Um conto, nós contamos: um relato de experiência com a literatura infantil desenvolvendo a oralidade através da linguagem audiovisual

Andrezza Simões da Silva

Mestra em Inovações em Tecnologias Educacionais (UFRN), especialista em Gestão Escolar (UNP), graduada em Pedagogia (UVA), professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental da Prefeitura Municipal do Natal/RN, coordenadora pedagógica da Prefeitura Municipal de Macaíba/RN

Análya Cristina Leite Cortez do Carmo

Mestra em Inovações em Tecnologias Educacionais (UFRN), especialista em Psicopedagogia (UFRN), especialista em Gestão dos Processos Educacionais (Ufesp), graduada em Pedagogia (UFRN), professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental da Prefeitura Municipal do Natal/RN, coordenadora pedagógica do Governo do Estado do Rio Grande do Norte

Akynara Aglaé Burlamaqui

Mestra e doutora em Educação (UFRN), graduada em Pedagogia (UFRN), professora adjunta (Ufersa), professora do Programa de Pós-Graduação em Inovação em Tecnologias Educacionais (UFRN)

Contextualização inicial

A oralidade é uma prática de linguagem relevante para o desenvolvimento humano, visto que, numa perspectiva histórico-cultural, a interação a partir da fala traz a construção de aprendizagens nos seus vários aspectos, seja na formação social ou no desenvolvimento cognitivo, emocional e cultural, pois, de acordo com Vygotsky (2008), a aprendizagem é de natureza social.

Para Bakhtin (2003), as atividades humanas estão ligadas ao uso da linguagem; essas linguagens são multiformes, porém a unidade de uma língua a faz concreta e única, sendo modelada pelos contextos de uso. A linguagem oral, sendo uma dessas linguagens, mostra sua importância na construção da teia de conhecimentos que a cultura desenvolve, interagindo com os sujeitos em formação e promovendo aprendizagens diversas que favorecem o desenvolvimento de competências e habilidades.

Nesse contexto, corroborando os autores citados, compreendemos que na realidade escolar a linguagem oral é de suma importância no processo de aprendizagem dos alunos. Assim, cabe ao professor, como mediador, fornecer subsídios para que haja momentos significativos em que a fala seja um instrumento potencializador na construção de novos saberes, pois é mediante essas trocas interativas baseadas na oralidade que os educandos constroem seus conceitos e consolidam suas experiências sociocognitivas.

A Educação brasileira dispõe de um documento base que possui diretrizes para a elaboração do trabalho pedagógico de maneira contextual. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento cujas competências e habilidades são essenciais para os alunos desenvolverem e alcançarem os direitos de aprendizagens, tendo sido eleitas como imprescindíveis para a formação integral em cada etapa de ensino, incluindo a prática da linguagem oral. A oralidade é impressa nesse documento numa perspectiva histórico-cultural, como uma das práticas de linguagem que favorecem a construção do conhecimento, pois é pelo desenvolvimento das habilidades orais citadas na BNCC que os sujeitos adquirem competências para sua atuação social de forma autônoma, consciente e crítica na realidade em que estão inseridos. Assim, a BNCC é atualmente a bússola que direciona os caminhos a serem seguidos em todas as áreas do conhecimento científico para a Educação Básica brasileira.

Sobre essas diretrizes, podemos trazer o recorte da linguagem oral e sua relevância no desenvolvimento dos educandos. A BNCC (Brasil, 2018, p. 76-77) norteia quanto à prática pedagógica em relação à oralidade da seguinte forma:

O Eixo da Oralidade compreende as práticas de linguagem que ocorrem em situação oral com ou sem contato face a face, como aula dialogada, webconferência, mensagem gravada, spot de campanha, jingle, seminário, debate, programa de rádio, entrevista, declamação de poemas (com ou sem efeitos sonoros), peça teatral, apresentação de cantigas e canções, playlist comentada de músicas, vlog de game, contação de histórias, diferentes tipos de podcasts e vídeos, dentre outras. Envolve também a oralização de textos em situações socialmente significativas e interações e discussões envolvendo temáticas e outras dimensões linguísticas do trabalho nos diferentes campos de atuação.

