafetivo dos alunos.

Em termos de sociedade mais ampla, verificamos uma rápida e intensa escalada da violência, derivada de condições diversas, dentre as quais podemos detectar aspectos políticos e socioculturais. Como elemento sociocultural que contribui de maneira factual para disseminar a agressão gratuita e a cultura de ódio, podemos assinalar o comportamento de determinados grupos criados e propagados nas redes sociais.

Toda essa beligerância social e virtual tem reverberado em nossas escolas em forma de bullying e, infelizmente, alguns ataques detalhadamente planejados que deixaram um saldo de vítimas, algumas fatais.

Um fenômeno tem sido observado ultimamente neste tipo de ataque no Brasil: seus autores têm a intenção manifesta de viralizar e se tornarem conhecidos nas mídias. Com esse comportamento, eles são vistos na web como anti-heróis e causam um “efeito de contágio” que faz com que alguns outros jovens busquem a agressão como forma de conseguir notoriedade.

Dada a natureza aleatória desses ataques, que logicamente contam com o fator surpresa e a vulnerabilidade das vítimas, o poder público costuma agir sempre de maneira circunstancial, retroativa e paliativa. Consequentemente, passamos a nos perguntar: que medidas preventivas nós, educadores, poderíamos colocar em prática sem necessariamente esperar a implantação de novas políticas em Educação no sentido em questão?

Nesse lamentável cenário, refletimos sobre o trabalho do coordenador e o florescimento de uma cultura de paz nas escolas. Esse é o conteúdo que apresentamos a seguir.

A escola como reflexo das sociedades

Ao ponderar sobre a violência na escola contemporânea, Casali (2023) identifica uma evidente contraposição: de algoz ela passou a ser vítima.

É de nosso conhecimento que, até um passado relativamente recente no Brasil, a escola foi uma entidade social excludente. Funcionando com base em paradigmas e etiquetas da classe média, a escola pública brasileira não possuía estratégias eficazes para recepcionar e manter as crianças de famílias muito pobres estudando; elas se autoexcluíam ou eram eliminadas pelo próprio sistema já no início da jornada.

Essa segregação moral e afetiva não foi a única agressão praticada pela escola. A palmatória (ou a “vara”) fez parte efetiva das metodologias de ensino já na Baixa Idade Média, ainda na época dos preceptores (Vasconcellos, 2015) e dos primeiros colégios surgidos no século XVI. Puxões de orelha, de cabelo, gritos, xingamentos e ficar de castigo de pé contra a parede no canto da sala foram adições que compuseram a cultura de medo e humilhação adotada pela escola quando ela passou a ser pública e mais genérica durante a primeira Revolução Industrial na Europa.

Num ambiente tal, em que os próprios professores ministravam dores físicas e psíquicas em seus alunos, o que esperar do tipo de relacionamento que poderia surgir entre estes últimos? Colocar-se no lugar do outro que eventualmente estivesse enfrentando alguma adversidade ou injustiça estava fora de cogitação. Esse é um exercício mental que exige maturidade do cérebro e, segundo o neuroendocrinologista Robert Sapolsky (2021), não se manifesta espontaneamente em um indivíduo antes dos dez anos de idade. Ao contrário de ser intencionalmente estimulada, essa reação afetiva era atrasada pelo exemplo dos próprios professores. Além disso, esses profissionais também ignoravam completamente todas as situações de bullying, ainda que elas resultassem em agressões físicas constantes a algumas crianças durante o recreio ou na saída da escola.

Essa situação começou a se alterar de fora para dentro da escola em meados dos anos 1980. Os intelectuais, a classe artística e outros setores mais esclarecidos da sociedade se mobilizaram até alcançar uma metamorfose no regime governamental do país. Com a nova política, leis de proteção de seres indefesos (crianças, idosos e animais) foram promulgadas (Weisz, 2021). O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (Brasil, 1990) foi amplamente divulgado, e isso decretou o fim dos castigos físicos e morais aplicados por educadores contra alunos nas escolas brasileiras. Entretanto, isso não extinguiu o bullying entre os alunos, conforme veremos no próximo tópico.

