A Teoria da Complexidade de Edgar Morin: um olhar para o ensino em Biociências
Maíra Fagundes Tomazini
Graduada em Pedagogia, SME/RJ
Hugo José C. C. de Azevedo
Doutorando em Ensino em Biociências e Saúde (IOC/Fiocruz)
Edgar Morin e a Teoria da Complexidade
Edgar Morin é um renomado sociólogo, filósofo e pensador francês, nascido em 8 de julho de 1921, em Paris, França. Ele é conhecido principalmente por seu trabalho nos campos da Complexidade, Epistemologia, Sociologia e Filosofia da Ciência. Morin é uma figura proeminente na busca por uma compreensão mais holística e interdisciplinar da realidade e do conhecimento humano. É frequentemente associado à teoria da complexidade, que considera os sistemas sociais, culturais e naturais como intrinsecamente complexos e interconectados. Essa abordagem pode ser vista como uma resposta ao pensamento moderno, que tendia a simplificar e reduzir a realidade a categorias e estruturas rígidas.
Morin argumenta que a Pós-Modernidade é marcada pelo reconhecimento da incerteza, da ambiguidade e da multiplicidade de perspectivas. Ele defende a ideia de que vivemos em um mundo em constante mudança e que a complexidade inerente à realidade não pode ser totalmente compreendida por meio de abordagens simplificadoras. Ele também enfatiza a necessidade de uma abordagem mais holística, que reconheça as interconexões entre diferentes áreas do conhecimento e as múltiplas dimensões da vida humana (Estrada, 2009).
Dentro dessa perspectiva, Morin critica a fragmentação do conhecimento moderno, que tende a isolar disciplinas e áreas de estudo umas das outras. Ele enfatiza a importância de uma abordagem transdisciplinar, que reconheça as inter-relações entre diferentes campos do conhecimento e considere a complexidade das questões que enfrentamos.
Embora Edgar Morin não seja um teórico pós-modernista no sentido estrito, suas ideias sobre complexidade, incerteza e abordagem transdisciplinar compartilham algumas semelhanças com as preocupações e temas frequentemente associados à Pós-Modernidade. Sua obra incentiva uma compreensão mais profunda e holística das questões humanas, o que pode ser considerado uma contribuição valiosa para a discussão sobre os desafios do mundo contemporâneo (Silva, 2011).
A Teoria da Complexidade de Morin é uma abordagem filosófica e epistemológica que busca compreender a complexidade inerente aos sistemas, fenômenos e processos do mundo. Diferenciando-se da tendência à simplificação excessiva que muitas vezes prevalece nas ciências e na compreensão da realidade, essa teoria reconhece a realidade como uma intrincada rede de elementos interconectados e múltiplas dimensões.
Desde o momento em que se compreende que os indivíduos são seres em constante evolução e se desenvolvem ao longo de suas vidas, torna-se evidente a importância de abordar a complexidade inerente à condição humana. Isso ocorre porque os seres humanos são simultaneamente seres biológicos e culturais. Essa complexidade não apenas oferece a oportunidade de ampliar o entendimento do mundo e da vida, mas também representa um desafio significativo à fragmentação do conhecimento humano e à abordagem científica.
Nesse contexto, Petraglia (2001) apoia as ideias de Morin e argumenta que a fragmentação do conhecimento resulta em lacunas que prejudicam uma abordagem integrada entre as disciplinas, limitando ou até dificultando a aprendizagem das pessoas envolvidas no processo educativo. Portanto, a abordagem da complexidade enfatiza a compreensão de que o todo depende das partes, assim como as partes dependem do todo para serem eficazes.
O currículo escolar é mínimo e fragmentado. Na maioria das vezes, peca tanto quantitativa como qualitativamente. Não oferece, através de suas disciplinas, a visão do todo, do curso e do conhecimento uno, nem favorece a comunicação e o diálogo entre os saberes; dito de outra forma, as disciplinas com seus programas e conteúdos não se integram ou complementam, dificultando a perspectiva de conjunto e de globalização, que favorece a aprendizagem (Petraglia, 2001, p. 69).
É crucial não desconsiderar o progresso alcançado pelo pensamento disciplinar, mas também é fundamental não considerá-lo como a única abordagem válida para o desenvolvimento. O inverso também é verdadeiro: não se pode avaliar uma ideia ampla sem reconhecer que ela é composta por diversos elementos interconectados. Portanto, é essencial encontrar maneiras de reunir conhecimento, estabelecer conexões entre as diversas áreas e criar fluxos que possam circular entre, dentro e através dos domínios do saber.
