Sequência didática para trabalhar o gênero textual conto: uma proposta de intervenção para o Ensino Fundamental
Kathleen Barbosa de Oliveira
Graduanda em Letras (UEA)
Luis Alberto Mendes de Carvalho
Mestre em Educação e Ensino de Ciências (UEA)
No ambiente escolar, especialmente no Ensino Fundamental, é comum observar dificuldades dos estudantes tanto na leitura quanto na produção textual. No que se refere à leitura, há estudantes que leem apenas o que lhes é imposto, encarando-a como uma obrigação, e não como uma atividade prazerosa, motivada pelo interesse no conteúdo ou pela busca de conhecimento. Isso ocorre, por exemplo, na leitura de textos presentes em livros didáticos.
Diante desse cenário, torna-se evidente a necessidade de incentivo à leitura. Um estímulo poderá levar à produção escrita, por meio de práticas que despertem o interesse dos estudantes, fazendo com que desenvolvam o hábito de leitura e da produção de textos. Assim, surge a seguinte questão: quais seriam as contribuições da utilização do gênero conto, por meio de uma sequência didática, para o ensino da leitura e da escrita para alunos do Ensino Fundamental, em uma escola pública de Boca do Acre, no Estado do Amazonas?
A prática do ensino da leitura e da escrita em sala de aula, por meio de uma sequência didática baseada no conto, pode ser uma estratégia bastante eficiente para o ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa. Além disso, essa abordagem torna a aula mais lúdica e dinâmica, trazendo uma proposta inovadora que facilita o processo de ensino-aprendizagem e contribui para a formação escolar dos estudantes.
A realização deste trabalho mostrou-se de suma importância para a comunidade escolar, uma vez que a aprendizagem da leitura e da escrita por meio de práticas em sala de aula impacta diretamente a forma como o indivíduo interage socialmente. A escola é a principal responsável por ampliar as ferramentas de interação entre os indivíduos em uma vivência comunitária. Assim, é ela que proporciona a descoberta das habilidades linguísticas e do repertório de conhecimento que cada sujeito tem internalizado. Essas habilidades tornam o indivíduo capaz de se posicionar de forma crítica e reflexiva diante das mais diversas situações da vida social.
O presente trabalho teve como objetivo geral compreender aspectos conceituais do ensino da leitura e da escrita, a partir de uma sequência didática utilizando o conto no Ensino Fundamental. Os objetivos específicos foram: observar o desenvolvimento da leitura e da escrita de alunos dessa etapa de ensino; coletar informações bibliográficas sobre o desempenho da aprendizagem da leitura e da escrita; e analisar as contribuições da sequência didática, com a utilização do gênero conto, para o ensino da leitura e da escrita.
A pesquisa desenvolvida foi de caráter bibliográfico, realizada a partir de estudos já publicados, incluindo livros e artigos científicos. Dessa forma, o conteúdo abordado ao longo do trabalho baseou-se na revisão de estudos acadêmicos previamente elaborados. Algumas publicações científicas serviram como embasamento teórico e suporte para a análise qualitativa dos resultados obtidos.
Os principais teóricos que fundamentaram esta pesquisa foram: Solé (1998), que contribui para o entendimento das estratégias de leitura; Lajolo (2005), que auxilia na compreensão do papel da escola na promoção de atividades de leitura que aproximem os alunos dos livros; Kleiman (2002), que discute a concepção escolar da leitura; e Marcuschi (2008), que trata dos gêneros e tipos textuais.
Quanto ao percurso metodológico, inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico para a obtenção de informações e de dados relevantes à construção do estudo. Em seguida, procedeu-se à delimitação do tema, à análise e à seleção de livros e de artigos científicos provenientes de fontes confiáveis da internet, por meio de sites de busca, garantindo o alinhamento com a temática proposta. Posteriormente, foi feita a leitura e o fichamento dos materiais selecionados, possibilitando uma melhor compreensão do conteúdo relevante para o embasamento teórico.
