Interdisciplinaridade e escolarização: o lugar da História na Educação Contemporânea
Luan Ferreira da Silva Paz
UEPB
Ewerton Rafael Raimundo Gomes
UEPB
Bruno Emanuel Herculano da Silva
UEPB
Juliana Fontes de Lima
UEPB
Andrei Mazzola de Jesus Dias
UEPB
Mylena Santos de Magalhães
UEPB
Lucas Barroso Rego
UFRJ
Lucas Luis da Silva
UFPB
O século XXI tem demonstrado que há necessidade de uma educação interdisciplinar, o que é perceptível pelas discussões em torno desse elemento. Essa percepção surge das emergências de diversos grupos sociais que compõem uma sociedade tão diversa, cujas discussões têm sido abordadas com base em elementos epistemológicos e pedagógicos presentes nelas. É nessa diversidade que surgem diversas conceituações sobre a interdisciplinaridade no sentido de entender essa perspectiva. Assim sendo, o principal objetivo deste ensaio é o envolvimento em estudos acerca da produção do conhecimento, bem como formas de transmissão; neste segundo, as discussões privilegiam elementos como currículo, ensino e aprendizagem acerca dos conteúdos transmitidos.
Mesmo com essa emergência, fica em evidência que nas redes de ensino o aspecto interdisciplinar é pouco trabalhado, tendo em vista que as estruturas educacionais não acompanham os avanços e as necessidades da sociedade contemporânea ao trazer novas metodologias para a sala de aula; deveriam se apoiar em metodologias inovadoras de modo a sair do tradicional e abraçar aquelas que contemplem a complexidade social que está em constante evolução e/ou transformação. Em oposição, o que é visto são metodologias baseadas em uma “educação bancária”, conforme mostra Freire (1971, p. 74). Os docentes, por estarem na linha de frente, não conseguem mudar esse movimento, mesmo sendo peça-chave para uma educação interdisciplinar.
A inserção da interdisciplinaridade nesse processo que contempla a produção, mas também a introdução dela no meio educacional é defendida por diversos autores que são favoráveis a esse movimento, principalmente quando olhamos para aqueles que atentam o seu olhar para o currículo e as metodologias. Em Frigotto (1995, p. 26), a interdisciplinaridade surge como um elemento em que é possível o “homem produzir-se enquanto ser social e enquanto sujeito e objeto do conhecimento social”. Nesse sentido, ela adentra e contempla a realidade na qual os indivíduos estão inseridos, moldando os aspectos presentes em diversos ambientes, aspectos que vão desde os conflitos existentes até as relações que permitem o contraditório.
Sobre esse aspecto em torno das relações sociais, Morin (2005, p. 23) diz que
a reforma necessária do pensamento é aquela que gera um pensamento do contexto e do complexo. O pensamento contextual busca sempre a relação de inseparabilidade e as inter-retroações entre qualquer fenômeno e seu contexto, e deste com o contexto planetário. O complexo requer um pensamento que capte relações, inter-relações, implicações mútuas, fenômenos multidimensionais, realidades que são simultaneamente solidárias e conflitivas (como a própria democracia, que é o sistema que se nutre de antagonismos e que, simultaneamente, os regula), que respeite a diversidade, ao mesmo tempo que a unidade, um pensamento organizador que conceba a relação recíproca entre todas as partes.
Ou seja, a interdisciplinaridade surge como elemento que possibilita o processo de ensino-aprendizagem e, como resultado, há o estabelecimento das experiências por meio das relações (Fazenda, 1979), o que influencia o pensar (Morin, 2005), o modo como será organizado o currículo (Japiassu, 1976) e orienta os procedimentos metodológicos para a transmissão do conteúdo (Gadotti, 1993).
Esta produção textual tem sua realização baseada em vasta pesquisa bibliográfica, centrada no objetivo geral de promover uma discussão acerca da inserção da interdisciplinaridade no processo de escolarização, elemento que se mostra essencial para a sociedade contemporânea, tão diversificada, em que essas discussões contemplam o papel docente no processo e os resultados trazidos a partir dessa inserção.
