As vivências de estudantes pretos e pardos diante do projeto sobre bullying na escola

Júlia Santos Abichabki Calsone

Graduanda em Pedagogia pela (UFSCar - câmpus Sorocaba)

Flávia Camile dos Santos de Paula

Graduanda em Pedagogia pela (UFSCar - câmpus Sorocaba)

Maiara da Silva Neves

Graduanda em Pedagogia pela (UFSCar - câmpus Sorocaba), agente de pesquisa e mapeamento no IBGE

Maísa Aparecida Ruiz Martins

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da UFSCar - câmpus Sorocaba, professora da rede municipal de ensino de Sorocaba/SP

O objetivo deste trabalho é relatar as experiências e os impactos do Projeto Residência Pedagógica (PRP) em uma escola de Ensino Fundamental localizada no município de Sorocaba/SP. A instituição atende estudantes do 1º ao 5º ano, totalizando 517 alunos matriculados nos períodos matutino e vespertino.

O estudo concentra-se na ação realizada na escola com o intuito de combater o bullying escolar, apresentando uma análise que diferencia conceitos e examina a manifestação do racismo nas experiências vividas pelos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental. Trata-se, portanto, de um relato das experiências vivenciadas pelas residentes do projeto dentro das salas de aula.

O relato de experiência é um tipo de produção de conhecimento, cujo texto trata de uma vivência acadêmica e/ou profissional em um dos pilares da formação universitária (ensino, pesquisa e extensão), cuja característica principal é a descrição da intervenção. Na construção do estudo é relevante conter embasamento científico e reflexão crítica. (Mussi; Flores; Almeida, 2021, p. 65).

Com base nos objetivos delineados para este estudo, é crucial situar a importância e a urgência de abordar questões relacionadas ao bullying escolar e ao racismo no contexto educacional. Ambos os fenômenos não apenas afetam profundamente o bem-estar emocional e psicológico dos alunos envolvidos, como também podem deixar marcas indeléveis em seu desempenho acadêmico e saúde mental. Além disso, é essencial reconhecer que tais práticas discriminatórias não ocorrem em um vácuo; elas refletem e perpetuam desigualdades estruturais e sociais que minam os princípios fundamentais da igualdade e da justiça.

Nesse contexto, o PRP configura-se como uma iniciativa essencial para promover uma cultura escolar inclusiva e respeitosa. Ao concentrar seus esforços na conscientização e no combate ativo ao bullying e ao racismo, o projeto busca impulsionar uma transformação cultural mais ampla dentro da comunidade escolar. Ao narrar as experiências vivenciadas pelos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental, este estudo não apenas se propõe a documentar as intervenções e estratégias adotadas, mas também a refletir criticamente sobre os desafios enfrentados e os sucessos alcançados.

O projeto: breve resumo sobre as atividades

O projeto contra o bullying realizado na escola contou com seis atividades desenvolvidas no 3° módulo do PRP, realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Teve como objetivo não apenas contextualizar os direitos das crianças, enfatizando a importância do respeito mútuo, mas também apresentar os diferentes tipos de bullying existentes e elaborar soluções para que esse tipo de violência não faça parte da rotina escolar. As atividades foram elaboradas a partir das habilidades estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC):

EF15LP09: Expressar-se em situações de intercâmbio oral com clareza, preocupando-se em ser compreendido pelo interlocutor e usando a palavra com tom de voz audível, boa articulação e ritmo adequado.

EF35LP17: Buscar e selecionar, com o apoio do professor, informações de interesse sobre fenômenos sociais e naturais, em textos que circulam em meios impressos ou digitais.

EF35LP19: Recuperar as ideias principais em situações formais de escuta de exposições, apresentações e palestras.

EF35LP20: Expor trabalhos ou pesquisas escolares, em sala de aula, com apoio de recursos multissemióticos (imagens, diagrama, tabelas etc.), orientando-se por roteiro escrito, planejando o tempo de fala e adequando a linguagem à situação comunicativa (Brasil, 2018).

Ao longo do desenvolvimento das atividades, encontramos também, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), o Art. 12 e seus incisos IX e X, incluídos pela Lei nº 13.663, de 2018, que estabelecem como compromisso:

IX: Promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas;

X: Estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas (Brasil,1996).

