Roda de conversa na Educação Infantil

Rosileuda dos Santos Araújo

Licenciada em Ciências Biológicas (IFAP) e Pedagogia (Unimais)

Nubia Deborah Caramello

Docente do IFAP, doutora em Geografia (Universidade Autônoma de Barcelona), mestra e graduada em Geografia (UNIR)

Neste trabalho, buscou-se discutir a importância da roda de conversa e do brincar na Educação Infantil, por meio de elementos da brincadeira que garantem a aprendizagem, nos diversos âmbitos, das crianças. Serão, portanto, abordados os aspectos que constituem o brincar: o tempo, o espaço e o papel do educador. Inicialmente, será apresentada a concepção de infância e de criança, seguida da concepção do brincar, bem como a relevância do brincar para o desenvolvimento infantil.

Dessa forma, ao realizar o levantamento de dados em uma instituição de Educação Infantil, o estudo destaca os elementos do brincar que devem fazer parte do planejamento do professor e, assim, garantir um brincar de qualidade. A instituição foi escolhida com a pretensão de vivenciar técnicas pedagógicas voltadas inteiramente para a educação de crianças pequenas ou bem pequenas, justamente por desenvolver um trabalho pedagógico de qualidade e por atribuir ao brincar a importância que essa atividade deve ter.

A partir de critérios específicos, foi selecionada uma instituição pública municipal de Educação Infantil (Creche Arco-Íris), localizada no bairro Sarney, na cidade de Laranjal do Jari/AP que atende crianças de 2 a 4 anos de idade, com cerca de 200 alunos matriculados nos turnos manhã e tarde, não funcionando em período integral. Seu público-alvo é a classe média baixa. Cada sala conta com uma professora e uma auxiliar, e as turmas variam de 12 a 22 alunos.

A justificativa para a realização desta pesquisa está entrelaçada ao percurso profissional da pesquisadora na Educação Infantil e ao interesse em ampliar os conhecimentos relacionados ao objeto de estudo. O intuito é de que, ao realizar este trabalho, seja possível aprofundar a compreensão sobre modos efetivos de participação e interação, considerando que todo ser humano nasce para participar do mundo.

Ao integrar-se à roda de conversa, a criança participa ativamente dos diferentes espaços que ocupa, independentemente de sua idade e competências, sendo necessário reafirmar o que há de específico, único e particular em seu modo de ser e viver humanamente. Historicamente, a criança foi silenciada e teve negado o direito à participação. Por isso, é preciso compreender a participação como condição fundamental para efetivar esse direito.

Assim, falar sobre roda de conversa, interações e brincadeiras remete a recordações significativas, dadas as circunstâncias. É essencial lembrar que a criança é o centro da educação. De acordo com pesquisas recentes, a criança é um ser único e completo, ao mesmo tempo em que continua a crescer e se desenvolver. Embora ainda necessite de cuidados adultos, desde o nascimento já é capaz de interagir com os meios sociais e culturais. Além disso, cada criança apresenta características específicas de acordo com suas experiências, sua etapa de desenvolvimento e seu processo de crescimento.

A roda de conversa é, de fato, um mecanismo de interação no qual ocorre a contação de histórias, a musicalização e outras atividades. A narração é um recurso por meio do qual construímos nossa identidade, compreendemos o passado e projetamos o futuro. Na mesma proporção em que ouvimos histórias, desenvolvemos o gosto pela descoberta do novo e do desconhecido, colocando o aluno como protagonista do seu conhecimento.

Acredita-se, portanto, que a educação só é efetiva se feita em parceria, e a primeira delas precisa ocorrer entre professor e aluno, quando o professor se apropria dos conhecimentos prévios do estudante para, juntos, construírem novos saberes. Nesse sentido, as rodas de conversa configuram-se como espaços de abertura, em que surgem as primeiras faíscas do conhecimento, onde a essência de cada indivíduo pode ser extraída e transformada em aprendizado.