Conceito “interdisciplinar”
Pensando no conceito de interdisciplinaridade, podemos enfatizar que se trata não apenas de uma confluência de disciplinas em um conjunto disforme e sem relação com a realidade dos discentes e suas demandas e necessidades sociais para compreensão do mundo e realidade em seu entorno. Não basta apenas citar ou trazer exemplos de outras áreas para a área em que se exerce, mas sim trabalhar de forma conectada com as demais disciplinas escolares, problematizando a questão de que o conhecimento nem sempre foi compartimentado e profundamente específico e especializado.
Ao pensar o conceito, é interessante historicizá-lo. Desse modo, podemos observar que a problemática da interdisciplinaridade surgiu no século XX, já com a emergência da especialização dos saberes em várias disciplinas, que muitas vezes não dialogavam entre si: “durante o século XX, a história do saber passou pelo impacto da expansão do trabalho científico, foi o momento de definição dos espaços, da dissociação das partes para melhor defini-las” (Azevedo; Lima, 2013, p. 128).
É comum pensar que a interdisciplinaridade no campo histórico teria surgido na Europa na década de 1960, em específico na França. Essa constatação, porém, nos faz problematizar que esse conceito, como muitos outros, é importado, ou seja, trazido de fora para pensar uma realidade diferente que é a do Brasil e da América Latina no geral.
Pensando nisso, alguns teóricos buscaram traçar caminhos para a interdisciplinaridade no Brasil por volta dos anos 1990, tentando trabalhar a questão epistemológica, a forma de construir o saber de maneira interdisciplinar, focando de início apenas em uma questão teórica para depois pensar um modo de praticar esse saber na realidade brasileira e saber agir e ser interdisciplinar, sobretudo no campo da Educação, pois “na interdisciplinaridade escolar a perspectiva é educativa, assim os saberes escolares procedem de uma estruturação diferente dos pertencentes aos saberes constitutivos das ciências” (Fazenda, 2008, p. 97).
Até mesmo nas leis que orientam a educação no país percebe-se abertura a um saber mais amplo e dialogado, como nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que já tratavam da valorização de um saber holístico e horizontal, no entanto, sem mencionar o conceito de interdisciplinaridade de forma fechada, dando abertura para a interpretação do educador, já que esse conceito é de certa maneira bem elástico. A interdisciplinaridade aqui discutida é a pensada para o campo da Educação e, em especial, para o ensino de História no Brasil.
Portanto, deve-se observar que a interdisciplinaridade não se aplica apenas à união de saberes em si, mas ao pensar a união e o diálogo de todo o corpo escolar, passando por diretores, gestores, coordenação, professores, alunos, funcionários da escola e os próprios pais e a comunidade em que a escola se insere. Com esse cuidado com as demandas de todo o corpo escolar, se torna mais fácil que se perceba a cultura daquele espaço e que se possa aprofundar melhor as temáticas que tenham ligação com a realidade dos discentes.
Trabalhar com estudantes de uma escola localizada no meio rural, por exemplo, é diferente de uma abordagem com estudantes de uma área urbana. Interesses, visão de mundo e até noção de tempo e espaço são distintos entre esses públicos. Assim, pode-se até mesmo trabalhar essas relações díspares entre o rural e o urbano em uma aula, pensando certos conceitos e como eles podem ser pensados e articulados aos demais saberes em uma oficina ou em um projeto realizado na escola. A interdisciplinaridade estuda “métodos de análise do mundo, em função das finalidades sociais, enfatiza os impasses vividos pelas disciplinas cientificas em suas impossibilidades de sozinhas enfrentarem problemáticas complexas” (Fazenda, 2008, p. 95).
Pensando a História em especial e sua posição de abertura perante as demais áreas por ser um campo do saber que estuda diversas temáticas, ela pode ser uma área que muito bem articule os campos dos saberes, sobretudo das humanidades, para melhor preparar o estudante para a vida e para o trabalho, com uma visão ampla e mais geral que possa servir para sua orientação e formação social e humana, assim como para sua intervenção crítica e consciente na sociedade.
A Escola dos Annales, na França, foi uma das pioneiras nesse tipo de abordagem interdisciplinar no campo da História como ciência e produtora de conhecimento, pois tratou de temáticas como cultura, mentalidade, representações com intelectuais de variadas áreas que a partir desses temas transversais que buscavam discutir em conjunto a temática e aprofundá-la se servindo da Psicologia, História, Sociologia, Geografia, Antropologia e Economia, reforçando a produção de um conhecimento cada vez mais complexo que dê conta de maiores detalhes de um dado objeto estudado.
