Interdisciplinaridade: experimentos de Ciências em escola rural do Xingu, no Pará

Ronaldo dos Santos Leonel

Doutorando em Educação e Ensino de Ciências e em Matemática (UFPR), mestre em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia (UEPA), graduado em Educação do Campo (IFPA), professor da Educação Básica em Altamira/PA

Andréia de Oliveira Castro

Mestra em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia (UEPA), graduada em Ciências da Natureza (UEPA), professora da Educação Básica em Marabá/PA

Antônio dos Santos Leonel

Doutor e mestre em Ciências da Educação (Unades), especialista em Linguística Aplicada (Apoena), graduado em Língua Portuguesa (UVA)

Ao focar na excelência da educação de forma prática e eficaz, empregando estratégias que vinculem o conteúdo às experiências dos alunos por meio de atividades tangíveis, apresenta-se um desafio no ensino das Ciências Naturais. Essa dificuldade decorre da propensão a tratar os assuntos de maneira exclusivamente teórica, sem relação com a realidade cotidiana dos estudantes.

A situação se torna ainda mais preocupante devido aos efeitos adversos da pandemia da covid-19, que demandou o distanciamento social e a adoção do ensino remoto. Assim, é fundamental buscar pesquisas e estratégias para lidar com esse desafio. Viviane e Costa (2010) enfatizam a relevância desse foco frente às dificuldades já existentes no espaço educacional, como a escassez de atividades práticas que estimulem a interação com o conteúdo por meio da experimentação e a falta de uma abordagem que integre diferentes disciplinas.

Durante as aulas de Ciências Naturais, as atividades práticas são fundamentais para que os estudantes estabeleçam uma conexão direta com os conceitos abordados em sala de aula, permitindo a observação de seres vivos e fenômenos naturais, além da manipulação de instrumentos.

Vários escritores enfatizam o valor dessas atividades práticas como suplemento às aulas teóricas, ressaltando a relevância de fomentar a criatividade, a interatividade e a contextualização para uma educação que seja mais significativa e transformadora, conforme mencionado por Ferreira München (2020).

Assim, destaca-se a relevância de um planejamento cuidadosamente elaborado e de uma estratégia apropriada para facilitar uma aprendizagem colaborativa, em que os participantes atuem não apenas como ouvintes passivos, mas como protagonistas na construção do saber. Para isso, é essencial implementar um método eficaz que enfrente os desafios identificados, como a prática de experimentação, por exemplo.

É importante ressaltar que a execução de experimentos é significativa no âmbito do Ensino de Ciências da Natureza, uma vez que constitui uma parte essencial da atividade científica. De acordo com Rosito (2003, p. 51),

abordando as atividades experimentais sob diferentes enfoques com base na análise de artigos relativos ao tema, identifica algumas das principais tendências dos trabalhos acerca da utilização da experimentação no Ensino Médio, que segundo ele são: demonstração, verificação e investigação.

Quanto à importância de um ensino envolvente e de qualidade, Lacerda (2009) destaca as grandes mudanças no cenário educacional devido às constantes transformações que ocorrem no mundo. Isso inclui o rápido desenvolvimento de novas tecnologias e os avanços cada vez mais frequentes no campo científico, suscitando estudos e descobertas essenciais.

Essas inovações exigem que os profissionais da Educação busquem continuamente novos saberes, metodologias e táticas de ensino. Nesse cenário, é crucial que os educadores estejam aptos a enfrentar os múltiplos desafios que surgem tanto no contexto escolar quanto na sociedade. Guimarães (2009, p. 198) destaca ainda que "a prática experimental pode ser uma forma efetiva de gerar situações autênticas que favoreçam a contextualização e estimulem a investigação por meio de perguntas".

Além de realizar experimentos, a proposta se fundamenta em métodos que promovem a conexão entre as disciplinas do currículo e os fenômenos investigados, através de experiências interdisciplinares que tratem de temas relacionados à Biologia, à Física e à Química. Na realidade, os conteúdos de Ciências da Natureza costumam ser apresentados de forma isolada e sem relação no ambiente escolar, frequentemente enfatizando a repetição e a memorização de informações e conceitos, mesmo com o debate sobre a importância da aprendizagem significativa e abordagens pedagógicas (Rosa et al., 2022).

A interdisciplinaridade visa a transformação de uma educação segmentada em uma abordagem mais unificada, requerendo uma instituição de ensino cooperativa, com uma perspectiva global e coesa, que incentive a reflexão, a troca de saberes e a definição precisa de metas (Bovo, 2004).

