Educação Física e motricidade no contexto escolar infantil
Luna Maria Barbosa de Sousa
Licencianda em Educação Física (Uespi)
Mariana Araújo dos Santos
Licencianda em Educação Física (Uespi)
Kátia Magaly Pires Ricarte
Orientadora e professora do curso de Licenciatura em Educação Física da Uespi
A Educação Física é um componente curricular da Educação Básica, conforme o Art. 26, inciso 3º, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9.394/96. Ainda que seja obrigatória por lei e amplamente reconhecida pela sua importância, essas aulas nem sempre ocorrem na educação infantil. A presença de um professor de Educação Física nesse nível de ensino é altamente recomendada e desejável, uma vez que esse profissional possui conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento motor e as necessidades das crianças nessa faixa etária (Gallahue, 2013; Ribeiro, 2023).
Nesse contexto, a Educação Física e a motricidade desempenham um papel crucial no ambiente escolar infantil, contribuindo para o desenvolvimento global das crianças por meio de atividades físicas, jogos e brincadeiras. Essas práticas enfatizam o desenvolvimento integral do indivíduo, abrangendo os aspectos motores, cognitivos e afetivo-sociais, ao mesmo tempo em que estimulam a adoção de hábitos saudáveis e a participação em atividades físicas ao longo da vida (Gallahue, 2005; Silva et al., 2021).
Os aspectos motores desenvolvidos na infância variam conforme a idade e são influenciados por diferenças sociais, intelectuais e emocionais, exigindo o envolvimento ativo da criança com o ambiente em que está inserida (Thelen, 1995; Polastri; Barela, 2002). Dessa forma, acredita-se que crianças que praticam Educação Física escolar, estimulando sua motricidade, apresentam movimentos mais precisos e adequados e ainda respostas rápidas a diversas situações. Isso aumenta as chances de sucesso nas tarefas motoras e pode impactar positivamente outros domínios da vida, como os relacionamentos interpessoais, refletindo, por exemplo, no êxito nas interações no contexto escolar (Jesus Manoel, 1994; Panserra, 2008; Ferreira, 2023).
Por outro lado, a ausência de um pleno desenvolvimento das potencialidades motoras, especialmente das habilidades motoras fundamentais, tem sido observada tanto em habilidades gerais quanto específicas, como correr (Ferraz, 1992). Acredita-se que as crianças possuem potencial para desenvolver plenamente essas habilidades até a idade de sete anos (Gallahue; Donnelly, 2008).
Os resultados de estudos indicam que uma intervenção estruturada pode causar mudanças significativas no desenvolvimento da motricidade (Braga et al., 2009). Entretanto, a falta de estímulo e da prática apropriada, em decorrência da ausência de profissionais de Educação Física, podem afetar substancialmente o desenvolvimento infantil (Thelen, 1989).
Dado que a Educação Física desempenha um papel singular no desenvolvimento motor das crianças, especialmente no contexto da Educação Infantil, torna-se indispensável a presença desse profissional nesse período escolar. Nessa fase da vida, marcada por crescimento e por desenvolvimento acelerados, a Educação Física pode atuar como um elo essencial para estimular e aprimorar habilidades motoras fundamentais (Gallahue; Ozmun, 2005). O objetivo deste estudo foi comparar o desenvolvimento motor de crianças da educação infantil, com e sem aulas de Educação Física, matriculadas em escolas do município de Timon, no Estado do Maranhão.
Metodologia
Foi realizado um estudo descritivo e quantitativo de corte transversal, envolvendo uma amostra de 80 estudantes da Educação Infantil, de ambos os gêneros, provenientes de duas escolas localizadas no município de Timon/MA: uma privada e outra pública. Foram considerados como critérios de inclusão os estudantes presentes em sala de aula no momento da pesquisa, enquanto os critérios de exclusão abrangeram aqueles com deficiência física e/ou cognitiva que inviabilizasse a realização dos testes, alunos que desistissem antes, durante ou depois da avaliação, e aqueles cujos pais ou responsáveis não preenchessem integralmente o questionário sociodemográfico.
