O papel da biblioteca na construção do pensamento crítico sob a perspectiva docente: um estado do conhecimento
Paulo Josué Lemos Alves
Mestrando em Educação Profissional e Tecnológica (IFFarroupilha), técnico administrativo em Educação na UniPampa
Rafael Winícius da Silva Bueno
Doutor em Educação em Ciências e Matemática, professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFFarroupilha e do Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica do IFFarroupilha
Este artigo visa investigar os estudos já feitos sobre o papel da biblioteca na construção do pensamento crítico sob a perspectiva docente. Analisando a literatura existente, buscou-se compreender como as pesquisas já realizadas abordaram essa temática, assim como procurou-se identificar lacunas ainda não exploradas nesses estudos.
O pensamento crítico é uma habilidade essencial no contexto educacional contemporâneo, possibilitando aos estudantes a avaliação de informações, a formação de opiniões fundamentadas e a resolução de problemas de maneira criativa e reflexiva.
Paul e Elder (2009) definiram as características de um pensador crítico e culto como sendo um indivíduo capaz de identificar e apresentar questões vitais e problemas de forma clara e precisa. Além disso, é habilidoso em coletar e avaliar informações relevantes, utilizando ideias abstratas para interpretá-las de maneira eficaz. Ainda segundo os autores, um pensador crítico também é capaz de chegar a conclusões e soluções bem fundamentadas, testando-as com base em critérios e padrões relevantes, mantendo a mente aberta, considerando sistemas alternativos de pensamento e avaliando suas suposições, implicações e consequências práticas conforme necessário. Por fim, é capaz de se comunicar de forma eficaz com outros indivíduos para desenvolver soluções para problemas complexos.
Levando em conta as características mencionadas e o contexto escolar, a biblioteca pode ser considerada como um espaço privilegiado de acesso à informação e estímulo à leitura, desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento dessas competências nos estudantes. Segundo Campello (2017, p. 11),
a biblioteca escolar é, sem dúvida, o espaço por excelência para promover experiências criativas de uso de informação. Ao reproduzir o ambiente informacional da sociedade contemporânea, a biblioteca pode, através de seu programa, aproximar o aluno de uma realidade que ele vai vivenciar no seu dia a dia, como profissional e como cidadão. A escola não pode mais contentar-se em ser apenas transmissora de conhecimentos que, provavelmente, estarão defasados antes mesmo que o aluno termine sua educação formal; tem de promover oportunidades de aprendizagem que deem ao estudante condições de aprender a aprender, permitindo-lhe educar-se durante a vida inteira. E a biblioteca está presente nesse processo.
Portanto, nesse cenário, este artigo buscou explorar os estudos já realizados sobre a temática da biblioteca na construção do pensamento crítico sob a perspectiva docente, utilizando, para isso, a técnica do estado do conhecimento, que segundo Morosini e Fernandes (2014, p. 155), consiste em: “identificação, registro, categorização que levem à reflexão e síntese sobre a produção científica de uma determinada área, em um determinado espaço de tempo”.
A relação entre biblioteca e pensamento crítico
A relação entre biblioteca e pensamento crítico possui potencial de protagonismo no contexto educacional. A biblioteca, além de ser um local de acesso à informação, desempenha um papel fundamental no cultivo e na promoção do pensamento crítico entre os estudantes. Ela vai além de ser apenas um depósito de livros: é um ambiente que estimula a reflexão, a análise e a interpretação ativa das informações disponíveis. Segundo Campello (2017, p. 17),
a biblioteca, ao reunir para uso coletivo e de forma orgânica uma diversificada gama de portadores de textos, representa recurso imprescindível para a formação de leitores capazes de, além de decifrar o código linguístico, saber interpretar o que leem, encontrando significados no texto e desenvolvendo práticas de intertextualidade.
De acordo com Kuhlthau (2007), a tecnologia da informação, incluindo computadores e redes eletrônicas, como a Internet, causou um impacto significativo na disponibilidade e no uso da informação, tornando-se cada vez mais integrada à vida cotidiana das pessoas. É crucial, portanto, que as crianças e jovens sejam preparados para lidar com essa realidade tecnológica, capacitando-se para navegar pela crescente quantidade de informações disponíveis em meios eletrônicos e a enfrentar os desafios de um mercado de trabalho em constante mudança e instabilidade.