A metodologia interdisciplinar parte de uma liberdade científica, alicerça-se no desejo de inovar, de criar, de ir além e suscita-se na arte de pesquisar, não objetivando apenas a valorização técnico-produtiva ou material, mas, sobretudo, possibilitando um acesso humano, no qual desenvolve a capacidade criativa de transformar a concreta realidade mundana e histórica numa aquisição maior de educação em seu sentido de ser no mundo (Fazenda, 1979 apud Bovo, 2004, p. 2).

Assim, destaca-se a relevância da prática experimental em Ciências da Natureza com o uso de materiais disponíveis, conforme indicado por Silva (2017). Segundo Wisniewski (1990), essa abordagem apresenta traços que a tornam ainda mais eficaz e realizável, sendo simples, econômica e de fácil acesso, possibilitando que os estudantes percebam a ciência em suas atividades diárias.

Ademais, por sua essência interdisciplinar, incentivar a criatividade, a interação e o entretenimento por meio de atividades lúdicas revelam-se uma estratégia fundamental a ser utilizada em ambientes educacionais, com a finalidade de aprimorar o processo de ensino-aprendizagem.

Considerando a situação da maioria das escolas no campo, que carecem de recursos tecnológicos sofisticados, e reconhecendo que o acesso à tecnologia é limitado, é fundamental que o professor possua liberdade e inventividade para empregar materiais cotidianos dos alunos para aprimorar o processo de ensino, conforme destacado por Carvalho e Medeiros (2022).

Dessa forma, levando em conta principalmente a desconexão do ensino de Ciências da Natureza com conteúdos que estão longe da vivência dos alunos nos materiais didáticos, além da demanda pelo ensino remoto em decorrência da pandemia da covid-19, foi proposto avaliar a eficácia da implementação de experimentos interdisciplinares de Ciências da Natureza no Ensino Fundamental, direcionando-se para os anos finais.

O propósito principal foi oferecer um aprendizado dinâmico e eficiente por meio de atividades com materiais ao alcance de todos; incentivar a conexão entre disciplinas para explorar elementos de Biologia, Física e Química dentro da disciplina de Ciências Físicas e Biológicas (CFB); preencher as deficiências no ensino de Ciências da Natureza geradas pelo ensino a distância; proporcionar uma compreensão mais aprofundada dos assuntos que eram abordados apenas teoricamente; e estimular o interesse dos estudantes pela matéria.

Metodologia

O estudo em questão utilizou uma metodologia descritiva e de pesquisa-ação para analisar a eficácia dos experimentos interdisciplinares nas aulas de Ciências da Natureza durante os anos finais do Ensino Fundamental. Segundo a definição de Kemmis e McTaggart (1988), a pesquisa-ação é um processo cíclico que envolve a reflexão e a atuação dos envolvidos, visando aprimorar práticas e entendimentos.

Essa abordagem foi escolhida por possibilitar que o autor, também no papel de professor, participasse de forma ativa na criação e execução das atividades práticas, assegurando que a intervenção fosse pertinente ao contexto educacional de uma escola do campo em Altamira/PA.

As informações foram obtidas por meio de observações diretas, avaliações e questionários e, em seguida, organizadas em gráficos. As falas dos alunos foram integralmente transcritas e destacadas em itálico para uma análise qualitativa, enquanto as identidades dos participantes foram resguardadas, sendo identificados por letras maiúsculas.

Os critérios empregados para avaliar a eficácia dos experimentos foram fundamentados em aspectos como o envolvimento dos alunos, a profundidade de suas respostas nas avaliações e a importância atribuída às atividades práticas na assimilação dos conceitos interdisciplinares. Tais critérios foram influenciados pelas teorias de autores respeitados no campo educacional, como Piaget (1976), que destaca a relevância da interação e da construção ativa do saber.

A coleta de informações ocorreu com 25 alunos do 9º ano do Ensino Fundamental; 66,7% eram do sexo feminino e 33,3% do sexo masculino, com idades variando entre 13 e 15 anos, todos originários de comunidades rurais. Antes do início da coleta, foram apresentados a natureza, a relevância e os objetivos da pesquisa, destacando a voluntariedade da participação. Os participantes foram informados sobre os detalhes e as metas do estudo e concederam seu consentimento ao assinar o termo de consentimento livre e esclarecido.