O pensamento de Morin (1998) desempenha papel crucial ao esclarecer e destacar a relevância da perspectiva da complexidade na integração e conexão dos conhecimentos disciplinares. Por meio desse enfoque, torna-se possível compreender efetivamente o todo. Simultaneamente, a complexidade chama atenção para a necessidade de respeitar as diversas dimensões da existência humana, destacando a incompletude e a incerteza como aspectos fundamentais na exploração desse pensamento.
Nesse contexto, é imperativo compreender que a abordagem da complexidade, por si só, apresenta um desafio inicial: contemplar o ser humano em suas múltiplas dimensões, navegando entre objetividade e subjetividade, abordando questões relativas a si mesmo, à vida e ao mundo, e conciliando o ser (no sentido humano) com o ter (no sentido material). À luz dessas considerações, é crucial situar o ensino de Ciências Biológicas e reconhecer como sua abordagem está intrinsecamente permeada pela complexidade (Santos, 2008).
Diante do exposto, o objetivo do presente artigo é discutir os principais pontos da Teoria da Complexidade de Edgar Morin aplicados ao ensino em Biociências, abordando os seguintes aspectos teóricos:
- pensamento multidimensional;
- pensamento dialógico;
- princípio da incerteza e da ambiguidade; e
- pensamento ecológico.
Pensamento multidimensional
O pensamento multidimensional de Edgar Morin, também conhecido como "pensamento complexo", desempenha papel fundamental nas Biociências, aplicando-se de diversas maneiras para abordar questões intrincadas e interconectadas relacionadas à vida, às ciências biológicas e à saúde.
Uma das principais contribuições do pensamento complexo é promover uma abordagem holística na análise de sistemas vivos. Isso significa considerar não apenas os componentes individuais, mas também as dinâmicas e interações entre eles. Nas biociências, essa perspectiva é essencial para compreender sistemas complexos, como ecossistemas, em que organismos, ambiente e processos estão intrinsecamente interligados.
Além disso, o pensamento complexo incentiva a interdisciplinaridade. Os biólogos são encorajados a colaborar com cientistas de outras áreas, como física, química, sociologia e ética, reconhecendo que questões complexas muitas vezes requerem múltiplas perspectivas para uma compreensão completa (Morin, 2001).
Uma característica importante do pensamento complexo é a aceitação da incerteza. Nas biociências, isso implica reconhecer que o estudo da vida é frequentemente marcado pela variabilidade e pela falta de previsibilidade absoluta. Isso é particularmente relevante ao lidar com fenômenos biológicos, como dinâmicas populacionais ou respostas de organismos a mudanças ambientais.
Além disso, o pensamento complexo destaca a importância de considerar o contexto social e ético em questões científicas. Nas biociências, isso envolve avaliar as implicações sociais e éticas das descobertas e aplicações biológicas, como edição genética, clonagem ou pesquisa com células-tronco.
Outro aspecto crucial é a ênfase na não linearidade. Isso significa reconhecer que mudanças em um sistema podem ter efeitos imprevisíveis e desproporcionais. Nas biociências, isso se aplica ao estudo de reações metabólicas, interações entre espécies e o comportamento de sistemas biológicos dinâmicos.
O pensamento multidimensional de Morin também enfatiza a natureza interconectada da vida, destacando as interações entre todas as formas de vida e seu ambiente. Isso promove uma compreensão mais profunda dos ecossistemas e da importância da biodiversidade para a estabilidade dos sistemas vivos. Por sua vez, no Ensino de Biociências, constitui uma estratégia pedagógica valiosa que pode enriquecer a compreensão dos alunos sobre conceitos e processos biológicos. Ao adotar essa abordagem, os educadores buscam promover uma compreensão mais profunda e holística da Biociência, incentivando os alunos a considerar a complexidade e a interconexão inerentes aos sistemas vivos.
A abordagem holística, já discutida anteriormente, implica que os alunos não devem apenas analisar os componentes individuais dos sistemas biológicos, mas também compreender como esses componentes interagem e formam sistemas completos. Em outras palavras, é importante enxergar a Biociência como um campo que estuda não apenas as partes, mas também as relações e interações entre elas, em diversos níveis de organização, desde o molecular até o do ecossistema.
Além disso, o ensino de Biociências baseado no pensamento multidimensional de Morin promove a interdisciplinaridade. Os alunos são incentivados a explorar como a Biociência está intrinsecamente ligada a outras disciplinas, como Química, Física, Matemática, Ética, Sociologia e Filosofia. Isso ajuda a compreender que a Biociência não existe isoladamente, mas sim que está integrada a uma rede de conhecimento interdisciplinar.