Nas considerações finais, foi realizada uma avaliação qualitativa dos tópicos discutidos, reunindo as principais ideias apresentadas. Espera-se que essa análise contribua para o surgimento de novas propostas acadêmicas e questionamentos científicos sobre a temática abordada.
Aspectos do desenvolvimento da leitura e da escrita no Brasil
É no ambiente escolar que o aluno tem acesso ao material escrito, sendo na Educação Básica que aprende a ler e a escrever conforme as normas da língua. No entanto, mesmo com o acesso proporcionado aos livros, muitos estudantes ainda não conseguem desenvolver as habilidades necessárias de leitura e de escrita. Isso se reflete na dificuldade de muitos brasileiros interagirem de maneira autônoma e crítica nas situações sociais. Esse fato leva a reflexões sobre a influência das práticas pedagógicas dos professores de Língua Portuguesa no processo de ensino-aprendizagem escolar.
Ensinar a ler e escrever tem sido atribuição da escola desde seus inícios, sendo essas atividades estimuladas já nas primeiras séries – ou ainda na pré-escola, segundo algumas orientações – e praticadas em todas as disciplinas. Porém, a responsabilidade pelo incentivo à leitura, incluindo-se aí a introdução à literatura, e aprendizagem da escrita, bem como das habilidades de redigir e falar, cabe invariavelmente ao professor de Língua Portuguesa (Zilberman, 1988, p. 112).
Conforme a autora, o ensino da leitura e da escrita começa nas séries iniciais da Educação Básica, quando o aluno participa de atividades que promovem a prática de ler e de escrever corretamente. Ela também destaca o papel do professor de Língua Portuguesa, que deve incentivar os discentes, introduzindo-os no universo da leitura e ajudando-os a desenvolver as habilidades orais e escritas por meio de estímulos que despertem o interesse pelas atividades propostas.
De acordo com Lajolo (2005), "embora a história de leitura de cada um de nós sempre se articule a uma história coletiva, ela tem, também, lances extremamente individuais, que a tornam única". Dessa forma, a história de leitura de cada indivíduo é única, com experiências pessoais distintas com os livros. Por isso, é importante que, ao se trabalhar a leitura, se considere esse fato, visto que a escola é o ambiente ideal para promover práticas pedagógicas que resgatem conhecimentos prévios e experiências pessoais, inserindo a realidade dos estudantes nas atividades didáticas, a fim de se construir uma aprendizagem significativa.
Ainda segundo Lajolo (2005, p. 12), "a escola é fundamental para aproximar dos livros a criança e o jovem. É na escola que os alunos precisam viver as experiências necessárias". Portanto, é no ambiente escolar que o aluno terá a oportunidade de conhecer histórias de livros que o aproximarão do universo da leitura. Ao participar das atividades pedagógicas de leitura e de produção de textos, os estudantes adquirirão experiências transformadoras que mudarão sua visão de mundo. Atividades essas que têm por objetivo despertar a curiosidade para ler livros e, consequentemente, o interesse em frequentar a biblioteca.
Lajolo (2005, p. 12) também afirma que os alunos devem aprender a "recorrer aos livros e à leitura como fonte de informações, como instrumento de aprendizagem e como forma de lazer". Dessa forma, é importante que os alunos aprendam que os livros são objetos de suporte relevante em nosso contexto social, pois, além de servirem como ferramenta de estudo que nos auxiliará ao longo da vida, também são ricos em histórias de autores famosos e oferecem vastos conhecimentos culturais, históricos etc. Assim, ao conhecer melhor a utilidade dos livros, poderão utilizá-los também para seus momentos de lazer.
Além disso, o que se observa em muitas escolas atualmente é um número preocupante de alunos com déficit em relação à prática de ler e de escrever textos, reflexo de práticas pedagógicas ineficazes. Lajolo (2005, p. 13) ensina que, "para que a leitura cumpra o papel que precisa cumprir na vida dos alunos, a escola não pode ter como padrão uma leitura mecânica e desestimulante". Desse modo, entendemos que o papel do professor é fundamental para estimular os alunos a ler e a escrever, realizando aulas dinâmicas com momentos reservados à leitura, de maneira que agucem a imaginação dos discentes e despertem o desejo de participar ativamente das aulas.