Ainda sobre a aprendizagem da comunicação oral e sobre o uso de tecnologias potencializadoras para alcançar os objetivos desse âmbito da linguagem, podemos perceber que a BNCC, nas suas competências específicas de linguagens, indica o uso de recursos tecnológicos digitais como forma de otimizar as práticas de ensino e aprendizagem. Tendo enfoque na linguagem oral, podemos citar a BNCC (Brasil, 2018, p. 63), na competência n° 6, que orienta a

compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar por meio das diferentes linguagens e mídias, produzir conhecimentos, resolver problemas e desenvolver projetos autorais e coletivos.

Utilizar os recursos audiovisuais como ferramenta para estimular o desenvolvimento dos alunos na sua oralidade atende às diretrizes previstas no documento que rege as práticas pedagógicas do Brasil, traz coerência sobre o que é direcionado para o ensino e aprendizagem no âmbito normativo e valoriza as aprendizagens intrínsecas aos educandos. Ademais, a maioria dos alunos possui acesso a dispositivos móveis que permitem produções audiovisuais amadoras, com os recursos que essas ferramentas dispõem por meio de aplicativos e mídias sociais. Por essa razão, a escola já não deve pensar em práticas que não incluam conhecimentos tecnológicos digitais; deve-se, portanto, refletir sobre a utilização de apenas materiais impressos ou analógicos, os quais não contemplam as necessidades atuais dos educandos; a realidade dos sujeitos em formação já não é permeada somente por esses tipos de recurso. Nesse sentido, Soares (2016, p. 84) afirma que,

atualmente, na contingência do barateamento e da facilidade operacional dos aparelhos de produção e veiculação de audiovisuais, nos deparamos, a cada dia, com a disseminação, em uma quantidade sempre crescente, de imagens e de sons (em múltiplas e não mais controláveis composições) criados e/ou remixados por não profissionais da informação, da arte e do entretenimento e distribuídos por outras vias que não apenas os já considerados tradicionais meios de comunicação de massa. As audiovisualidades assim engendradas circulam por diferentes telas, criando novos modos de interação humana.

Portanto, é urgente que se proponham aos alunos experiências pedagógicas envolventes que permitam o uso de habilidades e competências digitais potencializadoras para aprendizagens inerentes a cada ano de ensino, como no caso proposto neste estudo, no 3º ano do Ensino Fundamental. Tal conduta acarreta uma significância real nas vivências dos processos de ensino e aprendizagem.

O presente relato de experiência trata da implementação de estudo acerca da linguagem oral dos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental, cujo objetivo geral é estimular o desenvolvimento da prática de oralidade a partir de momentos significativos e criativos que envolvam os alunos em situações de aprendizagens com a literatura, mais precisamente com o gênero conto de fadas e o uso de recursos audiovisuais, fomentando assim a fala das crianças de modo lúdico e com fins sociais.

Foram pretendidos os seguintes objetivos específicos:

  • Gerar momentos de criação e autonomia, a partir do reconto de histórias;
  • Incentivar o uso da linguagem oral de forma sistematizada, com respeito ao turno de fala e uso de exposição de ideias e argumentos;
  • Desenvolver conhecimentos gerais acerca da linguagem audiovisual;
  • Trabalhar a produção textual a partir da escrita do roteiro;
  • Promover o sentimento de valorização dos conhecimentos prévios em tecnologias digitais.

Baseando-se na experiência de leitura com andaimes de Graves e Graves (1995), a sequência didática apresentada seguiu passos sistemáticos a fim de que houvesse um melhor aprendizado da leitura proposta; a partir dela, ocorreram outras atividades que desenvolveram habilidades no âmbito da linguagem oral e do pensamento criativo.

A sequência didática, sendo uma forma sistemática de organização de atividades entrelaçadas que visam o alcance de objetivos pedagógicos intencionalizados a partir de necessidades constatadas nas vivências na sala de aula, mostrou-se importante para a construção das etapas que desenrolariam todo o trabalho proposto e a angariação dos resultados esperados. Zabala (1998, p. 53-54) define a sequência didática como

o estudo conjunto e inter-relacionado de todas as variáveis que incidem nos processos educativos. Como tais, estes processos constituem uma realidade global que é totalmente evidente quando pensamos numa sequência de ensino-aprendizagem sem, por exemplo, ter definido o tipo de relações que se estabelece na aula entre professores e alunos e entre os próprios meninos e meninas. Essas relações são fundamentais na configuração do clima de convivência e, por conseguinte, de aprendizagem.

