Análise fílmica à luz da ciência: a sétima arte como potencial no ensino de sistema nervoso

José Nunes dos Santos

Doutor em Ensino de Ciências e Matemática (Unicamp), PhD (UFSCar), professor QPM de Biologia e Ciências da rede estadual paranaense

Maria José Fontana Gebara

Doutora em Ciências (Instituto de Geociências/Unicamp), professora associada do Departamento de Física, Química e Matemática da UFSCar - Câmpus de Sorocaba

A cultura das mídias refere-se ao procedimento causado pela invenção de redes de complementaridade. Graças à disposição para interligações dos mecanismos de comunicação entre si, tais redes expandem a dinâmica cultural com novos e complexos fenômenos (Santaella, 2002). Pode-se dizer, então, que a cultura da mídia submerge do fenômeno da combinação de meios e linguagens que originam a multiplicação de processos comunicativos, como as ferramentas culturais: o filme, o rádio, o vídeo, a televisão, o computador, o celular, cada vez mais aprimorados.

Posto isso, a cultura das mídias na escola tem papel fundamental como mediadora na construção de conhecimento, pois qualquer recurso audiovisual é suscetível de uso nas atividades pedagógicas. A realidade educacional se defronta com esses recursos no sentido da propagação de informações de comunicação como estratégia para o ensino de Ciências. A forma de ensinar Ciências não deve se basear apenas no ensino de conceitos, mas nas relações entre áreas de conhecimento e no uso de ferramentas culturais que possibilitem a construção do conhecimento e de novos significados na sala de aula. Quando bem utilizadas, as ferramentas culturais apresentam o potencial de mediar a relação dos sujeitos com o conhecimento da Ciência, estabelecendo um elo com o cenário sociocultural. O uso de ferramentas culturais tem atraído professores que procuram incorporá-las nesse processo, de tal forma que o meio de comunicação da Ciência, tradicionalmente usado pelo docente, conte com a participação de uma diversidade de meios mediacionais.

Tal cenário indica a seriedade com que os processos comunicativos devem ser analisados nas aulas de Ciências e a forma com que a linguagem científica é apresentada aos estudantes. Assim como nas interações entre professores e alunos e entre alunos que ocorrem nos espaços educativos, nas aulas de Ciências são tratados os fenômenos naturais articulados entre si e com a tecnologia, colocando em perspectiva um ensino interdisciplinar, pois“abrangem conhecimentos biológicos, físicos, químicos, sociais, culturais, tecnológicos”(Brasil, 1998, p. 36), geocientíficos, dentre outros. Na abordagem desses conhecimentos, os recursos didáticos midiáticos e tecnológicos podem ganhar perspectivas pedagógicas. Nesse contexto, a mídia cinematográfica ganha espaço como auxiliar no processo de ensino-aprendizagem nos ambientes escolares. Ao se utilizar de tais recursos, conhecimentos científicos e processos de aprendizagem são intensamente unidos por embasamentos teóricos, diálogos e reflexões sobre fronteiras pedagógicas na ação docente.

A influência da mídia cinematográfica em diversas esferas da cultura é inegável, mas a escola ainda se ampara pouco nesse recurso com vistas a estimular o interesse dos estudantes, por questões científicas que o filme pode trazer em seu enredo. No espaço escolar, não importando se tais ideias e questões são concisas, elas se constituem em mecanismos que podem auxiliar na construção de um conhecimento social sobre a Ciência. Essa é a premissa da qual a educação científica deve partir atualmente, pois a realidade social dos alunos está impregnada pelo consumo da comunicação audiovisual. 

O docente consumidor do audiovisual precisa buscar a compreensão da natureza dos processos de desenvolvimento da linguagem audiovisual de seus alunos. Esse conhecimento o qualificará para novas práticas pedagógicas, capazes de satisfazer a curiosidade do estudante na direção do conhecimento científico, especificamente pelo uso da linguagem fílmica para fins educativos. Entendendo que são muitas as dificuldades dos professores para oportunizar aos alunos o acesso ao saber científico por meio da mídia cinematográfica, acredita-se que é necessário explorar novos caminhos, romper com determinados paradigmas, à medida em que se visualiza, com responsabilidade, dinamismo e criticismo, a prática pedagógica. Da mesma forma, é necessário explorar situações que incorporem novas ferramentas educacionais. Nessa medida, negar o uso das mídias cinematográficas e da tecnologia como recursos pedagógicos é resistir a uma sustentação mais qualificada para o trabalho pedagógico.  

A cinematografia pode realizar conexões entre os interesses e as motivações dos estudantes em afinidade com temas científicos e conteúdos temáticos programáticos no ensino de Ciências, se constituindo um importante recurso pedagógico. Filmes comerciais, porém, são determinados “dentro de um projeto artístico, cultural e de mercado” (Almeida, 2001, p. 7), não são obras da pedagogia ou produzidas para servirem ao processo de ensino-aprendizagem diretamente, isso é, não são delineadas como recursos pedagógicos. Entretanto, como oportunidade de ser um recurso didático inovador para a sala de aula de Ciências, os distintos gêneros fílmicos podem ocasionar a “expressão de concepções em relação a conceitos e leis científicas, à atividade científica, à natureza da ciência e sua relação com a sociedade” (Piassi, 2007, p. 21). Como guia social dessas percepções, o filme pode se constituir como veículo de desvendamento de conhecimentos conectados às leis científicas.

O filme, por meio de suas múltiplas linguagens, pode ser empregado como motivador para a aprendizagem de conceitos e leis científicas, assim como para a discussão do contexto histórico de construção da Ciência e de suas ligações com o social, podendo também criar condições de contextualização e problematização em sala de aula.

