Indo além das telas: um relato das atividades e experiências de Estágio II em período pandêmico
Ana Suélen Silva Oliveira
Graduada em Ciências Sociais (UFCG – Câmpus CDSA)
O papel do estágio na licenciatura é o de promover uma aproximação dos discentes do seu campo profissional futuro para que se identifiquem as lacunas presentes e os desafios que serão encontrados na sua atuação escolar. Logo, deve-se considerar o estágio não apenas relacionado à prática docente, mas ao saber construído teoricamente. Essa contraposição entre teoria e prática não é meramente semântica, pois se traduz em espaços desiguais de poder na estrutura curricular, em que se atribui menor importância à carga horária denominada “prática” (Pimenta; Lima, 2006). Assim, com o propósito de promover uma reflexão a respeito da prática docente, o estagiário deve adotar uma postura de pesquisador, não se limitando em observar o professor em sala de aula, mas em conhecer toda a dinâmica escolar, promovendo uma análise crítica sobre o campo de ensino.
As atividades de Estágio II apresentadas neste trabalho foram realizadas numa escola cidadã integral localizada no sertão da Paraíba. Minha atuação na disciplina de Sociologia teve vigência de 28 de junho a 11 de outubro de 2021. Para aproximar e melhorar a comunicação com o professor-supervisor da escola e demais estagiários, foram formados grupos na plataforma WhatsApp. Minhas observações foram realizadas nas três séries do Ensino Médio regular, e a execução da regência foi em uma turma do 2° ano. Considerando o período de pandemia da covid-19, as atividades de Estágio II continuaram sendo ofertadas remotamente pelo serviço de videoconferência do Google Meet. Tendo em vista o cenário mundial, as instituições escolares optaram pelo ensino remoto ou ensino on-line (Oliveira et al., 2020).
Fundamentação teórico-metodológica
Nos cursos de licenciatura, a etapa de estágio é um dos momentos mais tensos da graduação. É nesse momento que se observa o professor em sala de aula. Especificamente no Estágio II, há a execução da sequência didática. Diante das observações, percebe-se que a atuação do professor na escola não é somente a de exercer sua função docente. Antes disso, existe todo um esforço no preparo de cada aula para que se possa trazer conceitos e conteúdos de maneira didática, adotando metodologias para a promoção de um bom rendimento dos alunos. Esse rendimento também é influenciado pela estrutura física e por todos aqueles que compõem a comunidade escolar. Mas o que fazer quando a prática docente não sai de acordo com o previsto?
Nesse momento, devemos considerar que, ao realizar o nosso estágio em determinada escola, não somente observaremos o professor na sua sala de aula. Devemos adotar uma postura de pesquisadores, analisando suas práticas pedagógicas, suas metodologias de ensino e toda a dinâmica escolar, a fim de promover uma reflexão a respeito da nossa própria prática docente futura. Sobre essa perspectiva, cabe salientar que
a pesquisa no estágio, como método de formação dos estagiários futuros professores, se traduz pela mobilização de pesquisas que permitam a ampliação e análise dos contextos onde os estágios se realizam. Mas também e, em especial, na possibilidade de os estagiários desenvolverem postura e habilidades de pesquisador a partir das situações de estágio, elaborando projetos que lhes permitam ao mesmo tempo compreender e problematizar as situações que observam (Pimenta; Lima, 2006, p. 14).
Além disso, antes de começarmos as observações em sala de aula, realizamos, dentro da disciplina de Estágio, estudos sobre o papel do estágio na formação docente, o estágio como ferramenta de pesquisa, técnicas de observação e análise em sala de aula, bem como sobre o ensino remoto em contexto de pandemia e sobre o processo de ensino-aprendizagem com as tecnologias da informação e comunicação (TIC). Esse preparo inicial nos possibilita um olhar mais apurado, não limitado apenas em assistir a aula remota, mas em identificar e perceber os alunos que mais interagem nas aulas, se ligam suas câmeras ou não, o entrosamento no chat e os assuntos que promovem maior interação entre eles. Nesse sentido, Morais e Dias (2004) evidenciam que
o projecto de observação decorre da definição dos objetivos da observação e deve contemplar três aspectos essenciais: a delimitação do campo de observação (estabelecer a escolha do observável, nomeadamente, as situações e comportamentos, as actividades, os tempos e espaços de acção, as formas e conteúdos da comunicação, as interações verbais e não verbais etc); a definição das unidades de observação (estabelecer a escolha da classe, da turma, da escola, do recreio, dos alunos e professor e do tipo de fenômenos) e o estabelecimento das sequências comportamentais (estabelecer a escolha do continuum dos comportamentos ou do reportório comportamental) (Morais; Dias, 2004, p. 50).