Ao pensar a realidade brasileira e sua intersecção de variadas questões sociais, políticas e culturais que afligem o meio social de estudantes e professores, se faz ainda mais necessário o trabalho interdisciplinar em sala de aula, para que os estudantes possam compreender seu país em suas dimensões de complexidade e nele interferir de modo crítico como sujeito histórico, pois esta é uma das funcionalidades do ensino de História: produzir subjetividades, modos de ser e sentir a historicidade, se perceber no meio em que se está e o que já ocorreu nesse mesmo espaço, articulando esse saber ao da Geografia, Geopolítica, Sociologia, Filosofia, assim como as áreas de Exatas e Ciências da Natureza e Linguagens. Um saber interdisciplinar serve para uma formação dinâmica e sintética, o que favorece a formação de estudantes com uma perspectiva mais ampla e conhecedora.
Interdisciplinaridade aplicada à Educação
Quando nos deparamos com o conceito de interdisciplinaridade, compreendemos que, a partir dele, temos a relação de diversas disciplinas, associando, assim, o que é comum em cada uma e aplicando esse conceito ao processo de ensino-aprendizagem. A interdisciplinaridade permite a complementação e a contextualização das determinadas áreas de estudo, proporcionando, dessa forma, uma aprendizagem mais completa e complexa.
Conforme Torres Santomé (2013), uma das finalidades fundamentais de toda intervenção curricular é preparar os/as alunos/as para serem cidadãos/as ativos/as e críticos/as, membros solidários e democráticos de uma sociedade solidária e democrática. Uma meta desse tipo exige, por conseguinte, que a seleção de conteúdo do currículo, os recursos e as experiências cotidianas de ensino e aprendizagem que caracterizam a vida nas salas de aula, as formas de avaliação e os modelos organizativos promovam a construção de conhecimentos, destrezas, atitudes, normas e valores necessários para ser bom/boa cidadão/cidadã.
Todavia, sabemos que o desenvolvimento de novas intervenções se aplica não apenas ao alunado, mas a todo o conjunto educativo/escolar. Porém, no momento que retornamos e analisamos a estrutura educacional das escolas brasileiras, percebemos o déficit para a aplicabilidade de novas estruturas de ensino, tendo em vista a educação fragmentada e um ensino sucateado. No que se refere ainda à educação brasileira, compreendemos então o porquê da grande evasão escolar, pois, ao invés de abraçar as realidades dos alunos, as escolas e o sistema educacional atual os retiram desse meio. É notório, por meio da perpetuação das estruturas existentes e duradouras ao longo do tempo, um preconceito alicerceado que consequentemente gera o desconhecimento de si como sujeito histórico. A escola não foge dessa realidade e, por meio de seus alunos e alunas, essas estruturas são reproduzidas no contexto da escola diariamente.
Não se deve esquecer que a própria educação, em sua grade curricular ou por meio dos docentes e corpo escolar, também gera a exclusão. Por exemplo, os professores/as, devem separar suas matérias, suas leituras para ministrar suas aulas, ou seja, é desenvolvida uma carga teórica para fortalecer a metodologia e a prática. Esses estudos, quando não trazem consigo um combate às opressões existentes, consequentemente é a negação do direito do outro.
Dessa forma, a educação não pode seguir esses moldes, afinal ela penderia/pende para uma educação da exclusão, negando o direito ao desenvolvimento, reconhecimento histórico-cultural e cidadania, entre outras palavras que definem uma função necessária dentro da sociedade de forma diversa.
Para isso, é necessário conseguir realizar um inovar pedagógico e não apenas o desenvolvimento, mas a aplicabilidade de novas estruturas para conseguir, assim, trabalhar com um novo olhar que esteja intrínseco à educação. É por meio desse ponto chave que inserimos a interdisciplinaridade, ou seja, a relação de diversas disciplinas consolidadas na educação. Pois é a partir dela que se pode iniciar o processo de desconstrução do currículo atual que está historicamente inserido nas escolas e nos meios educativos de forma geral. A experiência interdisciplinar assume a junção de conhecimentos, assim como permite a facilidade de aprendizagem e de reconhecimento seu e do outro como seres participantes da história e atuantes diante dela em seu tempo.