Kleiman (2002, p. 16) afirma que "as práticas desmotivadoras, perversas até, pelas consequências nefastas que trazem, provêm, basicamente, de concepções erradas sobre a natureza do texto e da leitura e, portanto, da linguagem". Assim, faz-se necessária a promoção de um ensino da língua que atenda às necessidades dos alunos, começando por desconstruir um modelo de ensino pautado exclusivamente no livro didático, que, quando padronizado, traz efeitos totalmente contrários ao que se espera alcançar para uma boa formação escolar.
Técnicas de leitura no processo de ensino-aprendizagem
A leitura e a escrita no país sempre foram objeto de relevantes estudos, o que nos permite refletir sobre como essas práticas vêm sendo abordadas no ensino. A definição de estratégias de leitura e, consequentemente, de escrita, são determinantes, pois garantem uma aprendizagem significativa e funcional dos atos de ler e de escrever.
Segundo Solé (1998, p. 22), "a leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto, e nesse processo tenta-se satisfazer [obter uma informação pertinente para] os objetivos que guiam sua leitura". Para uma aprendizagem efetiva, o leitor precisa analisar e participar do texto, estabelecendo propósitos para sua leitura. Quando o leitor tem consciência dos objetivos que guiam sua leitura, isto é, ao se questionar sobre a finalidade de ler determinado texto, ele se sentirá mais motivado e passará a buscar compreender as ideias do autor, estabelecendo um diálogo com ele, o que fará com que a leitura flua muito melhor.
Solé (1998, p. 90) afirma: "Ler é muito mais do que possuir um rico cabedal de estratégias e técnicas. Ler é sobretudo uma atividade voluntária e prazerosa, e quando ensinamos a ler devemos levar isso em conta". Nesse sentido, utilizar estratégias de leitura no ensino é válido para facilitar a compreensão de textos. Porém, o uso de técnicas de leitura não é suficiente para concretizar a aprendizagem, pois o aluno só terá gosto e motivação para ler quando participar de momentos significativos de leitura compartilhada, nos quais se possibilitará que ele aguce sua imaginação e desperte o desejo de ler.
A aprendizagem da leitura só se efetiva quando é encarada como um processo de construção de sentidos, o que resulta em sua compreensão, e não em mera decodificação. Conforme Kleiman (2002, p. 10), "a aprendizagem é construída na interação de sujeitos cooperativos que têm objetivos comuns". Assim, a aprendizagem da leitura ocorre quando há uma prática comunicativa entre os sujeitos dentro de determinados grupos, isto é, ao discutir aspectos relevantes do texto, cria-se um contexto para a compreensão por meio das interpretações que surgem na conversa.
Solé (1998, p. 98) defende que, para que haja uma leitura compreensiva, a prática de ler em voz alta não é uma boa alternativa de ensino, uma vez que, ao ler em voz alta, o aluno estará preocupado com a entoação, clareza nas palavras, normas de pontuação, entre outras apreensões. Assim, a autora sugere:
Se se trata de compreender um texto, o aluno deve ter a oportunidade de lê-lo com essa finalidade; neste caso, deve haver uma leitura individual, silenciosa, permitindo que o leitor siga seu ritmo, para atingir o objetivo "compreensão". Não se pode esperar que a atenção dos alunos (especialmente nas etapas iniciais de aprendizagem de leitura) possa distribuir-se da mesma maneira entre a construção de significado e a necessidade de oralizar bem (Solé, 1998 p. 98).
Portanto, segundo a autora, é notório que, quando se trata de ler para compreender, a prática de leitura individual e silenciosa, na maioria dos casos, é o melhor caminho, pois possibilita que o aluno se sinta confortável para ler o texto, refletir sobre a leitura e a importância dela naquele momento, e possa também analisar se, de fato, compreendeu as ideias do autor e os efeitos de sentido presentes no texto.