Nesse intervalo de tempo, o ensino teve que ser democratizado, por imposição de órgãos internacionais, como o Banco Mundial, e os governos tiveram que oferecer condições mínimas para universalizar o acesso à escola: desde fornecer uniforme, material escolar e alimentação adequada durante cada período letivo até incentivos financeiros para que as famílias mais pobres cuidassem da frequência de seus filhos às aulas. Provas institucionais começaram a ser utilizadas como instrumento de averiguação da qualidade do trabalho realizado por cada escola. Se ainda estávamos longe da perfeição nos índices internacionais de desempenho escolar, como o Pisa, havia no mínimo uma percepção de democratização na Educação do país, até que, há pouco mais de uma década, essa escola igualitária e de livre acesso passasse a contabilizar atentados protagonizados por alunos, ex-alunos e indivíduos sem nenhuma relação pessoal com a escola que decidiram atacar.

O ódio e a violência cultivados em diversos âmbitos da sociedade se voltaram contra a escola, que, de agressora passou a ser mártir indefesa, conforme sintetizou a citação de Casali no início deste tópico. Em 2018, a promoção da Cultura de Paz nas escolas brasileiras passou a figurar como imperativo educacional fundamental, por meio do inciso X do Art. 12 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), por atualização introduzida pela Lei nº 13.613/18. Nesse contexto, a busca por um ambiente escolar seguro, inclusivo e harmonioso ganha destaque, refletindo a necessidade de formar cidadãos conscientes, engajados e capazes de contribuir positivamente para a sociedade. A Cultura de Paz, como um conceito multifacetado, abrange não apenas a ausência de violência, mas também a promoção ativa de valores como empatia, diálogo construtivo, resolução não violenta de conflitos e respeito à diversidade.

A implementação efetiva da Cultura de Paz nas escolas contribui para o bem-estar dos alunos e educadores e desempenha papel crucial na construção de uma sociedade mais coesa e justa. Ao abordar questões como bullying, discriminação e agressão de maneira proativa, as escolas se tornam espaços de aprendizado não apenas de conteúdo acadêmico, mas também de habilidades sociais e emocionais essenciais para a vida. Nesse sentido, é fundamental explorar as estratégias pedagógicas que podem ser adotadas para fomentar a Cultura de Paz, assim como discutir os desafios que podem surgir ao longo desse processo, visando uma compreensão holística da aplicação desse princípio na realidade educacional brasileira.

Entendendo o bullying e o cyberbullying

Bullying é uma palavra inglesa que, em tempos mais recentes, passou a ser usada no Brasil para designar uma conduta agressiva que sempre esteve presente nas escolas, em maior ou menor escala. Até há poucas décadas, esse tipo de comportamento era frequentemente ignorado pelos professores e, não raras vezes, praticado por eles mesmos ao apelidar ou frequentemente humilhar determinados alunos, conforme já mencionamos.

Entendido de maneira mais genérica e popular como uma zombaria constante (assédio moral), o bullying é definido de maneira específica na Psicologia como uma violência sistemática – verbal, física ou relacional – que acontece no dia a dia da escola, resultando em rejeição e exclusão social (Wendt; Lisboa, 2014).

Na era da web surgiu a versão não presencial do bullying: o cyberbullying. Nessa modalidade, os agressores extrapolam o limite físico da escola e utilizam ferramentas online, incluindo as mídias sociais, para perseguir suas vítimas com vídeos e/ou mensagens ultrajantes. Contudo, quando uma agressão é realizada de forma isolada, em um único episódio, presencialmente ou por meio das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC), não fica caracterizada a prática de bullying ou cyberbullying.

As vítimas, na maioria das vezes, não se queixam aos professores ou aos pais. Muitas delas desenvolvem traumas em relação ao ambiente escolar, e a consequência disso é o abandono dos estudos, principalmente nas classes sociais menos favorecidas.

Por que o bullying acontece? A resposta a esse questionamento está relacionada à Psicologia e à Neurobiologia das emoções. Desde Darwin, diversos cientistas têm estudado as emoções. Nesse campo, foram identificadas seis emoções básicas manifestadas por todos os indivíduos pertencentes ao gênero humano: alegria, tristeza, raiva, medo, nojo e surpresa (Ekman, 2011).

Tais emoções foram se sofisticando ao longo da evolução do Homo sapiens. Esse conjunto de sensações garantiu a sobrevivência da espécie, pois sua principal função é adaptar o ser humano a contextos diversos, desencadeando reações tais como aproximação, fuga, luta, repulsa etc.

Nesse aspecto, entendemos a raiva como uma emoção adaptativa. Todos sabem que não convém se aproximar de alguém que esteja expressando raiva. Por isso, os famosos “puxadores de briga” das escolas usam a raiva, o vocabulário agressivo e ares mal-encarados como forma de demonstrar que são poderosos e, assim, intimidar os outros alunos.

