A relação entre contextos e propósitos comunicativos: uma via para o ensino dos gêneros textuais
Érica Pires Conde
Mestra em Educação, Administração e Comunicação (Universidade São Marcos) e em Linguística (UFC), Doutora em Letras (UFPI), professora adjunta da UFPI
O conjunto de palavras “propósito comunicativo” foi utilizado inicialmente por Swales em 1990, com foco no ensino de Inglês para fins específicos, em uma análise de gêneros em contextos acadêmicos e profissionais e de suas práticas.
A aplicação dessa expressão aparece como um critério de magnitude no que diz respeito ao reconhecimento de um gênero. Isso ocorre porque é mediante a sua identificação, na visão swalesiana, que se dá a estruturação do discurso e a consequente escolha do conteúdo e do estilo.
Apesar de haver esse reconhecimento do propósito comunicativo como fator essencial para a caracterização do gênero, Swales (1990) afirma que sua identificação não é algo simples, visto que um gênero pode ter diferentes propósitos comunicativos. Na mesma linha teórica, encontramos a visão de Bezerra (2009), que defende não haver uma explicação clara para essa expressão, podendo estar relacionada à função ou à intenção do texto ou do autor, ou corresponder à ideia de objetivo, meta ou finalidade.
Há vários pontos de vista sobre o tema, mas prevalece a certeza de que se trata de um elemento-chave para a compreensão da função social dos gêneros (Askehave; Swales, 2001).
As discussões travadas aqui se sustentam em autores como Greenwood (1994), Devitt (2004), Miller (2009) e Alves Filho (2011), que tecem considerações sobre os diferentes contextos; e Swales (1990), Askehave e Swales (2001), Bezerra (2002; 2009), Swales (2004), Bawarshi e Reiff (2013), Belini (2014), Oliveira (2016) e Alves Filho (2018), entre outros, que tratam dos propósitos comunicativos nos gêneros textuais.
Diante desses vieses teóricos, consideramos três predicados do propósito comunicativo: não ser uma característica indissociável do texto, uma vez que também se manifesta no social; não poder ser entendido como uma realidade psicológica, isto é, como “intenção do autor” (Bezerra, 2009, p. 466); e, na visão de Askehave e Swales (2001) e Belini (2014), considerando que, como os gêneros realizam ações sociais, não há um único propósito, mas propósitos comunicativos.
Assim, diante da existência de diferentes propósitos comunicativos e da complexidade em compreender o tema, propomos uma discussão que analise os propósitos comunicativos de um gênero, destacando o papel do contexto em sua identificação, considerando esses elementos no ensino em sala de aula.
Contexto ou contextos?
Analisando o que é apresentado sobre contexto em diferentes enfoques científicos, verificamos encontros e desencontros terminológicos. No tocante à linguagem, isso também acontece. Assim, para a construção desta seção, buscamos compreender o contexto no âmbito dos estudos retóricos dos gêneros e da pragmática.
Ao recorrer à literatura para entender a classificação de contexto, deparamo-nos com Miller (2009, p. 30), que propõe uma prática retórica enraizada nos fundamentos pragmáticos, enfatizando a análise de ações situadas para classificar um discurso. A autora trabalha com o contexto, indicando-o apenas como “situação retórica”, cuja principal característica é ser recorrente: “A recorrência é inferida pela nossa compreensão de situações como sendo, de alguma forma, ‘comparáveis’, ‘similares’ ou ‘análogas’ a outras situações”.
Nessa conjuntura de análise da situação, percebemos, na visão da autora, um destaque para o fato de o contexto ser um construto social e de a “exigência” ser a sua forma caracterizadora: “a exigência é uma forma de conhecimento social, uma interpretação mútua de objetos, eventos, interesses e propósitos que não somente se ligam entre si, mas também os fazem ser o que são: uma necessidade social objetificada” (Miller, 2009, p. 32).
Sendo assim, a exigência dá origem à recorrência. Conhecendo-a, enquanto motivo coletivo dos produtos linguísticos da socialização, seremos capazes de compreender a necessidade pública de participação em diferentes grupos.