As práticas pedagógicas aqui relatadas aconteceram com os alunos matriculados em duas turmas de 3º ano da Escola Municipal Professora Almerinda Bezerra Furtado, localizada em Natal/RN. Considerou-se essa escolha mediante as necessidades orais constatadas na vivência de sala de aula com esses alunos, visto que são oriundos de uma situação socioeconômica desfavorável, advinda da comunidade em que vivem, em que as possibilidades de estímulo no que se refere à leitura, escrita e oralidade de forma sistemática não são muitas, pois a grande maioria vem de famílias com alto índice de analfabetismo. Os alunos apresentavam dificuldades na oralidade, na exposição de opiniões e ideias e na construção de falas argumentativas que pudessem favorecer a externalização do pensamento criativo e interação social.

Diante disso, percebemos que é relevante trazer situações significativas de práticas orais por meio da literatura infantil, especificamente dos contos de fadas, pois essa é uma das leituras mais bem-aceitas pelos alunos. Assim, a partir dessa constatação, ofereceu-se uma proposta metodológica com sequência de atividades inter-relacionadas para desenvolver a linguagem oral.

Adiante, apresenta-se a sequência didática desenvolvida com os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental, bem como os resultados obtidos nessa experiência pedagógica que fomentou a oralidade dos alunos a partir do estudo do gênero conto de fadas atrelado ao uso da linguagem audiovisual.

Os contos de fadas e a oralidade: etapas de uma experiência com o uso da linguagem audiovisual para o desenvolvimento oral

Para a implementação e o desenho metodológico da proposta, a sequência didática foi planejada baseada em estudos teóricos acerca de metodologias facilitadoras que incentivam o processo de leitura e o desenvolvimento oral de crianças. Consideraram-se também as necessidades do público-alvo em questão, os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental, em relação à sua oralidade.

Na escolha da obra que serviu de âncora para o ponto inicial da sequência, analisaram-se diversos livros de contos de fadas; no entanto, foi eleito um livro para as atividades de pré-leitura, leitura e pós-leitura, uma coletânea de contos de fadas clássicos, chamada Meus contos de fadas preferidos, de Tony Ross (2013). Todavia, apenas um dos contos do livro foi escolhido para o trabalho pedagógico, o intitulado "Duende travesso", que aborda a história de um ser mágico e mau caráter que aparece para uma senhora catadora de materiais recicláveis, a qual, por possuir poucos recursos financeiros, depende da coleta diária para sua sobrevivência; mesmo diante de tantas dificuldades da vida e do aparecimento desse ser mágico que a engana por diversas vezes, a senhora continua sendo feliz e grata. Esse contexto promove nos leitores a reflexão sobre valores como a gratidão, valor esse que estimula o sentimento de agradecimento, mesmo em situações difíceis da vida. O propósito maior da leitura foi desenvolver a oralidade, a criatividade e capacidades de imaginação e articulação de ideias.

Seguindo a sistemática da experiência de leitura com andaimes, após essa fase de planejamento, o gênero textual escolhido mostrou-se coerente com a proposta da sequência e com o objetivo maior do trabalho. Assim, seguimos para a fase seguinte: a implementação, de forma gradual, como toda sequência didática. Segundo Russo e Marciano, (2021, p. 12-13),

essa forma de organização é composta por situações didáticas que são, necessariamente, vinculadas entre si e apresentam grau de complexidade crescente; as atividades são realizadas em sequência e permitem um percurso. Considerar um sujeito ativo, reflexivo à construção do conhecimento ocorre em aproximações sucessivas e variadas com o objeto de conhecimento, desejo de formar um cidadão crítico e necessidade de aliar propósitos comunicativos aos propósitos didáticos. Síntese: desenvolvimento de novas didáticas Projetos Sequenciais variáveis; têm como objetivo o ensino de um conjunto de saberes (que envolve também o desenvolvimento de competências e habilidades).

Assim, vê-se que a experiência de leitura com andaimes é justamente uma sequência didática que visa atender às necessidades de aprendizagem dos alunos, por meio uma teia de conhecimentos propostos e focados numa leitura significativa que promova o desenvolvimento cognitivo e social dos estudantes.

Na implementação, seguimos os seguintes passos: pré-leitura, leitura e a leitura. Essas fases foram sistematizadas com o objetivo de, além da prática da leitura, estimular a criatividade e a oralidade dos alunos, por meio de atividades que envolveram a linguagem audiovisual.