No que se refere à função da biblioteca no ambiente escolar, Roca (2009) ressalta que ela transcende a função de mero recurso educacional, assumindo também um papel pedagógico de natureza interdisciplinar que pode contribuir para a implementação e execução das mudanças metodológicas e organizacionais necessárias diante do novo currículo escolar. Esse processo de aprimoramento do ensino deve ocorrer de maneira gradual e planejada em cada instituição de ensino.
Portanto, ainda segundo a autora, é crucial avançar nas transformações organizacionais e de gestão que promovam a flexibilidade e a adaptação dos horários escolares. É fundamental estabelecer diretrizes que orientem a elaboração de horários, com critérios mais voltados para aspectos pedagógicos do que meramente organizacionais. Essa medida é de suma importância, pois pode facilitar ou dificultar a utilização versátil e multifuncional dos recursos disponíveis na escola.
Nesse cenário, é fundamental perceber que a biblioteca não é apenas um local para o acesso de informações, mas também é um ambiente propício para o debate e a discussão. Grupos de estudo, clubes de leitura e outras atividades proporcionam oportunidades valiosas para que a escola possa educar através da pesquisa, pois o diálogo e a troca de ideias estimulam a reflexão e o questionamento, fundamentais para o desenvolvimento do pensamento crítico.
Segundo Demo (2000), educar por meio da pesquisa envolve a integração de duas práticas distintas: a da ciência devidamente estruturada e a da pedagogia voltada para a emancipação política. Por um lado, surge o desafio de gerar conhecimento próprio, utilizando as ferramentas metodológicas disponíveis, com destaque para o método científico, por meio do qual se desenvolve conhecimento científico de forma rigorosa. Por outro lado, emerge o desafio de promover uma formação mais completa por meio de atividades que estimulem a autoria, especialmente no contexto da construção da cidadania baseada na capacidade de pensamento crítico, respaldada pela autoridade do argumento.
Ainda segundo Demo (2000, p. 76),
desenvolver estratégias efetivas para orientar (coaching) estudantes em pensamento crítico; parte central é a epistemologia da aprendizagem de cunho autoral: pensamento crítico implica a coerência da crítica, que é a autocrítica – crítica coerente carece ser criticada, texto bom é aberto, pode ser refeito; argumento precisa de fundamento, mas não admite fundamento último.
Nesse sentido, Dewey (1979) enfatiza que o desafio metodológico na construção de hábitos de pensamento reflexivo reside em criar condições que estimulem e orientem a curiosidade, bem como em estabelecer conexões nas experiências vivenciadas, de forma que, posteriormente, impulsionem o surgimento de sugestões, desafios e objetivos, favorecendo assim a fluidez na sequência de ideias.
Portanto, pensar criticamente é uma habilidade fundamental a ser desenvolvida nos estudantes para que eles possam atuar com competência no mundo, nas várias esferas da vida.
No entanto, segundo Demo (2021), competência não deve ser confundida com competitividade, embora esta última esteja incluída naquela. Em primeiro lugar, a competência é um atributo da cidadania, caracterizando o sujeito consciente e organizado, capaz de construir sua própria história de forma solidária. Em segundo lugar, a construção dessa história solidária implica o manejo adequado dos recursos econômicos, uma vez que o conhecimento desempenha um papel crucial como meio de inovação nesse contexto. A economia baseada na competição requer uma educação de qualidade, pois a capacidade de questionamento e reconstrução é uma habilidade essencial para a produtividade na era moderna.
Entretanto, ainda segundo o autor, a tendência do mercado competitivo é valorizar apenas a competitividade formal, ou seja, aquela que demonstra habilidade em usar o conhecimento de forma inovadora em termos superficiais, negligenciando o aspecto da cidadania. Isso é evidente nas abordagens de qualidade total e reengenharia, que enfatizam a importância da qualidade dos recursos humanos, mas muitas vezes se limitam à qualidade formal. No processo educativo, entretanto, é essencial combinar tanto a qualidade formal quanto a política, integrando de forma abrangente os meios e os objetivos educacionais.
