Experiência imersiva através de uma sala de aula temática: um estudo sobre o Sistema Solar

Camila Bezerra Silva

Docente na Escola Tancredo Nunes de Menezes (Seduc/CE), mestra em Ensino de Física (IFCE/UVA), especialista em Metodologia no Ensino de Física e Matemática (Faveni), licenciada em Física (IFCE)

Yana Júlia Lima Aguiar

Estudante do Ensino Médio na escola Tancredo Nunes de Menezes (Seduc/CE)

Felipe Moreira Barboza

Docente no IFCE – câmpus Tianguá, doutor em Física da Matéria Condensada (UFC), mestre em Física da Matéria Condensada (UFC), bacharel em Física (UFC)

Jonas Pereira Silva

Assessor financeiro na Escola de Tancredo Nunes de Menezes (Seduc/CE), especialista em Gestão e Contabilidade (Unice), bacharel em Ciência da Computação (IFCE) e em Ciências Contábeis (UVA)

O Novo Ensino Médio promoveu maior flexibilidade na organização curricular da base diversificada por meio dos itinerários formativos, que complementam a formação geral básica e nos quais as aprendizagens essenciais estão organizadas em áreas do conhecimento. O componente curricular Física está inserido na área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias (CN).

A análise da área de Ciências da Natureza, a partir da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), evidencia que essa área vai além da operacionalização direta de conceitos, de leis, de teorias e de cálculos. Ela tem o compromisso com o letramento científico da população e, diante da contemporaneidade, exige a compreensão de questões locais e globais em que a ciência e a tecnologia se fazem presentes. A promoção dos debates nessa área deve considerar a relevância sociocultural e ambiental, fazendo com que os estudantes percebam como descobertas passadas refletem no mundo atual e servem de ponte para novas pesquisas, experimentos e descobertas, além de gerar expectativas para o futuro (Brasil, 2017).

A pluralidade curricular do Novo Ensino Médio possibilitou a abordagem de temáticas que antes recebiam pouca atenção ou baixo aprofundamento nos livros didáticos, como é o caso da Astronomia. Assim, "com a parte diversificada, é possível ampliar o repertório de conhecimentos do educando, favorecendo a busca pelo prazer em aprender" (Sousa et al., 2023, p. 2).

O estudo dos astros por meio da Astronomia surgiu da necessidade de o ser humano desenvolver calendários e relógios para auxiliar atividades como agricultura e caça, além da criação de mapas para navegação e exploração terrestre. Considerada a mais antiga das ciências, a Astronomia é "um campo de conhecimento indispensável à compreensão do 'lugar'" que o ser humano ocupa na história do Universo (Siemsen; Lorenzetti, 2017, p. 186).

A BNCC estabelece, na área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, em sua competência específica 2, que o estudante do Ensino Médio deve ser capaz de "analisar e utilizar interpretações sobre a dinâmica da vida, da Terra e do Cosmos para elaborar argumentos, realizar previsões sobre o funcionamento e a evolução dos seres vivos e do Universo, e fundamentar e defender decisões éticas e responsáveis" (Brasil, 2017).

Partindo desse panorama, decidiu-se ofertar na Escola Tancredo Nunes de Menezes (TNM), localizada em Tianguá, no estado do Ceará, a disciplina eletiva Introdução à Astronomia e Astronáutica, cujo objetivo é promover a divulgação científica sobre o universo astronômico, fornecendo aos estudantes uma compreensão aprofundada dos princípios fundamentais da Astronomia e da Física do Universo, desmistificando conhecimentos populares sobre essa ciência e desenvolvendo a consciência ambiental, destacando nossa posição no Universo e a necessidade vital de preservar nosso planeta. Além disso, busca proporcionar a preparação direta dos alunos para a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA).

O presente trabalho relata a experiência da aplicação da referida disciplina eletiva na escola com foco na experiência imersiva de uma sala de aula temática. Essa eletiva contou apenas com alunos regularmente matriculados no primeiro ano do Ensino Médio, mas sua oferta pode ser viabilizada em qualquer nível desse segmento.

