Musicalização como ferramenta pedagógica na Educação Infantil através do uso da tecnologia digital: uma preliminar de pesquisa
Débora de Oliveira Santos
Mestra em Novas Tecnologias Digitais na Educação (UniCarioca), professora regente de Educação Infantil na rede municipal de educação de Niterói
Rosa Lidice de Moraes Valim
Doutora em Psicossociologia (Eicos/UFRJ), docente do Mestrado Profissional em Novas Tecnologias Digitais na Educação da UniCarioca
Regina Célia Pereira de Moraes
Doutora em Engenharia de Sistemas e Computação (Coppe/UFRJ), docente do Mestrado Profissional em Novas Tecnologias Digitais na Educação da UniCarioca
Este artigo debruça-se sobre o tema musicalização como ferramenta pedagógica na Educação Infantil através do uso da tecnologia digital. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2017), o momento de musicalização pode contribuir para o desenvolvimento de uma escola mais interativa e inclusiva, tendo a música papel de destaque nesta etapa. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 2022) e os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Brasil, 1998) definem a música como uma das linguagens a serem desenvolvidas na primeira etapa da Educação Básica. Atividades como ouvir música, aprender ou compor canções, brincar de roda e construir brinquedos rítmicos despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical. No cenário educacional brasileiro, a Educação Infantil é considerada a primeira etapa da Educação Básica, visando ao desenvolvimento integral da criança até os cinco anos em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (Brasil, 2022, p. 23).
O movimento de reconhecimento da criança como sujeito histórico e de direitos destaca seu direito a uma educação de qualidade, com oportunidades que dialoguem com as transformações da sociedade contemporânea, como as possibilidades de enriquecimento do processo de ensino-aprendizagem pelas novas tecnologias, considerando que as crianças já nascem imersas em novas perspectivas e padrões sociais que as influenciam fortemente. As informações recebidas no dia a dia pelas crianças impactam a aprendizagem no ambiente escolar, tornando desafiadora a definição de técnicas e de recursos positivos e significativos no processo de ensino-aprendizagem.
A musicalização na rotina da Educação Infantil envolve um conjunto de atividades que busca sensibilizar e ampliar o repertório musical das crianças, incentivando-as a participar de forma ativa e criativa, permitindo que som, ritmo, melodia, harmonia e movimento ampliem a descoberta e a vivência do corpo. Para Teca de Alencar Brito, a música é uma linguagem lógica que, quando atrelada ao jogo, não se limita ao ganhar ou perder, fundamentando-se na experiência e no simbólico. Dessa forma, a autora relaciona a música a processos criativos, que conceitua como "ideias musicais". Ela ressalta a importância de, em vez de compartilhar apenas aquilo que já está pronto, permitir que bebês e crianças experimentem, explorando gestos e possibilidades de produção sonora, reinventando a música e o acontecimento musical em si (Brito, 2019, p. 45).
Assim, questiona-se: como inserir a música no cotidiano escolar de forma prazerosa e significativa para a criança, utilizando a tecnologia digital (podcast) como ferramenta para potencializar o desenvolvimento das múltiplas linguagens proporcionadas pela música na Educação Infantil?
Acredita-se que a inserção da música por meio do uso do podcast pode contribuir para uma aprendizagem mais significativa, prazerosa e interativa, colaborando na construção de habilidades e de competências, valorizando o papel ativo da criança. "A criança, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico" (Brasil, 1998, p. 21), e reconhecer a criança como sujeito requer refletir sobre seu direito a uma educação de qualidade, utilizando novas tecnologias que dialoguem com as transformações sociais e educacionais atuais.
Nesse sentido, este artigo apresenta e reflete sobre dados de uma preliminar de pesquisa que compreendeu aspectos de campo e precedeu a pesquisa de Mestrado sobre a inserção da música como ferramenta pedagógica e facilitadora para o desenvolvimento das múltiplas linguagens na Educação Infantil, por meio do uso do podcast.