Partindo dos pressupostos teóricos mencionados, avança-se agora para a condução do estudo de estado do conhecimento.
Abordagem metodológica na construção do estado do conhecimento
Segundo Morosini, Nascimento e Nez (2021), o emprego do estado do conhecimento tem ganhado destaque no contexto brasileiro, porém enfrenta desafios significativos. Isso se deve ao fato de que ele requer domínio abrangente do campo de estudo por parte do pesquisador. Esse domínio compreende o conhecimento dos paradigmas que permeiam o tema, a sua evolução ao longo do tempo como objeto de estudo, a variedade de fontes de publicação relevantes, bem como a compreensão da política que orienta a produção científica e os canais pelos quais ela é disseminada.
Ainda segundo as autoras, esse método consiste em uma das principais ferramentas na elaboração de uma dissertação/tese, envolvendo a utilização de bancos de dados nacionais e/ou internacionais. Além disso, busca-se também refletir sobre o processo de construção da produção científica como elemento textual que será integrado ao trabalho acadêmico.
Para o início da realização desse trabalho, segundo Morosini, Nascimento e Nez (2021), é realizada a seleção das fontes destinadas à busca de material para análise. Entre os bancos de dados nacionais acessíveis, merece destaque o Banco de Dados da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), sob responsabilidade do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Esse banco tem como objetivo promover a divulgação digital das produções científicas no Brasil, reunindo em um único portal informações sobre as publicações e oferecendo acesso ao documento completo da instituição de origem.
Outra alternativa recomendada é o Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), estabelecido em 2001 com o intuito de simplificar o acesso a informações sobre teses e dissertações produzidas nos programas de pós-graduação brasileiros. Além disso, outras fontes que podem complementar essa busca são os bancos digitais de instituições de Ensino Superior (IES) que possuam programas reconhecidos pela Capes com notas 6 e 7 em excelência acadêmica. Dependendo da especificidade do tema e da área de pesquisa, é possível explorar bancos de eventos, tanto nacionais quanto internacionais, assim como associações e órgãos profissionais diversos. Dessa forma, cabe ao pesquisador analisar a perspectiva e a amplitude a ser considerada na elaboração do estado de conhecimento.
Considerando esses aspectos, optou-se pelo catálogo de teses e dissertações da Capes como a base de dados principal para a busca de estudos relevantes sobre o papel da biblioteca na construção do pensamento crítico sob a perspectiva docente. O passo seguinte consistiu na definição dos descritores a serem empregados na busca, ou seja, nas palavras-chave que delimitariam os temas a serem investigados.
A busca foi realizada em 2024, inicialmente utilizando os descritores "Biblioteca", "Pensamento Crítico" e "Perspectiva Docente", sem restrição temporal. Essa pesquisa resultou em dois documentos provenientes de dissertações de mestrado. A primeira examinou a perspectiva docente no ensino de Arte, com base em experiências em uma escola de tempo integral entre 2013 e 2016, abordando os objetivos educacionais que dificultavam o desenvolvimento do pensamento crítico. A segunda dissertação tratou do uso do trabalho de campo como metodologia de ensino de Geografia na Educação Básica. A primeira dissertação foi reservada para consulta posterior, enquanto a segunda foi descartada.
Uma nova pesquisa foi realizada, agora utilizando os descritores "Biblioteca", "Pensamento Crítico" e "Docente", novamente sem restrição temporal. Dessa vez, foram encontrados 62 resultados, entre teses de doutorado e dissertações de mestrado. No entanto, apenas duas dessas produções foram relevantes para o escopo deste trabalho. A primeira abordava a competência em informação para educadores, enquanto a segunda discutia a importância do desenvolvimento do pensamento crítico no ensino profissional.
Para complementar a busca por trabalhos, uma nova pesquisa foi realizada utilizando a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações. Utilizando os mesmos descritores – "Biblioteca", "Pensamento Crítico" e "Perspectiva Docente" – sem restrições temporais, foram obtidos dois resultados: duas dissertações de mestrado. A primeira dissertação abordava os desafios no ensino-aprendizagem do pensamento crítico no contexto escolar, apresentando uma temática bastante relacionada ao escopo deste trabalho. A segunda dissertação era mesmo trabalho encontrado na primeira pesquisa realizada no catálogo da Capes.