Seguindo essa visão de uma análise pragmática do gênero, recorremos à posição de Marcondes (2005) e Armengaud (2006), que mostram o contexto múltiplo no que se refere ao uso da língua.
Marcondes (2005) argumenta que, na pragmática, a linguagem enfatiza o uso, refletindo o contexto e seus usuários no momento da comunicação. Para ele, a heterogeneidade e a variação estarão sempre relacionadas à linguagem, uma vez que há diversidade de uso e variação de contexto.
Armengaud (2006) propõe que o contexto linguístico seja entendido como uma tipologia quadripartite: contexto circunstancial, contexto situacional, contexto interacional e contexto pressuposicional.
O contexto circunstancial é identificado pela autora como aquele que se refere aos interlocutores, ao ambiente físico, ao lugar e ao tempo em que a comunicação ocorre; já o contexto situacional, por sua vez, enfatiza o aspecto cultural, que deve levar em conta o pertencimento a uma mesma cultura e os papéis desempenhados, “mais ou menos institucionalizados” (Armengaud, 2006, p. 80).
Para Armengaud (2006), enquanto o contexto interacional se refere ao encadeamento de falas e de ações (por exemplo, ao fazer um convite, espera-se o aceite ou a recusa), o contexto pressuposicional relaciona-se ao que é presumido pelos interlocutores (pressuposições, crenças, expectativas e intenções), sendo necessário respeitar o que já é pressuposto.
Ainda que essa classificação faça parte dos estudos pragmáticos, é perceptível que, nos estudos retóricos dos gêneros (ERG), ela pode ser aplicada, uma vez que estamos diante de elementos também analisados nas produções de gêneros: interlocutores, ambiente físico, lugar e tempo (contexto circunstancial); aspecto cultural/papéis desempenhados (contexto situacional); encadeamento de ações (contexto interacional); e pressuposições, crenças, expectativas e intenções (contexto pressuposicional).
Devitt (2004), ao tratar do contexto, menciona que este se apresenta de três maneiras: como contexto de situação, que se refere a pessoas, línguas e fins presentes em ações; como contexto cultural, identificado como uma bagagem ideológica e material em torno de todas as nossas ações; e como contexto de outros gêneros, que indica a existência de gêneros antecedentes que influenciam a constituição de novos.
O contexto de outros gêneros, para a autora, favorece a aprendizagem de gêneros desconhecidos, pois há um passado recordado em cada gênero. Isso é perceptível quando identificamos que existem ações retóricas tipificadas em uma sociedade.
Os três tipos apresentados por Devitt (2004) levam-nos a perceber uma inter-relação entre os contextos, em que o contexto de gênero envolveria as situações já tipificadas em um contexto de situação e em um contexto situacional.
De maneira acessível, Alves Filho (2011, p. 52) indica que os contextos são importantes para a aprendizagem de gêneros: “a ação de aprender um gênero depende muito da compreensão da situação realizada por nós”.
Os contextos apresentados por Devitt (2004) ganham uma explicação didática nas palavras de Alves Filho (2011): o contexto situacional inclui os aspectos do entorno físico, ambiental e discursivo, sendo relevantes os interlocutores e os papéis desempenhados por eles; o contexto cultural, por sua vez, indica os valores, crenças e ideologias que caracterizam determinada comunidade; e, por fim, o contexto de outros gêneros é explicado como as inter-relações entre gêneros, capazes de compartilhar informações.
Baseando-nos em Greenwood (1973), percebemos que as estratégias retóricas e linguísticas podem ser adquiridas mediante a familiaridade com o contexto. Alves Filho (2011) também destaca a importância do contexto, indicando-o como ponto inicial de análise no tratamento dos gêneros, de modo a possibilitar escolhas adequadas de estilo, tratamento temático, estrutura textual e modos de interação.
Entendemos, assim, que nesse rol de elementos inseridos no contexto por Alves Filho (2011) também devem estar os propósitos comunicativos.
