Uma resenha de "Eficácia escolar e gestão aprendente"

Angela Maria Rubel Fanini

Professora doutora da UTFPR, doutora em Teoria da Literatura (UFSC)

O livro Eficácia escolar e gestão aprendente: um estudo das práticas em escolas católicas na Paraíba, do professor Aloirmar José da Silva é fruto de pesquisa realizada junto ao Programa de Pós-Graduação em Gestão em Organizações Emergentes (MPGOA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Na obra, temos primeiramente uma necessária apresentação da contextualização no âmbito da educação brasileira desde seus primórdios até chegar à atualidade, passando pelos diversos caminhos políticos e opções pedagógicas que norteariam esse âmbito. Todavia, não incorre em apenas reproduzir uma história bastante breve e já muito analisada desse cenário, mas mantém o foco, sobretudo destacando a discussão nas escolas de origem confessional.

O capítulo I trata dessa visão, intitulando-se: “A escola católica: memória, identidade e desafios”; investiga como as escolas se organizavam, atendendo ou não as demandas diversas da sociedade brasileira dividida em classes sociais distintas. A investigação desse corte de classe percorre toda a obra, discutindo as divergências entre escola pública e privada e a relação destas com as políticas públicas orientadoras do processo educacional. Outro viés importante abordado se concentra nos contextos governamentais brasileiros, detendo-se de modo mais focado na época da Ditadura Militar, em que houve ascensão de movimentos progressistas dentro das organizações confessionais, atingindo a Educação Básica, e de como os governos desse período fomentaram a abertura de escolas privadas laicas e mercadológicas voltadas para uma perspectiva de mundo neoliberal e conservadora.

Seguindo essa reflexão, temos um breve excerto que ilustra esse período:

Diante da realidade política, a Igreja declara sua opção pelos pobres, cuja novidade, segundo Moura (2000), não está no fato de os pobres ocuparem a centralidade da ação, mas sim a Igreja abdicar do fazer pastoral para os pobres e pelos pobres e assumir a opção política de fazer com os pobres, a partir de sua realidade (Silva, 2017, p. 39).

Esse cenário gerou conflitos dentro da instituição; muitas escolas encerraram suas atividades, outras perduraram nas perspectivas conservadoras e outras tomaram o rumo aberto por movimentos libertadores como a Juventude Universitária Católica (JUC) e a Juventude Estudantil Católica (JEC), a Teologia da Libertação e as comunidades eclesiais de base (CEB). Obviamente, como traz Silva, essa opção gerou embates com a sociedade e com o governo conservador, visto que nas escolas confessionais o público é de estrato material mais abonado e apresenta uma visão não raras vezes contrária a essas diretrizes progressistas.

Ainda acompanhando essa contextualização, o livro chega a 2013, quando o Papa Francisco assumiu a liderança do mundo católico e a Associação Nacional das Escolas Católicas (ANEC), no II Congresso Nacional de Educação Católica, realizado em Goiânia/GO, trouxe uma mudança de rumo com o tema “Uma outra escola é possível”. (Silva, 2017, p. 45). Este é um trecho para ilustração dessa alteração:

Para Boff (2014), a eleição do Papa Francisco representa a inauguração do paradigma eclesial do terceiro milênio, ou seja, a concepção da igreja em rede de comunidades, enraizadas em diferentes culturas. […] A chegada do novo papa proporcionou uma travessia para a igreja. Do inverno eclesial à primavera, de uma fortaleza à casa aberta, [...] do palácio à hospedaria, da doutrina ao encontro, da exclusividade à inclusão, da igreja ao mundo e do mundo aos pobres (Silva, 2017, p. 45).

Feito esse breve panorama, selecionado pela resenhista, visto que a obra é bem mais abrangente, passamos a apresentar o que segue em termos de fundamentação teórica.

Fundamentação teórica

O foco do trabalho demanda toda uma discussão sobre gestão escolar participativa e colegiada, liderança compartilhada, escola aberta à família, escola em parceria com outros órgãos de Estado e organizações da sociedade civil, clima organizacional, formação continuada dos docentes, representação discente, pastorais rumo a uma escola em saída para o mundo, avaliação e ensino não conteudístico, a resistência ao ensino competitivo e, exclusivo em mérito técnico, a inclusão, a diversidade.