Na pré-leitura, ao apresentar a capa do livro, despertaram-se a motivação, a ativação dos conhecimentos prévios dos alunos, a construção do conhecimento específico do texto e a relação da leitura com a vida dos discentes, bem como o pré-ensino de conceitos.

No momento da leitura, foi realizada a contação da história para os estudantes, apresentando as falas do texto com a entonação necessária e a apresentação das figuras do livro. Nesse momento, os alunos fizeram interferências, questionando ou comentando o que estava sendo lido. A leitura realizada pelo professor encorajou os alunos, que foram seduzidos para o mundo da leitura.

As atividades de pós-leitura, fundamentalmente à parte, promoveram o desenrolar dos objetivos para o estímulo da oralidade e da criatividade. Logo após a leitura, foram encaminhadas atividades que visavam sintetizar o texto de forma criativa e espontânea a partir do reconto feito pelos alunos, que expressaram suas compreensões em uma discussão dialógica, gerando um roteiro para elaboração de produção audiovisual com recursos de mídias sociais conhecidas pelos alunos.

Abrimos esse momento de pós-leitura com questionamentos e discussões sobre o conto lido; a partir daí, um texto foi criado de forma interativa entre aluno e professor, modificando falas dos personagens do conto original para um reconto e levando em consideração a produção audiovisual. Essa atividade teve como objetivo despertar a capacidade autoral dos alunos e a sua imaginação, oportunizando aos estudantes a criação de uma história, valorizando o protagonismo estudantil.

A dramatização e as atividades artísticas foram os passos seguintes e ocorreram a partir da formação dos grupos para uma produção audiovisual. Alguns alunos foram os roteiristas, outros editores, cinegrafistas, figurinistas e atores. Após a formação dos grupos, foram dados encaminhamentos para o desenvolvimento das atividades. Essas atividades ocorreram nos respectivos grupos, e cada produção foi socializada no grande grupo. Ao final dessa etapa, os roteiristas apresentaram seus textos sobre o reconto para dramatização, os figurinistas apresentaram as roupas que construíram para os personagens da história e os editores e cinegrafistas mostraram como usariam o aparelho celular e a utilização do ring light para realizar as filmagens e edições, em cenários disponíveis nas mídias sociais.

A etapa final foi a dramatização do conto e sua gravação e edição. Os alunos puderam ter uma sessão de cinema para assistir a todo o trabalho realizado durante a sequência. Pois durante toda fase de implementação foi realizada a gravação das etapas da sequência didática para que, ao final, todo esse material fosse editado para realização de um produto final, um microfilme, estilo documentário, exibido aos demais alunos da escola, a fim de compartilhar as atividades realizadas com outros estudantes que não participaram da experiência e estimular a comunidade escolar a utilizar os recursos tecnológicos como ferramentas potencializadoras da aprendizagem. "Ter em mãos múltiplas tecnologias aumenta e torna possíveis empreendimentos inerentemente humanizadores: criação, expressão e interação" (Blikstein, 2016, p. 852).

Durante toda a sequência didática, o papel do professor mediador foi fundamental para a construção das aprendizagens dos estudantes. Ofertou-se aos alunos autonomia para ampliação dos seus conhecimentos, mas a todo momento os professores estavam ajudando-os, sanando dúvidas e refletindo em conjunto. Carvalho e Perez (2001, p. 114) consideram que

é preciso que os professores saibam construir atividades inovadoras que levem os alunos a evoluírem, nos seus conceitos, habilidades e atitudes, mas é necessário também que eles saibam dirigir os trabalhos dos alunos para que estes realmente alcancem os objetivos propostos.

Dessa forma, o trabalho pautado na sequência didática, aliado ao protagonismo estudantil e mediado pelo professor, fez com que os alunos produzissem conhecimento de forma lúdica, significativa e reflexiva.

A organização da sequência didática deu-se da seguinte maneira: foi estipulada a duração de cinco aulas para a implementação das etapas. Elencaram-se alguns conceitos e competências nas diversas áreas do conhecimento a serem explorados: conceito do valor gratidão; a leitura e o aprofundamento do gênero conto de fadas; a prática de linguagem da oralidade; a produção textual pela escrita do roteiro; a linguagem audiovisual; e a cultura digital.