Para assegurar que as metas da pesquisa estivessem em sintonia com as vivências e os questionamentos das ferramentas de coleta de dados, foram acrescentadas as seguintes perguntas: “Como você define interdisciplinaridade e de que maneira você a descreveria?”; “Como você vê a utilização de cadernos de atividades durante o ensino remoto em relação às aulas presenciais?”; “Como a pandemia afetou de maneira mais intensa a sua vida?”.

As questões foram elaboradas para alinhar-se diretamente às metas de oferecer uma educação atrativa e produtiva, incentivar a integração entre diferentes áreas do conhecimento, mitigar as deficiências no aprendizado decorrentes do ensino à distância, facilitar uma compreensão mais ampla dos tópicos e estimular o interesse dos estudantes pela matéria.

Levantamento e interpretação de informações

Os testes foram conduzidos presencialmente em diferentes fases. Primeiramente, um questionário preliminar foi realizado para obter uma compreensão mais aprofundada da situação dos estudantes e da percepção deles sobre o tema em questão. O questionário incluía questões relacionadas a informações pessoais, conexão entre disciplinas, Ciências da Natureza, atividades práticas e o ensino remoto durante a pandemia da covid-19.

Na sequência, foram conduzidos experimentos que uniram diversas áreas das Ciências da Natureza, acompanhados de explicações dos temas abordados. Posteriormente, foi realizada uma avaliação do impacto do trabalho por meio de um questionário pós-teste que analisava aspectos como entendimento, avaliação da metodologia empregada e dos tópicos debatidos.

A apresentação dos experimentos foi antecedida por uma introdução concisa sobre a atividade executada, acompanhada de uma análise dos resultados alcançados, com o intuito de explorar diversos assuntos dentro das Ciências da Natureza. Isso favoreceu a interdisciplinaridade e a revisão dos conteúdos, visando reduzir os efeitos negativos na aprendizagem gerados pela pandemia da covid-19.

Os três testes abordaram assuntos relacionados à Biologia, Física e Química.

Experimento 1 - Lançador de bicarbonato de sódio e vinagre. Os itens empregados incluíam garrafas PET, rolhas, papelão, cola, fio dental, tesoura, papel toalha, régua, caneta, bicarbonato de sódio e vinagre.

Hidrante na calçada

Descrição gerada automaticamente com confiança baixa

Figura 1: Foguete já pronto

Os estudantes construíram um foguete e sua plataforma de lançamento, prepararam o propelente e realizaram o lançamento. Durante o processo, foram debatidos tópicos relacionados a sustentabilidade, aerodinâmica e reações químicas.

Experimento 2 - Interação entre a solução de bateria e palha de aço. Os itens empregados incluíam uma garrafa PET, balões, palha de aço e solução de bateria. Esse experimento foi apresentado pela professora em função de questões de segurança. A palha de aço foi inserida na garrafa e, em seguida, a solução de bateria foi acrescentada, produzindo um gás que foi coletado em um balão.

Após a condução do experimento, foram discutidos os mecanismos de oxirredução na matéria de Ciências Físicas e Biológicas, com foco nos conceitos de Química, densidade do ar na matéria de Física e os gases que contribuem para a formação da atmosfera na matéria de Biologia.

Experimento 3 - Envolveu a montagem de um microscópio caseiro; foram empregados materiais como água, seringa, laser, copos para sustentação, garrafa PET, suporte de madeira, lâmpada, frascos vazios e pilhas comuns.

Interface gráfica do usuário

Descrição gerada automaticamente

Figura 2: Microscópio caseiro já construído

A meta era analisar água contaminada em comparação com água purificada, transferindo cada tipo para a seringa e liberando lentamente uma gota, que era colocada entre os copos de suporte. Depois, a luz do laser foi focada na gota de água, permitindo a projeção e ampliação dos microrganismos visíveis na parede.

O debate final destacou a relevância do microscópio na Biologia, a conservação da água, a refração da luz e os raios luminosos na Física, além da formulação e do significado dos desinfetantes empregados no tratamento hídrico e na remoção de microrganismos na Química.

O estudo teve caráter descritivo, utilizando abordagens qualitativas e quantitativas. Assim, buscou-se entender as diversas perspectivas dos envolvidos em relação às questões levantadas, ao mesmo tempo que se calcularam as porcentagens das respostas para oferecer resultados mais sólidos e de fácil interpretação. Conforme diz Vergara (2000), a pesquisa descritiva revela as características de determinado grupo ou fenômeno, estabelecendo conexões entre variáveis e definindo suas particularidades.