Com base nessa premissa, as cinco residentes, graduandas do curso de Pedagogia, juntamente com a preceptora do programa, professora da escola em que ocorreu o projeto, desenvolveram uma série de dinâmicas implementadas ao longo dos meses de agosto a novembro de 2023, com base no que Mezzarila, Fernandes e Santos (2021) destacam, sobre a importância do trabalho dos professores para amenizar o bullying nas escolas, que,

por ser um fenômeno psicossocial, é fato que o enfrentamento do bullying não se esgota em ações desenvolvidas apenas nas escolas, mas, segundo Francisco e Coimbra (2015), se a escola reconhecer a dinâmica da violência em suas diferentes manifestações e acreditar que essa dinâmica pode ser alterada, irá contribuir essencial e fortemente para a transformação das relações sociais em nossa sociedade (Mezzarila; Fernandes; Santos, 2021, p. 4).

Consideramos pertinente descrever as atividades desenvolvidas ao longo do projeto, de modo a contribuir com educadores que também buscam trabalhar essa temática. A primeira atividade consistiu em uma versão da brincadeira “batata-quente”, utilizando bexigas. Cada bexiga continha um direito da criança, conforme descrito nos livros paradidáticos Ser criança é…, de Fábio Sgroi (2021), e A criança e seus direitos, de Eustáquio Rodrigues (1998). Os direitos foram impressos em pequenos papéis e colocados dentro das bexigas, que foram infladas. As crianças, dispostas em círculo, passavam uma bexiga por vez, de mão em mão, ao som de música ambiente. Quando a música cessava, a criança que segurava a bexiga estourava-a, retirava o papel de dentro e lia em voz alta o direito ali descrito.

A dinâmica foi repetida até que todas as bexigas fossem estouradas, possibilitando o início de uma conversa com as crianças sobre o significado das frases encontradas nos papéis. Durante essa interação, questionamos os estudantes sobre seus conhecimentos prévios a respeito desses direitos. Após a conversa, elaboramos um cartaz contendo os direitos, que foram colados ao lado das digitais carimbadas com tinta pelos estudantes. Esse cartaz serviu como representação tangível dos direitos das crianças.

A segunda atividade consistiu na produção de um desenho de monstro a partir das características narradas pela professora. O objetivo era levar os estudantes a refletir sobre as diferenças e a importância de respeitá-las. As instruções fornecidas contribuíram para que cada um desenhasse de forma distinta, evidenciando que cada ser é único e carrega um repertório próprio.

Receita do monstrinho:

  1. Uma cabeça redonda e grande
  2. Um corpo pequeno e coberto de pelos
  3. Braços compridos com mãos pequenas e garras grandes
  4. Pernas curtas
  5. Pés grandes e arredondados
  6. Olho no meio da testa
  7. Orelhas pontiagudas
  8. Nariz com narinas quadradas
  9. Boca grande com dentes falhados.

A terceira atividade contou com o auxílio de um vídeo para contextualizar o termo bullying e mostrar como ele está presente nas escolas. Foram trabalhados os diferentes tipos: bullying verbal, bullying físico, bullying indireto e cyberbullying. Com base nesses conceitos, foi sugerida uma dinâmica na qual as crianças fizeram uma lista com elogios e outra com ofensas e, posteriormente, colaram essas listas em uma caixa de leite para ilustrar que, com as ofensas, o leite “fica diferente” (foi usado corante para alterar sua cor). Em seguida, prosseguiu-se com a discussão sobre os impactos negativos do bullying nas pessoas.

A quarta e a quinta atividades tiveram como objetivo a confecção de cartazes: um com diferentes tipos de linguagens, como poemas, histórias, textos curtos e desenhos, todos realizados pelos estudantes; e outro com reportagens e imagens alusivas ao bullying. Esses cartazes foram expostos nas paredes da escola como forma de conscientização.

A última atividade teve como objetivo fortalecer as relações e valorizar as qualidades únicas de cada um. Para isso, realizou-se uma dinâmica em que cada aluno sorteou o nome de um colega de sala e escreveu ou desenhou, em um papel, uma característica que mais apreciava na pessoa sorteada. Ao final, os estudantes trocaram os papéis entre si, em um momento de muita descontração.