A coleta de dados foi realizada após prévia explicação do objetivo da pesquisa à direção das escolas, ocorrendo em dois dias previamente acordados pelos pesquisadores. Nestes dias, os pesquisadores visitaram as salas de aula das turmas e fizeram uma exposição oral detalhada sobre os procedimentos e os objetivos do estudo.
Os alunos que aceitaram participar assinaram o termo de assentimento livre e esclarecido (TALE) e entregaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) aos pais ou responsáveis, que devolveram os documentos devidamente assinados. Posteriormente, os pais ou os responsáveis responderam a um questionário sociodemográfico, fornecendo informações como a data de nascimento, o gênero e a etnia dos filhos, o tipo de moradia da família, o número de irmãos, o tempo médio de trabalho dos pais, se a escola oferecia aulas de Educação Física na Educação Infantil e a frequência de participação das crianças nas aulas de Educação Física ou em outros exercícios físicos fora da escola.
Para a análise da motricidade, foi utilizada a bateria psicomotora de Vitor da Fonseca (1995), cujo objetivo é avaliar aspectos como tonicidade, equilíbrio, lateralidade, esquema corporal, estruturação espaço-temporal e praxias fina e global. A avaliação é realizada com base em uma escala de pontos: perfil apráxico (realização imperfeita, incompleta e descoordenada) – 1 ponto; perfil dispráxico (realização com dificuldade de controle) – 2 pontos; perfil eupráxico (realização adequada e controlada) – 3 pontos; e perfil hiperpráxico (realização perfeita, harmoniosa e controlada) – 4 pontos.
A coleta foi realizada com os alunos vestindo as roupas do momento. O teste inclui sete fatores e 26 subfatores. Para este estudo, foram escolhidos sete subfatores: 1 - equilíbrio estático: apoio retilíneo (colocar um pé no prolongamento exato do outro); 2 - praxia global: coordenação oculopedal (acertar quatro chutes com a bola em local delimitado); 3 – lateralidade: auditiva (com os olhos vendados, seguir na direção do som que o pesquisador realizar); 4 - noção corporal, imitação de gestos (ver a figura e realizar a imitação com as mãos); 5 – espaço-temporal, estrutura dinâmica (ver o formato de seis figuras e reproduzir as mesmas com palitos de fósforo); 6 - praxia fina: coordenação dinâmica manual (fazer e desfazer a pulseira em determinado tempo); 7 – tonicidade: diadocosinesia da mão direita (realizar movimentos de pronação e de supinação).
Na análise dos dados, utilizou-se estatística descritiva por meio de porcentagem, média e desvio-padrão e estatística inferencial direcionada a dados não paramétricos. Aplicou-se o teste Shapiro Wilk para avaliar a distribuição de normalidade e o teste de Wilcoxon (U-Mann-Whitney) para comparar tendências centrais de duas amostras independentes e iguais. Na análise bivariante, utilizou-se a correlação de Sperman para analisar a relação entre duas variáveis e o teste de qui-quadrado para estabelecer a associação entre elas. Os dados foram organizados em planilha no Microsoft Excel 360 MSO versão 16.0 e analisados noBiostatversão 5.3, com nível de significância adotado de p < 0,05.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual do Piauí, sob o parecer nº 5.390.081. Foram respeitados os padrões éticos estabelecidos pela Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde para pesquisas com seres humanos.
Resultado
A Tabela 1 apresenta a caracterização da amostra das duas escolas analisadas. A maioria dos alunos é do sexo feminino (com 52,5% na escola pública e 60% na escola privada) e de pele parda (representando 56,25% na pública e 55% na privada). O tipo de moradia predominante foi a casa, com 95% para a escola pública e 100% para a escola privada. Além disso, 62,5% dos estudantes da escola pública eram filhos únicos, enquanto na escola privada esse percentual foi de 75%.