Convém esclarecer que essa escolha de atitude não é aleatória. Muitos daqueles que são agressores na escola são vítimas em outros lugares. Acontece também o oposto, o indivíduo é vítima na escola e agressor fora dela. Tal quadro recebe o nome de “vítima-agressor” (Wendt et al, 2014). Por se tratar de processo de alternância de papéis, ditado pela raiva e violência, os agressores temem vir a se transformar em vítimas, pois a vingança é algo esperado nessas situações.

O clima escolar e ocorrência de bullying e cyberbullying

O bullying é um fenômeno que ocorre dentro de um grupo. Está relacionado à formação de identidade natural da adolescência. Na escola, os estudantes tendem a ficar em turminhas que são formadas a partir comportamentos e interesses em comum.

Cada jovem deseja fazer parte de um grupo de amigos com os quais ele imagina que possui afinidades. Ser rejeitado causa isolamento. Essa rejeição seguida de bullying acarreta depressão, perda de autoestima e queda de rendimento escolar. Consequentemente, os estudos, a escola e as relações sociais em outros ambientes deixam de ser de seu interesse (Wendt; Lisboa, 2020).

Dentro desse contexto, falamos de clima escolar, que é composto pelo conjunto de situações relacionais e de emoções predominantes em uma escola. É algo imaterial que tem consequências no espaço físico (por exemplo, depredação de mobiliário e pichações) e no ambiente emocional (constantes provocações, discussões violentas culminando em agressões físicas tanto entre alunos quanto partindo de alunos contra professores).

O clima escolar é derivado das situações organizacionais e funcionais de uma escola, e a verificação de bullying no interior delas, em maior ou menor grau. Algumas pesquisas do grupo RIVI (Relações Interpessoais e Violência: Contextos Clínicos, Sociais, Educativos e Virtuais), da PUC-RS, coordenado pela psicóloga e professora Carolina Lisboa, revelaram que 64% dos alunos entrevistados relataram que os atos de cyberbullying dos quais foram vítimas tinham se originado na escola. Essas agressões continuaram acontecendo simultaneamente no ambiente escolar e na web.

Outros estudos demonstraram que, mesmo em regiões geográficas mais violentas no país, a incidência de bullying e outros tipos de agressão (como furto, ameaças, difamação ou episódios de agressão física) variam de acordo com o “clima” de cada escola.

O clima escolar no pós-covid-19

Em tempos recentes, a escola, lugar de troca, de aprendizagem a partir da convivência com o “outro”, sofreu um duro golpe: a covid-19 obrigou o fechamento de seus portões. Esse ato foi sucedido por um intenso repensar de metodologias que tiveram que ser adaptadas para o ensino a distância. A suspensão de convivência retardou em muito o aprendizado dos alunos, pois, como sabemos, o desenvolvimento socioemocional e o desenvolvimento cognitivo caminham juntos. Se somarmos a isso os problemas familiares que foram agravados durante o confinamento, em função da perda de renda e dos atritos diuturnos entre casais, crianças e adolescentes convivendo 24 horas do dia sob o mesmo teto, podemos entender os relatos de alguns educadores dando conta de que vários estudantes voltaram arredios, com dificuldade de se aproximar e interagir com colegas.

O clima emocional da escola ficou diferente em razão dessas circunstâncias. Esse quadro foi intensamente agravado em virtude da angústia que decorreu de ataques que resultaram em mortes e ondas de ameaças de chacinas verificados na primeira metade de 2023.

Na atual página da história da Educação brasileira, medidas multifatoriais para recuperar o espaço de convivência que a escola se propõe a ser vêm sendo discutidas em diversos âmbitos da sociedade, além da própria escola. Muitas famílias relatam que se sentiriam mais seguras se houvesse maior policiamento nas escolas. Sem invalidar essa perspectiva, notamos que, nessa situação extremamente complexa, providências imediatistas de repressão buscam apenas suprimir o efeito sem tentar lidar com a causa. Essa disposição pode gerar algumas respostas opostas ao esperado: pessoas mais reativas tendem a se tornar mais agressivas em face de medidas de contenção. Com isso, estamos observando que a segurança policial, ainda que necessária, não conseguirá sozinha restituir a sensação de confiança e espontaneidade necessárias ao aprendizado. A criação de uma Cultura de Paz nas escolas não tem como ser postergada: não se trata mais de uma questão de simples opção.