Reflexão sobre o racismo no contexto escolar

Durante as dinâmicas, foi possível observar que os estudantes pretos e pardos carregavam, em suas falas, situações ocorridas no ambiente escolar que esbarram no racismo, infelizmente enraizado em nossa sociedade. Entretanto, o que mais chamou a atenção do grupo foi a forma como eles pontuaram o fato. Em um primeiro momento, foi entendido como bullying, mas também compreendiam que o racismo estava por trás dos comentários sobre o cabelo, causando vergonha de frequentar a escola com penteados que deixassem o cabelo solto ou evidenciassem a textura cacheada e/ou crespa, além de apelidos pejorativos devido à cor da pele e ao estilo do cabelo.

De acordo com a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, racismo é “resultante de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional” (Brasil, 1988). Essa lei permanece, até hoje, sofrendo alterações para melhor definir o que é racismo e, assim, consolidar as punições diante dessa violência, que pode ocorrer de forma verbal ou física.

Partindo desse pressuposto, levamos em consideração o racismo velado que ocorre dentro das salas de aula e que, infelizmente, é uma realidade triste e preocupante, pois se manifesta de diferentes formas, desde comentários sutis até atitudes discriminatórias mais explícitas, mas que geram impactos negativos profundos nas crianças que são alvo desse preconceito.

No desenvolvimento do projeto, foi possível observar que uma das estudantes negras se sentiu mais acolhida e confortável para utilizar outros penteados em seu cabelo crespo, além de preso, sem temer os comentários das outras crianças, pois já havia sido abordada a importância de respeitar os diferentes tipos de cabelos e etnias.

Diante disso, sabemos que as crianças têm consciência quando são desvalorizadas e, infelizmente, muitas vezes desenvolvem uma compreensão coletiva de sua identidade étnica com base nos estigmas que lhes são atribuídos. A desvalorização da identidade étnica é um fenômeno complexo e profundamente enraizado nas estruturas sociais e culturais, como destacado por Djamila Ribeiro (2017). No contexto brasileiro, o racismo estrutural perpetua uma narrativa que marginaliza e subestima as identidades étnicas não brancas, fortalecendo estereótipos negativos e limitantes.

No contexto das crianças negras, suas características raciais são frequentemente consideradas desfavoráveis, levando-as a internalizar sentimentos de inferioridade e a associar a negritude à ideia de feiura. É a partir dessas práticas que surgem frases como “Quando não suja na entrada, suja na saída”, “É preto, mas é inteligente”, “É preto, mas é bonitinho”, “É preto, mas é uma graça”, ou ainda a classificação de “cabelo ruim” ou “cabelo duro”, quase sempre acompanhada de risos (Rodrigues, 2016).

Embora a escola seja um lugar de aprendizagem e compartilhamento de vivências, ela pode se tornar o oposto, pois ali o desrespeito, a violência, o medo e a insegurança também podem acontecer.

A ausência de compreensão para com as distinções existentes entre as pessoas gera a não aceitação dos sujeitos e do seu modo de vida, o que faz com que a sociedade se torne um terreno fértil para gerar o preconceito, a intolerância, o desrespeito e os diversos outros tipos de violência (Borba; Sales; Silva, 2022, p. 7).

Por isso, é importante que a escola exerça papel ativo na construção de uma cultura de paz e promova o entendimento profundo dos valores que a sustentam. Ao educar, desde cedo, sobre o respeito mútuo, a tolerância e a resolução pacífica de conflitos, as escolas preparam os jovens para um futuro responsável e contribuem para a formação de cidadãos conscientes e engajados na construção de uma sociedade mais inclusiva e livre de preconceitos. De acordo com Borba, Sales e Silva (2022, p. 10),

a cultura da paz pode ser construída com estratégias que possibilitem a resolução de conflitos, por meio de diálogos, reflexões, negociações e mediação dos profissionais da educação para com os estudantes, de modo que, aos poucos, essa cultura seja instaurada na escola, a partir de vivências.