Na metodologia qualitativa utilizada, procurou-se entender a riqueza das perspectivas dos participantes, ao passo que, na metodologia quantitativa, as proporções das respostas foram identificadas, a fim de assegurar resultados mais precisos.

O estudo fez uso das experiências anteriores do autor, que também desempenha a função de professor, sendo classificado como pesquisa-ação. As informações foram organizadas em tabelas para possibilitar uma análise gráfica, com os argumentos registrados na íntegra e destacados em itálico, enquanto os participantes foram referidos por letras maiúsculas, a fim de garantir sua confidencialidade.

Resultados e discussão

A crise gerada pela covid-19 trouxe à tona importantes obstáculos para a educação, evidenciando a urgência de métodos de ensino criativos. A interdisciplinaridade, como estratégia educativa, proporciona uma perspectiva unificada dos assuntos, rompendo com a divisão tradicional entre disciplinas e favorecendo uma apreensão mais abrangente do saber (Minello, 2017).

A pesquisa realizada indicou, com base nas opiniões dos alunos, que falta conexão na implementação desse conceito, mesmo que dentro de um mesmo domínio de conhecimento, conforme demonstrado na Tabela 1.

Tabela 1: Feedback dos estudantes sobre interdisciplinaridade (em %)

Erros

Acertos

Sem resposta

Total de alunos(as)

66,7%

22,2%

11,1%

25

A comparação entre as respostas dos alunos revela uma variedade de interpretações sobre o conceito de interdisciplinaridade. O Estudante A definiu a interdisciplinaridade de maneira precisa, descrevendo-a como uma abordagem que integra diversas disciplinas para enriquecer a compreensão. Em contrapartida, os Estudantes B e C forneceram definições equivocadas, vinculando-a à fuga de responsabilidades e à desorganização, respectivamente. Contudo, todos os alunos que participaram do questionário mostraram ter uma noção clara do objetivo das aulas práticas, ressaltando a importância de realizar experimentos com ferramentas e materiais para aprofundar o conhecimento sobre os assuntos discutidos.

Os resultados obtidos evidenciam a relevância das atividades práticas no processo de ensino, particularmente nas Ciências da Natureza. A concordância geral entre os alunos acerca da função das aulas práticas sugere uma fundamentação robusta para a adoção dessas abordagens. Andrade e Viana (2017) enfatizam a importância das experiências laboratoriais, que, quando combinadas com práticas de avaliação e mediação, aumentam a eficácia da aprendizagem dos estudantes.

A vivência dos estudantes em relação a atividades práticas difere conforme a etapa escolar, com menos de 50% da amostra tendo participado dessas experiências durante o Ensino Fundamental, enquanto a maioria ocorreu no Ensino Médio. Essa diferença aponta para uma chance de intensificar a oferta de aulas práticas no Ensino Fundamental, permitindo que os alunos tenham um contato antecipado com abordagens experimentais.

Carvalho e Medeiros (2022) destacam que, mesmo com os evidentes benefícios, as atividades práticas são frequentemente empregadas de forma insuficiente. Essa constatação é reforçada por dados que indicam que muitos estudantes não tiveram a oportunidade de participar desse tipo de atividade. Tal situação evidencia a importância de incorporar mais experiências práticas no currículo, especialmente em instituições de ensino rural, para promover o interesse e aprimorar a compreensão dos alunos em relação aos conteúdos de Ciências da Natureza.

A introdução de atividades práticas nas aulas é fundamental não apenas para envolver os estudantes, mas também para que eles se tornem participantes ativos na criação do saber, aplicando os conhecimentos adquiridos em situações reais e significativas para suas vidas. Os estudos indicam que a união entre teoria e prática é uma maneira mais eficiente de ensinar matérias científicas, uma opinião respaldada por 88,9% dos alunos que contribuíram para a pesquisa.

Ronqui, Souza e Freitas (2009) destacam que as aulas práticas são valorizadas e fomentam a curiosidade dos estudantes, possibilitando sua participação em investigações científicas e no desenvolvimento de competências para resolver problemas, desde que sejam adequadamente planejadas. A fim de corroborar a relevância da experiência prática, Carvalho e Medeiros (2022) assinalam que essas atividades posicionam os alunos como criadores do conhecimento, conectando o aprendizado a suas realidades e viabilizando a aplicação dos saberes adquiridos para além do ambiente escolar.