Segundo Kleiman (2002, p. 10), "ao lermos um texto, qualquer texto, colocamos em ação todo o nosso sistema de valores, crenças e atitudes que refletem o grupo social em que se deu nossa socialização primária". Ao ler textos, utiliza-se todo o repertório de conhecimento do meio social e cultural em que se foi criado, das interações em sociedade e das experiências pessoais. Tudo isso possibilita fazer inferências ao texto, desenvolvendo uma perspectiva crítica e reflexiva acerca do conteúdo textual.
Conforme Solé (1998, p. 31), "as interpretações que – a partir das previsões e de sua verificação – vamos realizando no decorrer da leitura implicam a dedução do fundamental do texto com relação aos objetivos que nos levam a lê-lo". Nessa perspectiva, ao estabelecermos objetivos para a leitura, o procedimento de prever e verificar permite que haja a interpretação das ideias fundamentais, expostas de forma explícita ou implícita. O leitor, por sua vez, deve utilizar suas habilidades e conhecimento linguístico para interpretar o texto e conferir se o que leu está alinhado com suas expectativas.
Kleiman (2002, p. 24) afirma: "é durante a interação que o leitor mais inexperiente compreende o texto: não é durante a leitura silenciosa, nem durante a leitura em voz alta, mas durante a conversa sobre aspectos relevantes do texto". Assim, a compreensão do texto se concretiza em processos comunicativos estabelecidos em sala de aula, mediada pelo docente, que têm o objetivo de discutir os aspectos mais relevantes da leitura, resultante de interpretações textuais compartilhadas. É no ato da discussão, mediada pelo professor, que o aluno leitor iniciante terá maior clareza sobre o conteúdo do texto e sua compreensão.
Durante a leitura, existem algumas técnicas que auxiliam a compreensão do texto, e o papel do professor é de suma importância, pois ele, como mediador do conhecimento, servirá como uma espécie de espelho, mostrando aos alunos os procedimentos que utiliza para interpretar textos. Para essa prática, Solé (1998, p. 119) adverte que,
nas tarefas de leitura compartilhada, resumir – talvez fosse mais adequado falar aqui de recapitulação – significa expor sucintamente o que foi lido. Esclarecer dúvidas refere-se a comprovar se o texto foi compreendido, fazendo perguntas para si mesmo. Com o autoquestionamento pretende-se que os alunos aprendam a formular perguntas pertinentes para o texto em questão. A previsão consiste em estabelecer hipóteses ajustadas e razoáveis sobre o que será encontrado no texto.
Nessa perspectiva, a autora apresenta o passo a passo de como o professor, em atividades de leitura compartilhada, pode proceder para uma prática eficiente de ensino. Utilizar essas quatro etapas em sequência – resumir, esclarecer dúvidas, formular perguntas e estabelecer previsões – significa utilizar as estratégias certas para garantir uma efetiva aprendizagem. Essa sequência orienta a prática docente no ensino da leitura e, consequentemente, da escrita.
O processo de leitura e de interpretação textual, ao ser realizado primeiramente pelo professor, servirá como um modelo a ser seguido pelos discentes, que poderão usar o mesmo procedimento em leituras futuras, de forma autônoma. Segundo Solé (1998, p. 121), "quando os alunos leem sozinhos, em classe, na biblioteca ou em suas casas, tanto com o objetivo de ler por prazer, como para realizar alguma tarefa para a qual é preciso ler, devem poder utilizar as estratégias que estão aprendendo". Assim, ao se apropriar das estratégias de leitura, ele poderá utilizá-las em qualquer momento de sua vida.
O tipo narrativo e o gênero textual conto: ferramentas no ensino formal de Língua Portuguesa
Ensinar a Língua Portuguesa a pessoas que têm esse idioma como língua materna é uma tarefa que nem sempre é compreendida pela escola. Por isso, a BNCC nos direciona a algumas práticas bem específicas, como, por exemplo,
oralidade, leitura/escuta, produção (escrita e multissemiótica) e análise linguística/semiótica (que envolve conhecimentos linguísticos – sobre o sistema de escrita, o sistema da língua e a norma-padrão –, textuais, discursivos e sobre os modos de organização e os elementos de outras semioses) (Brasil, 2018, p. 71).