Alguns dos desafios contemporâneos da escola

Com os desdobramentos das funções de uma escola que passou a atender a todos sem discriminação, multiplicaram-se as funções dos educadores. Na mesma medida em que esse trabalho profissional de educar se tornou mais complexo, maiores foram os encargos e as expectativas com relação aos profissionais da Educação.

Desde o início deste século, os avanços em tecnologia (notadamente nas telecomunicações) se tornaram cada vez mais rápidos. Esse fato tem reverberado em profundas alterações em todos os campos da vida humana.

O ritmo de mudanças na vida social se tornou altamente acelerado – ou até mesmo frenético – a partir da popularização da internet. Basta constatar que há tempos se tornou mandatório (e não mais optativo) fazer uso de serviços online. O agendamento de atendimento em alguns serviços públicos é uma demonstração disso.

Entretanto, é inevitável ter consciência de que nem todas essas mudanças foram positivas. A título de exemplo, verificamos no espectro dos muitos usos possíveis das redes sociais que um dos mais destacados é a utilização desse meio como a principal via de propagação das fake news e do negacionismo.

A difusão do negacionismo é profundamente nociva às instituições educacionais. Muito tempo e energia têm sido consumidos para mostrar vidências irrefutáveis de fatos científicos que há séculos haviam se tornado consenso entre as pessoas minimamente escolarizadas. Cada adulto que abraça o terraplanismo, sob o patrocínio de supostas lideranças políticas, incute essa ficção mal-intencionada nas mentes de seus filhos e impacta o trabalho dos professores deles. Isso atrasa a transmissão e a evolução dos conhecimentos que a humanidade construiu com muito trabalho e esforço ao longo do tempo.

Outro uso perverso das redes sociais tem a escola como alvo exclusivo para, por meio dela, impor o pânico e o alerta constantes na sociedade. Jornais confiáveis têm publicado reportagens informando que grupos neonazistas, racistas e satanistas estão unidos com um propósito comum: aliciar crianças e adolescentes emocionalmente vulneráveis para a execução de chacinas em escolas.

Em meio a esse turbilhão de assolações à educação e à escola como comunidade social, professores, coordenadores e gestores escolares assumem automaticamente novas atribuições. Enquanto o combate ao negacionismo científico é uma tarefa a ser dividida com outros segmentos da sociedade, como o jornalismo e as entidades de produção e fomento da Ciência – como a Fiocruz e o Instituto Butantan –, as ações de erradicação da sensação de angústia e insegurança provenientes dos ataques em escolas devem partir dos governos e da própria comunidade de educadores brasileiros.

Uma sugestão viável ao governo seria a criação de programas contínuos de orientação e prevenção da violência envolvendo toda a comunidade escolar: alunos, pais e educadores. Além disso, alguns postos de saúde regionais poderiam contar com núcleos de apoio psicossocial exclusivos para atender crianças e adolescentes com comportamento de risco relacionados à agressão.

Medidas dessa natureza estão além da ingerência dos educadores escolares. Não obstante isso, nós, educadores, podemos construir um ambiente de oportunidades para uma cultura de paz.

A escola como espaço de refúgio e resistência

Christov (2019) apresenta a caracterização da escola como refúgio: um espaço que, além de prover o ensino tradicional, seria também um ambiente de distanciamento de todos os distúrbios sociais. Essa escola refúgio ofereceria uma fuga segura da lógica de consumo, dos problemas domésticos, dos confrontos político-partidários e de todo e qualquer tipo de violência. No lugar de todas essas e outras adversidades, o refúgio escolar seria capaz de propiciar o encontro entre diferentes pontos de vista e, a partir deles, promover reflexões coletivas mediadas pela ética.

No momento presente, em que grupos organizados na web sob a égide do ódio escolheram a escola como palco de chacinas arbitrárias, esse espaço deve, antes de tudo, tornar-se uma resistência. Só assim poderá se transformar em refúgio seguro.

A resistência começa no momento em que a escola abre seus portões sem se deixar intimidar por mensagens e boatos que alastram ameaças de ataques em dias específicos. Ela se desenvolve e se fortalece quando o coordenador pedagógico traz o tema da criação de uma cultura de paz para as reuniões e, juntamente com a equipe docente e gestora, elabora medidas objetivas de combate e prevenção contra todos os tipos de violência na escola.