Dessa forma, é essencial ter atenção ao planejar e desenvolver atividades práticas, favorecendo a união entre a teoria e a prática em diferentes conteúdos. Isso se torna ainda mais relevante, considerando que 88,9% dos estudantes indicaram que a apresentação de conteúdos de Biologia, Física ou Química na disciplina de CFB é mais produtiva quando incorpora atividades práticas que integram teoria e prática. Diante do contexto pandêmico e da demanda por inovações no ensino após um longo período sem aulas presenciais, é cada vez mais crucial empregar atividades práticas para ajudar a enfrentar as dificuldades na assimilação dos conteúdos.

De acordo com Antunes, Porto e Queiroz (2022), que destacam os desafios impostos pela covid-19, é essencial abordar esses problemas inquietantes em busca de alternativas, tendo em vista que essas questões já estavam presentes e se agravaram com a crise da saúde mundial.

A renovação no processo educacional, conforme salientado por Von Linsingen (2010), é fundamental para uma aprendizagem eficiente, requerendo a combinação de distintas metodologias e abordagens. Ao considerar as variadas realidades dos alunos, podem ser identificadas soluções que aprimorem a qualidade do ensino, mesmo frente aos obstáculos que possam surgir.

Ao serem indagados sobre a efetividade dos cadernos de atividades no ensino à distância, diversos participantes destacaram que, apesar de serem essenciais, sua eficácia é inferior à das aulas presenciais (Tabela 2).

Tabela 2: Feedback dos estudantes sobre a abordagem utilizada durante o distanciamento social (em %)

Essencial e primordial...

Indispensável e reduzido...

Desnecessário...

Desnecessário e...

Quantidades de alunos(as)

11,2%

88,8%

0%

0%

25

Diante dos impactos decorrentes da pandemia da covid-19 na área da educação, os(as) alunos(as) ressaltaram prejuízos relacionados ao aprendizado, à falta de interesse, à evasão escolar e à ausência de interação (Quadro 1).

Quadro 1: Consequências da pandemia no ensino-aprendizagem segundo os alunos

Consequências

Porcentual de alunos

Déficit na aprendizagem

83,3%

Desinteresse

81,9%

Desistência escolar

69,5%

Falta de convivência

45,7%

Não responderam

16,3%

As informações indicam que a maior parte dos estudantes avaliou o ensino à distância como menos eficaz em comparação com as aulas presenciais, com 88,8% deles considerando os cadernos de atividades essenciais, porém pouco eficazes. Ademais, os alunos mencionaram diversas implicações adversas da pandemia na educação, como a perda de aprendizado (83,3%), falta de motivação (81,9%), evasão escolar (69,5%) e ausência de interação social (45,7%).

Barbosa, Anjos e Azony (2022) destacam as diversas mudanças que afetaram o cenário educacional em decorrência da pandemia da covid-19. Essas mudanças abrangem desde falhas no processo de ensino até problemas persistentes na sociedade, frequentemente ligados às desigualdades sociais, cujos efeitos são particularmente acentuados nas áreas mais desfavorecidas.

Conforme os pesquisadores, as questões destacadas ao longo da pandemia já faziam parte da formação educacional, mas a suspensão das aulas presenciais as tornou mais aparentes e acentuadas. Isso é evidenciado pelo dado de que 72,2% dos alunos não sabiam que o campo das Ciências da Natureza inclui matérias como Biologia, Física e Química, que exploram a natureza em sua totalidade, além de diferentes elementos do universo. A ausência de entendimento ficou evidente nas respostas dos estudantes.

  • Estudante A: A pesquisa botânica foca no estudo das plantas.
  • Aluno B: Trata-se de um estudo acerca do ecossistema.

Assim, a deficiência na educação, que se intensificou recentemente devido à crise de saúde global, resultou em uma falta de contextualização que ignora a realidade dos estudantes. A desconexão entre teoria e prática se destaca como um dos principais desafios enfrentados nas escolas atualmente. Portanto, é fundamental implementar abordagens educacionais que integrem os alunos ao conteúdo estudado, uma vez que métodos de ensino mais práticos costumam captar o interesse dos estudantes, o que foi verificado na análise dos dados coletados neste estudo.