Assumindo tal conduta, o filme comercial pode ser examinado na perspectiva de explorar as possíveis relações com a Ciência e com o ensino, estabelecendo outras possibilidades para seu uso em sala de aula. Essa perspectiva permite ao professor a adequada seleção de filmes a serem utilizados em atividades na sala de aula, a partir da elaboração de propostas didáticas que explorem os diversos âmbitos e as possibilidades proporcionadas pela linguagem fílmica.  

O filme como linguagem no ensino de Ciências

O filme, como produto da mídia cinematográfica, independentemente de sua especificidade, oferece informações de forma rápida e atraente ao aluno, por meio de suas múltiplas linguagens, entre elas, a imagem e o som. Certezas e preconceitos que orientam a pedagogia das mídias cinematográficas, atualmente, vêm sendo objeto de reflexão à luz de novas pesquisas, cujo foco é a experiência com o filme no ensino de Ciências. 

A obra cinematográfica, entendida como arte, traz textos fílmicos repletos de signos, metáforas e intertextualidades capazes de apresentar uma modalidade discursiva que permite condições reflexivas de diferentes conteúdos no ensino de Ciências. Em um livro são as palavras que ativam os sentidos e se transformam na mente do leitor. Em um filme temos a imagem estática, a imagem em movimento e a expressão corporal que são abarcadas e transformadas pelo espectador/ aluno em palavras.

Nesse aspecto, Vygotsky (2010) apresenta uma construção teórica que assenta a linguagem como questão de partida na investigação dos assuntos humanos e sociais. Os embasamentos da consciência não são fisiológicos ou biológicos, são sociológicos; portanto, a linguagem é mediada pelas interações verbais e não verbais. Um dos aspectos bastante estudados tem sido o emprego da linguagem como um dos principais instrumentos para que aconteça a mediação do conhecimento entre professor e aluno, admitindo-a na educação. Torna-se necessário, assim, analisar os estudos sobre a linguagem para o ensino de Ciências.

Nesse sentido, o que se deseja aqui é a abordagem do uso de filmes como recurso pedagógico nas aulas de Ciências, pois os filmes possuem linguagens que permitem trabalhar determinado conteúdo científico de forma direta ou indireta (Napolitano, 2010). Considerados nessa perspectiva, eles são elementos mediadores no processo de ensino de Ciências e podem ser usados como recursos para conduzir os alunos, visando à apropriação de ideias científicas. Entende-se que a linguagem fílmica é um conjunto de mensagens cujo material expressivo se compõe dos sons fonéticos gravados, dos ruídos gravados, da imagem fotográfica em movimento, do som musical gravado e da escrita (título, intertítulos e créditos), servindo como mensagens carregadas de informação que possibilitam a mediação para a construção de significados em sala de aula.

Ao tratar de recepção, leitura e interpretação de um filme, é fundamental lembrar que os textos são organizados com diversos elementos visuais, verbais, sonoros, elaborados mediante técnicas especificas. Ou seja, os signos fílmicos têm como característica a apresentação de uma linguagem que comunica ao espectador a representação do real, como sistemas de significações. Eles, por sua vez, constituem-se como o meio básico para conduzir as funções mentais superiores, o que significa que os signos auxiliam no desenvolvimento da capacidade de atenção voluntária, memória lógica, análise, síntese, abstração, generalização, por exemplo (Vygotsky, 2010).

O filme como obra de arte é constituído por uma linguagem composta de diferentes signos: “o objeto (óptico e acústico) transformado em signo é na verdade o material específico do cinema” (Jakobson, 1970, p. 154-155). Dessa forma, a linguagem fílmica possui seus códigos próprios (Stan, 2013). Como arte, o texto fílmico possui características peculiares e linguagem própria, mas também associa elementos da literatura, da música, do teatro, da dança, dentre outros. Nessa direção, entende-se que a linguagem fílmica pode ser considerada como um conjunto de modalidades de língua e de estilo que caracterizam o discurso cinematográfico. De fato, o filme é uma linguagem da arte e, como tal, jamais surgirá por si só, mas estará ligado a outros sistemas de significações, como culturais, sociais, perceptivos e estéticos.

O uso da tecnologia audiovisual na educação contribui para orientar o aluno na aprendizagem, provocando atividade mental inventiva, à medida em que colabora para tornar imediatas as relações formalmente construídas que podem, então, ser associadas pelos estudantes (Coll; Mauri; Onrubia, 2010) de modos peculiares e desvendadas por eles. Aspectos desse processo podem ser observados em certos filmes que propiciam ao aluno a reflexão crítica sobre as mensagens recebidas por meio da imagem fílmica que, por sua vez, possibilita a construção/apropriação de conhecimentos de Ciências. Desse modo, busca-se entender melhor a conexão e a participação da imagem fílmica nos processos de ensino de Ciências.

O termo imagemenvolve vários sentidos, podendo expressar, em alguns casos, uma representação visual e, em outros, uma representação mental. A imagem “embora nem sempre remeta ao visível, toma alguns traços emprestados do visual e, de qualquer modo, depende da produção de um sujeito: imaginária ou concreta a imagem passa por alguém que a produz ou reconhece” (Joly, 2003, p. 13).

Considerando-se que muitas imagens fílmicas estão presentes nos processos de ensino, sobretudo das Ciências, vale ressaltar que seu potencial expressivo possibilita várias informações, pois o texto fílmico comporta diferentes possibilidades de leitura pelo espectador/aluno e a tela abriga imagens em movimento que poderão ser decodificadas por meio de palavras. Assim, a imagem como recurso pedagógico nos processos educativos possibilita mediações que ajudam o aluno a decodificar informações, ou seja, a compreender os signos representativos por ela trazidos.