Em ambas as escolas, o tempo médio de trabalho dos pais foi de dois turnos (65% na pública e 52,5% na privada). Entre as mães, na escola pública, 47,5% foram classificadas na categoria "outros", indicando ausência de uma carga horária fixa, com horários de trabalho flexíveis realizados a partir do local de residência. Na escola privada, predominou o trabalho em dois turnos fixos (45%).
Confirmou-se que a escola pública avaliada não possuía um profissional de Educação Física (100%), enquanto a escola privada contava com esse profissional para atuar na Educação Infantil (100%). Entre as crianças com aulas de Educação Física na escola, 97,5% participavam regularmente. Quando investigada a prática de exercícios físicos fora do ambiente escolar, identificou-se uma diferença de aproximadamente 50% a favor dos alunos da rede privada em comparação com os da rede pública.
Tabela 1: Perfil sociodemográfico das crianças da Educação Infantil em escolas do município de Timon/MA
Variáveis |
N =80 |
Pb (%) |
Pv (%) |
Gênero |
|||
Feminino |
21 (52,5) |
24 (60) |
|
Masculino |
19 (47,5) |
16 (40) |
|
Etnia |
|||
Branco |
13 (35) |
15 (37,5) |
|
Preto |
04 (08,75) |
15 (07.5) |
|
Pardo |
23 (56,25) |
22 (55) |
|
Moradia |
|||
Casa |
38 (95) |
40 (100) |
|
Apartamento |
- |
- |
|
Sítio |
02 (05) |
- |
|
Irmãos |
|||
Filho único |
25 (62,5) |
30 (75) |
|
1 irmão |
11 (27,5) |
10 (25) |
|
2 ou mais |
04 (10) |
- |
|
Tempo de trabalho do pai |
|||
1 turno |
08 (20) |
19 (47,5) |
|
2 turnos |
26 (65) |
21 (52,5) |
|
3 turnos |
- |
- |
|
Outros |
06 (15) |
- |
|
Tempo de trabalho da mãe |
|||
1 turno |
04 (10) |
14 (35) |
|
2 turnos |
17 (42,5) |
18 (45) |
|
3 turnos |
- |
- |
|
Outros |
19 (47,5) |
08 (20) |
|
Existe aula de Ed. Física |
|||
Sim |
- |
40 (100) |
|
Não |
40 (100) |
- |
|
Faz Ed. Física na escola |
|||
Sim |
- |
39 (97,5) |
|
Não |
- |
01 (2,5) |
|
Nunca |
40 (100) |
- |
|
Faz exercício físico fora da escola |
|||
Sim |
13 (32,5) |
32 (80) |
|
Não |
27 (67,5) |
08 (20) |
N=Tamanho amostral; %=Porcentagem. Fonte: Próprios autores.
A Tabela 2 apresenta as comparações dos níveis de motricidade nas habilidades motoras. A maior diferença de valores médios foi observada na praxia fina (1,43), indicando que os alunos com prática de exercícios físicos na escola e fora do ambiente escolar demonstraram níveis superiores de desenvolvimento motor nesta habilidade (0,001). A menor diferença foi identificada na habilidade de equilíbrio (0,81), mas, ainda assim, a diferença entre os alunos que realizavam exercícios físicos na escola foi significativa (0.001). A análise das habilidades, de forma individual, revelou que a média de motricidade dos alunos com prática de exercícios físicos na escola foi superior em todos os subtestes.