Após a seleção dos trabalhos a serem analisados, foi realizada uma leitura inicial dos textos, seguindo as três etapas propostas por Morosini e Nascimento (2017): bibliografia anotada, bibliografia sistematizada e bibliografia categorizada.
Na primeira etapa, foram lidas as páginas iniciais de cada pesquisa para construir a chamada bibliografia anotada. Esse processo envolveu o tabelamento das produções escolhidas, organizando-as de acordo com suas referências bibliográficas completas e os resumos correspondentes.
A segunda etapa, denominada bibliografia sistematizada, consistiu na elaboração de uma lista dos trabalhos selecionados, levando em consideração aspectos relevantes. Essa sistematização foi feita por meio de uma leitura mais detalhada dos textos. Os itens para a sistematização, mencionados por Morosini e Nascimento (2017), foram ajustados de acordo com o objetivo da pesquisa. Para registrar as produções encontradas, foi criada uma ficha destacando dados como autor, título, data, orientador, objetivos, metodologia e resultados.
A terceira etapa, chamada bibliografia categorizada, envolveu a reorganização da bibliografia sistematizada em blocos temáticos de pesquisas com focos convergentes. Segundo as autoras, essa etapa demanda compreensão das leituras e imersão na análise, baseando-se nos conhecimentos prévios do pesquisador. Dessa forma, diferentes interpretações emergem de acordo com quem estuda o material da pesquisa.
Prosseguindo com a análise, os trabalhos selecionados foram codificados. Como todos os trabalhos eram provenientes de dissertações de mestrado acadêmico, foram designados com o código "MA", seguido de números correspondentes à ordem de acesso. Essa codificação serviu para identificar as produções ao longo da análise. O Quadro 1 apresenta essa organização.
Quadro 1: Codificação das produções analisadas
Código | Título | Autor |
MA1 | Experiência estética no Ensino Médio: a performance, o corpo e o conhecimento sensível | Luis Augusto de Paula Lacerda Pacheco |
MA2 | Competência em informação para educadores: o conhecimento começa pela pergunta | Mariana Muniz Nazima |
MA3 | A relevância do desenvolvimento do pensamento crítico no Ensino Profissional como condição para a emancipação | Luciana Rodrigues Vieira |
MA4 | Os desafios do ensino-aprendizagem do pensamento crítico | Vítor Machado Giberti |
Todos os trabalhos selecionados abordavam a temática do pensamento crítico, com variações de enfoque em cada caso, tratando, respectivamente, da perspectiva docente no ensino de arte (MA1), competência informacional (MA2), pensamento crítico como condição para emancipação (MA3) e desafios do ensino-aprendizagem do pensamento crítico (MA4). Com base nos enfoques dados em cada trabalho, foram estabelecidas categorias nas quais as produções foram agrupadas, conforme descrito no Quadro 2.
Quadro 2: Categorização dos trabalhos analisados
Categoria | Código | Ano | Curso foco da pesquisa |
Práticas de Ensino-aprendizagem | MA3 MA4 | 2019 2022 | Não informado Pedagogia |
Formação docente | MA1 MA2 | 2019 2020 | Arte Ciência da Informação |
Com a categorização estabelecida, tornou-se viável examinar os trabalhos que constituíram o corpus de análise deste estado do conhecimento, buscando responder à seguinte questão: de que maneira as pesquisas brasileiras de programas stricto sensu têm abordado e interpretado as questões relacionadas ao papel da biblioteca na construção do pensamento crítico sob a perspectiva docente?
Análise dos resultados
Inicialmente, observa-se que os trabalhos abordados estão vinculados à área das Ciências Humanas, abrangendo os campos da Pedagogia, Arte e Ciência da Informação. Essa associação é compreensível, uma vez que o pensamento crítico engloba atividades de análise, investigação do pensamento da sociedade e estratégias para melhorar a vida dos indivíduos.