Logo, após os estudos e sabendo dos objetivos da observação, traçamos estratégias a fim de captar os mínimos detalhes da interação em cada aula. Adotamos, então, um diário de campo digital, onde descrevemos todos os acontecimentos e todas as interações verbais e/ou não verbais de cada aula.
Observação das dinâmicas de ensino remoto
Pelo grupo criado no WhatsApp com o professor da disciplina, a orientadora e os estagiários da escola poderiam sanar as dúvidas que iam surgindo ao longo das observações, compartilhando os documentos sobre a escola e realizando a divisão dos estagiários por série. Os links para acessar as aulas via Google Meet e demais eventos da escola eram enviados pelo grupo.
Nas primeiras reuniões da disciplina de Estágio II, foi disponibilizado um documento em Word para auxiliar os estagiários em suas observações das aulas. No quadro, deveríamos inserir a caracterização das aulas e das estratégias do professor, a participação dos alunos nas aulas remotas e nas demais atividades docentes. Todas as atividades foram acompanhadas pelo Google Meet. O período de observações começou no dia 9 de julho e terminou no dia 28 de setembro de 2021. No entanto, além da entrevista com o professor da disciplina de Sociologia – que aconteceu no dia 16 de julho –, também participamos de outras atividades, dentre elas as reuniões de área, quando ocorreu a nossa última participação (7 de outubro).
Relato das atividades desenvolvidas
As atividades de Estágio II foram iniciadas na escola campo no início de julho e terminaram em outubro de 2021. Considerando o período da pandemia, as aulas na escola ocorreram remotamente pelo Google Meet. Entre as três turmas do Ensino Médio regular, observamos um total de 24 aulas. O maior número de aulas observadas prevaleceu na turma do 2° ano, onde realizamos a experiência da regência.
É importante destacar que um mesmo professor leciona Sociologia e Filosofia na escola. Logo, foi observada a dinâmica do professor em ambas as disciplinas. As aulas de Sociologia no 1° ano aconteciam às sextas-feiras, das 9h40 às 10h30. As aulas de Filosofia aconteciam às quartas-feiras no mesmo horário. No 2° ano, as aulas de Sociologia e Filosofia aconteciam às sextas-feiras, havendo primeiramente a aula de Filosofia das 10h30 às 11h20 e, em seguida, a aula de Sociologia, que se estendia até às 12h10. Por último, as aulas de Sociologia e Filosofia no 3° ano aconteciam às terças-feiras, das 7h50 às 9h30, obedecendo à mesma ordem das disciplinas do 2° ano.
Nas observações iniciais, os alunos não perceberam que estávamos presentes na sala via Google Meet. Apenas na segunda semana uma aluna da turma do 2° ano perguntou: “Professor, desculpe a pergunta... mas quem é essa Maria e essa Ana Suélen que estão na sala?” Foi então que o professor nos apresentou para a turma, salientando que éramos estagiárias e iríamos acompanhá-los nas aulas durante certo período. Na mesma semana, o estranhamento dos alunos com os estagiários na sala também aconteceu nas demais séries.