Dourado (2012) enfatiza que as atividades práticas são uma importante estratégia de ensino para ajudar os estudantes a enfrentar suas dificuldades, estimulando-os a desenvolver o pensamento crítico e a solucionar problemas práticos. Essas experiências favorecem uma exploração mais detalhada dos temas e aumentam o engajamento com as matérias, sendo essenciais na área de Ciências da Natureza, que muitas vezes é vista como algo distante da realidade.

Com base nessas reflexões, a aplicação de atividades práticas para discutir ou reforçar temas de Ciências da Natureza constitui uma oportunidade valiosa para o desenvolvimento do conhecimento de forma clara, interativa e eficiente. O estudo demonstrou que os estudantes assimilaram os conceitos vinculados às três disciplinas — Biologia, Física e Química — ao realizar experimentos e avaliar os resultados da prática, o que gerou um elevado índice de respostas corretas.

Os resultados positivos obtidos com os experimentos evidenciam a efetividade de métodos inovadores e colaborativos, que, apesar de focarem na apresentação do material, vão além da teoria convencional e visam garantir uma educação de excelência nas instituições de ensino. Assim, fica claro que esses achados reforçam a relevância de estratégias pedagógicas ativas e bem estruturadas no processo de ensino-aprendizado.

Durante as aulas práticas de Ciências da Natureza, a execução de experimentos é essencial para entender os conceitos teóricos abordados nas aulas, criando uma conexão entre teoria e prática. Andrade e Massabni (2011) defendem que essas experiências práticas ampliam o aprendizado dos alunos, oferecendo saberes que vão além do que é ensinado teoricamente, e destacam a obrigação dos professores e das instituições de ensino em proporcionar essas oportunidades educativas.

A contextualização é considerada uma abordagem metodológica eficaz, que favorece a compreensão e a análise dos fenômenos do dia a dia e das disciplinas acadêmicas formais. Ao lidar com o conhecimento de forma contextualizada, gera-se um aprendizado mais significativo, criando um vínculo entre o aluno e o tema estudado, indo além da simples transferência de informações.

Tabela 3: Participação dos alunos do Ensino Fundamental em experimentos de Ciências Físicas e Biológicas

Experimento

Realizaram

Não realizaram

Total de alunos(as)

Física

98,7%

1,3%

25

Química

100%

0%

25

Biologia

99%

1%

25

A Tabela 3 demonstra a participação praticamente total dos estudantes nas atividades práticas de Ciências Físicas e Biológicas (CFB), com adesão de 98,7% para as experiências de Física, 100% para Química e 99% para Biologia.

Esses índices elevados evidenciam o empenho da escola rural em proporcionar uma educação prática e interativa, mesmo diante dos desafios logísticos e de recursos frequentemente encontrados nas instituições do campo. A quase totalidade dos alunos envolvidos nos experimentos destaca um sucesso significativo na adoção de uma abordagem prática, sugerindo que essas metodologias não só são viáveis como também bem aceitas pelos alunos em contextos educacionais rurais.

A análise dos resultados das práticas foi efetivada por meio de testes direcionados que avaliaram a absorção dos conteúdos pelos estudantes. Os critérios de avaliação consideraram a exatidão das respostas, a aptidão para aplicar conceitos em situações práticas e a demonstração de pensamento crítico pelos alunos (Tabela 4).

Tabela 4: Feedback dos estudantes sobre a revisão de conteúdos após o isolamento social

Descrição

Percentual

Extremamente eficiente quando combinado com a teoria

89%

Eficiente quando dissociado da teoria

10%

Ineficiente/Apenas a teoria é eficaz

1%

Sem influência da prática na qualidade da educação

0%

Os dados apresentados na Tabela 4 indicam que 89% dos estudantes classificaram a combinação de aulas práticas e teóricas como “extremamente eficiente”, ao passo que apenas 10% consideraram as aulas práticas eficientes quando isoladas da teoria. Esse retorno sugere que os alunos apreciam a interligação entre teoria e prática, reforçando a ideia de que a assimilação do conteúdo é mais intensa e duradoura quando os princípios teóricos são utilizados em contextos práticos. Somente 1% dos alunos acreditou que a teoria sozinha era suficiente, o que ressalta a necessidade de métodos de ensino que vão além da simples memorização e incentivam a aplicação prática do saber.