É importante que o educador compreenda a educação como potencializadora da capacidade da criança de interagir com o mundo, dedicando-se a práticas pedagógicas atualizadas e inovadoras que dialoguem com a expressividade infantil, afastando-se de padrões rígidos pouco favoráveis ao seu desenvolvimento integral. Kenski (2015, p. 43) observa que "a tecnologia também é essencial para a educação, ou melhor, educação e tecnologias são indissociáveis". O uso das tecnologias digitais no processo de ensino-aprendizagem é irreversível, criando expectativas em relação aos professores, que devem inovar e se adaptar às necessidades desta nova geração.
Metodologia
A Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016, elaborada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), no Art. 2º, item XII, esclarece que as etapas preliminares de uma pesquisa viabilizam ao pesquisador a possibilidade de averiguação das condições e das possibilidades para a sua realização. Preliminares de pesquisa pressupõem "investigação documental e contatos diretos com possíveis participantes, sem sua identificação e sem o registro público e formal das informações assim obtidas" (Brasil, 2016, p. 2). Ressalta-se que este artigo vincula-se a uma dissertação de Mestrado, tramitada na Plataforma Brasil, com contornos de campo aprovados pelo Comitê de Ética da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ), sob o Parecer nº 6.712.883.
Considerando o exposto, este artigo apresenta os dados de uma preliminar de pesquisa que se consolidou a partir de cinco conversas com professoras que atuam na Educação Infantil em diferentes municípios do Estado do Rio de Janeiro (Niterói, São Gonçalo e Maricá). Essas conversas ocorreram em formato on-line, por meios de comunicação diversos (Google Forms, e-mail e WhatsApp), de acordo com a preferência e a disponibilidade de cada participante, durante a segunda quinzena de outubro de 2023. Com as devolutivas, buscou-se identificar pontos significativos sobre a importância da musicalização de forma lúdica, prazerosa e significativa para as crianças.
O diálogo com professoras de diferentes municípios foi proposital, buscando histórias e pontos de vista variados sobre o tema. As participantes demonstraram interesse em colaborar com a preliminar de pesquisa, sendo as conversas concluídas em quinze dias, conforme previsto pela pesquisadora. Das cinco professoras, apenas uma atua na mesma instituição da pesquisadora. As demais trabalharam com ela por um período curto, no máximo um ano, o que demonstrou que a pesquisadora não tinha contato recente com essas profissionais. Não houve modelagem prévia do que seria conversado; no entanto, a partir da conversa inicial com a primeira professora, algumas reflexões foram anotadas para facilitar o diálogo com as demais, considerando as dificuldades de tempo.
A análise dos dados seguiu os seguintes passos: (1) pré-análise do material, organizando os dados da preliminar de pesquisa; (2) exploração do material organizado, criando unidades de análise; e (3) realização de inferências baseadas nas unidades identificadas. Na pré-análise, houve leitura do material coletado, identificação de ideias centrais e de conceitos presentes, seleção de trechos para análise e definição das categorias ou unidades de análise. Durante a exploração do material, realizou-se a categorização das unidades. No tratamento dos resultados, interpretaram-se os dados, identificando padrões e tendências. Por fim, os resultados foram apresentados e discutidos, relacionando-os ao material bibliográfico pertinente.
Dados das conversas da preliminar de pesquisa
A seguir, apresenta-se o registro das cinco conversas realizadas durante a preliminar de pesquisa. Os diálogos seguiram todos os cuidados éticos propostos pela Resolução nº 466/2012 e pela Resolução nº 510/2016, ambas do Conselho Nacional de Saúde (Brasil, 2012; Brasil, 2016). As professoras participantes foram identificadas da seguinte forma: Professora 1 (P1), Professora 2 (P2), Professora 3 (P3), Professora 4 (P4) e Professora 5 (P5).