Durante as observações, percebemos que o livro didático ainda constitui um importante recurso para o professor. Foram poucas as vezes em que o docente não o utilizou em aula. O início das aulas era marcado pela indicação da página do livro e da referência ao conteúdo que seria abordado. Algumas vezes o docente também utilizava outras ferramentas como o PowerPoint ou as plataformas Pollev e Mentimeter. Em outros momentos, iniciava a aula com alguma pergunta instigadora, usando uma música ou um vídeo, mas sempre com o livro didático em mãos. Como nas séries do 2° e 3° ano as aulas de Filosofia e Sociologia eram subsequentes, o professor costumava usar sempre a mesma oração: “Licença pessoal, vai sair o professor de Filosofia e entrar o professor de Sciologia”. Comparados às outras séries, os alunos do 2°ano participavam menos. Às vezes, o professor fazia alguma pergunta, mas os alunos não se sentiam motivados a responder em um primeiro momento. Quando havia retorno, a iniciativa era sempre de uma mesma aluna. Só depois um outro aluno se habilitava a responder a uma nova questão. No que se refere a interação dos alunos, observamos um destaque no 1° ano, talvez por ser a turma com maior número de alunos. Essa interação via chat muitas vezes ocorria sobre assuntos da aula; outras vezes, era só sobre conversas aleatórias.
Sobre as disciplinas eletivas
É necessário destacar que, quando iniciamos a atuação na escola, as atividades do professor na sua eletiva (disciplina diversificada ofertada pela instituição) já estavam caminhando para o final. Nisso, participamos apenas do evento de culminância das eletivas. Aqui mencionamos que esse momento foi muito gratificante. A princípio, não sabíamos como funcionaria a eletiva, mas todos puderam participar do evento, vendo os alunos engajados. Estavam presentes na sala 97 pessoas, e as eletivas estavam distribuídas da seguinte maneira:
- para aqueles que queriam seguir a área da Saúde, uma eletiva sobre primeiros socorros;
- para aqueles que queriam seguir a carreira policial, uma eletiva denominada Elite;
- para aqueles que gostam da cultura japonesa, uma eletiva chamada The Geek Science; e
- para aqueles que apreciam cultura e cinema, a eletiva Ciência, Cinema e Ficção Científica.
A apresentação dos alunos na exposição dos resultados das eletivas aconteceu por meio de slides, vídeos e histórias criadas pelos próprios alunos. Esse momento se deu no dia 30 de julho, das 8h às 11h40. Ao final do evento foi disponibilizado para os alunos um link para a lista de frequência e outro para a avaliação das eletivas.
Ainda sobre as disciplinas eletivas no dia 26 de agosto: participamos do planejamento da eletiva do professor de Sociologia para o segundo semestre, denominada Interestelar. A reunião aconteceu à tarde e estavam presentes o professor, uma professora e um aluno bem engajado nas atividades. De acordo com a ementa (2021), o objetivo era utilizar o filme Interestelar para fomentar, de forma interdisciplinar, a aprendizagem dos alunos, alinhando sua aprendizagem aos Projetos de Vida e às habilidades de propulsão de Português e Matemática. No dia seguinte, ocorreu o Feirão das Eletivas, uma apresentação e/ou continuidade das eletivas trabalhadas no primeiro semestre. As eletivas The Geek Science e Primeiros Socorros continuaram e foram incluídas as eletivas Interestelar e Saúde Mental.
Sobre a eletiva do professor de Sociologia, participamos apenas de alguns encontros, pois havendo a possibilidade de voltarem às aulas presenciais, alguns pais optaram pela volta. Com isso, foram realizados os primeiros encontros com os alunos que participariam dessa eletiva via Google Meet.
O trabalho docente para além da sala de aula
Além das observações das aulas, também participamos de atividades como: aplicação da prova da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), a culminância das eletivas, o planejamento da eletiva do professor para o semestre seguinte e o evento sobre o mês da juventude. Além disso, participamos das reuniões de área que aconteciam toda quinta-feira, pela manhã.