Nesse sentido, pode-se afirmar que o ato de assistir a um filme, como signo que é, possibilita a apropriação/construção de significados compartilhados socialmente em diferentes contextos. As imagens fílmicas como linguagens exercem uma influência de ordem cognitiva no indivíduo, mediante a interface construída a partir da programação dos meios de comunicação social.

Portanto, ao transpor o filme para o universo do ensino de Ciências, as imagens fílmicas podem contribuir sobremaneira para a construção de significados e para o conhecimento científico. Os indivíduos convivem em um universo cultural repleto de imagens. Na Educação Científica, a crença na cinematografia como material didático é fator determinante nos processos de ensino. Nesse sentido, o filme fornece pistas, informações e contextos que despertam no alunado situações que incentivam a curiosidade. O professor pode favorecer interações entre alunos e signos que contribuam para a formação de novos significados nas aulas de Ciências.

O professor, ao constituir uma estratégia didática pelos meios de comunicação, permite ao educando aproximar a Ciência do cotidiano com um significado que vai além da cultura do outro para o espaço da cultura da Ciência.

O filme e seu potencial interdisciplinar nas aulas de Ciências

Assistir a um filme em sala de aula é uma atividade subjetiva que pode suscitar distintas significações aos olhos de cada espectador aluno, em cada contexto em que circula. Assim, o prestígio “é que nas indagações que certos filmes nos colocam sobre os diferentes modos de ser e de ver, o cinema como cultura, arte, conhecimento, jogo e entretenimento” podem converter determinados filmes em um dos protagonistas nos ambientes de ensino (Fantin; Guimarães, 2016, p. 11).

No trabalho pedagógico em sala de aula, compete ao docente explorar ao máximo as potencialidades pedagógicas do filme, principalmente no que concerne à seriedade dos aspectos artísticos, culturais e científicos. Ao promover a análise fílmica, o professor pode relacionar significados advindos dos filmes com as experiências e conhecimentos. O estudante pode, assim, reelaborar saberes e tecer articulações com saberes cotidianos de forma subjetiva e única. Uma das maneiras de praticar a articulação dos saberes dos alunos é por intermédio da interferência de estratégias interdisciplinares.

Diante de conflitos sobre formas de ensinar, entende-se que as pesquisas sobre interdisciplinaridade remetem a um movimento pedagógico que caminha para novas maneiras de organização do ensino e que procuram responder à necessidade de superação da visão fragmentada nos processos de socialização do conhecimento.

No campo do conhecimento, “a interdisciplinaridade implica, portanto, alguma reorganização dos processos de investigação e∕ ou ensino, supondo um trabalho continuado de cooperação dos investigadores e∕ ou professores envolvidos” (Pombo, 2004, p. 38). Nesse sentido, entende-se que a interdisciplinaridade (seja qualquer forma de combinação entre disciplinas, conteúdos, linguagens, metodologias etc.) constitui os processos de ensino baseada em cooperação mútua, conduzindo ao crescimento. Idealmente, essas associações devem ser realizadas para promover a discussão de problemas atuais da sociedade que, devido à sua complexidade, necessitam de uma visão sistêmica para serem compreendidos e enfrentados.

Um ensino interdisciplinar requer estratégias didáticas para a aprendizagem, de modo a organizar o processo educativo escolar das disciplinas. Em resumo, estabelecer práticas pedagógicas interdisciplinares é oferecer ao aluno um espaço escolar que lhe permita construir um conhecimento científico aplicado ao contexto social, proporcionando informações para que ele leia o mundo e nele venha a intervir com segurança e responsabilidade (Fazenda, 2008).

Assumir a acuidade da interdisciplinaridade, empregando o filme comercial como recurso pedagógico para potencializar a conexão entre disciplinas escolares, sugere a preparação e a proposição de metodologias que provoquem interações, pois o texto fílmico é o mediador, um instrumento versátil ao processo de ensino-aprendizagem.

Ensinar interdisciplinarmente faz submergir o diálogo entre as diferentes disciplinas, possibilitando a construção de conhecimentos que sejam significativos na constituição global do estudante. O ensino na educação científica, sistematizado nessa expectativa ao empregar filmes como recurso pedagógico, consente enfocar aspectos históricos, literários e cinematográficos, seja de configuração disciplinar na área de Ciências ou em articulações com outras áreas de conhecimento.

Caminhos metodológicos

A pesquisa consistiu em uma investigação qualitativa, de caráter documental, acompanhada por um procedimento de estudo descritivo e interpretativo, de acordo com Gil (2008). Para esse autor, a pesquisa documental vale-se de materiais que permitem ser usados como fonte de informação de acordo com os objetivos da investigação. Esses materiais são diversificados e dispersos como artigos científicos, livros, diários, relatórios, filmes e pinturas.

Dentro do conjunto de técnicas das análises qualitativas, a análise de conteúdo pode ser descrita como um conjunto de instrumentos metodológicos que se aplica a discursos extremamente diversificados. Assim, nesta pesquisa, optou-se pelo uso da categorização temática subsidiada pela análise de conteúdo. Para Bardin (2011, p. 122-145), a categorização precisa seguir critérios:

  1. a consistência - significação em afinidade aos conteúdos dos dados que estão sendo analisados;
  2. a exaustividade - categorização do conteúdo expressivo de acordo com os objetivos da análise, podendo ser “respostas a um questionário”; e
  3. a homogeneidade - organização dos dados fundamentada no princípio da classificação, isto é, por meio dos “documentos retidos, [que] devem ser homogéneos, quer dizer, devem obedecer a critérios precisos de escolha”.

