A Interdisciplinaridade no Ensino de Biologia a partir da obra “Quarto de despejo: diário de uma favelada”

Heloisa Helena de Barros

Graduanda em Ciências Biológicas (UEM)

José Nunes dos Santos

Doutor em Ensino de Ciências e Matemática (Unicamp), pós-doutor em Formação de Professores (UFSCar), professor de Biologia e Ciências da rede estadual paranaense

O ensino de Biologia no Brasil, norteado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), tem como enfoque a construção dos conhecimentos biológicos e o desenvolvimento de competências e habilidades em relação a esses conhecimentos de forma crítica (Brasil, 2017). Para que o aluno consiga caracterizar a sua posição como cidadão crítico dentro dos debates contemporâneos e de maneira interdisciplinar é possível desenvolver essa criticidade em diversas áreas do conhecimento. Ao compreendermos a interdisciplinaridade como prática socialmente edificada e desenvolvida em espaços escolares, assumimos um trabalho de integração desses conhecimentos, tendo em vista que o processo de ensino-aprendizagem na escola não deve ser fragmentado ou linear, mas pautado em conteúdos temáticos transversais.

Ao concordarmos com essas características, apontamos a necessidade de repensarmos a formação inicial docente nos espaços acadêmicos das licenciaturas. Esse repensar da formação docente é algo necessário para avaliar novas articulações e estratégias no ensino em sala de aula. Para isso, precisamos de ferramentas conceituais e metodológicas que guiem nossos esforços para o saber docente (Tardif, 2014). O conhecimento fragmentado, de acordo com as disciplinas, impede frequentemente de operar o vínculo entre as partes e a totalidade, assim ele deve ser substituído por um modo de conhecimento capaz de apreender os objetos em seu contexto, sua complexidade e seu conjunto. Com isso é preciso ensinar métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo (Morin, 2000).

Em sala de aula é possível trabalhar a vertente de um ensino crítico dentro da Biologia por meio das experiências práticas advindas da interdisciplinaridade. Pensamos nessa proposta junto à obra Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus. Com base nos saberes curriculares, bem como nas reflexões acerca do contemporâneo que cerca o aluno, verificaremos a integração da obra Quarto de despejo com a Biologia e, por meio de uma fundamentação teórica baseada em leituras, observaremos as trocas de saberes e os diálogos que serão produzidos entre ambos os campos.

As reflexões aqui apresentadas fazem parte de atividades desenvolvidas por residentes pedagógicos do Programa de Residência Pedagógica dentro do subprojeto de Biologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Dessa maneira, a obra Quarto de despejo foi escolhida para a proposta de ensino com o objetivo de inserir os alunos em um cenário cujas estruturas sociais se interpenetram em diversas dimensões, proporcionando olhares que a micro-história vem historicizando e colocando em debate (Hora, 2022). Ademais, a obra é trazida sob um ideal de ruptura que se estabeleceu a partir de conceitos e enunciados biológicos alheios aos discursos do mundo contemporâneo. Na realidade, dentro do ensino da Biologia, há passagens de política, de interesses sociais, de crenças e valores, como há também passagens de outros discursos, falas e práticas presentes nas sociedades humanas (Carvalho, 2007).

Dessa maneira, avaliando a importância da construção da interdisciplinaridade na formação tanto do aluno em formação como do professor que perpassa o diálogo intercultural na obra Quarto de Despejo (Santos, 2019), o presente trabalho visa construir no imaginário de alunos e educadores dimensões culturais, sociais, políticas, econômicas e ambientais aliadas a conhecimentos científicos que serão discutidos e estabelecidos por meio da literatura.

Quarto de despejo e a Lei n° 10.639/03 no ensino de Biologia

Na reflexão a respeito da obra Quarto de despejo: diário de uma favelada, desdobra-se a vida de Carolina, que cotidianamente questiona seus percalços dentro da sociedade. A obra pode ser utilizada como proposta para uma atividade interdisciplinar de oficina pedagógica, com a produção de uma dialogicidade intercultural na leitura e no estudo da obra, possibilitando correlações de temas tratados nela e problemas socioambientais.

