O lúdico nas séries iniciais

Vanilda Teixeira de Souza da Costa

Pós-graduada em Educação Infantil, Alfabetização e Letramento (Faveni) e em Metodologia do Ensino da Matemática (Faveni, especialista em Educação Inclusiva com ênfase em deficiência intelectual e transtorno do espectro autista (FAP), licenciada em Matemática (IFRR), graduada em Pedagogia (Faveni), bacharel em Teologia (Faculdade e Seminário Teológico Nacional)

Com o objetivo de fundamentar teoricamente o presente trabalho, tomou-se como ponto de partida a leitura de autores que realizaram pesquisas significativas relacionadas ao tema em questão. Para tanto, adotou-se a metodologia de pesquisa bibliográfica. A aprendizagem é indispensável para o desenvolvimento de qualquer indivíduo, sendo inviável compreender as etapas do desenvolvimento infantil sem considerar o papel das brincadeiras e, sobretudo, a importância da prática do brincar.

Nesse contexto, Santos (1997, p. 20) afirma que

brincar ajuda a criança no seu desenvolvimento físico, afetivo, intelectual e social, pois, através das atividades lúdicas, a criança forma conceitos, relaciona ideias, estabelece relações lógicas, desenvolve a expressão oral e corporal, reforça habilidades sociais, reduz a agressividade, integra na sociedade e constrói seu próprio conhecimento.

O brincar coopera diretamente para o desenvolvimento da criança, uma vez que o lúdico torna a aprendizagem significativa e, acima de tudo, prazerosa, o que proporciona ao aluno aprender natural e orgânica.

É sabido que as brincadeiras são parte integral do mundo das crianças, e que isso leva as instituições de ensino a não ignorarem esse fato, cabendo aos professores entender que o ensino lúdico deve ser um parceiro para o seu dia a dia dentro de sala de aula. Isso passa pela necessidade de compreensão da educação como procedimento transmissor de informações, no qual o ensino-aprendizagem é uma função do educador, cabendo a ele desenvolver essa atividade de formas práticas e efetivas.

Na pesquisa, evidencia-se que o processo de aprendizagem por meio da metodologia lúdica é uma ferramenta efetiva e acima de tudo necessária dentro do desenvolvimento cognitivo, social e criativo das crianças.

Desenvolvimento

Quando falamos em lúdico, estabelecemos uma ligação direta com a palavra "jogo", especialmente ao observarmos o uso do lúdico como metodologia. O brincar, por meio de jogos que desenvolvam a atividade proposta, permite o ensino de forma descontraída e envolvente, mas Kishimoto (2006) declara que a palavra jogo pode ser uma tarefa difícil de ser conceituada, em virtude de sua amplitude de especificidades, uma vez que a denominação jogo pode ter conceitos em acordo com a concepção de cada contexto social. Para Maluf (2009, p. 82-83),

o jogo carrega em si um significado muito abrangente. Ele tem uma carga psicológica, porque é revelador da personalidade do jogador (a pessoa vai se conhecendo enquanto joga). Ele tem também uma carga antropológica, porque faz parte da criação cultural de um povo (resgate e identificação com a cultura).

Por essa perspectiva, o jogo se revela um formador de personalidade, mesmo que ela já possua seus contornos bem definidos. Assim, ao praticar o jogo, podemos revelar com clareza a personalidade da pessoa.

Sem perceber, a criança iniciará o desenvolvimento do aprendizado de conceitos e definições que lhe acompanharão por toda a vida. "Na criança, a atividade lúdica supera amplamente os esquemas reflexos e prolonga quase todas as ações" (Friedman, 2006, p. 23).

No entanto, é claro que cada jogo e cada atividade são estruturados de forma distinta, destacando uma determinada ordem e permitindo reconhecer a qual modalidade pertencem. Sendo assim, trata-se do resultado de um sistema linguístico, fruto dos valores e do modo de vida representados pela linguagem de um povo. Observemos, então, a assertiva dada por Friedman:

No jogo simbólico a criança se interessa pelas realidades simbolizadas, e o símbolo serve somente para evocá-las. As funções dos jogos simbólicos (compensação, realização de desejos, liquidação de conflitos) somam-se ao prazer de se sujeitar à realidade (2006, p. 25).