No entanto, cabe ressaltar que a inserção desse modelo não pode estar sendo pensada unicamente para o alunado. O corpo docente precisa estar preparado para essa atualização estrutural; a partir disso, ressaltamos também a necessidade de formação continuada para que professores em atuação sejam preparados para mudar a situação atual e que professores em formação sigam para o estágio e consequentemente assumam suas turmas já preparados para um novo olhar pedagógico, pois, com base nisso, nascerá e resplandecerá uma nova forma de ensinar.
A importância de uma educação interdisciplinar
A sociedade contemporânea está passando por processos de mudanças extremamente ágeis e profundos. Para diversos autores que dissertam sobre a Pós-Modernidade e seus conceitos, ela é marcada pela crise do pensamento. Em 1797, Jean-François Lyotard, no seu livro A condição da Pós-Modernidade, apresentou a problemática de que a cultura contemporânea se caracteriza por uma incredulidade do conhecimento, existindo assim o problema em relação à legitimação dele. Para Lyotard (1993, p. 3),
considera-se "pós-moderna" a incredulidade em relação aos metarrelatos. É, sem dúvida, um efeito do progresso das ciências, mas este progresso, por sua vez, a supõe. Ao desuso do dispositivo metanarrativo de legitimação corresponde sobretudo a crise da filosofia metafísica e a da instituição universitária que dela dependia.
Um dos aspectos distintos desse período é que teorias, conceitos e modelos que eram considerados suficientes na resolução de problemas agora são alvo de críticas e questionamentos. Essa problemática, portanto, traz a necessidade de mudanças no processo de ensino no período contemporâneo.
Para o filósofo Habermas, o discurso pós-moderno leva a sociedade contemporânea a um caminho conservador e irracional. Para ele, a solução desse problema seria o equilíbrio delicado da reconciliação, por ser dialético e por unir ruptura e continuidades hegemônicas e homogeneizadoras das metanarrativas históricas. Ele acredita que a ruptura da consciência moderna do tempo não deve ser um desmembramento, mas uma totalização da dialética da razão, que cria recomeços históricos. Habermas (2003, p. 9-10) afirma:
A atualidade enquanto renovação continuada pereniza a ruptura com o passado, […] o pensamento político contaminado pela atualidade de espírito do tempo é desejoso de enfrentar os problemas da atualidade, é carregado de energias utópicas – porém, esse excedente de expectativas deve ser controlado pelo contrapeso conservador de experiências históricas.
Vemos que existe grande ligação do pensamento de Habermas (2003) com a tradição do pensamento alemão, o que pode tornar essa citação não tão original, porém esse discurso dentro do debate contemporâneo se torna de extrema relevância, já que expõe a necessidade de conhecer nossas experiências históricas para que na contemporaneidade não sejam cometidos erros que já existiram no passado.
A dimensão dessa crise epistemológica traz consigo a necessidade latente de mudança no processo de ensino-aprendizagem. No mundo contemporâneo, há uma inserção cada vez maior das tecnologias, e os conhecimentos científicos, tecnológicos e sociológicos estão em processo de influência simultânea cada vez maior. Logo, essas características da sociedade contemporânea influenciam diretamente no ensino e na aprendizagem e faz com que o modelo e a metodologia do ensino se reinventem. Para essa problemática, a aplicação de um ensino interdisciplinar é uma solução cada vez mais plausível e prática de ser implantada. O caráter integrador dos conhecimentos com o caminho metodológico da interdisciplinaridade dá origem a um diálogo entre os saberes que se justificam individualmente. Essa concepção de interdisciplinaridade no ensino faz com que o aluno tenha uma percepção qualitativa e crítica do mundo ao seu redor, passando a ser um agente ativo no processo educacional, tendo papel ativo como ser social. O ensino interdisciplinar gera diversos efeitos sobre a aplicação dos conhecimentos escolares, gerando uma possível integração com os conhecimentos não científicos.
No debate pós-moderno, é possível observar maior compreensão e visualização da diversidade social, espacial, temporal, econômica e cultural. Há, então, valorização da visualização do individual em relação ao todo. Observa-se que as pesquisas atuais também são influenciadas por esse modo de pensamento contemporâneo, e a particularidade espacial e temporal e o contexto cultural no qual o objeto de estudo está inserido passam a ser privilegiados pelos pesquisadores. Um dos motivos para favorecer a ciência disciplinar surgiu justamente na formação de especialistas para exercer as funções de ensino. Antes de 1950, era bastante comum que o docente ministrasse diversas disciplinas em diferentes níveis, pois nessa época os requisitos para o ensino não tinham tamanha precisão. Atualmente, a tendência para especialização no ensino se consolida e o ensino ficou cada vez mais estruturado na soma das várias especialidades. O ensino interdisciplinar encontra, assim, duas barreiras: a primeira é que a tendência à especialização leva a uma resistência no ensino multidisciplinar; a segunda problemática está relacionada à falta de bases epistemológicas necessárias para um ensino interdisciplinar efetivo.