Dentro do ensino da Biologia no Brasil, a educação socioambiental precisa ser trabalhada de maneira integrada às condições sociais, ambientais e econômicas. Essa educação deve focar em uma visão coletiva, elencando fatores, a fim de se construir soluções para o futuro, aliadas a questões étnico-raciais e pautadas na Lei nº 10.639/03. A lei estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio em escolas públicas e privadas (Brasil, 2003). Essas dimensões estão diretamente implicadas nos conteúdos temáticos. Apesar de parecerem familiares, ainda se encontram distantes das práticas efetivas escolares e endossam um trabalho necessário para o enfrentamento das desigualdades (que prevalecem principalmente na população negra no Brasil), criando um debate necessário acerca da diversidade cultural, racial, social e econômica, visando o combate ao racismo e levando em consideração a realidade na qual os alunos estão inseridos.

A integração da literatura de Quarto de despejo com a Biologia é algo a ser considerado. O foco é o processo de ensinar, mas o que desejamos é inserir a interdisciplinaridade com a finalidade de superação de uma visão fragmentada dos processos de produção e socialização do conhecimento. Para Gasparin (2009), os conteúdos não seriam mais apropriados como produtos fragmentados, mas como uma expressão complexa da vida material, intelectual e espiritual dos homens de um determinado período da história. Assim, os conteúdos estariam aliados à teoria “Psicologia Histórico-Cultural” ou “Psicologia Sócio-Histórica”, comungada por Vygotsky e na qual se pauta o conhecimento construído nas interações sociais, conforme a Pedagogia Histórico-Crítica (Gasparin, 2009). Ela se empenha em colocar a educação como alicerce nas transformações das relações sociais. Assim, não há dúvida de que a literatura de Quarto de despejo, aliada ao ensino de Biologia, cria aberturas para a contextualização e a interpretação acerca do ensino científico, possibilitando novas construções e abordagens para o conhecimento. A Cultura Afro-brasileira, especialmente, nos possibilita olhar para a nossa própria condição como sujeitos cidadãos a fim de refletirmos a respeito de nossas vivências e práticas no mundo globalizado, por isso a necessidade de se estabelecer uma linha tênue entre os conhecimentos das ciências humanas, os científicos e os biológicos.

Pensando no racismo estrutural no Brasil, o ensino das Ciências e da Biologia segue uma tendência eurocêntrica. Os alunos trazem uma percepção de ensino baseada no início para a metade do século XX, quando ele era voltado à produção tecnicista do desenvolvimento e da produção científica.

Metodologia

Em relação aos procedimentos metodológicos, o trabalho tem caráter qualitativo, assinalando um relato de experiência. Dessa forma, leva-se em consideração que o método qualitativo apresenta a aquisição de dados e suas descrições a partir da situação de estudo (Godoy, 1995). O trabalho trata de um relato de experiência, fruto das aulas de Biologia, com alunos do 3º ano do Ensino Médio em uma escola estadual da região noroeste do Paraná.

Como objetivo, a proposta traz um trabalho da Biologia com a interculturalidade, por meio dos aspectos socioambientais, políticos, econômicos e históricos associados à dimensão científica da obra Quarto de despejo: diário de uma favelada. A proposta de atividade tem três momentos. No primeiro, os alunos realizam a leitura da obra e fazem anotações a respeito dos assuntos descritos no livro. Os assuntos precisam ser correlatos às temáticas política, social, ambiental, étnico-racial, econômica e científica.

No segundo momento, apresentamos a literatura de Carolina Maria de Jesus, sua biografia com o contexto da obra, possibilitando aos alunos debates acerca de questões étnico-raciais da década de 1960, quando a obra foi publicada, como de questões atuais. As questões são relacionadas a problemas socioambientais que evidenciam desigualdades raciais no decorrer da História do Brasil. Com isso, os alunos optam por desenvolver trabalhos de forma individual ou em duplas. A proposta é cada grupo ou aluno ficar com trechos de uma determinada página até outra. O grupo 1 ficou com as páginas 10 a 20, o grupo 2 com as páginas 20 a 30 e cada grupo seguiu essa ordem até as páginas finais da obra. A partir dessa premissa, os alunos são orientados a escolher fragmentos que lhes despertem o interesse e contemplem vertentes interdisciplinares, visando exercitar o senso crítico e contextualizando os fatos narrados no livro com as vivências contemporâneas da vida social. 