Dessa forma, nas séries iniciais, observa-se que as crianças estão em busca de afirmação, sendo moldadas pelo meio social que as cerca. Assim, ao se depararem com atividades que envolvem jogos, elas estabelecem uma comunicação com esse meio, e, ao aprenderem as regras sociais e toda a cultura que as acompanham de forma lúdica, compreendem que o jogo é uma brincadeira com regras pré-estabelecidas. A partir disso, os jogadores devem criar estratégias com o objetivo de avançar na execução do jogo.

Denota-se que as crianças que brincam por meio de um jogo imitam a realidade, e, com isso, aproximam-se de uma verdade social. Isso porque, durante o processo de desenvolvimento da brincadeira, elas tendem a reproduzir vivências do cotidiano.

No entanto, é importante ressaltar que as crianças passam a desenvolver a afetividade entre si, o que as leva a se desfazer do egocentrismo, e com isso fortalecer a vivência em sociedade, elevando com isso a socialização do indivíduo.

É importante enfatizar que os jogos são atividades das quais o educador não deve se esquecer ou ignorar, uma vez que são meios de preparar e exercitar o fortalecimento do intelecto da criança

Realização dos jogos como metodologia da educação

Levando em conta que o jogo é importante para as atividades lúdicas, e que o lúdico tem grande influência ante os desenvolvimentos cognitivo e psicomotor das crianças, a instituição escolar tem por dever se mostrar como uma aliada desta metodologia educacional, de maneira a oferecer aos alunos o lúdico como prática educativa.

No entanto, Maluf (2009, p. 28) relata:

é rara a escola que investe nesse aprendizado. A escola simplesmente esqueceu a brincadeira. Na sala de aula ou ela é utilizada com um papel didático, ou é considerada uma perda de tempo. Até o recreio a criança precisa conviver com um monte de proibições.

Nota-se, com a apreciação de estudos e pesquisas, que muitas unidades escolares têm considerado o uso de brincadeiras como um simplório passatempo. O fato é que há uma concepção consolidada de que o momento destinado às práticas lúdicas, por meio de jogos e atividades que envolvem o brincar, deve ocorrer apenas nos períodos de descanso ou como forma de recompensa pelo sucesso no cumprimento de uma atividade complexa.

Se examinarmos detalhadamente as práticas pedagógicas predominantes na atualidade constataremos a inexistência absoluta de brinquedos e momentos para brincar na escola. [...] Nos raros momentos em que são propostos, são separados rigidamente das atividades escolares, como o "canto" dos brinquedos ou o "dia do brinquedo" - e, assim mesmo, apenas nas escolas infantis, pois nas classes de ensino fundamental estas alternativas são abominadas, já que os alunos estão ali para "aprender, não para brincar". O brincar, literalmente acantonado, deste modo não contamina as demais tarefas escolares, sendo mantido sob controle (Fortuna, 2000, p. 3).

Assim, o lúdico é colocado em segundo plano, em uma condição marginalizada, com a simples finalidade de entretenimento, no que diz respeito às atividades geradoras de esforços metais excessivos. Assim, é interessante apontar as colocações de Santos (1997) acerca da inserção do lúdico no ambiente de sala de aula. A pesquisadora pontua causas que levam à ausência do lúdico na escola, causas essas que podem não ser culpa do profissional da educação. Entretanto, tal falta pode estar na formação do professor, em razão de não terem o devido preparo para realizarem as práticas lúdicas dentro da sala de aula. Sendo assim, o que não se vivencia não se pode aplica com segurança.

Para tanto, há a necessidade de vivências pessoais para que o professor tenha condições de utilizar o lúdico na sua prática pedagógica. A autora relata que alguns cursos de pedagogia não oferecem para o professor algumas informações e até mesmo vivências acerca do brincar, discutindo o desenvolvimento infantil em uma perspectiva social, cultural, afetiva, criativa e histórica.