Neste trabalho, analisamos as potencialidades da utilização do filme A teoria de tudo (2015) como recurso pedagógico nos processos de ensino de Ciências, especialmente o conteúdo de sistema nervoso. O procedimento de coleta de dados da pesquisa partiu dessa análise fílmica, bem como da aplicação de um questionário com uma professora que fez uso dele no ensino de Ciências, como recurso didático. Questionários, por sua vez, se constituem como um conjunto de questões organizadas de acordo com o objetivo proposto e podem conter tanto questões abertas quanto fechadas (com respostas estruturadas e semiestruturadas), conforme apontam Lakatos e Marconi (1990).

A pesquisa contou com a colaboração direta de uma professora de Ciências das séries finais de Ensino Fundamental da Secretaria Estadual de Educação do Paraná. Para preservar a identidade da professora, ela foi identificada por meio de uma sigla formada pela letra “P”, seguida da “inicial do nome”; de agora em diante, será indicada como PD. Nessa direção, as categorizações foram idealizadas com base na codificação da análise fílmica e nos dados extraídos da aplicação do questionário à professora que fez uso dele no ensino de Ciências, como recurso didático para o ensino do Sistema nervoso com alunos do 8º ano.

Assim, foram sistematizadas três categorias: duas delas para uma breve análise do texto fílmico, denominada “Análise fílmica de A teoria de tudo à luz do sistema nervoso”. Com o intuito de analisar o uso de filmes nas aulas de Ciências, elaborou-se a categoria “O uso didático-pedagógico do filme nos processos de ensino de Ciências”. Assim, baseando-se nessas categorias, pretendeu-se observar como o filme comercial, por meio de suas múltiplas linguagens, pode ser utilizado para o processo de ensino-aprendizagem de leis científicas.

Análise fílmica de A teoria de tudo à luz do sistema nervoso

O filme A teoria de tudo (2015), escolhido pela professora PD, se caracteriza como um drama biográfico com duração de 123 minutos; tem direção de James Marsh, com a produção de McCarten, Fellner e Bevan. Insere-se no contexto da história de vida de Stephen Hawking, numa adaptação do livro My life with Stephen, escrito por Jane Wilde Hawking, ex-esposa do cientista.

Figura 1: Capa do DVD do filme A teoria de tudo

O drama se inicia pouco antes de o cientista ser acometido pela doença motora degenerativa que o privou dos movimentos aos 21 anos de idade. O filme retrata a vida de um dos maiores astrofísicos da atualidade, suas descobertas científicas e o desafio de enfrentar a esclerose lateral amiotrófica (ALS, sigla em inglês, ou ELA, em português) que lhe tirou os movimentos do corpo e a fala.

Durante as cenas iniciais do filme, Hawking se diverte com amigos da faculdade, como qualquer outro jovem de sua idade. Ao mesmo tempo, o enredo retrata a compreensão de suas teorias sobre buracos negros. Durante uma festa, surge na vida do cientista uma jovem estudante de Artes, Jane, por quem ele se apaixona. Entre a magia do primeiro amor e as ideias brilhantes do rapaz, o relacionamento evolui para o casamento.

Os primeiros sinais de que há algo errado com o jovem se manifestam por sintomas que, incialmente, parecem fraqueza, mas que evoluem culminando em uma queda que o leva a buscar ajuda médica. O diagnóstico é uma doença do neurônio motor, degenerativa e progressiva, em que os sinais emitidos e recebidos pelo cérebro que permitem realizar movimentos são interrompidos. A personagem Hawking demonstra enorme preocupação ao perguntar para o médico se o cérebro seria afetado. Embora a resposta seja negativa, o prognóstico é terrível, pois a estimativa de vida é de apenas dois anos.

Apesar de necessitar de ajuda para falar, comer, vestir-se e executar tarefas básicas para a maioria das pessoas, espanta o fato de que durante o desenvolvimento da doença Hawking tenha conseguido gerar três filhos com Jane Wilde. Reprodução e intelecto não foram afetados, a despeito da profunda limitação física. Embora impossibilitado de executar funções vitais, como falar e andar e de tornar-se dependente por completo de sua esposa, sua produção intelectual em nada é diminuída.

O filme é eficaz ao retratar recursos tecnológicos como a cadeira de rodas e o sintetizador de voz, instrumentos que o auxiliam à medida em que vai progressivamente perdendo o controle de seu corpo. Stephen Hawking, físico, cosmólogo, docente e pesquisador ligado a várias instituições de ensino, desvendou, em 1974, a emissão da radiação térmica dos buracos negros devido aos efeitos quânticos. Como homenagem pela importante descoberta, tal radiação acabou levando o seu nome. Hawking também estudou os efeitos quânticos que fazem um buraco negro perder massa. Hawking conquistou títulos e é reconhecido mundialmente, por diferentes comunidades científicas.

O filme retrata um terceiro integrante no casamento do físico Stephen Hawking e Jane Wilde: a Ciência. O enredo sugere que as teorias científicas alcançaram um lugar na vida do cientista que a esposa não conseguiu alcançar. Desse modo, afirma-se que a Ciência está presente desde o início do filme, mas, devido ao fato de a história ser construída do ponto de vista de Jane, a intensidade de sua presença no filme vai se reduzindo. Há que se lembrar, contudo, que se trata de um filme de ficção.