Diante dos conceitos e competências elencados, foi pretendido o estímulo do desenvolvimento das seguintes habilidades descritas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e no Centro de Inovação para Educação Brasileira (CIEB):

  1. (EF15LP09) Expressar-se em situações de intercâmbio oral com clareza, preocupando-se em ser compreendido pelo interlocutor; através da palavra com tom de voz audível, boa articulação e ritmo adequado;
  2. (EF15LP19) Recontar oralmente, com e sem apoio de imagem, textos literários lidos pelo professor;
  3. (EF05LP18) Roteirizar, produzir e editar vídeo para vlogs argumentativos sobre produtos de mídia para público infantil (filmes, desenhos animados, HQ, games etc.), com base em conhecimentos sobre eles, de acordo com as convenções do gênero e considerando a situação comunicativa e o tema/assunto/finalidade do texto;
  4. (EF15AR26) Explorar diferentes tecnologias e recursos digitais (multimeios, animações, jogos eletrônicos, gravações em áudio e vídeo, fotografia, softwares etc.) nos processos de criação artística; e
  5. (CD04TS01) Expressar-se usando tecnologias.

Os materiais e recursos utilizados nas etapas da sequência didática foram: o livro: Meus contos de fadas preferidos; lousa digital e analógica; canetas piloto; celular; internet; ring light; figurinos para dramatização e materiais para produção do figurino (TNT; cartolina; guache; adereços pessoais).

Detalhamento dos planos de aulas da sequência didática

1ª Aula

Organização da turma: Em roda.

Introdução: No início da aula, conversou-se a respeito do gênero contos de fadas, avaliaram-se os conhecimentos prévios dos alunos e foram apresentadas as principais características do gênero conto de fadas para os estudantes. Após essa conversa inicial, foi mostrada a capa do livro: Meus contos de fadas preferidos, estimulando os alunos a falar sobre as antecipações a respeito do livro mostrado. Após esse momento, foi realizada a leitura do conto: "O duende travesso".

Desenvolvimento: Foi realizada a leitura do conto pelos professores e, durante a leitura, foram consideradas as intervenções dos alunos sobre a história, tornando-se um momento flexível em relação à contação do conto. Foi utilizada a entonação necessária para as falas dos personagens e da narrativa.

Conclusão: Abriu-se a fala para conversas a respeito da compreensão dos alunos, discutiu-se o tema central do conto, dando abertura para as indagações e o entendimento dos discentes.

Avaliação: Participação dos alunos na pré-leitura e na contação em relação às falas produzidas por eles.

Finalização da sequência: Para avaliar se os alunos compreenderam o gênero conto de fadas e seu conceito central, foi realizada uma atividade escrita sobre gênero e sobre a compreensão textual do aluno.

2ª Aula

Organização da turma: Em grupos, em círculos.

Introdução: No início da aula, foi conversado a respeito das atividades elaboradas nesse momento de pós-leitura. Fez-se um levantamento sobre os conhecimentos prévios dos alunos acerca dos temas dramatizações e produção audiovisual e seus recursos. A fala foi aberta com a explanação dos segmentos que seriam utilizados no decorrer do projeto, apresentando as principais características de uma dramatização e de uma produção audiovisual.

Desenvolvimento: Após essa conversa inicial, um vídeo acerca do assunto foi apresentado com o auxílio de um projetor. Foram formados grupos, de acordo com como cada aluno se identificava no universo da dramatização e da produção audiovisual. Propôs-se uma dramatização a partir do reconto dos próprios alunos, numa criação de roteiro para produção audiovisual. Formaram-se grupos nos seguintes âmbitos: figurino, roteiro, filmagem e edição e atores.

Conclusão: Foram distribuídas as tarefas que cada grupo faria para realização da dramatização, a fim de que, no momento posterior, houvesse as produções.

Avaliação: Participação e entendimento dos alunos a partir das suas falas.

Finalização da sequência: Para avaliar se os alunos compreenderam o que é dramatização e produção audiovisual, a proposta de finalização foi uma atividade oral.

3ª Aula

Organização da turma: Em grupos, em círculos.

Introdução: No início da aula, conversou-se a respeito das atividades que seriam realizadas naquele momento. As tarefas baseadas nas afinidades que cada um mostrou sobre as funções dramatização e produção audiovisual foram distribuídas aos grupos dos alunos.