Desse modo, a prática de leitura e de produção textual envolve conhecer o sistema da língua, da escrita e da norma-padrão, pois esse conhecimento é necessário para saber abordar textos, conhecendo sua estrutura, e fazer com que sejam desenvolvidas as habilidades linguísticas de oralidade, leitura, produção e análise da língua. Por essa razão, faz-se necessário que as atividades didáticas de ensino estejam em concordância com o que a BNCC direciona.
Pensar no ensino que tem como foco aperfeiçoar o letramento dos discentes, mostrando os caminhos para o desenvolvimento da habilidade de ler e de escrever textos, implica também pensar o papel do professor nesse processo, aplicando os gêneros discursivos em suas práticas metodológicas de ensino, pois, conforme ensina Bagno (2002, p. 52), "de nada adianta ensinar alguém a ler e escrever sem lhe oferecer ocasiões para o uso efetivo, eficiente, criativo e produtivo dessas habilidades de leitura e de escrita".
Utilizar os gêneros textuais como ferramenta de ensino nas propostas de atividades, ajustando estratégias de leitura e de escrita, possibilita que o aluno desenvolva as competências necessárias para ler e redigir textos, o que impactará sua visão e uso da língua. Dessa forma, segundo Bagno (2002, p. 59), "é preciso que o aluno saiba falar, ler e escrever bem para depois estudar o funcionamento da língua de um modo consciente, sistemático, técnico".
Na perspectiva de Adam (apud Solé, 1998), o tipo narrativo é um texto em que, em sua estrutura, há um desenvolvimento cronológico. Em alguns textos, os fatos ocorridos seguem uma determinada organização, e, em outros, existe uma estrutura na narrativa que tem como base o diálogo. Segundo o autor, narrativo é um
texto que pressupõe um desenvolvimento cronológico e que aspira explicar alguns acontecimentos em uma determinada ordem. Alguns textos narrativos seguem uma organização: estado inicial/ complicação/ação/resolução/estado final. Outros introduzem uma estrutura dialogal dentro da estrutura narrativa. Exemplos: conto, lenda, romance (Adam apud Solé, 1998, p. 85).
Um gênero textual que pode ser trabalhado no ensino formal de Língua Portuguesa é o gênero textual conto, cuja tipologia predominante é a narração. Por meio de suas histórias, é possível desenvolver a leitura e a escrita, estimulando a imaginação dos alunos. Ao explorar, nas atividades propostas, os elementos que compõem uma narrativa — como a organização de fatos e o encadeamento dos acontecimentos —, é possível compreender a função e a estrutura que caracterizam esse gênero textual.
Trabalhar com o gênero textual possibilita promover um ensino formal da língua que considere os contextos reais de uso, ou seja, ensinar as funções que desempenham os conceitos e as regras gramaticais da língua, nas mais variadas situações de uso e manifestação da linguagem. Assim, no que se refere ao gênero, Motta-Roth e Heberle (2005, p. 17) apresentam a seguinte definição:
Na relação funcional entre linguagem e contexto da situação, cada gênero corresponde a padrões textuais recorrentes (o uso que se faz da linguagem para atingir objetivos comunicativos) e contextuais (a situação de experiência humana com a qual determinado registro de linguagem é comumente associado) (Motta-Roth; Heberle, 2005, p. 17).
Nessa perspectiva, segundo as autoras, podemos encontrar em cada gênero textual um meio para se trabalhar a estrutura dos textos, levando em consideração a linguagem presente em cada um deles, e que pode se manifestar nas situações comunicativas entre os sujeitos, a fim de cumprir seus propósitos comunicativos.
Conforme Marcuschi (2008), não pode haver diferenciação entre texto e discurso, pois há uma relação contínua entre ambos. Observamos que o texto é o ponto de partida para os processos comunicativos entre os sujeitos; ele serve como base para que os indivíduos possam se comunicar nas diversas situações de vida em sociedade.