Tabela 2: Comparação dos níveis de motricidade entre alunos com e sem aulas de Educação Física na educação infantil em escolas do município de Timon, segundo a bateria de motricidade de Vitor da Fonseca
Motricidade |
N |
Me |
Dp |
P-valor |
||
80 |
Pb |
Pv |
Pb |
Pv |
||
Tonicidade |
1,80 |
3,20 |
0,82 |
0,79 |
<0,001 |
|
Equilíbrio |
2,17 |
2,98 |
0,81 |
0,83 |
<0,001 |
|
Lateralidade |
2,05 |
3,08 |
0,75 |
0,80 |
<0,001 |
|
Esquema corporal |
2,02 |
2,90 |
0,70 |
0,78 |
<0,001 |
|
Noção espaço-tempo |
1,82 |
3,08 |
0,78 |
0,80 |
<0,001 |
|
Praxia global |
1,73 |
3,08 |
0,68 |
0,73 |
<0,001 |
|
Praxia fina |
1,77 |
3,20 |
0,66 |
0,69 |
<0,001 |
Legenda: N = Tamanho amostral; Me = Média; Dp = Desvio-padrão; Pb = escola pública; Pv = Escola privada; Teste de Wilcoxon (U-Mann-Whitney) e Teste Shapiro-Wilk/p-valor = *p < 0,05; **p < 0,01; ***p < 0,001.
Ao avaliar o nível de influência existente entre as variáveis sociodemográficas e a classificação motora, bem como a associação que duas ou mais variáveis possuem com a motricidade, percebeu-se que quanto mais os pais (-0,035) e as mães (-0,020) trabalhavam fora de casa, menor era o nível de motricidade das crianças. Esses dados reforçam a relevância do profissional de Educação Física na fase da Educação Infantil.
No que se refere aos exercícios físicos realizados na escola e fora do seu ambiente, observou-se significância positiva para a motricidade (0,001), conforme demonstrado na Tabela 3. Associando as variáveis e comparando os resultados obtidos nas redes de ensino avaliadas, obteve-se níveis significativos para as escolas que mantinham o professor de Educação Física de, respectivamente, 0,001 e 0,024 (Tabela 3). Esses achados corroboram a hipótese de que a ausência de um profissional de Educação Física na educação infantil pode impactar negativamente o desenvolvimento motor das crianças.
Tabela 3: Correlação entre variáveis sociodemográficas e CMG e associação entre escolas que oferecem ou não aulas de Educação Física para crianças na Educação Infantil, segundo a bateria de motricidade de Vitor Fonseca
Sociodemográficos |
CMG/P=VALOR N =80 |
CMG |
|
EPB |
EPV |
||
Moradia |
0,072 |
||
Irmãos |
0,145 |
||
Trab. Pai |
-0,035* |
||
Trab. Mãe |
-0,020* |
||
Exercícios físicos na escola |
0,001*** |
- |
0,001*** |
Exercícios físicos fora da escola |
0,001*** |
0,942 |
0,024* |
N = Tamanho amostral; CMG: Classificação motora geral; Correlação de Sperman; X2: teste qui-quadrado; *p < 0,05; **p < 0,01; ***p < 0,001.
Discussão
Os resultados obtidos revelaram dados interessantes, como os relacionados à moradia, quantidade de filhos e tempo de trabalho dos pais. Observou-se que o tipo de moradia predominante foi a casa, presente em aproximadamente 100% dos alunos de ambas as escolas. Esse dado é considerado favorável, pois apartamentos são frequentemente associados a limitações de espaço que podem reduzir as oportunidades de exploração do ambiente pelas crianças, impactando negativamente a motricidade, principalmente se não houver estímulos em locais com maior espaço (Viñao, 1995; Fonseca et al., 2008).
A prevalência de filhos únicos também foi confirmada nesta pesquisa, refletindo uma característica marcante das novas configurações familiares. Embora estudos apontem a importância da presença de irmãos no estímulo à motricidade, crianças que convivem em ambientes enriquecidos por amizades e outros estímulos sociais podem desenvolver-se adequadamente (Tavares, 2004).
Neste estudo, observou-se uma correlação negativa entre o tempo que os pais (-0,035) e as mães (-0,020) passam fora de casa devido ao trabalho e o desenvolvimento da motricidade da criança. Indubitavelmente, entre os diversos fatores que afetam o desenvolvimento da aprendizagem infantil, a qualidade do acompanhamento familiar desempenha um papel fundamental. A convivência familiar deve atender às necessidades da criança em termos de afeto, segurança, disciplina, diálogo e aprendizado, elementos essenciais para o desenvolvimento e a evolução das crianças (Ribeiro; Béssia, 2015). No entanto, as demandas de trabalho frequentemente transferem à escola a responsabilidade de fornecer estímulos adequados para o desenvolvimento apropriado.