O pensamento de Morin também enfatiza a aceitação da incerteza e da complexidade na Biociência. Os alunos são encorajados a reconhecer que muitas questões biológicas não têm respostas simples ou definitivas. A Biociência frequentemente lida com sistemas complexos, nos quais várias variáveis e fatores interagem, tornando impossível prever todos os resultados com certeza (Morin, 2003). Isso ajuda os alunos a desenvolver uma abordagem mais flexível e adaptável à ciência, preparando-os para lidar com problemas e desafios do mundo real, que são inerentemente complexos.
Além disso, o contexto social e ético é incorporado ao Ensino de Biociências com base no pensamento de Morin. Os alunos são encorajados a explorar como descobertas e aplicações biológicas afetam a sociedade, a ética, o meio ambiente e as políticas públicas. Isso contribui para a conscientização sobre as implicações mais amplas da Biociência e os prepara para tomar decisões informadas e éticas em relação a questões biológicas.
Outro aspecto importante é a ênfase na não linearidade. Os alunos são apresentados a exemplos de fenômenos biológicos nos quais mudanças em um sistema não seguem uma progressão linear previsível. Isso os ajuda a compreender a complexidade das interações biológicas e a considerar como fatores não lineares podem influenciar os resultados na Biociência.
Pensamento dialógico
A aplicação do pensamento dialógico de Edgar Morin ao ensino de Biociências promove uma abordagem mais integrada e enriquecedora para o aprendizado nessa área. Essa perspectiva envolve a integração de disciplinas, incentivando o diálogo entre Biociência, Química, Física e outras áreas, destacando as interconexões e buscando uma compreensão holística dos fenômenos biológicos (Ribeiro, 2011).
O pensamento dialógico também se reflete na participação ativa dos alunos, estimulando discussões em sala de aula, atividades em grupo e projetos colaborativos. Isso cria um ambiente dinâmico de aprendizado, no qual os estudantes compartilham ideias, exploram diferentes perspectivas e constroem conhecimento coletivamente.
Além disso, o ensino de Biociências sob a perspectiva dialógica envolve uma abordagem contextualizada, conectando conceitos biológicos a questões éticas, sociais e ambientais. Reconhece-se a complexidade dos sistemas biológicos, incentivando os alunos a pensar criticamente sobre a natureza interconectada da vida.
A interdisciplinaridade desempenha papel crucial, com a colaboração entre biólogos, químicos, físicos, profissionais da ética e outras áreas para abordar desafios complexos relacionados à saúde, ao meio ambiente e à biotecnologia.
O pensamento dialógico no ensino de Biociências implica a valorização da diversidade de perspectivas, expondo os alunos a diferentes teorias, abordagens e descobertas científicas. Isso cria um ambiente de aprendizado mais aberto, no qual os estudantes são incentivados a explorar, questionar e construir conhecimento colaborativamente.
Princípio da incerteza e ambiguidade
Ao incorporar os princípios de incerteza e ambiguidade, conforme entendidos no pensamento complexo de Edgar Morin, ao ensino de Biociências, é possível adotar uma abordagem que reconhece a natureza interconectada e multifacetada da Biociência. Isso implica encorajar os alunos a visualizar os conceitos biológicos de maneira holística, compreendendo as complexas interações desde o nível molecular até o ecossistêmico.
Uma ênfase especial deve ser dada à aceitação da incerteza e da ambiguidade inerentes à Biociência, abordando temas como interpretação de dados, complexidade de sistemas biológicos e a dinâmica da pesquisa científica. Isso permite uma compreensão mais realista da natureza da ciência biológica, que frequentemente lida com fenômenos complexos e em constante evolução.
A integração do pensamento sistêmico no ensino de Biociências é crucial, pois auxilia os alunos a desenvolver uma perspectiva interconectada dos fenômenos biológicos. Promover uma abordagem interdisciplinar, conectando conceitos biológicos a outras disciplinas, como ética, sociologia e economia, alinha-se à visão de Morin de que a complexidade muitas vezes requer uma compreensão que transcende fronteiras disciplinares.
A promoção do diálogo em sala de aula é fundamental, incentivando os alunos a discutir diferentes perspectivas e considerar interpretações diversas dos fenômenos biológicos. Atividades colaborativas contribuem para a construção de uma compreensão mais rica e contextualizada.
Incentivar a reflexão crítica sobre as limitações do conhecimento biológico atual, incluindo discussões sobre lacunas na compreensão, a evolução de teorias e a influência de fatores externos na pesquisa científica, contribui para um ensino mais reflexivo.