O ensino interdisciplinar aliado apenas a finalidades sociais não é suficiente para promover essa forma de ensino. É necessário, então, expor de maneira mais assertiva a importância da adoção do ensino interdisciplinar na construção do conhecimento durante o processo de ensino-aprendizagem.
Tendo em vista as dificuldades apresentadas para a implantação de um ensino cada vez mais interdisciplinar, diversos autores discorrem acerca do tema e apresentam a importância desse ensino e formas de superar os obstáculos na implantação desse método de ensino.
Dentre eles, destacamos Severino (1997), que toma uma posição que se distancia do nível epistemológico e se aproxima do nível prático. Ele propõe a interdisciplinaridade em um projeto político-pedagógico nascido de uma prática que demanda diretrizes políticas articuladas e esbarra em um grande obstáculo, já que tradicionalmente a formação profissional é disciplinar.
Logo, a metodologia interdisciplinar traz uma aprendizagem cuja base está na construção de significados. O conhecimento passa a ser uma construção histórica que está inteiramente ligada ao indivíduo que a adquire, tornando o aluno um ser ativo nesse processo. Como foi explanado, o processo de pensamento pós-moderno é marcado por uma crescente disciplinarização do conhecimento e a resolução dos problemas de pesquisa se deu por meio da especialização e da delimitação das áreas do conhecimento.
A contínua estruturação da teoria do pensamento sobre o mundo e a própria configuração da sociedade contemporânea trazem a necessidade de reagrupar os conhecimentos especializados e reconstruí-los em um processo interdisciplinar que proporcione a reconciliação dos conhecimentos disciplinares, assim como a identificação e a transposição de quaisquer inconsistências encontradas.
Então, observando a estruturação da sociedade atual, encontra-se a necessidade latente de um ensino que tenha contexto com o mundo contemporâneo, promovendo uma reintegração dos conhecimentos especializados.
Com esta análise, podemos concluir que o caminho metodológico da interdisciplinaridade é uma resolução plausível para os percalços encontrados no ensino contemporâneo. O diálogo entre os saberes é de extrema importância para que o aluno tenha uma compreensão integrativa dos conhecimentos e promova uma ação em sua realidade. A interdisciplinaridade tem extrema importância na integração dos saberes – inclusive dos saberes não científicos. Isso promove não apenas uma compreensão mais significativa das disciplinas como também forma um agente social ativo.
Considerações finais
No atual contexto de crise epistemológica da Pós-Modernidade, teorias, conceitos, modelos e problemas tidos anteriormente como verdadeiros e suficientes são alvo de críticas e questionamentos, o que traz novos debates e demandas à arena pública e midiática de diversos países. Nessa direção, o processo de ensino, tomado por uma necessidade constante de modificação, aperfeiçoamento e atualização, acaba por adquirir um novo papel na contemporaneidade: o de especialização contínua. Assim, repensar a forma de ensinar torna-se uma necessidade dos novos tempos do século XXI.
Além disso, em vista das rápidas transformações na sociedade contemporânea e do surgimento de novas demandas, a importância de uma educação interdisciplinar passa a ser rotineiramente reivindicada. A vivência em redes, o uso de tecnologias e a robotização da vida também trazem novas demandas ao tradicional processo de ensino-aprendizagem. Nesse contexto, a influência mútua e imediata entre conhecimentos exatos, científicos, tecnológicos, humanos e sociológicos expõe a necessidade de uma aplicação integrada de saberes e de novas metodologias na educação contemporânea, que diariamente passa a demandar (re)invenção. Assim, desponta a urgência da interdisciplinaridade, entendida como a junção coletiva de conhecimentos e a mútua relação entre diversas e diferentes disciplinas consolidadas pela Educação, propiciando a complementação e a contextualização integrada e conectada de determinadas áreas de estudo e de toda a comunidade escolar em si.