O que se evidencia é que o ato educativo não se restringe à simples e mera transferência de informações, ao contrário, a educação se espalha pela absorção da informação. Santos (1997, p. 14) afirma que, "quanto mais o adulto vivenciar sua ludicidade, maior será a chance de este profissional trabalhar com a criança de forma prazerosa"; contudo, a prática lúdica passa pela fusão dessa metodologia com a realidade do profissional, o que se sustentará na inserção desses meios dentro do contexto da escola com uma forma satisfatória.

O brincar precisa materializar-se, sair do âmbito mental, cognitivo, para o corporal, sensorial, perceptual; ou seja, deixar de ser pura reflexão para ser vivenciado. O brincar precisa desprender-se, libertar-se dos discursos, para ser resgatado na pele de cada brincante, no seu cotidiano (Friedman, 2006, p. 122).

A metodologia lúdica, quando voltada para as séries iniciais, se embasa em um alicerce junto aos professores que atuam nesta etapa da formação, o que solidifica a necessidade de que estes professores tenham a límpida compreensão do devido significado de umas atividades lúdicas.

Muitos estudos que apontam para essa importância de incorporar o lúdico dentro do processo educativo das escolas, mas que ainda faltam meios para torná-lo uma realidade. Maluf (2009, p. 30) diz que "o brincar, deve ocupar um lugar especial na prática pedagógica, tendo como espaço privilegiado a sala de aula. A brincadeira e o jogo precisam vir à escola".

Reforçam essa linha de pensamento as palavras de Maluf (2009), ao acrescentar que as atividades lúdicas precisam ocupar um espaço especial no processo educacional. Nesse contexto, destaca-se a necessidade de avanços na escola, com a consequente conscientização sobre a importância da utilização da metodologia lúdica em sala de aula.

Portanto, é necessário que os diversos estudos sobre o uso da metodologia lúdica no ensino em sala de aula se convertam em aplicações efetivas nas escolas, de modo que promovam o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos. Dessa forma, a criança terá condições de construir sua identidade no contexto em que vive, por meio da realização de atividades lúdicas.

O lúdico na evolução da criança

Quando citamos o lúdico nas metodologias educacionais, estamos nos referindo a uma forma de brincar que engloba a brincadeira, o brinquedo e o já explorado jogo, inseridos na realidade do ensino em sala de aula.

Denota-se claramente que todos os elementos da exploração lúdica estão particularmente ligados ao mundo infantil, assim tais atividades são partes integrais do cotidiano das crianças desde os primórdios. Na observação de Santos (1997), a essência da infância está nas atividades lúdicas. Sendo assim, nada mais prático para as instituições de ensino do que estabelecer meios de tornar a prática lúdica uma realidade dentro das salas de aula.

Portanto vale ressaltar que, por meio do ensino lúdico, a escola possibilita para a criança um desenvolvimento do relacionamento com o seu meio social, pois nada mais é do que uma proposta metodológica que contribui para uma aprendizagem mais significante e prazerosa.

De acordo com Maluf (2009, p.17), "brincar sempre foi e sempre será uma atividade espontânea e muito prazerosa, acessível a todo o ser humano, de qualquer faixa etária, classe social ou condição econômica".

É notório que diversas observações apontam para a importância da inserção de atividades lúdicas na prática escolar. Notadamente, é por meio da brincadeira que a criança expressa sua comunicação, suas emoções e seus sentimentos.
Desse modo, desenvolver atividades que envolvam o brincar como parte substancial da metodologia pedagógica revela-se uma forma simples, prática e produtiva de promover o desenvolvimento da criança tanto na sociedade quanto no mundo. Isso porque tais práticas estão diretamente relacionadas à vivência e à experiência infantil.

Para Maluf (2009), uma criança brincando está em franco preparo para a aprendizagem, de modo saudável e prazeroso, contribuindo assim para se tornar um adulto equilibrado, tanto física quanto emocionalmente.

O ensino lúdico está diretamente relacionado ao desenvolvimento promovido por sua aplicação no processo de aprendizagem das crianças, especialmente nos anos iniciais da Educação Básica, uma vez que é nesse período que ocorrem suas primeiras descobertas.