Além disso, é importante contextualizar ética e socialmente os conceitos biológicos, explorando questões éticas e sociais relacionadas à Biociência. Essa abordagem prepara os alunos para enfrentar desafios científicos e éticos de maneira informada e crítica, promovendo uma compreensão mais profunda e contextualizada da Biociência.
Pensamento ecológico
A incorporação do pensamento ecológico de Edgar Morin ao ensino de Biociências propicia uma abordagem pedagógica holística, destacando as intricadas interconexões entre os sistemas biológicos e o meio ambiente. Ao aplicar esses princípios no contexto educacional de Biociências, os educadores têm a oportunidade de cultivar uma compreensão mais profunda e integrada da vida e de sua relação intrínseca com o ambiente (Pádua, 2008).
Uma estratégia prática consiste em enfocar a visão sistêmica, introduzindo a ideia de que os fenômenos biológicos não existem isoladamente, mas como partes de sistemas interdependentes. Ao explorar as relações entre organismos, comunidades e ambientes, os alunos podem adquirir uma compreensão mais completa dos ecossistemas.
Outro ponto importante envolve o estudo da biodiversidade, ressaltando sua importância como indicador da saúde ecológica. Os conceitos de interdependência entre espécies, cadeias alimentares e redes tróficas podem ser explorados para proporcionar uma visão mais abrangente dos ecossistemas.
A abordagem transdisciplinar também se mostra relevante, conectando conceitos biológicos a disciplinas como geografia, química e ética ambiental. Essa integração reflete a interdisciplinaridade inerente ao pensamento ecológico de Morin.
Incentivar o desenvolvimento do pensamento crítico é fundamental. Os alunos devem ser encorajados a questionar e refletir sobre as complexas relações entre a atividade humana, os sistemas biológicos e o ambiente, estimulando a busca por soluções para desafios ecológicos.
Além disso, a abordagem ética deve ser incorporada, promovendo discussões sobre questões como experimentação em animais, manipulação genética e uso sustentável dos recursos biológicos. Isso contribui para a construção de uma consciência ética na tomada de decisões no âmbito das biociências.
Ao destacar práticas sustentáveis e exemplos concretos de agricultura sustentável, conservação de recursos naturais e manejo ecológico, os educadores podem ilustrar como a aplicação prática desses princípios se alinha aos fundamentos do pensamento ecológico.
A promoção de atividades práticas, como exploração de ambientes naturais, observações de campo e participação em projetos de conservação, oferece aos alunos uma vivência direta, fortalecendo a conexão entre teoria e prática e fomentando uma compreensão mais aprofundada dos conceitos ecológicos.
Assim, ao incorporar o pensamento ecológico de Morin ao ensino de Biociências, os educadores têm a oportunidade de inspirar uma nova geração de estudantes, capacitando-os a abordar questões biológicas com uma mentalidade holística e sustentável, promovendo a compreensão das interconexões vitais entre a vida e o ambiente.
Teoria da Complexidade e formação de professores
A incorporação do pensamento complexo na formação inicial e continuada de professores demanda uma profunda revisão das concepções tradicionais que ainda predominam nos processos formativos. Como destaca Silva (2009), a formação docente se constitui como um campo marcado pela complexidade, onde se entrelaçam saberes teóricos e práticos que não podem ser compreendidos de maneira dissociada. A autora enfatiza que a superação da fragmentação entre teoria e prática é essencial para que o professor desenvolva competências que o habilitem a lidar com a imprevisibilidade e a incerteza características dos contextos educativos contemporâneos. Assim, a formação precisa valorizar processos que considerem a pluralidade de saberes, a interdisciplinaridade e a capacidade de refletir criticamente sobre a própria prática.
Nesse sentido, Behrens (2007) argumenta que o paradigma da complexidade representa uma mudança fundamental na forma como se concebe a formação e o desenvolvimento profissional dos professores, especialmente no âmbito universitário. Para a autora, esse paradigma implica reconhecer a inter-relação entre diferentes áreas do conhecimento e romper com a lógica linear e compartimentalizada que historicamente estruturou os processos educativos. Behrens defende que a formação docente deve promover uma postura investigativa e reflexiva, estimulando o professor a atuar como mediador de aprendizagens em contextos marcados pela diversidade e pela multiplicidade de saberes.
Diante dessas perspectivas, é possível afirmar que a formação inicial e continuada orientada pela complexidade deve favorecer o desenvolvimento de competências relacionadas ao pensamento sistêmico, à abertura epistemológica e à disposição para o diálogo interdisciplinar. No entanto, esse processo formativo enfrenta diversos desafios, tais como a resistência a mudanças, a ausência de políticas institucionais que valorizem práticas interdisciplinares e a carência de espaços que promovam a reflexão crítica e colaborativa entre os docentes.