Uma das possibilidades desse processo é a implementação de um ensino interdisciplinar em seu sentido teórico e prático, em prol da construção mútua de significados e da busca por um diálogo entre conhecimentos, bases e técnicas, sejam eles científicos ou não. Com essa aplicação, o educando, além de ter seu processo de ensino-aprendizagem facilitado, é paulatinamente estimulado em seu próprio mundo, que passaria a ser enxergado e experienciado em uma nova ótica cidadã, crítica, integrada, contextualizada, dinâmica, qualitativa e quantitativa, propiciando a construção social de novas significações e novos conhecimentos de sua própria vivência enquanto ser. Vislumbra-se, assim, a construção de perspectivas mais amplas e conhecedoras. Desse modo, de antigo mero espectador das transformações, o estudante se transforma em agente de sua própria história, resgatando o seu papel ativo de objeto do conhecimento social e de sujeito social, histórico e cultural.
Ademais, outro efeito imediato de uma educação interdisciplinar é a possibilidade de estímulo a uma cidadania responsável e o consequente pertencimento integrado, tido como consequência da visualização do indivíduo em relação ao reconhecimento e ao respeito do todo, porque é a partir da interdisciplinaridade como projeto político-pedagógico e elemento do processo de ensino-aprendizagem que é possível vislumbrar maior compreensão individual e/ou em grupo de questões relativas à diversidade social, geográfica, temporal, histórica, econômica, jurídica e cultural. Em meio a experiências tão diversas na sociedade contemporânea, o ensino precisa ocupar lacunas de geração de consciência e construção do respeito, e nada melhor do que o auxílio da interdisciplinaridade nesse empreendimento tão necessário.
Todavia, tendo em vista sua baixa aplicabilidade no ensino básico brasileiro, dificuldades para a aplicação acabam sendo percebidas quando as comunidades escolares são analisadas. Uma delas é uma resistência de uma tradição docente e/ou discente em torno do não acompanhamento de novas metodologias. Outra é a falta de bases epistemológicas e metodológicas necessárias para a plena formação docente e para a construção das bases de efetividade de um ensino interdisciplinar. Por fim, destaca-se também uma cacofonia em torno da compreensão dos objetivos de aplicação, que passaria a ser representado unicamente como superação de meras demandas econômicas e/ou até sociais.
Portanto, ainda que porventura empecilhos sejam encontrados, a educação interdisciplinar enquanto projeto político-pedagógico continua sendo um dos caminhos válidos para o futuro da contemporaneidade, seja na história desde o século XX ou na atualidade. Nessa direção, a superação de obstáculos necessita ser idealizada e estratégias precisam ser traçadas. Dentre elas destaca-se a necessidade de mudanças de paradigmas tradicionais e da articulação de diretrizes políticas, acadêmicas, formativas, educacionais e curriculares. Urge que a perspectiva do ensino interdisciplinar seja mais debatida, enfatizada, valorizada, praticada e experienciada, seja por estudantes, educadores e/ou licenciandos em seus processos de formação ou por professores na vivência escolar diária. Com essa produção textual, espera-se que o debate sobre a inserção da interdisciplinaridade no processo de escolarização possa ter novos capítulos e, enfim, se consolidar como uma das possibilidades para o novo ensino no Brasil.
Referências
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LYOTARD, J. O pós-moderno. 4ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1993.
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SEVERINO, A. J. O campo do conhecimento pedagógico e a interdisciplinaridade. Inter-Ação, v. 21, nº 1/2, p. 23-37, 1997.
TORRES SANTOMÉ, J. Currículo escolar e justiça social: o cavalo de Troia da educação. Porto Alegre: Penso, 2013.
Publicado em 20 de fevereiro de 2024
Como citar este artigo (ABNT)
PAZ, Luan Ferreira da Silva; GOMES, Ewerton Rafael Raimundo; SILVA, Bruno Emanuel Herculano da; LIMA, Juliana Fontes de; DIAS, Andrei Mazzola de Jesus; MAGALHÃES, Mylena Santos de; REGO, Lucas Barroso; SILVA, Lucas Luis da. Interdisciplinaridade e escolarização: o lugar da História na Educação Contemporânea. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 5, 20 de fevereiro de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/5/interdisciplinaridade-e-escolarizacao-o-lugar-da-historia-na-educacao-contemporanea
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