Diante dessa discussão, é mister afirmar que não há um único contexto, mas vários. Assim, considerando sua importância na identificação dos propósitos comunicativos, fica evidente por que autores como Askehave e Swales (2001) afirmam que os propósitos são múltiplos e variados. Não consideramos razoável identificar os propósitos comunicativos de um texto sem levar em conta o lócus em que ele se apresenta.
Os propósitos comunicativos em contextos
Para iniciarmos esta seção, é preciso perceber, primeiramente, que os propósitos comunicativos de um gênero são essenciais para sua caracterização (Bhatia, 1993; 1997; Askehave; Swales, 2001; Souza, 2010). Sobre a identificação de gêneros a partir de seus propósitos comunicativos, Biasi-Rodrigues e Bezerra (2012, p. 241) enunciam que,
dessa forma, somente podemos falar de “identificação” de gêneros com base em seu propósito comunicativo a partir de uma análise mais ampla, nunca como uma categorização a priori. Conforme alertam Askehave e Swales (2001, p. 200), mesmo quando um texto parece apresentar explicitamente seu propósito comunicativo, como na carta de um banco alegando que “o propósito desta carta é informá-lo que sua conta excedeu o limite de crédito”, seria bastante precipitado, ou ingênuo, tomar um enunciado assim ao pé da letra.
Assim sendo, observa-se a importância da indicação dos propósitos comunicativos em um gênero e a necessidade de saber como identificá-lo. Para tanto, este estudo enfatiza o destaque que devemos dar ao contexto no qual o gênero textual está inserido. Desde o surgimento da expressão “propósitos comunicativos”, usada por Swales (1990), houve ênfase no contexto, inserido na relação entre comunidade discursiva, propósito comunicativo e gênero:
um gênero compreende uma classe de eventos comunicativos, cujos membros compartilham um certo conjunto de propósitos comunicativos. Esses propósitos são reconhecidos pelos membros especializados da comunidade discursiva original e desse modo passam a constituir a razão subjacente ao gênero. A razão subjacente delineia a estrutura esquemática do discurso e influencia e restringe as escolhas de conteúdo e estilo. O propósito comunicativo é um critério privilegiado que opera no sentido de manter o escopo do gênero, conforme concebido aqui, estreitamente ligado a uma ação retórica comparável (Swales, 1990, p. 58).
O contexto, nesta citação, é indicado como comunidades discursivas. Uma comunidade discursiva, segundo Swales (1990), apresenta vários atributos, a saber: objetivos públicos comuns; mecanismos que possibilitam a intercomunicação entre seus membros; vinculação e participação das pessoas na comunidade discursiva; comunicação realizada mediante gêneros; léxico próprio; membros experientes; familiaridade com as convenções; e transmissão de conhecimento sobre os objetivos partilhados e os propósitos comunicativos dos gêneros utilizados.
Bhatia (1993, p. 13), no mesmo viés teórico, aponta, como primeiro passo para a caracterização dos gêneros, a indicação de seu(s) propósito(s) comunicativo(s), ainda que existam outros elementos a serem considerados, como: conteúdo, forma, audiência, meio ou canal.
Para o autor, existem aspectos a serem observados na análise dos propósitos comunicativos: primeiro, a presença de membros mais experientes de uma comunidade, capazes de combinar propósitos comunicativos com intenções particulares e de assegurar que os leitores de seus textos consigam construir e interpretar os propósitos empregados; segundo, a constatação de que não existe um único propósito comunicativo. Bhatia (1997) também ressalta que os propósitos comunicativos se voltam diretamente para os contextos sociais. Askehave e Swales (2001) fazem um reexame do termo “propósito comunicativo”, considerando-o um critério essencial para identificar um gênero. Eles propõem que se compreenda esses propósitos de forma mais ampla. Em suas palavras: “mais evasivos, múltiplos, intricados e complexos do que foi originalmente imaginado” (Askehave; Swales, 2001, p. 197). Partindo dessas características, destacam o contexto como ponto central nos estudos dos gêneros, uma vez que o texto é utilizado em contexto.