Sabemos que o racismo e o bullying relacionados ao cabelo afro são manifestações de preconceito profundamente enraizadas na sociedade, que têm um impacto significativo na vida das pessoas afetadas. O cabelo afro, com sua textura única e rica história cultural, muitas vezes se torna alvo de discriminação, intimidação e exclusão, tanto em ambientes sociais quanto institucionais. Essas atitudes podem levar a problemas de autoestima e aceitação própria, especialmente entre crianças e jovens que enfrentam pressão para se conformar com padrões eurocêntricos de beleza. Essas práticas de discriminação refletem atitudes arraigadas de supremacia branca, desvalorizando e marginalizando cada vez mais a diversidade étnica e cultural existente em nossa sociedade.

As experiências relacionadas ao cabelo, para a pessoa negra, se iniciam muito cedo, pois, desde a infância, situações como manter o cabelo arrumado e penteado se tornam muito difíceis. Diante de uma sociedade eurocêntrica, manter os cabelos alinhados, desembaraçados e devidamente penteados é sinônimo de beleza. Segundo Gomes (2002, p. 44),

existem, em nossa sociedade, espaços sociais nos quais o negro transita desde criança em que tais representações reforçam estereótipos e intensificam as experiências do negro com o seu cabelo e o seu corpo. Um deles é a escola.

Ou seja, a escola é o lugar onde mais se impõem padrões de beleza. A autora reitera, ainda, que

é nesses espaços que as oportunidades de comparação, a presença de outros padrões estéticos, estilos de vida e práticas culturais ganham destaque no cotidiano da criança e do/a adolescente negros, muitas vezes de maneira contrária àquela aprendida na família (Gomes, 2002, p. 46).

É importante observar que a forma como cada indivíduo lida com o racismo é diferente, pois recebe influências de diferentes pessoas que contribuem, ou não, para sua formação. Compreendemos que o estímulo e o respeito recebidos dentro de casa influenciam diretamente na compreensão do que é essa prática tão desumana que é o racismo, pois acreditamos que o meio familiar possibilita a construção de uma autorrepresentação positiva sobre o ser negro/a (Gomes, 2002). Ou seja, o ambiente familiar desempenha papel crucial em ajudar indivíduos negros a desenvolver uma percepção positiva de si mesmos. É a família quem fornece suporte, valores e ensinamentos que contribuem para a construção de uma imagem positiva e confiante acerca da sua identidade racial.

Partindo desse pressuposto, Beaudoin e Taylor (2016, p. 99) defendem que

as crianças não têm o mesmo privilégio dos adultos quando o assunto é escapar de identidades problemáticas. De um lado, têm menos poder de determinar sua própria identidade em função de sua idade e de sua dependência. Por outro lado, elas também contam com menos contextos; a escola e a casa geralmente dominam suas vidas, e esses contextos são extremamente interligados.

Desse modo, entendemos que as crianças, por si sós, enfrentam desafios únicos no desenvolvimento de suas identidades. Isso significa que, embora sejam mais suscetíveis às influências externas e possam ter menos controle sobre como são percebidas e tratadas pelos outros, necessitam ser acompanhadas de perto. Assim, como afirma Gomes (2002, p. 46), “muitas vezes as pessoas são preconceituosas por causa da desinformação. Elas precisam ser reeducadas.” Ou seja, é necessário que toda a comunidade escolar, incluindo alunos, pais, professores e funcionários, esteja a par do cotidiano dos alunos e, principalmente, atenta e envolvida nas experiências que as crianças vivenciam, com o intuito de favorecer um esforço coletivo para criar um ambiente seguro, acolhedor e respeitoso para todos, independentemente de sua raça, origem étnica ou qualquer outra característica pessoal.

Diferença e reflexões sobre bullying e racismo

A diferença fundamental entre bullying e racismo consiste no foco e na motivação subjacentes. O bullying refere-se a comportamentos repetitivos de intimidação, humilhação ou agressão física ou verbal, dirigidos a uma pessoa específica; segundo Fante,

bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do “comportamento bullying” (Fante, 2005, p. 28-29 apud Silva Rosa, 2013, p. 333).

O racismo envolve discriminação ou preconceito com base na raça ou na etnia de uma pessoa, conforme explica Lima (2019, p. 6):

O racismo, enquanto doutrina, se materializa como aversão, ódio, desprezo e consequentemente o não reconhecimento da humanidade, sobretudo, de pessoas cujo pertencimento racial se distancia da matriz branca europeia. Assim, aos negros, indígenas e alguns grupos étnicos asiáticos são atribuídas características como a inferioridade moral, intelectual, cultural e psíquica.