Desenvolvimento: Após essa conversa, iniciaram-se as atividades em grupo. Foram desenvolvidas as produções das roupas dos personagens e os adereços e elaboraram-se as produções escritas do reconto e o roteiro para dar suporte à produção audiovisual. Logo em seguida, foram desenvolvidas as noções de filmagem e edição. Os grupos se formaram nos seguintes âmbitos: figurino, roteiro, filmagem e edição e atores.

Conclusão: As tarefas foram realizadas e mediadas pelos professores envolvidos, sempre orientando os passos a serem realizados para conclusão das atividades.

Avaliação: Participação e empenho dos alunos a partir das suas produções.

Finalização da sequência: Para avaliar se os alunos construíram conhecimento sobre as tarefas propostas, a proposta de finalização foi uma atividade oral.

4ª Aula

Organização da turma: Em grupos, em círculos.

Introdução: No início da aula, explanou-se sobre a importância do ensaio para a produção de uma dramatização, apresentando como o ensaio favorece seguir o que foi planejado no roteiro.

Desenvolvimento: Após essa conversa, iniciaram-se as atividades de ensaio, e a equipe de cada segmento foi encaminhada à sua função para o início dos ensaios e gravação. Os grupos são dos seguintes âmbitos: figurino, roteiro, filmagem e edição e atores.

Conclusão: Os ensaios foram realizados pelos alunos e mediados pelos professores envolvidos, que orientavam os passos a serem realizados para que o ensaio fosse um momento criativo e lúdico.

Avaliação: Participação e empenho dos alunos, com base no ensaio realizado.

Finalização da sequência: Para avaliar se os alunos entenderam a dramatização como processo criativo, autônomo e de protagonismo, realizou-se uma análise oral sobre o que foi sentido no ensaio realizado.

5ª Aula

Organização da turma: Em grupos, em círculos.

Introdução: No início da aula, conversou-se sobre o momento da finalização da sequência, em que se fez a gravação final da dramatização utilizando os recursos audiovisuais.

Desenvolvimento: Após essa conversa, iniciaram-se as gravações e cada equipe se posicionou na sua devida função, realizando as atividades relacionadas a cada uma. Os grupos foram formados nos seguintes âmbitos: figurino, roteiro, filmagem e edição e atores.

Conclusão: As gravações foram realizadas e mediadas pelos professores envolvidos, sempre orientando os passos acerca do que deveria ser realizado para conclusão da filmagem.

Avaliação: Participação e empenho dos alunos, com base nas gravações.

Finalização da sequência: Para avaliar se os alunos construíram conhecimento sobre os conceitos e habilidades trabalhados, propôs-se uma análise oral feita no grande grupo.

Resultados e discussões

Pelas análises realizadas mediante a vivência da prática pedagógica, compreendemos que a utilização da organização do trabalho pedagógico com a sequência didática se constitui como alternativa pedagógica relevante para o desenvolvimento da oralidade e da criatividade, por explorar essas habilidades mediante etapas graduais, nas quais estudantes puderam, a cada aula, avançar em conhecimentos, evoluindo em suas aprendizagens.

Diante das etapas vivenciadas pela sequência didática, percebeu-se o entusiasmo dos alunos envolvidos nas atividades propostas e suas evoluções nas aprendizagens relacionadas aos campos da linguagem oral, bem como ao desenvolvimento do seu pensamento criativo. Os alunos mostraram engajamento desde a primeira etapa até a finalização da sequência, comprovando que, ao deslocar o lugar central do ensino para o lugar da aprendizagem, é possível obter resultados mais significativos.

Ao final da sequência didática, num momento autoavaliativo, os alunos demonstraram suas percepções em uma entrevista semiestruturada proposta pelos professores. Percebemos, por meio das suas falas, o reconhecimento das evoluções orais e das diversas aprendizagens que foram fomentadas durante o processo de implementação da sequência. Adiante seguem as perguntas geradoras que, mesmo sendo de uma entrevista informal, refletem a preocupação de estipular questionamentos padronizados que proporcionem à análise dos dados uma certa comparação entre si.

  • (Q1) O que você achou de ser um dos personagens desse conto?
  • (Q2) Quais aprendizagens você percebeu que construiu?
  • (Q3) Como você percebe a evolução da sua fala?