Quadro 1: Anotação das conversas
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Anotações da conversa com Px |
P1 |
Sobre P1: Atua na sala de recursos multifuncionais com crianças do pré ao 9º ano e como professora orientadora pedagógica no Ensino Fundamental I, no município de São Gonçalo. Demonstra satisfação no desempenho profissional e, ao ser convidada a participar da preliminar de pesquisa, interessou-se pelo tema, considerando sua atuação com crianças com deficiência. Relatou agenda cheia, pois em três dias da semana atua em três turnos, solicitando o envio das perguntas por e-mail para responder com calma em casa, no final de semana, ou no horário de almoço no trabalho. |
Anotações da conversa com P1:
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P2 |
Sobre P2: Atua como orientadora educacional e supervisora há 20 anos na rede de Niterói. Atuou por anos na Educação Infantil (aposentou-se como professora) e, ao ser convidada a participar desta preliminar de pesquisa, interessou-se pelo tema. Está realizando doutorado e pediu que as perguntas fossem enviadas por e-mail para responder com calma em momento oportuno. |
Anotações da conversa com P2:
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P3 |
Sobre P3: Atua como diretora geral de Educação Infantil no município de Maricá. Ao ser convidada a participar da preliminar de pesquisa, esforçou-se para responder, apesar das muitas demandas de trabalho e pessoais, preferindo receber e enviar as respostas por WhatsApp. |
Anotações da conversa com P3:
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P4 |
Sobre P4: Atua como professora de Educação Infantil no município de Niterói. Ao ser convidada a participar da preliminar de pesquisa interessou-se. Respondei rapidamente. Atua na mesma escola da pesquisadora, dessa forma, parte da conversa se deu presencialmente o que contribuiu nas demais reflexões que se deram nas 10 perguntas enviadas para as demais professoras. |
Anotações da conversa com P4:
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P5 |
Sobre P5: Professora de Educação Infantil no município de Niterói, está no final do segundo ano de licença sem vencimentos concedida pela Fundação Municipal de Educação (FME/Niterói) para tratar de assuntos pessoais fora do país. Demonstrou empolgação ao participar da pesquisa, por ter relação íntima com a música e paixão pela profissão, solicitando as perguntas por e-mail e enviando áudios pelo WhatsApp para complementar as respostas. |
Anotações da conversa com P5:
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Esta preliminar de pesquisa proporcionou melhor compreensão sobre a visão das professoras, que atuam em diferentes municípios, a respeito da inserção da musicalização como ferramenta pedagógica na Educação Infantil. A seguir, apresenta-se a análise dos dados mencionados acima.
Análise dos dados
Foi realizada a pré-análise do material coletado na preliminar de pesquisa, o que possibilitou a organização dos dados, conforme evidenciado no Quadro 1. Na sequência, procedeu-se à organização do material, da qual emergiram unidades de análise, apresentadas no Quadro 2, a seguir. Após o Quadro 2, são apresentadas as inferências, balizadas pelas unidades de análise identificadas. Neste momento, os resultados foram discutidos e relacionados ao material bibliográfico pertinente.
Quadro 2: Achados das conversas relativas à preliminar de pesquisa
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Achados mais relevantes das conversas (fase preliminar) |
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Constatou-se, com base nos dados acima, a necessidade de considerar três categorias para as inferências:
- dedicar um certo espaço de tempo da aula à movimentação do corpo de forma orientada, dada a importância dos corpos em movimento;
- inserir, em alguns momentos da aula, processos criativos com podcasts, considerando o impacto das tecnologias digitais no cotidiano das crianças e a naturalidade com que navegam no ambiente digital (a ideia é deixá-las mais à vontade); e
- a importância de dedicar um tempo de aula a exercícios de paródia em grupo e posterior apresentação das paródias (músicas trabalhadas com as crianças que depois seriam parodiadas a partir de parâmetros propostos pela professora, projeto ou plano de ensino). Tais categorias foram, inclusive, estruturantes do campo que se desenrolou posteriormente (os dados desse campo não estão aqui apresentados, uma vez que este artigo tem como objetivo apresentar os dados da preliminar de pesquisa anterior ao campo).