A discussão sobre material didático é um ponto importante, visto que nas escolas católicas geralmente há material escolhido para o sistema e isso apresenta vantagens e desvantagens: por um lado, universaliza o conhecimento, mas por outro muitas vezes oblitera os regionalismos. Esse debate não permanece apenas no diálogo com grandes autores que propõem novos paradigmas libertários; vai também para o empírico, ou seja, o dia a dia da escola, mediante entrevista estruturada com alunos, professores e gestores.

Depois de debater essa base teórica e histórica, a pesquisa passa a focar na análise dos dados coletados a partir de entrevistas que ocorrem em quatro instituições católicas do Estado da Paraíba. A investigação, embora faça um estudo de caso, é passível de ser parcialmente generalizada de modo substantivo, atendendo a um dos critérios básicos do pensamento científico, sair do indutivo e alargar-se a fim de contribuir de modo mais generalista. Nas respostas que foram coletadas e elaboradas em gráficos bastante didáticos, vemos os avanços e os gargalos no sentido de implantar uma educação mais progressista, aberta, solidária, inclusiva e menos competitiva. Os sujeitos que fazem a escola são ouvidos, e o cotidiano do fazer educacional passa a surgir em suas falas, reclamações, sugestões, desafios, decepções e conquistas.

A pesquisa foca também e sobretudo na ação dos dirigentes, ou seja, não desvincula a administração do âmbito pedagógico. Em vários momentos, enfatiza a necessidade de haver uma ligação orgânica entre gestores e comunidade acadêmica. Nesse sentido, se destaca a parte administrativa como “gestão aprendente”, cuja práxis cotidiana e ininterrupta deve estar em permanente diálogo com alunos, professores, famílias e demais sujeitos que amparam a instituição. Essa discussão é o ponto alto da pesquisa, visto não haver larga produção sobre gestão, direção e administração, sobretudo a partir dos sujeitos gestores. O trabalho também é inovador por focar na interação dialógica que deve existir entre administração e plano político-pedagógico da instituição.

Considerações finais

Acreditamos que a investigação pode trazer concreta e necessária contribuição para docentes e dirigentes que trabalham em escolas confessionais brasileiras na medida em que encontramos ali as falas, os sonhos, as dúvidas e sugestões e reclamações advindas de sujeitos da educação brasileira.

É no dia a dia da sala de aula, do recreio, das celebrações, das pastorais, nesse chão do conhecimento, que, nós, trabalhadores da Educação, devemos ser ouvidos e compartilhar nossa caminhada com outros e outras docentes. As escolas confessionais católicas têm acolhido muitos de nós, e a sua história é longa, exitosa e tortuosa, também dependendo de sua vinculação ao âmbito político e ideológico. É preciso debater os rumos, acertos e fracassos dessas instituições a fim de que nosso universo laboral seja realmente orgânico, fonte de alegria, realização e pertencimento. Milhares de alunos são formados por docentes engajados laboralmente nessas escolas; urge que nossas vozes sejam ouvidas.

A pesquisa traz essas vozes para a ribalta. Ouçamos e continuemos o diálogo necessário para o aprimoramento do ensino. Finalizamos nossa breve resenha com uma epígrafe do capítulo 4, em que Silva cita nosso memorável guia na área da Educação, em que alia teoria e prática, estudo de caso e perspectiva generalista: “A teoria sem a prática vira ‘verbalismo’, assim com a prática sem teoria vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria, tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade” (Paulo Freire).

Referência

SILVA, Aloirmar José da. Eficácia escolar e gestão aprendente: um estudo das práticas em escolas católicas na Paraíba. Curitiba: CRV, 2017.

Publicado em 14 de maio de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

FANINI, Angela Maria Rubel. Uma resenha de "Eficácia escolar e gestão aprendente". Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 17, 14 de maio de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/17/uma-resenha-de-eficacia-escolar-e-gestao-aprendente

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