Por fim, no terceiro momento da atividade são expostos os resultados dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos (Figura 1).

Figura 1: Exposição das atividades realizadas pelos alunos

Fonte: Arquivo pessoal dos autores.

Do ponto de vista didático, os enfoques mais integrantes das atividades realizadas pelos estudantes foram os que relacionam aspectos da discriminação racial juntamente com os da desigualdade racial junto a temáticas cientificas, econômicas, históricas, sociais e ambientais.

Resultados e discussão

Para a análise dos resultados e das discussões, seguimos os temas categorizados: racismo, fome, política, reciclagem, entre outros.

Tais temáticas foram abordadas, discutidas e contextualizadas pelos alunos mediante a atividade proposta. Transcrevemos, aqui, os fragmentos das anotações dos alunos. Essas transcrições serão identificadas pela sigla D (discente), seguida da inicial dos respectivos nomes dos alunos. Estarão sublinhados em negrito os trechos que utilizam palavras dentro da subcategoria do conhecimento proposto (racismo, fome, política etc.). Apenas em um fragmento não houve a identificação do aluno, sendo ele identificado como D. N. I. (discente não identificado).

Para a discussão foram apresentadas atividades trazidas pelos alunos a respeito dos fragmentos do livro, juntamente com contextualizações e trechos de notícias e matérias, aliadas às ilustrações que refletissem a abordagem da temática social. Ou seja, utilizando-se da linguagem verbal e não verbal, os alunos conseguiram desenvolver uma linha tênue de pensamento, ligando os conhecimentos obtidos, por meio da atividade, com as suas reflexões prévias acerca da história e da realidade sociocultural do Brasil.

Subtemáticas de questões socioambientais foram amplamente abordadas nos trabalhos dos alunos. A fome e o trabalho de Carolina Maria de Jesus com a reciclagem de materiais para o sustento de sua família foram temas discutidos entre os alunos. Com isso, eles puderam refletir e problematizar as condições socioeconômicas vividas por muitos e ainda vigentes no nosso contexto.

Seria ignorante de nossa parte pensar que apenas na época de Carolina Maria de Jesus era importante a reutilização de materiais recicláveis, quando na verdade, é algo que deveria ser excepcional em nosso cotidiano (D. E. V.).

Sem a devida qualidade da água, ela pode provocar diversas doenças desde as provenientes de vermes, que se proliferam nesse meio, como a leptospirose, citada no diário de Carolina Maria de Jesus, às intoxicações alimentares como seu filho José Carlos foi acometido (D. T. H.).

A fome é um dos problemas graves que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Em pleno século XXI é inacreditável que haja tanta desigualdade na distribuição de alimentos (D. C.).

No livro, a personagem é uma mulher negra que vive na periferia e não havia quem lhe desse uma oportunidade, por isso, ela catava papelão para sobreviver e poder alimentar os seus filhos (D. E. B.).

No livro, ela várias vezes se vê obrigada a pegar comida do lixo para alimentar a sua família. Pesquisadores destacam que as famílias negras chefiadas por mulheres são as mais atingidas e 65% dos domicílios comandados por pessoas pretas e pardas convivem com a restrição de alimentos em qualquer nível (D. K. R.).

Apesar do livro Quarto de despejo ter sido publicado 65 anos atrás, ele retrata diversas vertentes e problemas estruturais ocorrentes no Brasil. Dentre as vertentes está a precariedade das moradias (D. E. N.).

Nos dias atuais vemos que apesar no desenvolvimento da sociedade, ainda lidamos com o descarte incorreto do lixo, e, como vemos no livro, Carolina tira vantagem desse problema como seu principal sustento (D. E. R.).

Os sete trechos acima foram retirados dos trabalhos dos alunos e abordam questões como a má qualidade da água e das moradias em regiões periféricas, bem como a falta de alimentos que assola essas regiões. A interdisciplinaridade permite que tais temáticas sejam abordadas conjuntamente a questões socioeconômicas, visto que uma das principais causas de problemas na saúde pública no Brasil é a desigualdade, fazendo com que grande parte da população brasileira esteja à margem de recursos. Alguns dos trechos trazem esse problema da desigualdade social como um questionamento geral para outros problemas que Carolina enfrentou.