Sobre a necessidade de (1) dedicar um certo espaço de tempo da aula à movimentação do corpo de forma orientada, ressalta-se: faz-se mister trabalhar os conteúdos musicais em contextos que estimulem o desenvolvimento infantil. Além disso, existe a possibilidade de trabalhar músicas utilizando conteúdos cênicos para desenvolver diversas formas de expressão (Brietzke et al., 2023). Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Brasil, 1998), em suas orientações didáticas, destacam que "importa que todos os conteúdos sejam trabalhados em situações expressivas e significativas para as crianças, tendo-se o cuidado fundamental de não os tornar como fins em si mesmos" (Brasil, 1998, p. 60). Os Referenciais Curriculares da Educação Infantil (RCEI) da Rede Municipal de Educação de Niterói contemplam, em sua Parte II, capítulo 6, orientações sobre a composição curricular das múltiplas linguagens, reafirmando que:
Tendo em vista que, desde o ventre, as crianças são expostas a sons que são por elas percebidos, gerando reações e interações, a linguagem musical faz parte da escola de Educação Infantil de forma relevante e contínua. Isso implica rever práticas em que a música serve apenas para a moralização, normatização, disciplinarização dos corpos e seu silenciamento (RCEI-Niterói, 2022).
O documento ressalta a relevância da linguagem musical no cotidiano da Educação Infantil como instrumento efetivo para a construção de aprendizagens por meio de propostas pedagógicas que promovam o desenvolvimento integral da criança, e não como produto pronto ou de mera reprodução.
Em relação ao segundo elemento encontrado nos "achados" das conversas da preliminar de pesquisa, (2) inserir, em alguns momentos da aula, processos criativos com podcasts, considerando o impacto das tecnologias digitais no cotidiano das crianças e a naturalidade com que navegam no ambiente digital, tem-se que as experiências adquiridas na primeira infância, período que vai do nascimento até os seis anos de idade, são fundamentais para o desenvolvimento humano. Práticas dessa natureza promovem espaços saudáveis para a exploração de recursos disponíveis na escola e, ao mesmo tempo, por meio de recursos tecnológicos, viabilizam o manuseio de sons em processos de criação, esperando-se, entre outros aspectos, o desenvolvimento da criatividade (Lima et al., 2023).
Partindo da análise das concepções contidas nos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Brasil, 1998) e das orientações didáticas do referido documento, considerando sua importância não apenas para a área de Música, mas também para outras linguagens artísticas, ao abordar a música como "linguagem" em sentido amplo, se comparada às práticas usuais no cotidiano escolar, pode-se refletir sobre como a música tem sido executada de maneira pouco significativa, tanto em seus conteúdos quanto em seus objetivos, devido ao fato de muitos professores não possuírem formação especializada em música.
Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Brasil, 1998) apontam que:
a música no contexto da Educação Infantil vem, ao longo de sua história, atendendo a vários objetivos, alguns dos quais alheios às questões próprias dessa linguagem. Tem sido, em muitos casos, suporte para atender a vários propósitos, como a formação de hábitos, atitudes e comportamentos: lavar as mãos antes do lanche, escovar os dentes, respeitar o farol etc.; a realização de comemorações relativas ao calendário de eventos do ano letivo simbolizados no Dia da Árvore, Dia do Soldado, Dia das Mães etc.; a memorização de conteúdos relativos a números, letras do alfabeto, cores etc., traduzidos em canções. Essas canções costumam ser acompanhadas por gestos corporais, imitados pelas crianças de forma mecânica e estereotipada (Brasil, 1998, p. 47).
Em muitos momentos, o conteúdo relativo à linguagem musical é banalizado ou simplesmente deixado de lado, não tendo a música o devido valor na formação do indivíduo e, consequentemente, não contribuindo de maneira potencializadora para a efetivação do currículo escolar.