Para promover práticas de leitura e de escrita, é necessário estabelecer atividades em sala de aula que considerem a realidade dos estudantes, de modo que se sintam inseridos socialmente. O trabalho com a sequência didática é definido como "um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito" (Dolz; Novarraz; Schneuwly, 2004, p. 97 apud Marcuschi, 2008, p. 213).
A estrutura básica de uma sequência didática é ilustrada pelo seguinte esquema:

Figura 1: Esquema da sequência didática
Fonte: Dolz, Novarraz e Schneuwly (2004, p. 98 apud Marcuschi, 2008, p. 214).
Assim, a sequência didática elaborada compreende todas as etapas seguintes, começando pela apresentação da situação, na qual, primeiramente, haverá uma exposição oral do gênero textual conto, bem como de sua estrutura, temática e principais características desse gênero. Depois, teremos o momento de leitura compartilhada, perguntas e discussões acerca dos textos lidos. Em seguida, será proposta a produção inicial para avaliar o nível de aprendizagem do aluno referente ao conteúdo, e, a partir dessa avaliação, serão trabalhados os próximos módulos até chegar à produção final.
Nesse sentido, elaboramos a seguinte sequência didática, tomando como modelo a proposta de Neto (2011), a qual será o objeto de discussão e de análise no tópico seguinte deste trabalho.
Sequência didática para trabalhar o gênero textual conto: uma proposta de intervenção para o Ensino Fundamental
A seguir, apresentamos a descrição objetiva da sequência didática (SD) abordada, integrada a um modelo proposto por Neto (2011), com base em sua experiência vivenciada em sala de aula, e considerando o referencial teórico adotado, a fim de alinhar o caráter qualitativo inicialmente proposto.
Eixo temático: Oralidade e escrita.
Objetivo geral: Compreender a estrutura e as principais características do gênero textual conto, a partir da leitura e da análise de contos da literatura infantil.
Objetivos específicos:
- Desenvolver a habilidade de leitura e a compreensão do gênero textual conto.
- Exercitar a escrita de textos segundo as normas da Língua Portuguesa.
- Desenvolver a oralidade a partir de leituras do gênero textual conto.
Conteúdo: Livro Festa no Céu (conto de Angela Lago)
Aulas: Cinco aulas.
Materiais: Papel impresso, caneta, lápis, caderno.
Desenvolvimento das etapas
1ª aula: Prática de leitura
Será realizada uma aula de prática de leitura, que se iniciará com a verificação do conhecimento prévio dos alunos em relação ao gênero textual conto. Será necessário levantar questionamentos a respeito de quais histórias os alunos já conhecem e as que tiveram melhor experiência de leitura. Em seguida, será realizada uma breve apresentação do gênero previsto, explicando sua estrutura e sua finalidade. Leitura feita pelo professor: livro Festa no Céu, conto de Angela Lago.
É fundamental que, no início da atividade de leitura, os estudantes se sintam livres para socializar com o professor e com a turma seus conhecimentos a respeito do tema, deixando-os à vontade para interagir e compartilhar seus saberes.
Com a sala organizada para leituras compartilhadas, o professor deve criar um espaço agradável e envolvente, de modo a fazer com que aquele momento se torne prazeroso para os alunos. O professor, ao realizar a leitura e orientar a turma, deve ser criativo e usar diversas estratégias para atrair a atenção dos discentes, utilizando, por exemplo: caixa mágica, bonecos, fantoches, etc. Além disso, o professor poderá organizar os livros de contos de fadas junto a um varal, para que os alunos vejam as capas e escolham o livro de seu interesse. Leitura feita pelos alunos: livro O Reizinho Mandão, de Ruth Rocha.
A escola é fundamental para aproximar dos livros a criança e o jovem. É na escola que os alunos precisam viver as experiências necessárias para, ao longo da vida, poderem recorrer aos livros e à leitura como fonte de informações, como instrumento de aprendizagem e como forma de lazer (Lajolo, 2005, p. 12).