As instituições de ensino tiveram autonomia para se organizar em diferentes arranjos curriculares dentro dos itinerários formativos. Na escola supramencionada, cada disciplina eletiva apresenta carga horária de duas horas semanais, sendo uma hora ofertada presencialmente e outra de forma remota, no contraturno do aluno, já que a escola oferece apenas a modalidade regular de ensino.

Essas disciplinas são disponibilizadas aos alunos da primeira à terceira série do Ensino Médio. Com base em seus interesses, os estudantes têm autonomia para escolher quatro eletivas no primeiro semestre e quatro no segundo, sendo vedada a repetição da mesma eletiva.

Durante a execução da disciplina, foram aplicadas diversas estratégias pedagógicas, tais como o uso de palavras cruzadas interativas por meio do software Hot Potatoes, jogo da memória sobre cientistas que contribuíram para essa ciência, jogo de tabuleiro abordando conhecimentos diversos sobre Astronomia e Astronáutica, apresentação de seminários, sala de aula invertida, ilustrações e vídeos sobre os temas, além da preparação dos estudantes para a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica por meio de questões relacionadas.

Ao final da eletiva, foi realizada uma experiência imersiva em uma sala de aula temática, que simulou uma viagem de exploração espacial pelo sistema solar, encenada pelos estudantes, sendo essa experiência o enfoque deste relato.

Metodologia

A sala de aula temática foi exposta no dia da culminância dos produtos finais das disciplinas eletivas na Exposição Tancredo Nunes de Menezes (Expotanm), como ilustrado na Figura 1. Por meio dessa prática, buscou-se promover engajamento não apenas dos alunos matriculados na disciplina eletiva, mas também da comunidade escolar, uma vez que a sala foi aberta à visitação, contribuindo para o letramento científico dos demais alunos acerca do sistema solar, tema tratado na referida sala, proporcionando diferentes formas de interação com o conteúdo.

Figura 1: Ilustração da sala de aula temática

Fonte: Imagens captadas em novembro de 2022.

Para a realização dessa atividade, contou-se com a contribuição direta de todos os alunos inscritos na disciplina. A equipe 1 confeccionou os planetas do sistema solar, que foram suspensos no teto utilizando isopor; a equipe 2 produziu as estrelas de papel laminado e um foguete de papelão; e a equipe 3 preparou o texto de apresentação e encenou a performance no dia da exposição. Houve uma força-tarefa na ornamentação da sala e no controle da quantidade de visitantes por apresentação, pois a sala de aula era pequena e não comportava um grande número de visitantes, ficando limitada a um grupo de quinze pessoas por vez.

Foi simulada uma viagem de exploração espacial, na qual dois alunos representavam astronautas que saíam de um foguete e conduziam a viagem por meio de um diálogo. Durante a interação, realizavam questionamentos sobre os demais astros, dando espaço para os estudantes que interpretavam os planetas do sistema solar se apresentarem. Cada personagem descrevia as especificidades de seu planeta, como ilustrado na Tabela 1. Durante a exposição, utilizou-se um projetor de luzes e som ambiente, proporcionando aos alunos visitantes uma experiência totalmente imersiva e com diferentes estímulos sensoriais.

Tabela 1: Roteiro do diálogo entre os personagens

Roteiro das falas dos personagens na viagem espacial

Astronauta 1

(Os dois astronautas saem de dentro da nave espacial)

A gente sabe tão pouco sobre o espaço… Que tal conhecermos mais sobre cada um dos planetas?

Astronauta 2

Você não acha isso perigoso?

Astronauta 1

Não, nós estamos vivendo novas experiências.

Terra:

Vocês já conheceram o Sol?

Astronautas

Não, por quê?

Terra:

Pois nem sequer pisem lá, pois ele se acha o astro-rei, só porque giramos em torno dele.

Astronautas:

Por que vocês giram em torno dele?

Terra:

Isso acontece porque a gravidade é tão forte lá que o Sol mantém todos nós do sistema solar girando ao redor dele. Acho melhor começar sua aventura por Mercúrio.