O estudo conduzido por Pacheco (2019) examina o ensino de Arte sob a ótica docente em uma escola de tempo integral. Essa pesquisa concentrou-se em um ambiente educacional permeado por perspectivas empresariais sobre educação, no qual o desempenho se tornou o principal foco, resultando na supressão do pensamento crítico e da criatividade no ambiente escolar. Além disso, o autor investigou as percepções dos estudantes sobre esse ambiente, muitas das quais eram expressas nas redes sociais.
A pesquisa também explorou as perspectivas dos professores sobre esse fenômeno na instituição escolar, capturando suas observações sobre como os alunos se viam nesse contexto e como essa percepção era refletida nas mídias sociais.
Assim, fica evidente que esse estudo colocou em destaque o pensamento crítico como uma habilidade prejudicada dos estudantes, devido a uma abordagem educacional empresarial que priorizava o desempenho acadêmico em detrimento da autonomia e emancipação. A adoção de projetos de organizações sociais pela escola em questão contribuiu para a modificação do cotidiano escolar.
O estudo realizado por Nazima (2020) ressaltou o papel fundamental da pergunta como ponto de partida na jornada pelo conhecimento. Seu trabalho centrou-se na investigação de como seria a formação em competência informacional para educadores.
Essa pesquisa abordou as competências informacionais essenciais para uma busca eficaz de conhecimento, além de abordar aspectos da realidade brasileira relacionados à infraestrutura informacional e à formação de professores. A metodologia empregada incluiu o uso de questões problematizadoras, consideradas pela autora como centrais para a construção de conhecimento no contexto educacional brasileiro.
No trabalho de Vieira (2019), é apresentada uma investigação sobre a prática educativa de uma instituição de Educação Profissional, com o objetivo de analisar até que ponto ela contribui para uma formação crítica e emancipatória. Foram examinadas as práticas educativas da instituição para avaliar em que medida estavam alinhadas com uma abordagem educacional que promovesse o pensamento crítico, considerado essencial para a emancipação e para o acesso à verdadeira democracia. A pesquisa baseou-se na percepção dos docentes sobre o assunto, coletando relatos das práticas educativas adotadas. O foco do estudo estava na importância de desenvolver um pensamento crítico que capacitasse os estudantes a se tornarem sujeitos críticos e emancipados.
Na pesquisa de Giberti (2022), é apresentada a perspectiva dos docentes sobre os desafios do ensino-aprendizagem do pensamento crítico. Ele destaca que, embora o pensamento crítico seja considerado internacionalmente como um elemento fundamental na educação, muitos países não o desenvolvem adequadamente, incluindo o Brasil. A pesquisa ressalta que, no contexto brasileiro, o pensamento crítico não é priorizado nas diretrizes educacionais, corroborando com o cenário internacional observado.
Pacheco (2019) aborda a temática do pensamento crítico, explorando a significância que a palavra "performance" teve em diversas etapas de sua própria vida. Inicialmente, ele destaca seu contato com performances artísticas marcantes durante o curso de Licenciatura em Artes Visuais. Posteriormente, ele relata a demanda por performance que enfrentou no ambiente corporativo em uma oportunidade de trabalho. Ao assumir a regência escolar, o autor esperava escapar das exigências relacionadas ao desempenho gerencial, porém foi surpreendido pelo surgimento de cobranças em relação a indicadores operacionais e qualitativos nas escolas.
Assim, surgiu a dualidade entre uma escola que busca resultados “bancários” e outra que valoriza a corporalidade e as representações performáticas do corpo, proporcionando espaço para um pensamento crítico refletir sobre as manifestações e representações mais benéficas ao desenvolvimento integral dos estudantes. O autor destaca que a corporalidade e a experiência estética podem ser manifestadas pelas mídias sociais, em que um vídeo pode ser gravado na escola para apresentar uma atividade pedagógica, transcendendo conceitos abstratos.
Nazima (2020) aborda o pensamento crítico como um atributo essencial a ser desenvolvido por meio da competência informacional, permitindo que os docentes orientem os estudantes na coleta, organização e avaliação da confiabilidade das informações encontradas. Nesse sentido, a capacitação dos professores pode ajudá-los a lidar com a vasta quantidade de informações disponíveis atualmente, especialmente na internet, por meio de dispositivos digitais. Assim, os estudantes podem tomar decisões fundamentadas e fazer escolhas embasadas em uma análise crítica das informações.