Outrossim, esta análise evidenciou diferenças entre as habilidades motoras, destacando a praxia fina como a principal (1,43). Esse resultado reflete que tal habilidade ainda está em pleno desenvolvimento na fase estudada, especialmente devido à exigência de maior maturidade cognitiva. Outra habilidade em destaque foi o equilíbrio, que apresentou menor desproporção (0,81), visto que, nesse período da vida, as crianças começam a dominar melhor suas habilidades, geralmente iniciando pelos movimentos mais amplos e globais (Cunha, 2001).
Ademais, ao analisar um estudo no qual foram selecionadas aleatoriamente 15 crianças de uma escola pública e 15 de uma escola particular, verificou-se que as da rede privada participaram, ao longo das quatro primeiras séries da Educação Infantil, de aulas de Educação Física ministradas por um profissional habilitado, enquanto as da rede pública foram orientadas por professores polivalentes. Os resultados indicaram uma idade motora inferior no grupo da escola pública em comparação ao da particular (Cotrim et al., 2011). Esses achados apresentam conexões relevantes e semelhantes aos encontrados nesta investigação. Assim, acredita-se que os principais fatores que influenciam as dificuldades no processo de desenvolvimento motor incluem a falta de experiência motora, a ausência de instrução adequada, oportunidades limitadas para práticas diversificadas e fatores motivacionais (Villwock; Valentini, 2007).
Outro estudo comparativo, envolvendo 36 estudantes (18 de uma escola com profissional de Educação Física e 18 orientados por professor unidocente), revelou diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos, favorecendo aqueles que tiveram aulas com o profissional de Educação Física (Freitas, 2015).
Dados desta pesquisa também corroboram com um estudo que investigou 19 crianças de ambos os gêneros, com idades entre 3 e 5 anos, matriculadas em um Centro de Convivência Infantil no interior de São Paulo, sob a orientação de um profissional de Educação Física. A prática sistematizada, direcionada para essa faixa etária, mostrou resultados notáveis: 30% das crianças apresentaram padrões acima da média para a idade, destacando a importância do professor de Educação Física na Educação Infantil. Esse profissional contribuiu significativamente para aprimorar o controle corporal, a percepção espacial, a noção de tempo, o equilíbrio, a flexibilidade, a força e as habilidades motoras globais (Silva, 2019; Lopes, 2020; Briet, 2022). A participação nessas atividades se mostrou um fator determinante para um desenvolvimento motor adequado.
Outro estudo avaliou 50 crianças em idade pré-escolar, sendo 25 delas selecionadas para receber aulas de Educação Física. Comparou-se o desempenho motor das crianças que praticavam atividade física sistemática com aquelas que não praticavam. Os resultados indicaram que as crianças que participaram das aulas tiveram um desempenho motor superior. Os valores brutos do subteste locomotor do TGMD-2 (Teste de Desenvolvimento Motor Grosso) demonstraram diferenças significativas entre o pré-teste e o pós-teste (F1,36=38,02; p < 0,001) e a interação significativa entre grupo e teste também (F1,36 =5,62; p < 0,05) (Rodrigues et al., 2013).
Os mesmos autores analisaram o desempenho de dois grupos distintos em habilidades motoras, com ênfase no subteste locomotor. Ambos os grupos apresentaram melhorias, refletidas em aumentos nos valores brutos. Notavelmente, o grupo que participou de aulas de Educação Física obteve um aumento mais significativo, sugerindo uma correlação positiva entre a participação nessas aulas e o aprimoramento das habilidades motoras. Os praticantes foram classificados em uma categoria de desenvolvimento motor superior à dos não praticantes, evidenciando que a prática regular de exercícios físicos impacta positivamente o desenvolvimento motor das crianças pré-escolares.