A inserção da música por meio do uso da tecnologia digital (podcast) na etapa da Educação Infantil pode contribuir para uma aprendizagem mais significativa, prazerosa e interativa no ambiente escolar, cooperando na construção de habilidades e de competências pautadas no papel ativo da criança. Assim, para uma boa atuação docente, é oportuno que o professor reflita sobre o desenvolvimento infantil e sobre as possibilidades de fortalecimento de uma prática pedagógica transformadora, voltada para a aprendizagem significativa da criança.
Botton, Peripolli e Santos (2017) destacam o podcast como alternativa de ferramenta da cibercultura, com diversas vantagens de utilização, podendo ser aproveitado em diferentes âmbitos e áreas educacionais. O podcast é uma tecnologia de grande relevância no contexto educacional, pela facilidade de acesso rápido por estudantes e por professores, podendo ser baixado em computador ou em celular, ou mesmo acessado sem necessidade de conexão à internet. Por meio dele, professores e discentes podem expor e compartilhar ideias e informações, desenvolver a comunicação, estimular o protagonismo, promover novas experiências e ampliar o vocabulário, entre outros benefícios.
Em relação ao terceiro elemento destacado nos "achados" das conversas, (3) a importância de dedicar um tempo de aula a exercícios de paródia em grupo e posterior apresentação das paródias (músicas trabalhadas com as crianças que depois seriam parodiadas a partir de certos parâmetros propostos pela professora, projeto ou plano de ensino), podemos destacar que a Educação Infantil é o espaço da vida em que a criança pode exercitar sua capacidade de interação com os pares e com todos que a rodeiam, construindo a aprendizagem por meio da brincadeira e da imaginação. Vive-se, hoje, um momento singular na educação, que demanda dos docentes a compreensão de que "é preciso preparar o indivíduo para a vida e para o mundo, deve-se tentar resgatar no aluno a alegria de aprender e na escola a magia de ensinar. Para tanto, se faz necessário lançar mão de todas as ferramentas e instrumentos disponíveis – a música é só mais uma delas" (Almeida; Pereira, 2023, p. 6).
Nesse contexto, é primordial que a escola apresente um ambiente, na sala de aula ou fora dela, que favoreça a construção do conhecimento de maneira autônoma, em interação com o ambiente, com o objeto de aprendizagem e com os pares, permitindo que a criança coloque em prática a inteligência para interpretar e criar, viabilizando meios que cooperem para o desenvolvimento de sua capacidade cognitiva. É relevante que a escola e os profissionais estejam focados na importância do currículo na Primeira Infância, pois o espaço escolar é um ambiente de aprendizagem no qual o professor se encarrega de fazer escolhas pertinentes para que a criança seja estimulada ao aprendizado. Quando a trajetória do "aprender" tem a possibilidade de ser prazerosa, os resultados são mais significativos para o aprendente.
Segundo Brito (2003, p. 74), o contato com a música desperta possibilidades de aprendizagem, cabendo ao professor oferecer caminhos para esse processo. Penna (2014) acrescenta que "a musicalização é um processo em que as potencialidades de cada indivíduo são trabalhadas e preparadas de modo a reagir ao estímulo musical" (Penna, 2014, p. 21). Brito (2019, p. 45) ressalta que "ao invés de compartilhar apenas o que já vem pronto, permitir a experimentação por bebês e crianças, para que explorem gestos e possibilidades de produzir sons, reinventando a música, o acontecimento musical em si mesmo".
Criar uma canção, estimular as crianças a fazer movimentos a partir da música, utilizá-la nas brincadeiras, incentivar palmas, batidas e gestos com as mãos são algumas maneiras prazerosas de utilizar a música no cotidiano da Educação Infantil. Sendo assim, considera-se que, por meio da música, novos caminhos e novas descobertas são possibilitados para o desenvolvimento da autonomia, da integração social, da criatividade e do imaginário, de forma prazerosa e divertida.
Com a tecnologia tão presente e ativa na educação contemporânea, não basta apenas inseri-la; é preciso ter um novo olhar sobre a forma de educar, modificando as metodologias de ensino por meio do domínio das diversas ferramentas digitais do contexto tecnológico, envolvendo transformações pedagógicas na prática e na formação do professor.