A aplicação da prova da Obmep ocorreu no dia 13 de julho. No primeiro momento estavam reunidos na sala do Google Meet 100 pessoas, incluindo professores, alunos e a coordenadora pedagógica. Foram reproduzidos vídeos de alunos que já ganharam medalhas em olimpíadas anteriores e, em seguida, foram dados informes sobre o horário da prova e de como ela iria acontecer. Enquanto os professores repassavam esses informes por áudio, no chat alguns alunos pareciam pouco se importar com o que estava acontecendo. Na fala de um professor, houve o destaque desse desinteresse dos alunos em fazer a prova. No entanto, os alunos ignoraram e continuaram os comentários “aff to com sono” “que horas vai acabar isso”. A coordenadora pedagógica disse que estava presente na escola com alguns alunos para a realização de atividades impressas, pois eles queriam fazer a prova presencialmente, devido ao fato de não terem condições de fazer em casa com o celular. Dentre os comentários que estavam rolando no chat, um aluno disse “joga o celular no chão, em dois minutos tá novo”. Como era a nossa segunda observação na escola, não sabíamos ao certo de que série eram os alunos que faziam os comentários. Depois de algumas observações nas três séries e relacionando o nome dos alunos, percebemos que aqueles comentários eram de alunos do 1° ano.
Após os informes, os alunos foram direcionados para outra sala remota, separados por séries. Decidimos observar o 2° ano. Estavam presentes na sala 21 alunos e a professora de Física. Era ela que iria disponibilizar para os alunos o link para acessar a prova. O link foi disponibilizado às 8h43 e nos primeiros 10 minutos os alunos relataram problemas de acesso. A professora pediu que tivessem calma, pois logo se normalizaria. A duração da prova seria até 11h30, mas antes desse horário todos os alunos já haviam terminado.
O evento do mês da juventude aconteceu a partir das 14h do dia 31 de agosto. Estavam presentes na sala do Google Meet 71 pessoas. Foi uma tarde bem interativa, com a presença da comunidade escolar e alguns convidados, dentre eles um ex-aluno que cantou algumas das suas músicas, outra ex-aluna que respondeu perguntas elaboradas pela turma do 3° ano, já que ela faz faculdade e os alunos tinham curiosidade em saber como funciona o ambiente acadêmico. Nas perguntas feitas à psicóloga, muitos relataram a ansiedade que estavam sentindo no período de aulas remotas.
No que se refere às observações nas reuniões de área, cada reunião durava uma hora, podendo chegar a 2h40. Isso aconteceu no dia em os professores tiveram que fazer a escolha das coleções didáticas. No geral, as pautas se referiam ao que seria trabalhado de acordo com a agenda bimestral, informes da coordenadora pedagógica, guias de aprendizagem ou informações sobre o projeto político-pedagógico da escola. Além disso, havia discussões sobre os alunos que assistiam às aulas de um professor e de outro não ou então aqueles que assistiam a todas as aulas via Google Meet, mas que não realizavam nenhuma atividade no Classroom. Nesse sentido, eles destacavam a necessidade de desenvolver estratégias de atividades para trabalhar dentro da aula. Ainda assim, por mais que realizassem atividades avaliativas na sala, esses professores também tinham que disponibilizar ao final de cada aula algum material ou atividade no Classroom, pois essa era uma exigência da escola.
No início das reuniões, os professores destacaram que a frequência dos alunos é por disciplina; no entanto, houve uma mudança durante o nosso período de estágio. A frequência passou a ser por área, o que levou também os professores a perceber um nível menor de presença dos alunos na área de Humanas. Algo que chamou a atenção foi a última reunião de área, pois os professores estavam discutindo um questionário de saúde mental que determinado professor tinha disponibilizado aos alunos. De acordo com as respostas, os professores estavam preocupados. Grande número dos alunos já havia pensado em suicídio, enquanto outros afirmaram que já tentaram. Diante disso, uma gincana que haveria na escola foi adiada, pois a prioridade da escola agora é tratar esse tema com os alunos.
Regência (sequência didática em primeira pessoa)
A regência aconteceu na turma do 2° ano, nos dias 3, 10 e 17 de setembro de 2021. A escolha do conteúdo foi seguida de acordo com o planejamento do professor da disciplina, seguindo a ordem do livro didático Sociologia em movimento, da Editora Moderna.