Askehave e Swales (2001, p. 200) indicam maneiras possíveis de empregar o conceito de propósito comunicativo: considerando seu “valor heurístico” e auxiliando na compreensão de um corpus de pesquisa; mostrando o discurso como multifuncional; e sendo utilizado para desqualificar um gênero. Eles descrevem dois procedimentos para a identificação dos propósitos comunicativos de um gênero: o textual, também chamado de linguístico, e o contextual. No que se refere à análise textual, o propósito comunicativo é examinado em conjunto com a forma, o estilo e o conteúdo. Após essa etapa, o propósito redefine o gênero no contexto (repurposing), ocorrendo um realinhamento na rede de gêneros. Já na análise contextual, o propósito comunicativo é voltado para a identificação do gênero, mas considerando-se, primeiramente, a situação comunicativa, observando a comunidade em que o gênero é empregado (objetivos, valores existentes, expectativas dos diferentes usuários, convenções e repertórios de gêneros presentes) e, depois, da mesma forma que na análise textual, a redefinição dos propósitos comunicativos (repurposing) dos gêneros selecionados e a análise linguística dos gêneros.
Percebe-se que, tanto na análise textual quanto na contextual, o texto e o contexto estão presentes; no entanto, na análise textual, o ponto de partida é o gênero em si, ou seja, a forma, o estilo e o conteúdo, ao passo que, na análise contextual, o ponto de partida é a situação em que o gênero se insere.
Belini (2014), a respeito dos estudos de Askehave e Swales (2001), menciona que
as propostas de reformulações da definição de propósito comunicativo são, conforme discute Askehave e Swales (2001), decorrentes das fragilidades do conceito, centradas na maleabilidade dos gêneros, na multiplicidade de objetivos que os gêneros textuais podem apresentar, nas variações transculturais de nomenclatura e no próprio fato de que os propósitos comunicativos nem sempre são claros (Belini, 2014, p. 84).
Em estudo posterior e baseando-se nos postulados teóricos de Askehave e Swales (2001), Swales (2004) reforça que o propósito comunicativo, quando visto de forma isolada, não identifica o gênero. Assim, ele sugere dois procedimentos de análise para identificá-lo: o procedimento textual, no qual são levantados os elementos formadores dos gêneros (estrutura, conteúdo, aspectos textuais e linguísticos), e o procedimento contextual, que considera a situação da qual o gênero faz parte.
Nesse viés teórico, vale acentuar que analisar o propósito comunicativo considerando seu contexto é adotar uma visão mais ampla. Segundo Bawarshi e Reiff (2013), esse tipo de análise, proposta por Swales (2004), que visa à identificação do gênero em uma comunidade discursiva, leva em conta a análise dos movimentos retóricos e de sua realização.
Bawarshi e Reiff (2013) tecem críticas aos estudos swalesianos, pois neles o contexto social é direcionado apenas para a compreensão de gêneros especializados, acadêmicos e profissionais, e suas convenções, que precisam ser explicadas aos estudantes a fim de que estes acessem esse tipo de discurso. As autoras ainda destacam que o foco da análise está no reconhecimento e reprodução dos movimentos retóricos que o gênero realiza, sem considerar outras situações comunicativas.
Oliveira (2016) considera legítimas as críticas tecidas por Bawarshi e Reiff (2013). A autora argumenta que os gêneros oclusos não aparecem para um único fim, mas para vários. Como exemplo, menciona a resenha crítica, que não é produzida apenas para promover ou não uma obra, ou como tarefa acadêmica. Ela demonstra que a resenha está presente nos bastidores de um artigo, de uma monografia, ou seja, no processo de uma pesquisa bibliográfica. Assim, retomando a visão de Bawarshi e Reiff (2013), a participação em uma comunidade não se dá apenas pela absorção das convenções em que um gênero se realiza e sua relação com os propósitos comunicativos, mas também pelo conhecimento sobre o porquê da existência dos gêneros e de seus propósitos comunicativos.
Bezerra (2002), também estudando as resenhas críticas no contexto universitário, adverte que é preciso ter cuidado ao identificar um gênero com base exclusivamente em seu propósito comunicativo, pois essa questão requer uma análise mais ampla, como uma categorização.