Dentre as diversas sequências do filme, ressaltam-se aqui detalhamentos de cenas que focalizam os eixos considerados potenciais e temas gerais de discussão envolvendo as inter-relações entre Ciência, Tecnologia, Cultura e educação científica, por meio da sétima arte. Acredita-se que por se tratar de um drama/ biográfico, o texto fílmico possibilita subsidiar, em diversos contextos formais como a escola e informais como em debate com amigos, a problematização e as reflexões sobre temas seculares que afligem a humanidade.

Em sala de aula, não se deve apenas “passar o filme”. É imprescindível conduzir os estudantes a uma percepção crítica, tornando o filme significativo aos alunos (Thiel; Thiel, 2009, p. 8). Napolitano (2010, p. 15) destaca a necessidade de planejar o uso de filmes como recurso no ensino, e defende que cabe ao professor proporcionar leituras além do entretenimento, possibilitando o elo “entre emoção e razão de forma direcionada, incentivando o aluno a se tornar um espectador mais exigente e crítico”, ao estabelecer relações entre a linguagem fílmica e os conteúdos escolares. Assim, corroboram-se as ideias de Aumont (1995), que considera o filme “discurso textual”. Para Aumont (1995, p. 106), o filme “é um enunciado que se apresenta como discurso, pois implica, ao mesmo tempo, um enunciado (ou pelo menos um foco de enunciação) e um leitor espectador”.

Entende-se que, tanto no campo cinematográfico quanto na educação, os filmes podem ser tratados como discursos, da mesma forma que os múltiplos gêneros textuais fazem jus a ser explorados em sala de aula. Nessa perspectiva, o docente age como um facilitador da leitura fílmica em sala de aula, com vistas a promover a fruição e uma análise mais eficiente desse gênero. Entende-se que o professor pode dialogar com os estudantes sobre alguns elementos do texto fílmico, propondo reflexões diversas para que eles compreendam a obra. Os discursos do filme descrevem/narram contextos, compõem um enredo, o desenvolvimento de acontecimentos, arquitetando uma lógica que afirme a inteligibilidade dos processos que concebem. Nessa direção, o filme possibilita a complementação do material didático nos processos do ensino de Ciências, ao contemplar a discussão de temas, como: sistema nervoso, central e periférico; doença do neurônio motor; nervos; transmissão de impulsos nervosos; tecnologia; avanço da Ciência; astronomia. Também são mencionadas no filme (49min a 52min), embora de forma tangencial, discussões de teorias científicas da Física sobre o surgimento do universo, buracos negros e o Big Bang.

Em A teoria de tudo há cenas que possibilitam discussões sobre o conteúdo sistema nervoso, pois o fragmento fílmico entre 42min e 44min ilustra as primeiras dificuldades de movimentação e de coordenação motora enfrentadas por Stephen Hawking, como levantar um garfo, manusear uma faca ou segurar um copo. Nesse momento da projeção fílmica sobre a doença do neurônio motor, o docente pode promover a provocação e a sensibilização do conteúdo temático. Entende-se que a cena permite imagens para que o professor faça perguntas aos alunos com o intuito de promover reflexões acerca da gravidade da doença conhecida como esclerose lateral amiotrófica (ELA) e, ao mesmo tempo, ressaltar informações sobre impulsos nervosos – oportunidade de apresentar e problematizar conceitos sobre a ELA.

O texto fílmico pode auxiliar os alunos na construção de significados e conceitos, especificamente, para elaborar conceito sobre o tema “comunicação dos neurônios”, pois há uma cena no filme (1h49mim a 1h51min) em que uma caneta cai da mão de uma mulher e para no chão. Stephen Hawking se imagina pegando a caneta. Nesse contexto, além de o professor ter a oportunidade de esclarecer o assunto, também pode problematizar conceitos específicos sobre as características da cena, como “ponte de conexão entre a vontade do cérebro e o movimento dos músculos”. Dessa forma, o docente pode considerar o uso de elementos da cena como mediadores na intenção de verificar quais significados os alunos estabelecem para os músculos dos membros superiores (braços) e inferiores (pernas) do cientista, ou seja, o que a ELA pode provocar no seu organismo, particularmente, nos membros inferiores. Tais elementos fílmicos podem possibilitar que o aluno entenda o contexto da ELA, “pois qualquer contexto, seja ele situacional, linguístico, mental, ou ainda a combinação deles, pressupõe a ocorrência de atos de significados à ação” (Giordan, 2013, p. 294).

Além dessa interface com temas de Ciência, curiosamente, o filme aborda de forma subjacente uma discussão entre religião e Ciência (1h41min a 1h42min; 1h49min a 1h52min), mas sem aprofundamento no enredo. Outro aspecto interessante que parece passível de ser analisado com mais profundidade se refere ao uso de instrumentos tecnológicos por pessoa deficiente (1h34min a 1h37min; 1h49min a 1h52min). Ao longo do filme são apresentadas situações que indicam domínio do cientista no uso de tais instrumentos. O desenvolvimento da tecnologia e suas inovações contribuem para a acessibilidade da informação, da comunicação e da locomoção, aspectos que podem ser vistos no filme. Embora tais aspectos possam ser considerados ao longo de todo o filme, eles se tornam mais evidentes quando Hawking passa a utilizar um ciborgue de última geração que exerce funções específicas de órgãos humanos.