Torna-se relevante destacar que a primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil, deve acompanhar as transformações e as inovações da sociedade, considerando que, nessa idade, as crianças já têm acesso às tecnologias, não apenas por meio de jogos e de brincadeiras, mas também como meios de comunicação, os quais oportunizam o desenvolvimento de muitas habilidades na resolução de situações vividas no cotidiano. Ao considerar o uso das tecnologias digitais, Pereira e Lopes (2005, p. 2) afirmam que a escola estará formando "indivíduos mais criativos que estarão adquirindo novos conhecimentos e integrando-se com um novo modo de aprender e de interagir com a sociedade".
Considerações finais
Diante do exposto, evidencia-se que os momentos da rodinha de musicalização na Educação Infantil proporcionam alegria, diversão, engajamento, estímulos e socialização. A música é uma aliada interdisciplinar, pois facilita a compreensão de disciplinas diversas e possibilita a introdução de variados assuntos de forma mais prazerosa e significativa para as crianças. Ela também desempenha função relevante no processo de aprendizagem no ambiente escolar, contribuindo para a integração, a socialização e a descontração, além de colaborar para a inclusão das crianças.
Além disso, destaca-se que a música, aliada à tecnologia digital podcast, desperta nas crianças o interesse em participar de forma mais ativa e criativa em processos de composição musical. O resultado desta preliminar de pesquisa proporcionou uma visão ampliada sobre a necessidade de inserção de momentos de musicalização como ferramenta pedagógica na Educação Infantil, de maneira significativa e otimizada pelo uso das tecnologias digitais. É notório que ainda se constitui como um grande desafio, na atualidade, o "ensinar e aprender" atrelados ao novo modelo de educação, diante de uma geração que recebe intensas informações no dia a dia, as quais influenciam diretamente a aprendizagem no ambiente escolar. Nesse contexto, é urgente que o educador compreenda a educação como potencializadora da capacidade da criança de interagir com o mundo, dedicando-se a práticas pedagógicas atualizadas, inovadoras e que dialoguem com a expressividade infantil.
A preliminar de pesquisa apresentada neste estudo foi essencial para compreender o campo investigado, suas limitações e potencialidades. A partir dos dados obtidos, tornou-se possível desenvolver um trabalho de campo consistente, voltado à inserção da música como ferramenta pedagógica e facilitadora no desenvolvimento das múltiplas linguagens na Educação Infantil, utilizando o podcast como recurso tecnológico de apoio.
Por fim, as informações aqui apresentadas contribuem de forma significativa para o avanço do conhecimento na área, ao ampliarem a compreensão sobre as vivências e os desafios no contexto escolar, possibilitando reflexões críticas fundamentadas e inspirando práticas pedagógicas transformadoras, inclusivas e alinhadas às demandas contemporâneas da Educação Infantil.
Referências
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BOTTON, L. de A.; PERIPOLLI, P. Z.; SANTOS, L. M. A. Podcast – uma ferramenta sob a ótica dos recursos educacionais abertos: apoio ao conhecimento. Redin – Revista Educacional Interdisciplinar, v. 6, nº 1, out. 2017.
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BRIETZKE, M. M.; OLIVEIRA, M. A. W.; PRESGRAVE, F. S. Quatro propostas abertas para fazer música na escola. Música na Educação Básica, v. 12, nº 15, 2023. DOI: https://doi.org/10.33054/MEB121505.
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Publicado em 20 de agosto de 2025
Como citar este artigo (ABNT)
SANTOS, Débora de Oliveira; VALIM, Rosa Lidice de Moraes; MORAES, Regina Célia Pereira de. Musicalização como ferramenta pedagógica na Educação Infantil através do uso da tecnologia digital: uma preliminar de pesquisa. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 31, 20 de agosto de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/31/musicalizacao-como-ferramenta-pedagogica-na-educacao-infantil-atraves-do-uso-da-tecnologia-digital-uma-preliminar-de-pesquisa
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