Na obra, Carolina Maria de Jesus sendo uma mãe solteira e com três filhos, a luta que ela enfrenta para sobreviver é triplicada, apesar de receber pensão alimentícia o dinheiro não dava para muito, pois além da comida, ela ainda tinha que gastar com roupas e sapatos para que as crianças não andassem descalças e não tivessem roupas tão desgastadas (D. I. M.).

Carolina é uma fonte preciosa para entendermos as condições de vida das famílias pobres nas grandes cidades brasileiras no período em que a autora viveu. Sua escrita sincera e dolorosa é um testemunho da violência social que ainda persiste em nosso país (D. C. K.).

No trecho escolhido temos o diálogo da autora com uma senhora em situação de pobreza, que foi despejada pela prefeitura e estava até pensando no suicídio. Hoje no Brasil há inúmeros casos como esse, famílias sem esperança para o futuro, sendo escravos da desigualdade social [...], padecendo sem suporte e sendo vítimas de ações políticas (D. C. T.).

Criados em uma estrutura que os despreza, que os diminui e que os extermina, seja de forma direta ou não, os negros se sentem desconfortáveis com quem são e com o que são expostos em nossa sociedade. No livro Pele negra, máscaras brancas, Frantz Fanon expressa bem essa sensação horrível: “Da parte mais negra de minha alma, através da zona de meias-tintas, me vem este desejo repentino de ser branco” (Figura: 2) (D. A. G.).

Figura 2: O suicídio não é amarelo e sim, preto

Fonte: Arquivo pessoal dos autores.

Na Figura 2, o aluno D. A. G. contextualiza que jovens negros têm maior chance de cometerem suicídio. Diante de tais apontamentos, Santos (2018, p. 41) afirma que  “estratégias interdisciplinares, associadas à contextualização sócio-histórica, possibilitam aproximações conceituais” e dão entendimento na construção do conhecimento científico do estudante. Dessa forma, corroborando Santos (2018), compreendemos que a partir dos fragmentos transcritos pelos alunos é possível observar a construção de pontes de conhecimento interdisciplinar com o contexto social, como observado pelas atribuições aos fragmentos. Com as contextualizações trazidas pelos alunos, discutiu-se a respeito de algumas soluções para problemas de desigualdade que afetam a população negra no Brasil.

Nos últimos tempos, houve um aumento substancial no número de pessoas no Brasil passando fome. O dado mais recente de 2022 aponta que 33,1 milhões de brasileiros estavam em situação alimentar severa (D. N. I.).

No final de 2021, o número de brasileiros que viveram algum tipo de insegurança alimentar chegou a 29, 2 milhões, o que representa mais de 10% da população do país. A quantidade deu um salto após o início da pandemia, chegando a 31 milhões (D. B. M.).

Apesar dos avanços sociais, a fome ainda é um problema preocupante no Brasil, de acordo com os dados mais recentes do IBGE, a inflação em alta é um dos principais fatores que contribuem para isso (D. A.).

Pesquisa realizada para medir os impactos da pandemia da covid-19 entre as pessoas que moram em favelas mostra que 68% delas não tiveram dinheiro para comprar comida em ao menos um dia nas duas semanas anteriores ao levantamento (D. M. V.).

A fome está aí, mas será que realmente olhamos para ela como deveríamos? (D. A. M.).

Na própria obra, Carolina Maria de Jesus retrata a exclusão social de determinados grupos de indivíduos aos quais foram negadas oportunidades no processo de formação do país. Sendo assim, isso ocorre principalmente pela falha governamental (D. G. L.).

Carolina Maria de Jesus sabia que o racismo ainda é um problema nos dias de hoje? Em 2023 ofensas a Vinicius Jr. fazem parte do histórico de racismo no futebol (D. B.).

Trechos como esses, nos quais os alunos trazem dados para os trabalhos, são importantes para avaliar qualitativamente o grau de correlação entre os problemas sociais passados (na época de publicação do livro) e os problemas ocorridos nos dias atuais. Trazer dados e informações acerca do contexto atual faz com que os alunos tenham uma dimensão da realidade dos problemas por uma perspectiva histórica. Entre as temáticas para contextualização, a fome no país (Figura 3) foi uma das mais abordadas.