Assim, os alunos reconheceram a importância de aulas que promovem a análise do tema em questão, incentivando a participação ativa com o conteúdo. Isso visa fomentar o pensamento crítico, despertar a curiosidade e o envolvimento, permitindo que os estudantes se engajem na construção do conhecimento de maneira relevante, sem negligenciar a dimensão teórica, considerando a necessidade de procurar sentido, conceitos e respostas para as questões que surgem ao longo do processo educativo.

Esse conceito é sustentado por Pimenta (2005), que argumenta que o aprendizado não se origina somente da experiência, também é ampliado pelas teorias. Essas teorias são fundamentais para a formação educacional, pois oferecem aos indivíduos diversas visões para uma atuação contextualizada, apresentando múltiplas abordagens que os tornam pensadores críticos e criadores de conhecimento.

Essa compreensão é especialmente importante no ensino de Ciências da Natureza, em que os conceitos podem parecer desconectados da vivência cotidiana dos estudantes. Quando os alunos experimentam a teoria por meio de atividades práticas, eles não apenas testemunham a ciência em funcionamento como também aprimoram suas capacidades analíticas e de resolução de problemas, habilidades essenciais para um aprendizado dinâmico. Isso se torna ainda mais relevante em escolas rurais, onde os recursos podem ser escassos e as chances de aprendizado prático podem ocorrer com menor frequência em comparação aos ambientes urbanos.

A aprendizagem significativa se baseia na conexão relevante e não aleatória entre conceitos novos, expressos de maneira simbólica, e o conhecimento já existente do estudante, favorecendo uma compreensão mais aprofundada do tema (Moreira, 2012). Além disso, a união entre teoria e prática pode ser interpretada como uma resposta imediata aos desafios enfrentados pelo ensino remoto em decorrência da pandemia. Os estudantes perceberam a ausência de interação e experimentação no aprendizado à distância, o que pode ter intensificado a valorização das vivências práticas ao retornarem para o ambiente escolar presencial.

Assim, os dados apresentados na Tabela 4 não só ressaltam a inclinação dos estudantes por um método de ensino mais abrangente como enfatizam a urgência de abordagens educacionais que se conectem às exigências do mundo real, capacitando os alunos a utilizar o conhecimento de forma prática em suas vidas. O fato de que apenas 1% dos alunos considerou a teoria isoladamente satisfatória reforça a noção de que a educação deve avançar para além da mera transmissão de informações, direcionando-se para um modelo que privilegie a compreensão e a aplicação prática.

Considerações finais

Este trabalho analisou a efetividade das atividades práticas no ensino de Ciências da Natureza em instituições rurais, um ambiente que enfrentou dificuldades específicas durante a crise da covid-19. A abordagem utilizada, que combinou pesquisa-ação com experimentos práticos, possibilitou uma análise minuciosa dos obstáculos ao aprendizado e enfatizou a capacidade de adaptabilidade e resistência das estratégias de ensino prático.

Os dados coletados mostram uma aceitação expressiva das aulas práticas entre os estudantes, evidenciando a preferência pela integração de teoria e prática, como revelado pelos índices de participação e pela avaliação positiva recebida. Essas conclusões sustentam a ideia de que a aprendizagem por meio da experiência é essencial para assimilação e retenção de conhecimentos científicos, principalmente em áreas rurais, onde a disponibilidade de recursos educacionais pode ser restrita.

Esta pesquisa agrega valor à área da Educação ao apresentar provas de que atividades práticas podem combater as desvantagens do aprendizado à distância e aprimorar a experiência educacional. As consequências dessas descobertas são relevantes, indicando que a adoção de abordagens práticas deve ser uma prioridade para professores e decisores, com o intuito de elevar a qualidade e a eficácia do ensino de ciências.

Chegamos à conclusão de que a promoção e a aplicação de métodos pedagógicos práticos são fundamentais para o progresso da educação em contextos rurais e para enfrentar os obstáculos trazidos pelo ensino remoto. A pesquisa ressalta a importância de seguir investigando e aprimorando estratégias educacionais que sejam não apenas bem fundamentadas teoricamente, mas também aplicáveis, cativantes e em sintonia com as vivências dos estudantes.

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Publicado em 30 de julho de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

LEONEL, Ronaldo dos Santos; CASTRO, Andréia de Oliveira; LEONEL, Antônio dos Santos. Interdisciplinaridade: experimentos de Ciências em escola rural do Xingu, no Pará. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 28, 30 de julho de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/28/interdisciplinaridade-experimentos-de-ciencias-em-escola-rural-do-xingu-no-para

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