A obra contempla textos repletos de signos, metáforas e intertextualidades capazes de apresentar uma modalidade mediadora que permite que alunos e professores possam refletir sobre conteúdos no ensino de Ciências, pois“o filme, como texto falado/escrito, é visto e lido” (Almeida, 2001, p. 29). O docente ao fazer uso dessas linguagens do conteúdo fílmico (conhecimento linguístico cinematográfico) apresenta ao aluno um modelo de leitura para ajudá-lo a questionar, a associar, a comparar e a transpor o percebido para o contexto cultural e individual, como uma moderna maneira de entender e agir no mundo.

O uso didático-pedagógico do filme nos processos de ensino de Ciências

Este trabalho se vale também de dados extraídos da aplicação de um questionário à professora que fez uso do filme mencionado no ensino de Ciências como recurso didático. Assim, por se tratar de uma pesquisa qualitativa, devido à quantidade de dados que necessitam ser organizados e interpretados, nem todas as respostas do questionário com a professora convidada foram ponderadas para a análise e discussão, conforme orientam Mazzotti e Gewandsznajder (1998) para esse tipo de pesquisa. Aqui, foram utilizados dados que demonstraram padrões e relações que desvendaram o sentido do uso do filme A teoria de tudo (2015) como mediador no processo de ensino de Ciências.

Nas reflexões a seguir, transcrevem-se os dados e os fragmentos de falas da professora participante desta pesquisa. Desse modo, na análise dos dados foram ponderados apontamentos, ideias e teorias em diálogo com o referencial teórico adotado nesta pesquisa.

Como foi a escolha do filme? Qual(is) é(são) o(s) conteúdo(s) curricular(es) de Ciências abordado(s) na série que possibilita(m) a articulação do(s) filme(s) no processo de ensino-aprendizagem escolar? Existe(m) conteúdo(s) específico(s) de sua preferência para trabalhar?

PD: Fiz uma análise do filme, pois tenho um rol de filmes para complementar as aulas de Ciências, mas, primeiro de tudo, verifico se o filme tem possibilidade de auxiliar meus alunos na aprendizagem dos conteúdos propostos. O filme que escolhi, A teoria de tudo, possibilita trabalhar conceitos relacionados aos conteúdos do sistema nervoso, mas não só isso; permite trabalhar temas como: avanço das ciências, o uso de tecnologias para auxílio na vida de pessoas com deficiência.

Ao analisar um filme de caráter pedagógico, educativo ou comercial, é necessário verificar todas as suas potencialidades para o processo de ensino-aprendizagem e, a partir dessa análise, proceder à construção dos planos de aula para o trabalho docente. Nessa direção, os apontamentos da professora PD revelam que realizou reflexões da potencialidade fílmica para o ensino de Ciências, conteúdos temáticos relacionados ao sistema nervoso.

Os educadores podem conceber a utilização de um texto fílmico na sala de aula em razão do conteúdo, da linguagem ou da técnica, pois, para Napolitano (2010, p. 20), na abordagem de um conteúdo, o filme pode ser explorado como fonte e como um “texto” gerador ou como um documento em si, como elemento cultural, privilegiando aspectos estéticos, históricos e linguísticos. Dessa forma, ampliar o olhar, ver o que dizem as múltiplas linguagens de um filme, o que suscitam em suas nuances, são proposições analisadas pela professora PD ao mencionar que o texto fílmico A teoria de tudo permite trabalhar tema geradores, como “avanço das ciências, o uso de tecnologias para auxílio na vida de pessoas com deficiência”. A argumentação da professora PD desconstrói o uso simplista do filme ao relacionar os temas tecnologia, avanço da ciência e deficiência humana como possibilidade de promover uma análise crítica da narrativa e das representações fílmicas, considerando elementos propulsores de pesquisas e debates no ensino de Ciências.

O filme como recurso didático em sala de aula permite o quê?

PD: Então, além de ilustrar os conteúdos que foram ensinados em sala de aula, permitiu fazer a mediação do conhecimento; informar o conhecimento científico; apropriar-se de diferentes culturas, pois o filme tem cenas que podem problematizar os conteúdos escolares, analisar um problema, principalmente a deficiência física.

A utilização de filmes como recurso didático pode parecer, a princípio, um instrumentoque permite apenas a ilustração de conteúdos. Esse entendimento está explícito nas palavras da professora PD: “Além de ilustrar os conteúdos que foram ensinados em sala de aula”. Entretanto, além da ilustração, o filme, devido à sua composição gráfica de cores, movimentos, traços, composição, com áudio (ou não), a seus atributos estéticos, entre outros aspectos, pode contribuir para processos que envolvem o ensino-aprendizagem. Assim, entende-se que, no ambiente escolar, “é importante ver o cinema não somente como recurso ilustrativo, mas reconhecer os saberes científicos que pode proporcionar ao aluno” (Santos; Gebara; Silva, 2020, p. 186). Para que esse objetivo seja alcançado, é necessário criar condições para que o enredo fílmico seja problematizado em sala de aula.

Desse modo, a questão “O filme como recurso didático em sala de aula permite o quê?”, apresentada à professora, abre caminhos para debates, propõe novos horizontes no estudo de Ciências frente aos atuais cenários de influências do cinema e suas interfaces sociais. O enredo de um filme, tal como algumas cenas, tem caminhos de construções de problematizações temáticas no ensino de Ciências, conforme observado na fala de PD: “A teoria de tudo tem cenas que podem problematizar os conteúdos escolares”. O filme como fonte permite a análise de um problema e o esclarecimento das dúvidas dos alunos, surgidas durante a narrativa, visto que o professor tem obrigações com o filme em si, sua linguagem, sua estrutura e os temas que ocasiona (Santos, 2019).