Além disso, tanto Silva (2009) quanto Behrens (2007) destacam que a formação docente não pode se restringir à aquisição de conteúdos ou técnicas pedagógicas, devendo ser concebida como um processo contínuo e dinâmico de construção de saberes, permeado por experiências concretas e pelo enfrentamento das tensões inerentes à prática educativa. Assim, incorporar o pensamento complexo na formação de professores significa reconhecer a necessidade de uma formação integral, que articule dimensões cognitivas, éticas, afetivas e sociais, preparando o educador para atuar em um mundo cada vez mais interconectado e incerto.
Considerações finais
A abordagem de Morin apresenta avanços significativos ao enfatizar a necessidade de romper com modelos reducionistas e simplificadores, promovendo uma visão de mundo mais integrada, dialógica e transdisciplinar. Destacam-se como avanços a valorização da incerteza como motor do conhecimento científico, a abertura ao diálogo entre diferentes saberes e a articulação entre dimensões éticas, sociais e ambientais dos fenômenos biológicos. Com isso, o ensino se orienta para formar cidadãos críticos, capazes de compreender e intervir de maneira responsável nas complexas questões contemporâneas, como as mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade.
Além da dimensão teórica, é importante indicar implicações práticas para a formação de professores e para o currículo escolar. No âmbito da formação inicial e continuada de docentes, torna-se indispensável inserir discussões e vivências pautadas na complexidade, favorecendo o desenvolvimento de competências como flexibilidade cognitiva, pensamento sistêmico e abertura ao diálogo interdisciplinar. Isso pode ser concretizado, por exemplo, por meio de atividades de planejamento curricular integradas entre áreas, oficinas sobre análise de sistemas complexos e estudos de caso envolvendo problemas socioambientais reais.
No currículo escolar, a incorporação da Teoria da Complexidade implica uma revisão das propostas pedagógicas, com ênfase em projetos interdisciplinares, valorização da investigação científica, promoção de debates éticos e estímulo ao protagonismo estudantil. Tal perspectiva contribui para superar a fragmentação tradicional dos conteúdos científicos, promovendo aprendizagens mais significativas e contextualizadas.
Referências
BEHRENS, Marilda. O paradigma da complexidade na formação e no desenvolvimento profissional de professores universitários. Educação PUCRS, v. 30, nº 63, p. 439-455, 2007.
ESTRADA, Adrian Alvarez. Os fundamentos da Teoria da Complexidade em Edgar Morin. Akrópolis - Revista de Ciências Humanas da Unipar, v. 17, nº 2, 2009.
MORIN, Edgar. Da necessidade de um pensamento complexo. In: MENDES, Candido (org.). Representação e complexidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2003. p. 69-77.
MORIN, Edgar. O método 4. As ideias. Trad. Juremir Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 1998.
MORIN, Edgar. Os desafios da complexidade. In: MORIN, E. (org.). A religação dos saberes. O desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 559-567.
PÁDUA, Elisabete Matallo Marchesini. Complexidade e meio ambiente: um estudo sobre a contribuição de Edgar Morin. In: PÁDUA, Elisabete M. M.; MATALLO Jr., Heitor. Ciências sociais, complexidade e meio ambiente: interfaces e desafios. Campinas: Papirus, 2008.
PETRAGLIA, I. C. A educação e a complexidade do ser e do saber. 5ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
RIBEIRO, Flávia Nascimento. Edgar Morin, o pensamento complexo e a educação. Pró-Discente, v. 17, nº 2, 2011.
SANTOS, Akiko. Complexidade e transdisciplinaridade em educação: cinco princípios para resgatar o elo perdido. Revista Brasileira de Educação, v. 13, nº 37, p. 71-83, 2008.
SILVA, Bruno Pedroso Lima. A Teoria da Complexidade e o seu princípio educativo: as ideias educacionais de Edgar Morin. Revista Polyphonía, v. 22, nº 2, 2011.
SILVA, Marilda. Complexidade da formação de professores: saberes teóricos e saberes práticos. São Paulo: Editora Unesp, 2009.
Publicado em 20 de agosto de 2025
Como citar este artigo (ABNT)
TOMAZINI, Maíra Fagundes; AZEVEDO, Hugo José C. C. de. A Teoria da Complexidade de Edgar Morin: um olhar para o ensino em Biociências. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 31, 20 de agosto de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/28/a-teoria-da-complexidade-de-edgar-morin-um-olhar-para-o-ensino-em-biociencias
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.