Foi estimulado que as respostas dos alunos acontecessem de forma espontânea, a fim de que eles ficassem à vontade para expor o que de fato aprenderam sobre a vivência realizada, sem que houvesse preocupação com julgamentos dos professores e colegas que estavam presentes. Para que isso ocorresse de forma natural, foi montada uma roda de conversa na qual cada aluno teve seu momento de falar, a partir de questões que levantadas pelos professores.

Sobre as respostas obtidas na entrevista informal, recortamos algumas delas e expomos a seguir para amostragem do que foi considerado pelos alunos, suas reflexões acerca do trabalho vivido com os contos de fadas e o uso da linguagem audiovisual para o desenvolvimento da linguagem oral. Atendendo aos princípios éticos da pesquisa científica e para garantir a não exposição da identidade dos alunos, eles foram nomeados como Aluno A, B, C, D, E, F, G; assim, seus direitos de privacidade e confidencialidade ficam assegurados.

Quadro 1: Respostas dos alunos sobre a Q1

Aluno A: Eu gostei de ser uma pedra (personagem). Foi muito legal!

Aluno B: Assim... foi bom porque é um tipo de desafio de aprender a ler, e aprender a ser agradecida.

Aluno C: Muito bom! Agradeço muito. Agradeço a oportunidade. Eu aprendi muito a ser grata... é muito, muito legal aprender a atuar.

Aluno D: Acho legal! Mas também tem um momento que me sinto envergonhada.

Aluno E: Muita coisa legal!

Aluno F: Foi muito bom!

Aluno G: Foi legal!

Fonte: Entrevista.

Quadro 2: Respostas dos alunos sobre a Q2

Aluno A: Aprendi a falar melhor.

Aluno B: Aprendi a ler, e ser agradecida.

Aluno C: É muito legal aprender a atuar, ser mais ou menos atriz. Eu aprendi muitas coisas, é bem difícil mesmo! Porque você se esforça muito pra decorar aquela coisa... focar só naquela coisa!

Aluno D: Acho legal! Mas também tem um momento que me sinto envergonhada na hora de falar, na hora de entrar a cena; a peça serviu pra melhorar isso.

Aluno E: Muita coisa... a não ficar envergonhado.

Aluno F: Foi bem legal esses dias ensaiando... e hoje conseguimos realizar a gravação.

Aluno G: "Foi legal! Aprendi a não ser vergonhoso.

Fonte: Entrevista.

Quadro 3: Respostas dos alunos sobre a Q3

Aluno A: Falo melhor.

Aluno B: Eu gaguejava muito e falava as palavras errado. Mas eu finjo que falei certo.

Aluno C: Se a pessoa não sabe ler muito bem, mas não precisa ler muito bem, precisa ensaiar, focar, e até estudar um pouquinho aquele texto até conseguir.

Aluno D: Sinto envergonhada na hora de falar, na hora de entrar em cena... a peça serviu pra melhorar isso.

Aluno E: A falar sem ter vergonha.

Aluno F: Foi muito bom! Às vezes eu gaguejo na hora de falar.

Aluno G: Tinha umas partes que eu ficava com vergonha de falar.

Fonte: Entrevista.

Diante de tais respostas, pode-se constatar que os alunos perceberam suas evoluções e que sentiram prazer em realizar as atividades da sequência, mostrando aos professores que pensar em práticas que envolvam os saberes tecnológicos dos alunos com o uso dos recursos audiovisuais favorece o estímulo a tal atividade, visto que os participantes mostraram interesse em gravar a dramatização e em se assistirem nos vídeos, tanto nos ensaios como na gravação final. O engajamento acerca da tomada de decisões na criação do roteiro, apresentando suas ideias e opiniões e dando oportunidade de sua expressão oral, também foi um ponto positivo observado.

Na finalização da sequência obtivemos um produto final, um documentário com todas as etapas gravadas e editadas para que os próprios alunos pudessem se assistir num momento de culminância de todo o trabalho vivenciado. Com esse momento, pudemos perceber o quanto a autoestima valorizada pode favorecer o fazer pedagógico, pois foi perceptível a satisfação dos educandos ao se verem projetados numa tela.