Assim, é importante que o professor utilize sua criatividade para organizar a sala e apresente diferentes histórias de forma a despertar a curiosidade dos alunos com os livros e, naturalmente, faça com que se sintam motivados a ir até a biblioteca da escola em busca de conhecimento. Um ambiente agradável de leitura e socialização torna o ato de ler prazeroso.
2ª aula: Língua oral
Após o momento de leitura, os alunos terão liberdade para expor suas percepções em relação às histórias lidas. Na ocasião, também será apresentada uma breve biografia sobre os principais autores dos contos. Depois, serão feitas perguntas a respeito das características que os alunos conseguirem identificar acerca do gênero trabalhado.
O trabalho com o gênero textual conto possibilita utilizar a criatividade do estudante, permitindo que ele saiba identificar nos textos os elementos principais que compõem uma narrativa, auxiliando-o a compreender como se organiza esse gênero textual. Ao promover as discussões sobre a temática, proporciona-se a descoberta da função do gênero textual conto e a importância de sua leitura para o desenvolvimento do senso crítico do aluno.
3ª aula: Língua escrita
Esta aula é dedicada à prática da escrita. Portanto, é preciso promover atividades para exercitar a escrita. Utilizar como base o texto lido pode ser uma ótima estratégia para tornar significativa a aprendizagem. Por exemplo, dissertar a respeito de sua interpretação de texto ou comentar sobre as características dos personagens e do espaço da obra etc. Ou optar por atividades lúdicas, como cruzadinhas, caça-palavras, entre outras.
4ª aula: Produção de texto
Após as leituras e as discussões realizadas nas aulas anteriores acerca dos contos, será proposto que os alunos produzam textos de acordo com a estrutura e as características do gênero textual trabalhado. Poderão, assim, usar sua criatividade, utilizando desenhos como meio de ilustração. Compreender o texto a partir da análise e das discussões sobre os aspectos essenciais presentes nele permitirá que o aluno adquira autonomia para produzir seu próprio texto, utilizando sua criatividade e seu repertório linguístico, levando em consideração as normas da língua e a estrutura presente nos gêneros textuais propostos em sala de aula.
5ª aula: Análise e reflexão sobre a língua
Neste momento, os alunos deverão ser orientados sobre os aspectos estruturais do texto. Deve-se promover atividades que os levem a refletir sobre como produzir e apresentar os textos da melhor maneira possível. Assim, serão orientados a fazer revisão, reorganizar as ideias, pontuar adequadamente, corrigir a ortografia e, finalmente, reescrever o texto.
Considerações finais
No ensino da língua materna, com frequência encontramos dificuldades em relação à aprendizagem da leitura e ao uso da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa. É no ambiente escolar, especialmente no Ensino Fundamental, que há uma necessidade evidente de práticas pedagógicas mais eficientes, que envolvam e motivem os aprendizes.
É fundamental que as práticas docentes não se restrinjam apenas ao uso do livro didático ou, ainda, ao ensino das regras gramaticais dispersas. Devem ser inovadoras, criando um ambiente agradável, propício e dinâmico de aprendizagem, norteadas a partir de textos conectados à realidade discente. Dessa maneira, a escola pode abordar o conteúdo da aula numa perspectiva favorável aos estudantes, permitindo a interação e o compartilhamento de conhecimentos e de experiências.
Uma prática docente dissociada das necessidades pragmáticas da língua, que não agregue valores interativos, pode ser improdutiva, pois ignora as funções sociais da língua e acaba por excluir o discente do processo da aprendizagem. Por outro lado, o uso de técnicas atualizadas, antes e durante a prática de leitura, pode nortear a práxis pedagógica, promovendo um ensino mais produtivo e ajudando o estudante a se tornar um leitor ativo, capaz de interpretar textos e atribuir sentido a cada texto lido.
No entanto, o papel social e motivador do professor é de indiscutível relevância, pois as práticas pedagógicas são fatores que determinam o sucesso ou o fracasso escolar. A escola é a ponte entre os alunos e os livros, e cabe à instituição escolar garantir que os estudantes se tornem leitores proficientes e dominem a escrita.