Mercúrio:

Olá! Aqui quem fala é Mercúrio. Eu possuo três recordes: sou o mais rápido, o mais próximo do Sol e o menor planeta do sistema solar. Eu, Mercúrio, sou um planeta rochoso, com crateras causadas por impactos em minha superfície, e possuo temperaturas extremas devido à minha proximidade com o Sol, distando-me em apenas 57,9 milhões de quilômetros desta estrela, em média. Esse sou eu: o planeta mais próximo do Sol.

Astronauta 1:

Realmente, aqui está muito quente! Quem é o próximo?

Vênus:

Eu sou o segundo planeta do sistema solar em ordem de distância a partir do Sol, orbitando-o a cada 224,7 dias. Recebi esse nome em homenagem à deusa Afrodite. Sou o planeta mais quente dessas redondezas, pois minha atmosfera é repleta de dióxido de carbono, e isso me deixa "nos nervos". Sou muito parecido com minha amiga Terra em tamanho, massa e composição, mas a verdade é que sou mais lindo que ela. Sou tão brilhante que me chamam até de Estrela D'Alva.

Astronauta 2:

Que interessante! E você, quem é? (apontando para a Terra)

Terra:

Oi, me chamo Terra, mas você pode me chamar de Mundo, Planeta Água ou Planeta Azul. Minha superfície é 70% coberta por água em estado líquido. Sou o quinto maior planeta do sistema solar. Sem minha rotação, humanos como você, Sr. Astronauta, não teriam condições de vida, já que eu seria polarizada. O lado voltado para o Sol teria temperaturas altíssimas, tornando-se um deserto extremamente quente. Já o lado voltado para a sombra ficaria tão escuro e gelado que ninguém suportaria. Falando em escuridão, nossas noites são acompanhadas por um lindo satélite natural, que chamamos de Lua. Sua estrutura é composta por crosta, manto e núcleo. Sua superfície é repleta de crateras e fragmentos. Foi um prazer vê-lo novamente, Sr. Astronauta. Espero que volte logo de sua expedição.

Marte:

Ei, eeeii! Sou eu agora!

Eu sou Marte! Para os mais íntimos, sou o Planeta Vermelho. Sou o quarto planeta mais perto do Sol e possuo esse apelido carinhoso por minha aparência física. Sou rochoso, e é exatamente por isso que esses seres da Terra estudam a possibilidade de encontrar abrigo em mim. Sempre questionam se já existiu vida aqui... Sei não, viu! Não posso falar nada!

E você, o que acha, Sr. Astronauta? Poderia chutar um vírus? Uma bactéria? Só não se esqueça de que minha atmosfera é formada principalmente por dióxido de carbono, nitrogênio e argônio. O oxigênio é apenas vestigial! Se morrer sem ar, não me culpe! Estão acabando com minha amiga Terra e querem me deteriorar também! Olha só! Júpiter, cadê você? Agora é sua vez.

Júpiter:

Aqui estou! Pensei que não ia chegar minha vez.

Eu sou o maior planeta do sistema solar e o quinto planeta a partir do Sol. Sou Júpiter, o planeta com a maior quantidade de luas no sistema solar, aproximadamente 63 luas nomeadas! As mais conhecidas são Io, Europa, Ganimedes e Calisto. Sou gasoso, e minha atmosfera é composta de hélio e hidrogênio. Cuidado ao cair em Júpiter, ok? Você pode ser esmagado por uma força equivalente a 160 mil carros ao mesmo tempo!

Astronauta 1:

Nossa, como você é grande! Já ouvi falar de um planeta que se chamava Plutão, que nem sequer chegava perto do seu tamanho. Qual é o próximo?

Astronauta 2

Será que é você que tem anéis? (apontando para Saturno)

Saturno:

Eu sou Saturno! Possuo nove vezes o tamanho do planeta Terra e sou composto principalmente por gases. Disponho de sete conjuntos de anéis circundantes e 82 luas, sendo Titã a maior e mais conhecida. Sou o sexto planeta a partir do Sol e o segundo maior do sistema solar, ficando atrás apenas de Júpiter. Minha atmosfera é constituída principalmente por hidrogênio e hélio. Sou tão lindo que fiquei bem famoso entre os planetas.