Durante o desenvolvimento do projeto, foi possível identificar várias situações em que esses conceitos se entrelaçavam em nossas experiências. O bullying, com sua natureza repetitiva de agressão e exclusão, muitas vezes tinha raízes em preconceitos raciais. Por exemplo, uma aluna relatou, em uma das rodas de conversa, uma experiência em que foi alvo de insultos ou exclusão devido à sua origem étnica.

Além disso, foi interessante observar que a seriedade com que as questões relacionadas ao racismo e ao bullying eram tratadas variava de uma turma para outra. Enquanto em uma turma as crianças discutiam e reconheciam a gravidade do racismo, em outra ele era muitas vezes percebido e classificado apenas como um xingamento ou brincadeira, sem consequências sérias.

Percebemos a importância de contextualizar os acontecimentos de forma mais próxima da realidade dos alunos, evitando que os assuntos fossem tratados como algo distante ou abstrato. Para alcançar esse objetivo, adotamos uma abordagem com foco na valorização e no respeito às particularidades de cada turma, reconhecendo o conhecimento dos alunos como peça fundamental no processo educacional. De acordo com Santos et al. (2020, p. 43.399),

aproximar a realidade, ou melhor, trazê-la para os espaços de ensino é mostrar que a educação é sim feita para mudar realidades e não para repeti-las ou permanecê-las estáticas. O ensino desconectado da realidade distancia e, em diversas vezes, impossibilita a compreensão e a importância daquele espaço.

Assim, estabelecemos uma dinâmica de trabalho baseada nas informações e experiências compartilhadas pelos próprios alunos. Em vez de impor um modelo padronizado, buscamos criar um ambiente de colaboração, no qual eles se sentissem confortáveis para expressar suas vivências e perspectivas.

Dessa forma, pudemos desenvolver estratégias de intervenção mais eficazes, alinhadas às necessidades e realidades específicas de cada grupo. Ao valorizar e incorporar o conhecimento dos alunos, tornamos o processo educacional mais significativo e envolvente, promovendo maior conscientização e engajamento em relação aos temas abordados.

Considerações finais

O projeto desenvolvido na escola sobre o combate ao bullying ressaltou a importância da conscientização e da ação coletiva para enfrentar esses problemas. Ao longo do texto, exploramos como o bullying e o racismo estão entrelaçados em muitas experiências escolares, afetando profundamente a autoestima, o bem-estar emocional e o desempenho acadêmico dos estudantes.

O projeto demonstrou a eficácia de abordagens pedagógicas que valorizam a diversidade, promovem a empatia e incentivam o respeito mútuo entre os alunos. Por meio de atividades que engajaram os estudantes em reflexões sobre seus direitos, diferenças individuais e os impactos do bullying e do racismo, foi possível criar um ambiente escolar mais inclusivo e acolhedor.

No entanto, é crucial reconhecer que o combate ao bullying e ao racismo requer esforços contínuos e abrangentes. Isso inclui a implementação de políticas escolares que proíbam explicitamente o bullying e a discriminação, a formação de professores em questões de diversidade e inclusão, e a promoção de uma cultura escolar que celebre a diversidade e estimule o respeito mútuo.

Além disso, é importante envolver não apenas os educadores, mas também os pais, os alunos e toda a comunidade escolar no processo de construção de um ambiente seguro e inclusivo. Juntos, podemos criar escolas onde todas as crianças se sintam valorizadas, respeitadas e capacitadas a alcançar seu pleno potencial, independentemente de sua raça, etnia ou tipo de cabelo.

Desse modo, consideramos que o combate ao bullying e ao racismo é uma responsabilidade coletiva que requer compromisso, educação e ação em todos os níveis da sociedade.

Referências

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Publicado em 13 de agosto de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

CALSONE, Júlia Santos Abichabki; PAULA, Flávia Camile dos Santos de; NEVES, Maiara da Silva; MARTINS, Maísa Aparecida Ruiz. As vivências de estudantes pretos e pardos diante do projeto sobre bullying na escola. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 30, 13 de agosto de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/30/as-vivencias-de-estudantes-pretos-e-pardos-diante-do-projeto-sobre-bullying-na-escola

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