Portanto, o desenvolvimento do pensamento crítico, como destacado por Vieira (2019), é crucial para alcançar a emancipação e uma verdadeira cidadania. Seu trabalho se concentra nos conceitos de tecnologia e em uma educação libertadora, fundamentais para instituições de ensino profissional e tecnológico, como aquela onde a pesquisa foi conduzida.
Dessa forma, um dos principais desafios da educação é a formação de professores para o ensino e a aprendizagem do pensamento crítico, tema central do estudo de Giberti (2022). Em sua pesquisa, ele observa a escassez de referências sobre a história do pensamento crítico na educação brasileira e conclui que a formação docente no Brasil ainda carece de atenção em relação a esse aspecto.
Considerações finais
A exploração de trabalhos do corpus demonstrou que ainda há lacunas a serem exploradas nas pesquisas stricto sensu sobre a relação entre biblioteca e pensamento crítico. Até o momento, pelo estado do conhecimento, foi constatado que não há estudos que enfoquem especificamente a visão docente sobre o papel da biblioteca na construção do pensamento crítico. Essa lacuna ressalta a necessidade de uma investigação mais aprofundada nesse campo, visando compreender melhor como os professores percebem e utilizam os recursos da biblioteca para estimular o pensamento crítico.
Como destacado na análise, encontramos o trabalho de Giberti (2022), que investiga a perspectiva docente sobre o ensino-aprendizagem do pensamento crítico, porém não o relaciona com o potencial formativo da biblioteca. Nazima (2020) discute a competência informacional, relacionada diretamente às bibliotecas, mas concentra-se na formação docente para essa competência, não abordando a perspectiva docente sobre o papel formativo da biblioteca no desenvolvimento do pensamento crítico.
Vieira (2019) examina o papel do pensamento crítico na formação dos estudantes, mas não menciona a biblioteca nem as expectativas dos docentes em relação a ela. Pacheco (2019) aborda a importância da expressão corporal dos estudantes e sua relação com o pensamento crítico.
Portanto, embora tenham sido encontrados trabalhos que abordam questões semelhantes, nenhum deles se concentra na visão docente sobre o papel da biblioteca na construção e desenvolvimento do pensamento crítico. Essa lacuna nas pesquisas stricto sensu identificada neste estado do conhecimento será abordada na dissertação do primeiro autor deste trabalho, sob orientação do segundo.
Diante da lacuna identificada, propõem-se, como possibilidades de encaminhamento referentes a essas questões, a elaboração e o desenvolvimento de projetos pedagógicos interdisciplinares que integrem a biblioteca escolar como espaço ativo de construção do pensamento crítico. Tais projetos podem envolver clubes de leitura crítica, oficinas de mediação informacional, rodas de conversa e sequências didáticas voltadas à análise de textos diversos, incluindo os de caráter científico e midiático. Além disso, é salutar a formação continuada de docentes com foco na utilização pedagógica da biblioteca, valorizando-a como ambiente estratégico para a promoção de habilidades cognitivas superiores. Tais proposições, ainda que iniciais, pretendem ampliar a aplicabilidade deste estudo, oferecendo pontos de partida para práticas educacionais transformadoras e sustentadas na valorização do pensamento crítico como competência central.
Referências
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BRASIL. MEC. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Catálogo de teses e dissertações. s/d. Disponível em: https://catalogodeteses.capes.gov.br/. Acesso em: 05 jun. 2025.
CAMPELLO, Bernadete et al. A biblioteca escolar: temas para uma prática pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.
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VIEIRA, Luciana Rodrigues. A relevância do desenvolvimento do pensamento crítico no Ensino Profissional como condição para a emancipação. 2019. 58f. Dissertação (Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2019.
Publicado em 25 de junho de 2025
Como citar este artigo (ABNT)
ALVES, Paulo Josué Lemos; BUENO, Rafael Winícius da Silva. O papel da biblioteca na construção do pensamento crítico sob a perspectiva docente: um estado do conhecimento. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 23, 25 de junho de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/23/o-papel-da-biblioteca-na-construcao-do-pensamento-critico-sob-a-perspectiva-docente-um-estado-do-conhecimento
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