Atividades de ensino no estágio: regência
No primeiro dia da regência – 3 de setembro –, entrei na aula via Google Meet às 11h15. Havia 10 alunos, o professor e mais dois estagiários. Nos cinco minutos que antecederam a aula, senti nervosismo, mas logo passou quando iniciei a regência. O tema era Racionalização do Trabalho, algo muito importante e pertinente nos dias atuais. Logo, no planejamento da aula, o objetivo seria explanar o conteúdo de forma clara e sucinta para que os alunos pudessem entender o que estava sendo explicado da melhor forma. Já era de se esperar conforme as minhas observações que não haveria muita participação dos alunos, pois eles não interagiam muito nas aulas. Para minha surpresa, quando perguntei se havia dúvida, uma aluna se pronunciou no chat: “Entendi, então o dinheiro que os trabalhadores ganhavam eles já gastavam, comprando os carros das fábricas onde trabalhavam né?”. Essa afirmação foi referente ao modelo fordismo, logo após evidenciar que o carro Ford era o mais vendido da época e que uma das características desse modelo de produção seria o consumo em massa, sobre os quais os custos da produção foram barateados.
Além disso, outras participações aconteceram no final da aula em decorrência do vídeo que decidi trazer sobre a jornada de trabalho no Japão. As interações foram sempre pelo chat, visto que os alunos só ligavam o microfone no final de cada aula para responder a chamada que o supervisor realizava. Ainda sobre essa primeira aula da sequência didática, um ponto não saiu como planejado. Apresentei os conceitos de taylorismo, fordismo e toyotismo e reproduzi o vídeo sobre a jornada de trabalho. Sobraram dez minutos da aula; assim, pensei: “Poxa... e agora, o que eu vou falar?” Foi nesse momento que o professor, também percebendo esses dez minutos restantes, resolveu reproduzir um pequeno vídeo disponível no YouTube, do filme Tempos modernos, de Charles Chaplin. Esse filme se encaixava perfeitamente no tema e, como eu já o havia recomendado aos alunos no Projeto de Intervenção, foi um ótimo Plano B.
A etapa serviu de aprendizado para planejar melhor o meu tempo na próxima aula e estar preparada, caso ocorresse algum imprevisto. Nesse mesmo dia, à tarde, o professor entrou em contato comigo por WhatsApp informando que a regra da escola é que no final de cada aula seja lançado no Classroom algum material e/ou atividade do conteúdo trabalhado, para atender não somente aos alunos que participam via Google Meet. Dessarte, o professor já havia elaborado algumas questões para que os alunos respondessem com o apoio do livro didático. Assim, ele sugeriu que eu podia elaborar para próxima aula um slide mais informativo aos alunos no final da aula, para dar continuidade à minha sequência didática. A 3ª aula seria somente uma atividade.
A segunda aula da sequência didática ocorreu no dia 10 de setembro. Dessa vez, eu estava mais confiante, mas não vou esconder que estava com receio de preparar essa aula, pois era tanta coisa que queria repassar para os alunos que não sabia por onde começar. Para o planejamento dela, considerei o imprevisto que havia acontecido na aula 1, além de algumas sugestões da minha orientadora de Estágio II. Li e reli alguns referenciais teóricos, ensaiei minha fala antes da aula, cronometrando o tempo para que ele não sobrasse. No dia estavam presentes nove alunos, e o tema foi sistemas flexíveis de produção. A aula foi mais teórica. Fiquei 30 minutos trabalhando as leis da Era Vargas até a Reforma Trabalhista instituída no governo do ex-presidente Michel Temer. Também mencionei o sindicalismo. Dessa vez, não houve intervenção dos alunos sobre o conteúdo, mas nos doze minutos restantes de aula reproduzi um vídeo sobre a Carteira Verde e Amarela, proposta pelo governo de Jair Bolsonaro. Antes de iniciar a reprodução, disse aos alunos que o vídeo seria curto, com duração de cinco minutos. No entanto, antes de acabar o vídeo, uma aluna se manifestou no chat: “É sexta-feira, estamos cansados”. Vi o comentário e não falei nada a respeito, o vídeo já estava acabando. Finalizei a aula destacando que na semana seguinte traria uma atividade sobre o conteúdo trabalhado nas duas aulas.