Considerações finais

A linguagem oral, sendo o elemento principal para o objetivo geral deste trabalho pedagógico, mostrou seu lugar de importância no cotidiano escolar; essa competência de comunicação promove nos discentes habilidades que incentivam o desenvolvimento de outras, como a escrita, por exemplo. A partir da sequência didática utilizando a estratégia de leitura em andaimes, foi percebido que o estímulo à leitura permite aos sujeitos imaginarem o que vão ler (pré-leitura), despertando o gosto pelo mundo criativo e imaginário promovido pela leitura dos contos de fadas. Essa ação permite que os alunos mergulhem na escuta da contação de história (leitura) e oportuniza a autoria na recriação de uma história (pós-leitura), estimulando a oralidade, a criatividade e a autonomia nas aprendizagens, ratificando assim a sua relevância na prática docente.

Segundo Amarilha (1997, p. 73-74),

os contos de fadas, com seu rico referencial simbólico, ressaltam o papel que a literatura deve ter para a criança: o de tornar acessível ao leitor experiências imaginárias que sejam catalisadoras dos problemas do desenvolvimento humano e assim proporcionar autoconfiança sobre o seu próprio crescimento. Quando os professores entenderem a importância de dar oportunidade às crianças para assistir e participar de conflitos de heróis tão inexperientes quanto elas próprias, talvez os contos de fada sejam mais presentes nas salas de aula.

Trazer a linguagem audiovisual também foi uma forma de potencializar esses momentos significativos com a literatura, uma vez que promoveu a valorização dos conhecimentos digitais prévios que os alunos possuem. Esses conhecimentos muitas vezes são tolhidos nas escolas por algumas práticas pedagógicas empiristas que não utilizam os recursos tecnológicos de forma que haja oportunidade de uma construção de conhecimentos baseada no aprendente, tendo em vista facilitar o seu processo de aprendizagem.

Assim, ao realizar essa sequência, proporcionou-se o uso da linguagem audiovisual com uma metodologia que tira o foco do ensino e direciona a preocupação para a aprendizagem por meio da valorização do conhecimento dos alunos sobre as ferramentas que as mídias sociais ofertam e, assim, direcionar uma produção de cunho escolar. Dessa forma, pretendeu-se estimular a autonomia dos estudantes na sua oralidade, considerando que os processos de ensino e aprendizagem ocorrem não somente dentro da escola, mas também além dos muros escolares; esses conhecimentos são a bagagem de experiências que os alunos possuem com a cultura digital que os cerca.

A experiência deste trabalho, o qual uniu o estímulo do desenvolvimento oral e criativo e a linguagem audiovisual, pelo uso de mídia social como fonte de recurso de cenários para a dramatização proposta a partir da metodologia de leitura em andaimes, ratificou que práticas pedagógicas que levem os alunos a produzir, a fazer a grande parte do trabalho, modificam o cenário de desestímulo que muitas vezes encontramos nas salas de aulas, pois é notório que, quando os alunos se sentem valorizados, colocados como protagonistas das suas aprendizagens, eles verdadeiramente conseguem ter melhores resultados mediante os objetivos que são propostos para o desenvolvimento de habilidades e competências.

Referências

AMARILHA, Marly. Estão mortas as fadas? 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BLIKSTEIN, Paulo. Viagens em Troia com Freire: a tecnologia como agente de emancipação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 42, nº 3, p. 837-856, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ep/a/smj6D5mtcLqNsVkzcxgsKcq/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 06 nov. 2021.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

CARVALHO, Anna Maria Pessoa de; PEREZ, Daniel Gil. O saber e o saber fazer dos professores. In: Ensinar a ensinar: didática para a escola fundamental e média. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/001170529. Acesso em: 10 nov. 2021.

GRAVES, Michael F.; GRAVES, Bonnie B. The scaffolding reading experience: a flexible framework for helping students get the most out of text. Leitura, v. 29, nº 1, p. 29-34, 1995. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1467-9345.1995.tb00135.x. Acesso em: 30 de nov. 2021.

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Publicado em 28 de maio de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

SILVA, Andrezza Simões da; CARMO, Análya Cristina Leite Cortez do; BURLAMAQUI, Akynara Aglaé. Um conto, nós contamos: um relato de experiência com a literatura infantil desenvolvendo a oralidade através da linguagem audiovisual. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 19, 28 de maio de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/19/um-conto-nos-contamos-um-relato-de-experiencia-com-a-literatura-infantil-desenvolvendo-a-oralidade-atraves-da-linguagem-audiovisual

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