De acordo com Delizoicov (2001, p. 133), uma problematização deveria ter “o potencial de gerar no aluno a necessidade de apropriação de um conhecimento que ele ainda não tem e que ainda não foi apresentado pelo professor”. No processo de perguntas que problematizam, o conteúdo assume novas aparências. Nesse momento, o professor possibilita ao aluno as diversas maneiras de perceber o conteúdo. Assim, a situação-problema possibilita gerar diálogos entre professor e alunos, auxiliando na apropriação do conhecimento científico. Daí que se permite constatar que o professor ao se apropriar do potencial fílmico poderá usá-lo de forma mais geral, envolvendo aspectos que vão além da ilustração no ensino de Ciências.

Ao escolher um filme para elaborar o plano de aula, que elemento(s) fílmico(s) considera importante(s) por possibilitar ao aluno a apropriação/construção do conhecimento escolar?

PD: O filme A teoria de tudo tem uma linguagem que pode retratar o sistema nervoso, podendo assim serem visualizados pela imagem os efeitos da falta de atuação de parte desse sistema. Durante as aulas, projetei fragmentos sobre “resposta do ato reflexo e ato voluntário” que foram discutidos, permitindo o confronto e a articulação entre os conceitos mencionados pelos alunos acerca da estrutura do sistema nervoso. Além disso, retrata a história de vida de um grande cientista, mostrando como as teorias são formuladas e aceitas.

Percebe-se que a professora PD considera importante o uso de filmes, o que pode ser constatado por intermédio de sua fala. Os filmes, como recurso pedagógico para as aulas de Ciências, foram analisados pela professora na perspectiva de explorar as possíveis relações com os conteúdos propostos, bem como de estabelecer as possibilidades de seu uso em sala de aula. Nessa perspectiva, concorda-se com Araújo e colaboradores (2012), uma vez que ao conceber o filme como recurso didático em sala de aula, consideram tanto o conteúdo fílmico em si como a sua linguagem própria, procurando valer-se dos temas tratados, pois ambos levam à reflexão para a aprendizagem.

A linguagem fílmica pode completar espaços discursivos e criar representações dos diferentes ambientes do mundo – signos linguísticos, constituindo a linguagem verbal – sentidos e significados. Considerando a fala de PD,“o filme A teoria de tudo tem uma linguagem que pode retratar o sistema nervoso, […] durante as aulas usei fragmentos sobre resposta do ato reflexo e ato voluntário”.Ao analisar a fala de PD, é aceitável que ela, ao projetar fragmentos fílmicos para seus alunos, se constitua de uma linguagem única, aglomerada de composição e sentidos, possibilitando que os espectadores estudantes se aproximem da representação de uma realidade, objetivando refletir e compreender fenômenos da realidade. Oliveira (1992, p. 68) destaca que, para Vygotsky, a linguagem é o principal mediador entre o sujeito e o objeto de conhecimento, ou seja, “o pensamento verbal exerce papel fundamental na interpretação do mundo pelo sujeito”. A maneira como o discurso verbal é dirigido intervém no processo de aprendizagem, pois as formas de abordagens comunicativas que o docente usa podem ser consideradas com a finalidade de avaliar se possuem ou não potencial para causar a aprendizagem do aluno.

Considerando os encaminhamentos metodológicos na perspectiva didática do uso de filmes como recurso pedagógico para ensinar Ciências, quais as abordagens e estratégias que você utiliza como auxílio para organizar o ensino?

PD: Aula expositiva e interdisciplinar.

Ensinar interdisciplinarmente ordena o diálogo entre as diferentes disciplinas, proporcionando a construção de conhecimento expressivo na formação global do aluno. Essa atitude pode ser fruto de curiosidade, de abertura, do senso de aventura e descoberta e exerce um movimento de conhecimento capaz de perceber relações. Sendo assim, a descoberta adota a necessidade de interagir e aprender com outras áreas do conhecimento.

Então, os filmes escolhidos para ensinar Ciências permitem a metodologia interdisciplinar com o aparato das mídias cinematográficas. Qual(is) é(são) a(s) disciplina(s) com a(s) qual(is) você pode estabelecer relações interdisciplinares? Como?

PD: Sim, o filme A Teoria de Tudo estabelece relação com a História – época da Idade Média, em que a criação do universo por Deus não era questionada e pós-Idade Média; estabeleceu principalmente para dar suporte às discussões sobre temas relacionados às descobertas científicas, ao avanço da ciência, ao iluminismo e às perspectivas científicas para o futuro da humanidade [...]; o filme despertou muitas curiosidades sobre o buraco negro”.

Para garantir a integração de disciplinas é necessário ter habilidade para exercer trocas com outros professores, especialistas de outras áreas do conhecimento (Fazenda, 2008). Assim, parece que na fala de PD o filme A teoria de tudo estabelece relações interdisciplinares ao relacionar Ciências e História, ou seja, na análise da fala de PD o filme pode “dar suporte às discussões sobre temas relacionados às descobertas científicas, ao avanço da Ciência, ao iluminismo e às perspectivas científicas para o futuro da humanidade”.Pode-se, portanto, entender que a linguagem fílmica possibilita desenvolver a interdisciplinaridade na organização do ensino por meio da reestruturação e ressignificação do trabalho pedagógico, mediante a integração das distintas possibilidades concebidas pelas disciplinas.