O levantamento bibliográfico realizado durante o projeto de pesquisa indicou que o trabalho docente, ao explorar o gênero textual conto em uma sequência didática, pode tornar a aula mais lúdica e dinâmica. Isso contribui para a criação de um ambiente de aprendizagem mais produtivo.
Na mesma direção, o método de organizar a sala de maneira que se torne um espaço agradável para a realização de leitura, no qual os alunos tenham acesso facilitado aos livros e o professor promova momentos de leituras e de produções compartilhadas, fazendo a apresentação dos autores dos contos e mediando discussões acerca dos textos explorados, pode proporcionar aos alunos momentos de intenso aprendizado. Eles se sentirão mais motivados a aprender e a participar ativamente das atividades programadas, tornando o ato de ler e de escrever algo efetivamente significativo para todos os envolvidos.
Para o profissional da docência, o uso do gênero textual conto foi e é de suma importância para o ensino da utilização da modalidade escrita da língua. Isso porque mobiliza uma práxis de produção textual significativa, que possibilita avaliar o desempenho e o aprendizado do aluno. Além disso, permite que os alunos reflitam sobre a função que representa cada elemento gramatical integrante da estrutura do texto, a partir das discussões geradas em torno das características principais do gênero trabalhado.
Portanto, o planejamento adequado das aulas é fundamental no processo de formação de leitores e de produtores de texto, contribuindo para o desenvolvimento de leitores proficientes, capazes de compreender os textos e interpretá-los em relação aos contextos do cotidiano. Exercitar a leitura na sala de aula, por meio de práticas estruturadas em etapas, traz inovações ao ensino, tornando as aulas dinâmicas e produtivas, e garante também o domínio da escrita conforme as regras e as formalidades da língua.
É importante ressaltar que as estratégias de leitura que o professor escolher para utilizar ao abordar um texto devem servir apenas como um modelo momentâneo, e não o padrão fixo a ser seguido. Assim, os alunos terão maior liberdade para realizar suas leituras, desenvolver sua autonomia leitora/produtora, e abrir espaços, em sala de aula, para novas inserções, criatividade e compromisso com a construção de uma cognição necessária ao desenvolvimento discente.
Referências
AMARAL, Heloísa. Como e por que trabalhar com gêneros textuais no Prêmio Escrevendo o Futuro. s/d. Disponível em: http://www.cenpec.org.br. Acesso em: 12 jul. 2008.
BAGNO, Marcos. A inevitável travessia: da prescrição gramatical à educação linguística. In: BAGNO, M.; STUBBS, M.; GAGNÉ, G. Língua materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. São Paulo: Pontes, 2002.
LAJOLO, Marisa. Literatura: leitores e leitura. São Paulo: Moderna, 2001.
LAJOLO, Marisa. Meus alunos não gostam de ler. Brasília: Cefiel; Campinas: Ed. Unicamp, 2005.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.
MOTTA-ROCH, Désirée; HERBELE, Maria Viviane. O conceito de "estrutura potencial de gênero" de Ruqayia Hansan. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTAROTH, D. (org.). Gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola, 2005.
NETO, R. B. de O. A diversidade de gêneros textuais na sala de aula: ler, ouvir, conhecer e produzir. Portal do Professor. Brasília: MEC, 2011. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=25398. Acesso em: 12 nov. 2022.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
ZILBERMAN, Regina. A leitura e o ensino da literatura. São Paulo: Contexto, 1988.
Publicado em 18 de junho de 2025
Como citar este artigo (ABNT)
OLIVEIRA, Kathleen Barbosa de; CARVALHO, Luis Alberto Mendes de. Sequência didática para trabalhar o gênero textual conto: uma proposta de intervenção para o Ensino Fundamental. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 22, 18 de junho de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/22/sequencia-didatica-para-trabalhar-o-genero-textual-conto-uma-proposta-de-intervencao-para-o-ensino-fundamental
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