Os professores de Educação Física infantil emergem como os profissionais mais indicados para promover o desenvolvimento da motricidade em crianças. Contudo, essa recomendação vem acompanhada de uma ressalva: esses educadores devem buscar continuamente o aprimoramento, mantendo-se atualizados em práticas pedagógicas e descobertas científicas. Tal atualização é imperativa para garantir o uso das melhores abordagens, maximizando o impacto positivo no desenvolvimento motor das crianças (Anunciação, 2022).
O objetivo deste estudo foi comparar o desenvolvimento motor de crianças que participam de aulas de Educação Física na Educação infantil com o de crianças que não participam. Os resultados mostraram diferenças significativas no desenvolvimento motor entre os dois grupos, indicando que a prática de exercícios físicos na Educação Infantil está associada a uma melhor motricidade. O acompanhamento por profissionais de Educação Física revelou altos níveis de desempenho entre crianças que frequentavam aulas de Educação Física (0.024). Portanto, os exercícios físicos realizados no ambiente escolar, sob supervisão de profissionais habilitados, apresentam maior relevância para o desenvolvimento da motricidade. Associados a outras práticas fora do ambiente escolar, esses exercícios potencializam ainda mais os impactos positivos no desenvolvimento motor.
Embora o presente estudo se consolide como uma referência importante, apresentou algumas limitações. Uma delas foi que a prática de exercícios físicos realizada fora do espaço escolar mostrou valor não significativo para a motricidade (0,942). Tal fato justifica-se porque somente 32,5% das crianças que frequentam a escola sem as aulas de Educação Física realizam algum tipo de exercício físico sistematizado fora do ambiente escolar. Supõe-se, inclusive, que a ausência do profissional de Educação Física como membro da equipe de ensino possa dificultar o acesso dos familiares à informação sobre a importância desse profissional nas fases iniciais da vida. Ou seja, quando a escola não valoriza a Educação Física como componente curricular, os pais podem subestimar a relevância dos exercícios físicos para o desenvolvimento saudável de seus filhos. Consequentemente, a motricidade pode ser prejudicada pela falta de estímulos adequados.
Outra limitação foi não ter investigado a frequência semanal mantida pelos alunos que praticam exercícios físicos regulares. Essa variação poderia influenciar diretamente os resultados obtidos. No entanto, essa ausência não invalida os dados constatados. Posto isto, é importante ressaltar a relevância desta pesquisa para fundamentar estudos futuros que venham a aprofundar a temática.
Conclusão
Concluiu-se que as habilidades motoras avaliadas neste estudo não alcançaram o corte mínimo de classificação em crianças que não frequentam aulas de Educação Física com um profissional habilitado. Esse dado levanta preocupações sobre os estímulos motores que essas crianças recebem em fases iniciais da vida, como a primeira infância.
A coordenação motora desempenha um papel crucial ao longo de toda a vida, sendo essencial para a realização de atividades cotidianas. Trata-se de uma habilidade que pode ser aprimorada continuamente por meio do processo de aprendizagem motora. A qualidade da coordenação motora está diretamente relacionada à quantidade e à qualidade das experiências motoras vivenciadas, especialmente durante a infância.
Recomenda-se a inclusão regular de profissionais de Educação Física na Educação Infantil, incluindo nas escolas públicas, para que novos estudos, dedicados a uma observação mais detalhada do desenvolvimento da motricidade nessa fase, possam ser realizados. A condução de pesquisas adicionais poderá oferecer insights mais profundos, contribuindo para uma compreensão mais abrangente dos fatores que influenciam e que promovem a aquisição da motricidade nesse fase crucial do desenvolvimento infantil.
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Publicado em 26 de março de 2025
Como citar este artigo (ABNT)
SOUSA, Luna Maria Barbosa de; SANTOS, Mariana Araújo dos; RICARTE, Kátia Magaly Pires. Educação Física e motricidade no contexto escolar infantil. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 11, 26 de março de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/11/educacao-fisica-e-motricidade-no-contexto-escolar-infantil
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