Figura 3: Fome no Brasil

Fonte: Arquivo pessoal dos autores.

Com isso é viável trabalhar dimensões do conhecimento biológico da fisiologia humana, entrando em conteúdos acerca do sistema digestório e da fisiologia da fome no organismo, correlacionando-os aos fatores sociais dos mais afetados pela fome no Brasil.

De maneira geral, os alunos trouxeram suas contribuições na construção da dinâmica proposta, desempenhando caráter construtivo e integralizado às amplas esferas do conhecimento (Figura 4).

Figura 4: Racismo estrutural

Fonte: Arquivo pessoal dos autores.

Por isso que pessoas como Carolina Maria de Jesus são imprescindíveis para esclarecer nossa história, podendo assim lutar de forma efetiva contra o racismo estrutural e contra as consequências deixadas aos negros no pós-escravidão (D. A. G.).

Diante de tais apontamentos, a obra Quarto de despejo aborda, de maneira abrangente, o ensino de Biologia e a Lei n° 10.639/03 com a finalidade de estabelecer as relações étnico-raciais na educação científica. A abordagem se faz necessária para a análise das transformações pelas quais o ensino de Ciências vem passando, juntamente com as modificações pelas quais a sociedade passa. Essa abordagem ainda gera estranhamento e curiosidade tanto em professores como em alunos, pois a lei estabelece que as relações étnico-raciais sejam trabalhadas no ensino de maneira geral, mas ela ainda se encontra atrelada ao ensino das disciplinas de História, Sociologia, Filosofia e outras da área de humanas.

Os alunos passam por questionamentos relacionados aos motivos de se trabalhar obras literárias na disciplina de Biologia, pois ainda têm a visão do trabalho fragmentado, com a Ciência pura. Assim, a Biologia é vista como algo distante e aparentemente sem qualquer influência direta na realidade vivencial (Nascimento, 2012). Desenvolvendo esse pensamento e voltando-se à interdisciplinaridade, a partir da Literatura, observamos que esse objeto de estudo atinge a sua finalidade junto aos alunos: permitir que compreendam os conhecimentos biológicos objetivados pelo currículo.

Considerações finais

De acordo com os trabalhos realizados e as abordagens dinâmicas de discussão em sala de aula, os alunos interagiram e realizaram reflexões sociais, culturais e ambientais diversas. Temáticas como fome e racismo foram as que tiveram maiores índices de levantamento de abordagem entre os alunos, pois são problemas sociais que atingem a população desde sempre, não somente nos dias de hoje.

Atividades como as que realizamos são importantes para o desenvolvimento interdisciplinar, tendo em vista que o aluno consegue criar uma série de pontos de ligações dentro de um campo com múltiplos fatores. Entendemos que essa é uma forma de desenvolver junto ao aluno a sua compreensão de sociedade, assim como as suas relações com o meio ambiente.

Dessa maneira, o aluno pode observar as suas ações e os seus pensamentos em ações futuras na construção de políticas para a melhoria de aspectos socioambientais aliados ao campo étnico-racial.

O ensino da Biologia, juntamente com a Literatura Brasileira, permite associações que desenvolvem metodologias para o ensino-aprendizagem, com abordagens que  ampliam as esferas do conhecimento.

É de grande importância trabalhar questões étnico-raciais em sala de aula, contribuindo para a criticidade dos alunos, pois a escola é um retrato da sociedade brasileira em sua diversidade.

Referências

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CARVALHO, Fabiana Aparecida de. Biologia e cultura: significações partilhadas na literatura de Monteiro Lobato. Rev. Ensaio, Belo Horizonte, v. 9, n° 2, p. 238-253, 2007.

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TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 17ª ed. Petrópolis: Vozes, 2014.

Publicado em 22 de janeiro de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

BARROS, Heloisa Helena de; SANTOS, José Nunes dos. A Interdisciplinaridade no Ensino de Biologia a partir da obra “Quarto de despejo: diário de uma favelada”. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 3, 22 de janeiro de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/3/a-interdisciplinaridade-no-ensino-de-biologia-a-partir-da-obra-rquarto-de-despejo-diario-de-uma-faveladar

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