A terceira aula da sequência didática aconteceu em 17 de setembro. Havia um menor número de alunos na sala. Em tela, oito alunos. Disponibilizei um chat com o link no Google, um formulário para a realização da atividade, indicando as páginas do livro didático que eles poderiam consultar e ressaltei que algumas questões foram evidenciadas na aula anterior. No primeiro momento, duas alunas tiveram problemas em acessar o link, por falhas de conexão. No planejamento dessa aula, pensei em sete questões que eles responderiam rápido. Desse modo, no meu plano, estava fazer a correção da atividade junto com os alunos. Todavia, não aconteceu. Os alunos presentes só terminaram a atividade dez minutos antes de a aula acabar. No final da aula, o professor pediu um feedback sobre a minha sequência didática, e os alunos responderam no chat de maneira positiva. Analisando as respostas dos alunos, percebi um bom retorno, apesar de algumas respostas incorretas por falta de atenção durante a aula anterior. A atividade também foi disponibilizada no Classroom para os alunos que faltaram.
Análise das atividades e do seu desenvolvimento
No Estágio II, ficou ainda mais evidente a sobrecarga de trabalho que os professores estavam enfrentando no período remoto, visto que a cada reunião de área os professores recebiam demandas e mais demandas para realizar. No que se refere às aulas, a exigência da escola era de que os professores deveriam incluir no final de cada aula mais materiais e/ou atividades na plataforma. Além disso, sobre a frequência dos alunos às aulas, houve uma mudança, passando a ser por área e não mais por disciplina. Assim, os alunos deveriam assistir a uma aula por semana (da área) para que tivessem boa frequência. Sobre a volta às aulas presenciais, a coordenadora pedagógica da escola informou aos professores em reunião de área que aqueles alunos que desejassem retornar ao ensino presencial teriam professores para lecionar na escola durante o turno da manhã. Para aqueles que desejassem permanecer remotamente, os professores lecionariam durante a tarde. Essa informação causou indignação nos professores, devido às múltiplas tarefas que realizavam em contexto pandêmico.
Com a aplicação da sequência didática e observando a regência dos colegas estagiários, aprendemos que sempre é bom ter um planejamento e um plano b para o caso de algo sair diferente do esperado. Além disso, a baixa participação e o engajamento dos alunos nas aulas são desafios evidentes do período das aulas remotas.
Considerações finais
Concluímos essa etapa de Estágio II com algumas indagações do que poderia ter sido diferente caso as atividades tivessem sido realizadas presencialmente. Talvez as impressões fossem outras. Em suma, o estágio remoto não nos possibilitou conhecer a escola de atuação no Estágio II, pois faltou visitar a sua estrutura física e ter contato direto com os alunos. Exercer as participações nas aulas e principalmente a regência pela tela de um notebook foi um grande desafio. Mesmo diante da baixa participação dos alunos, o barulho dos vizinhos e até familiares em casa, podem prejudicar o exercício pedagógico, mas acreditamos ter valido a pena.
Ademais, salientamos a importância de termos participado do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). O programa nos ajudou a permanecer no curso e a exercer as atividades do Estágio. Por meio de programas como esse, acreditamos numa melhor preparação de alunos nos cursos de licenciatura e, posteriormente, na promoção de professores qualificados para atuar na Educação Básica.
Referências
DIAS, Carlos de Melo; MORAIS, José Antônio. Interação em sala de aula: observação e análise. Revista Referência, v. 11, p. 49-58, 2004.
LIMA, M. S. L.; PIMENTA, S. G. Estágio e docência: diferentes concepções. Poíesis Pedagógica, v. 3, n° 3 e 4, p. 5-24, 2006. DOI: 10.5216/rpp.v3i3e4.10542. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/poiesis/article/view/10542. Acesso em: 20 jan. 2023.
OLIVEIRA, Maria Auxiliadora Monteiro; LISBÔA, Eliene Soares dos Santos; SANTIAGO, Nilza Bernardes. Pandemia do coronavírus e seus impactos na área educacional. Pedagogia em Ação, Belo Horizonte, v. 13, n° 1, p. 17-24, 2020.
Publicado em 19 de março de 2024
Como citar este artigo (ABNT)
OLIVEIRA, Ana Suélen Silva. Indo além das telas: um relato das atividades e experiências de Estágio II em período pandêmico. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 9, 19 de março de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/9/indo-alem-das-telas-um-relato-das-atividades-e-experiencias-de-estagio-ii-em-periodo-pandemico
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