Netuno:

Eita, esse Saturno se acha, só porque tem anéis! Se for por isso, eu também tenho, só que não são tão brilhantes quanto os dele. Eu, Netuno, sou o oitavo planeta a partir do Sol e um dos quatro gigantes gasosos. Sou composto essencialmente por hélio, metano, hidrogênio e amônia. Não apresento superfície sólida, apenas um núcleo muito denso envolto em fluidos e gases. Minha atmosfera é muito instável e tem um clima bastante hostil.

Astronauta 2:

Que aventura incrível! Eu amei isso tudo! Encontro vocês na próxima!

Ao final da apresentação, a fim de gerar interação com o público, foram realizadas perguntas aos espectadores, que, muito envolvidos com a apresentação, corresponderam de forma positiva aos questionamentos e recebiam uma lembrança personalizada da exposição. Logo após esse momento, os visitantes usufruíam de um tempo livre para explorar a sala e realizar registros fotográficos do ambiente.

Considerações finais

Foi perceptível que a disciplina eletiva teve uma excelente procura pelos estudantes, pois as turmas foram rapidamente preenchidas. Observou-se uma boa aceitação das estratégias utilizadas, evidenciada pela interação, interesse, motivação e feedback dos estudantes durante a execução da disciplina.

É importante destacar algumas dificuldades na implementação da sala de aula temática, tais como o custo dos recursos necessários para a ornamentação do espaço, a necessidade de um tempo adequado de preparo antes do dia da exposição, a logística da apresentação e a limitação espacial da escola. Esta não dispõe de um ambiente apropriado para a experiência imersiva, sendo necessária a adaptação de uma sala de aula convencional para a aula temática.

Apesar dos desafios, a sala de aula temática promoveu o engajamento de toda a comunidade escolar, permitindo a divulgação de conhecimentos sobre o sistema solar por meio de uma abordagem mais atrativa e dinâmica. A experiência despertou o interesse do público visitante e incentivou o protagonismo dos estudantes inscritos na eletiva.

O estímulo à criatividade e à imaginação dos estudantes foi crucial para a execução do projeto, que, por meio dos conhecimentos astronômicos, buscou despertar a consciência ambiental da comunidade escolar sobre o nosso lugar no Universo e a importância de preservar e proteger nosso planeta.

Referências

ALVES, M. N.; PAIXÃO, J. F. da. Investigação de sequências didáticas para o ensino de Agroecologia. Ciência & Educação, Bauru, v. 26, 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/j/ciedu/a/S6Htbg39KNvNhymFH3JMRWB/?lang=pt. Acesso em: 10 mar. 2024.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 25 mar. 2024.

SIEMSEN, Giselle Henequin; LORENZETTI, Leonir. Pesquisa em ensino de Astronomia para o Ensino Médio. Actio: Docência em Ciências, v. 2, nº 3, p. 185-207, 2017. Disponível em: https://periodicos.utfpr.edu.br/actio/article/view/6838. Acesso em: 15 fev. 2024.

SOUSA, Jhonatan Peres de et al. Aprendizagem baseada em projetos (ABP) no ensino de usinagem computadorizada: relato de experiência no IEMA Dr. João Bacelar Portela. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 48, 12 dez. 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/48/aprendizagem-baseada-em-projetos-abp-no-ensino-de-usinagem-computadorizada-relato-de-experiencia-no-iema-dr-joao-bacelar-portela. Acesso em: 20 mar. 2024.

Publicado em 11 de junho de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

SILVA, Camila Bezerra; AGUIAR, Yana Júlia Lima; BARBOZA, Felipe Moreira; SILVA, Jonas Pereira. Experiência imersiva através de uma sala de aula temática: um estudo sobre o Sistema Solar. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 21, 11 de junho de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/21/experiencia-imersiva-atraves-de-uma-sala-de-aula-tematica-um-estudo-sobre-o-sistema-solar

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