O brincar desenvolve uma afetividade entre as crianças, uma aproximação, uma cumplicidade. Na concepção de Negrine (1994, p. 21),

esta aproximação entre duas ou mais crianças para compartilhar uma mesma atividade parece ter sua origem no processo de imitação, ou seja, pelo menos a partir da imitação da atividade de outro é que se estabelecem as primeiras relações entre iguais.

As atividades lúdicas podem, então, ser encaradas como a maneira mais eficaz de desenvolver o aluno e o fazer aprender, pois aprender com alegria é extremamente importante, porque dá à criança condições de autonomia criativa.

Entende-se que essa metodologia dá a criança condições de evoluir, e estabelece formas de conhecer de autoconhecimento, por meio de capacidades fundamentais, como a imaginação, a socialização, a memória e a atenção.

Implementando o lúdico na prática pedagógica

Para que o lúdico seja efetivamente implementado na prática pedagógica, é fundamental considerar algumas estratégias importantes. Uma delas é desenvolver habilidades sociais e emocionais através de atividades que promovam a cooperação, a empatia e a resolução de conflitos. Além disso, os jogos educativos podem ser utilizados para ensinar conceitos matemáticos, científicos e linguísticos de forma lúdica e interativa.

Outra estratégia importante é criar um ambiente de aprendizado inclusivo, no qual as crianças se sintam seguras e motivadas para aprender. Isso pode ser alcançado utilizando atividades lúdicas que atendam às necessidades de todos os alunos, independentemente de suas habilidades ou deficiências. Além disso, trabalhar com projetos interdisciplinares pode ser uma forma eficaz de integrar diferentes áreas do conhecimento e promover a aprendizagem lúdica.

Exemplos de atividades lúdicas

Alguns exemplos de atividades lúdicas que podem ser utilizadas em sala de aula são jogos de tabuleiro, teatro e dramatização, arte e música e jogos de equipe. Essas atividades podem ser adaptadas para atender às necessidades específicas de cada aluno e podem ser utilizadas para desenvolver habilidades sociais, emocionais e cognitivas.

Por exemplo, os jogos de tabuleiro podem ser utilizados para ensinar conceitos matemáticos, como a contagem e a resolução de problemas. O teatro e a dramatização podem ser utilizados para desenvolver a criatividade e a imaginação nas crianças, além de promover a aprendizagem de conceitos linguísticos e sociais. A arte e a música podem ser utilizadas para desenvolver a criatividade e a expressão nas crianças, além de promover a aprendizagem de conceitos artísticos e culturais.

Diante das considerações apresentadas, é possível concluir que o lúdico desempenha um papel fundamental na Educação Infantil, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças. Através da implementação de atividades lúdicas, os professores podem criar um ambiente de aprendizado inclusivo e motivador, que atenda às necessidades específicas de cada aluno.

Conclusão

Em resumo, o lúdico é uma ferramenta valiosa para a Educação Infantil, promovendo aprendizagem e desenvolvimento de forma divertida e interativa. A pesquisa ressaltou a importância da metodologia lúdica na realidade infantil, contribuindo para o desenvolvimento integral das crianças, especialmente nas séries iniciais.

O brincar, parte do cotidiano infantil, expressa uma pré-adaptação que facilita a transição para o ambiente escolar. Portanto, é fundamental que os currículos escolares incluam programas educativos lúdicos, reconhecendo sua importância na formação da aprendizagem.

Este estudo, baseado em autores renomados, evidencia a necessidade de explorar mais essa temática. Embora não esgote a análise, destaca a importância do lúdico no ensino inicial, esclarecendo a necessidade de desmistificar e explorar essa metodologia.

Referências

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FRIEDMAN, Adriana. O brincar no cotidiano da criança. São Paulo: Moderna, 2006.

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Publicado em 02 de julho de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

COSTA, Vanilda Teixeira de Souza da. O lúdico nas séries iniciais. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 24, 2 de julho de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/24/o-ludico-nas-series-iniciais

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