Para exemplificar essa questão, o autor considera os propósitos comunicativos em resenhas críticas elaboradas por grupos de pessoas especializadas e por grupos de alunos. Para ele, os propósitos comunicativos, mesmo tratando-se do mesmo gênero, tornam-se diferentes em função dos requisitos solicitados no contexto de produção: os estudantes sabiam que seus textos seriam lidos apenas por professores, para fins avaliativos, enquanto os escritores especialistas almejavam a publicação, o que caracteriza outro propósito comunicativo. Vale destacar que, no caso da resenha como tarefa escolar, havia dois propósitos, segundo Bezerra (2002): “descrever e avaliar criticamente uma certa obra para submissão ao professor”; já para os escritores proficientes, o propósito comunicativo de uma resenha especializada “relaciona-se com a ideia de descrever, avaliar e recomendar (ou desqualificar) uma nova publicação para um determinado público leitor” (Bezerra, 2002, p. 63).
O que se percebe, no estudo de Bezerra (2002), é que o evento comunicativo, formado pelo discurso e pelos participantes, apresenta propósitos específicos, mas não totalmente diferentes. Assim, fica evidente que estamos diante de dois gêneros distintos, apesar de ambos terem o mesmo nome, e que o elemento definidor dessa identificação é o contexto.
Um evento comunicativo abrange “não somente o próprio discurso e seus participantes, mas também o papel que esse discurso desempenha e o ambiente de sua produção e recepção, incluindo suas associações históricas e culturais” (Swales, 1990, p. 46).
Ainda sobre a relação entre propósitos comunicativos e contextos, Alves Filho (2018) explica que a tarefa de apontar as funções comunicativas globais de um gênero é bastante complexa, uma vez que a indicação do propósito comunicativo de um gênero, por si só, também o é, diante de vários dissensos entre especialistas e analistas de gêneros. O autor assevera que
há ainda o fato de sujeitos com expertise conseguirem imiscuir propósitos particulares em meio aos propósitos mais gerais de um gênero (Bathia, 2004); e alguns propósitos, embora identificados, nunca serem reconhecidos pelos sujeitos (Askehave; Swales, 2009). Como os propósitos de um gênero podem não ser sempre evidentes, explícitos e dados a priori, a sua identificação poderá depender de uma investigação demorada, cuidadosa e dependente de várias metodologias de pesquisa. (Alves Filho, 2018, p. 136-137)
Assim sendo, não há um propósito comunicativo único, mas propósitos a serem identificados na análise de um gênero. O gênero, por si só, poderá apresentar uma função comunicativa; entretanto, sua inserção no contexto priorizará o uso, que traz naturalmente mudanças nos propósitos, pois a análise da linguagem a ser feita é, sobretudo, performativa.
Considerações finais
É possível perceber, pela discussão travada, que nem sempre estaremos diante de uma identificação fácil dos propósitos comunicativos, pois há diversidade em sua manifestação nos gêneros textuais (Swales, 1990; Askehave; Swales, 2001; Bawarshi; Reiff, 2013, além de outros já apontados no texto).
Constatamos que não há um contexto, mas vários, conforme as posições de Greenwood (1994), Devitt (2004), Armengaud (2006) e Alves Filho (2011), ficando evidente o motivo pelo qual autores como Askehave e Swales (2001) afirmam que os propósitos são múltiplos e variados. Assim, não acreditamos ser razoável identificar os propósitos comunicativos de um texto sem considerar o lócus em que ele se apresenta.
Dessa maneira, o contexto é elemento indissociável dos propósitos comunicativos, sendo necessário seu destaque no ensino dos gêneros textuais em sala de aula. Fica evidente que, numa análise socio-retórica dos gêneros, a identificação dos propósitos comunicativos é inerente à função performativa da linguagem, ou seja, ao uso que o meio condiciona o gênero.
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Publicado em 13 de agosto de 2025
Como citar este artigo (ABNT)
CONDE, Érica Pires. A relação entre contextos e propósitos comunicativos: uma via para o ensino dos gêneros textuais. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 30, 13 de agosto de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/30/a-relacao-entre-contextos-e-propositos-comunicativos-uma-via-para-o-ensino-dos-generos-textuais
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