A seguir, relacionamos algumas sugestões viáveis para o desenvolvimento de uma Cultura de Paz no âmbito escolar:

Envolvendo alunos

  1. Círculos restaurativos: sessões nas quais alunos e professores se reúnem para discutir problemas, compartilhar experiências para juntos buscarem soluções de conflitos. Essa prática promove a escuta ativa, a empatia e a compreensão mútua;
  2. Programas de mentoria: estabelecimento de programas de mentoria em que alunos mais velhos auxiliem os mais novos. Isso cria laços entre diferentes grupos de alunos e incentiva um ambiente de apoio e orientação;
  3. Projetos de arte e expressão: incentivo aos alunos que expressem suas emoções, pensamentos e ideias por meio da arte, da música, da dança, do teatro ou da escrita. Tais atividades proporcionam uma maneira construtiva de lidar com conflitos e compartilhar mensagens de paz;
  4. Campanhas de conscientização: envolvimento dos alunos na criação e implementação de campanhas de conscientização sobre temas como bullying, respeito, diversidade e inclusão. É uma excelente oportunidade para disseminar mensagens positivas de forma criativa.

Envolvendo a comunidade

  1. Sessões de capacitação para pais: realização de workshops e palestras para os pais, abordando estratégias para promover a Cultura de Paz em casa e apoiar os esforços da escola;
  2. Eventos culturais e festivais: organização de eventos que celebrem a diversidade cultural da comunidade escolar a fim de construir pontes entre diferentes grupos e promover a compreensão intercultural;
  3. Serviço à comunidade: oferta de oportunidades para que os alunos se envolvam em projetos de serviço comunitário, como limpeza de parques, ajuda a abrigos de animais ou apoio a instituições de caridade. Assim se constrói senso de responsabilidade social e conexão com a comunidade;
  4. Fóruns de discussão abertos: preparação de fóruns de discussão comunitários regulares, nos quais alunos, pais, professores e membros da comunidade possam compartilhar ideias sobre como melhorar a cultura de paz na escola.

Essas sugestões devem ser adaptadas às necessidades e características específicas da escola e da comunidade com o intuito de criar um ambiente escolar verdadeiramente pacífico e inclusivo.

Considerações finais

Por ser um construto epistemológico e uma prática profissional composta por diversos campos da ciência (Sociologia, Psicologia, Didática, Neurociências da Cognição etc.), a Educação está em processo constante de renovação e aperfeiçoamento. Essa característica fica ainda mais explícita quando temos em mente que a práxis escolar se dá no âmago de uma sociedade em incessante transmutação e tem como objeto indivíduos humanos de origens diversas.

Dada essa mutabilidade, nada pode ser considerado definitivo e peremptório. Isso equivale a dizer que em Educação não existe uma verdade absoluta. As resoluções, as técnicas e os procedimentos são de durabilidade indeterminada, porém sempre de caráter temporário. O que determina cada mudança são as próprias contingências da sociedade.

Referências

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BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htmhttps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 18 jul. 2023.

CASALI, A. Redes sociais, juventude e violência na escola. Mesa redonda online, realizada pelo Programa de Pós-graduação em Educação PUC-Minas. Belo Horizonte, 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=JdA4ou7bnlc. Acesso em: 12 maio 2023.

CHRISTOV, L. H. S. O imponderável e o desejo da vida em comum: uma edificação de cultura da paz. In: PLACCO, V. M. N. S.; ALMEIDA, L. R. O coordenador pedagógico e as questões emergentes na escola. São Paulo: Loyola, 2019. p. 161-172.

EKMAN, P. A linguagem das emoções. Trad. Carlos Zslak. Lisboa: Lua de Papel, 2011.

PLACCO, V. M. N. S.; SOUZA, V. L. T. Problematizando as dimensões constitutivas da identidade do CP: articular/formar/transformar como unidade de ação. In: PLACCO, V. M. N. S.; ALMEIDA, L. R. O coordenador pedagógico e as questões emergentes na escola. São Paulo: Loyola, 2019. p. 27-33.

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Publicado em 03 de dezembro de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

WEISZ, Isabel Cristina. A Cultura de Paz nas escolas brasileiras: estado da arte no pós-covid-19. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 44, 3 de dezembro de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/44/a-cultura-de-paz-nas-escolas-brasileiras-estado-da-arte-no-pos-covid-19

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