Considerações finais

De modo geral, ponderando as informações que se veiculam no filme A teoria de tudo (2015), por meio de suas múltiplas linguagens, percebe-se que sua inserção na prática pedagógica é fato a ser considerado, uma vez que a obra cinematográfica traz o texto fílmico repleto de signos que permitem condições reflexivas de diferentes conteúdos temáticos no ensino de Ciências. Entende-se que as linguagens fílmicas mostraram-se fundamentais, pois, por meio delas e de ações mediadas por estratégias docentes nos processos de aprendizagem, os signos podem ser reconhecidos.

Com a perspectiva de aproveitar a percepção do espectador aluno frente ao filme e criar maneiras para despertar no estudante o interesse em aprender, a professora PD relatou que poderia trabalhar o enredo fílmico ao relacioná-lo com o conteúdo temático sistema nervoso. Nas respostas da professora PD, percebe-se, de forma mais detalhada, queo filme A teoria de tudo (2015) permitiu trabalhar conceitos relacionados aos conteúdos sistema nervoso, avanço das ciências, uso de tecnologias para auxílio na vida de pessoas com deficiência. A partir desses temas, a professora PD apresenta alguns entendimentos/possibilidades de como o filme pode ser utilizado para ensinar, como: ilustrar os conteúdos; fazer a mediação do conhecimento; informar o conhecimento científico; apropriar-se de diferentes culturas e analisar um problema, principalmente a deficiência física. Além dessas potencialidades, a professora PD enfatiza que a linguagem fílmica é mediadora no processo de ensino, pois, para ela, as linguagens verbal e não verbal possibilitam a aprendizagem nas aulas de Ciências.

Referências

A TEORIA DE TUDO. Direção: J. Marsh; produção: A. McCarten; E. Fellner; T. Bevan; produtora: Working Title Films. Reino Unido, 2015.

ALMEIDA, M. J. de. Imagens e sons: a nova cultura oral. São Paulo: Cortez, 2001.

ARAÚJO, C. D.; ANGREWSKI, E.; GALVAN, M. Cinema e Filosofia: a utilização de obras cinematográficas nas aulas de Filosofia. In: GABRIEL, F. A.; GAVA, L. (org.). Ensaios filosóficos: Antropologia, Neurociência, Linguagem e Educação. Rio de Janeiro: Multifoco, 2012.

AUMONT, J. A estética do filme. Campinas: Papirus, 1995.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

BRASIL. MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Brasília: MEC/SEF, 1998.

COLL, C.; MAURI, T.; ONRUBIA, J. A incorporação das tecnologias de informação e da comunicação na educação: do projeto técnico-pedagógico às práticas de uso. In: COLL, C.; MONEREO, C. e colaboradores. Psicologia da Educação virtual: aprender e ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2016.

DELIZOICOV, D. Problemas e problematizações. In: PIETROCOLA, M. (org.). Ensino de Física: conteúdo, metodologia e epistemologia numa concepção integradora. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2001.

FANTIN, M.; GUIMARÃES, L. B. O cinema e os filmes de animação em contextos formativos. Educ. Foco, Juiz de Fora, v. 21, n° 1, p. 141-156, mar./jun. 2016.

FAZENDA, I. C. A. O que é interdisciplinaridade? São Paulo: Cortez, 2008.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008.

GIORDAN, M. Computadores e linguagens nas aulas de Ciências: uma perspectiva sociocultural para compreender a construção de significados. Ijuí: Unijuí, 2013.

JAKOBSON, R. Linguística, poética e cinema. São Paulo: Perspectiva, 1970. (Coleção Debates).

JOLY, M. Introdução à análise da imagem. Campinas: Papirus, 2003.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1999.

MAZZOTTI, A. J. A.; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas Ciências Naturais e Sociais – pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira, 1998.

NAPOLITANO, M. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2010.

OLIVEIRA, M. K. de. Vygotsky: alguns equívocos na interpretação de seu pensamento. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n° 81, p. 67-74, maio 1992. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5703354/mod_resource/content/1/Texto%2013%20Marta%20Kohl%20_%20alguns%20equ%C3%ADvocos%20na%20interpreta%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: jan. 2023.

PIASSI, L. de C. Contato: a ficção científica no ensino de Ciências em contexto sociocultural. 2007. 453f. Tese (Doutorado em Educação), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-10122007-110755/pt-br.php Acesso em: jan. 2023.

POMBO, O. Interdisciplinaridade: ambições e limites. Lisboa: Relógio D’Água, 2004.

SANTAELLA, L. Cultura Midiática. In: BALOGH, A. M. et al. Mídia, cultura, comunicação. São Paulo: Arte e Ciência, 2002.

SANTOS, J. N. dos; GEBARA, M. J. F.; SILVA, F. K. M. da. Filmes comerciais nas aulas de Ciências: uma discussão sobre a mediação e a interdisciplinaridade. In: COMPIANI, M.; BRIGUENTI, E. C.; ZIMMERMANN, N. (org.). Pedagogia do lugar/ambiente, interdisciplinaridade e contextualização em sala de aula. Curitiba: CRV, 2020.

SANTOS, J. N. dos. Ciência, cinema e educação: reflexões sobre o filme na escola. Jundiaí: Paco, 2019.

STAM, R. Introdução à teoria do cinema. Campinas: Papirus, 2013.

THIEL, G. C.; THIEL, J. C. Movietakes, a magia do cinema na sala de aula. Curitiba: Aymará, 2009. 

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

Publicado em 12 de março de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

SANTOS, José Nunes dos; GEBARA, Maria José Fontana. Análise fílmica à luz da ciência: a sétima arte como potencial no ensino de sistema nervoso. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 8, 12 de março de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/8/analise-filmica-a-luz-da-ciencia-a-setima-arte-como-potencial-no-ensino-de-sistema-nervoso

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.