Com base nessas premissas, a pesquisa foi dividida em três seções:

  1. Fundamentos metodológicos da Educação Infantil, em que se enfatiza a importância de construir, no processo de mediação do conhecimento, o protagonismo da criança em constante desenvolvimento consigo mesma e com o mundo;
  2. A roda de conversa na ressignificação do conhecimento, que busca esclarecer teoricamente o movimento proposto pela pesquisa, evidenciando cientificamente o processo de construção do conhecimento por meio da mediação dialógica entre educador e educando;
  3. O brincar, a rotina e a aprendizagem na Educação Infantil, que tem como objetivo compreender a mediação do conhecimento dialógico e o processo de interação proporcionado pelo brincar, desenvolvendo funções específicas do pensamento vinculadas às práticas pedagógicas.

Fundamentos metodológicos da Educação Infantil

O presente trabalho apresenta a roda de conversa como instrumento metodológico, pois ela abre espaço para que os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem estabeleçam um ambiente de diálogo e interação no contexto escolar, ampliando suas percepções sobre si e sobre o outro, em um movimento de compreensão da voz do outro em seu contínuo espaço de tempo. Comênio afirma que

o cultivo dos sentidos e da imaginação precedia o desenvolvimento do lado racional da criança. Impressões sensoriais advindas da experiencia com manuseio de objetos seriam internalizados e futuramente interpretados pala razão". Evidenciando desse modo os propósitos de desenvolvimento do raciocínio lógico e do espirito científico, que implicaria na formação do homem religioso, social, racional, afetivo e moral (Oliveira, 2007, p. 64). 

Quando buscamos inter-relações nos espaços e tempos educativos, observamos práticas fortemente marcadas pela disciplina, que consolidam rotinas, horários, uso de ambientes e materiais. Torna-se necessário refletir sobre a criação e a abertura de canais que permitam manifestações por parte das crianças, o que indicaria mudanças.

Podemos propor, como exemplo, atitudes mais flexíveis e estruturadas, com base em um plano de trabalho construído coletivamente, que contemple a escuta das crianças em diálogo com as proposições da professora, atendendo às demandas dos trabalhos a serem concluídos. Tal plano incorporaria, portanto, o inusitado, o imprevisto e o imprevisível.

Instrumental importante do educador é o ver, o escutar e o falar. Assim como para estar vivo não basta só o coração batendo, para ver não basta estar de olhos abertos. A observação faz parte da aprendizagem do olhar, que é uma ação altamente movimentada e reflexiva. Ver é buscar, tentar compreender, ter desejo. Através do seu olhar o educador também lança o seu desejo para o outro. Para escutar, não basta também, só ter ouvidos. Escutar envolve receber o ponto de vista do outro, abrir-se para o entendimento da sua hipótese, identificar com sua hipótese para compreensão do desejo. Para falar, não basta ter boca, é necessário ter um desejo para comunicar; pois tudo o desejo pode, busca comunicação com o outro (Freire,1992, p. 11).

A roda de conversa na Educação Infantil contribui diretamente para o desenvolvimento e a autonomia da criança, uma vez que é por meio dessa dinâmica que o aprendizado acontece de forma lúdica e prazerosa. A interação entre crianças e professores configura-se como uma técnica eficiente na construção de saberes. Ao interagir, a criança brinca; e, quando brinca, aprende: "A criança descobre os próprios gestos e os repete em busca de efeitos" (Piaget, 1978).

Na Educação Infantil, a criança amplia suas relações sociais, interage e constrói conhecimentos. Ao brincar, ela explora o novo, pois o brincar é um ato de construção. A criatividade é fundamental para a sobrevivência humana, pois é através dela que aprendemos a interagir e desenvolver habilidades cognitivas, motoras e mentais. É brincando que a criança explora as relações; ao explorar, cria e desenvolve atitudes de respeito e solidariedade.

De acordo com Piaget (1978), as atividades lúdicas sensibilizam, socializam e conscientizam a criança, destacando-se a importância de que sejam aplicadas em diversas fases do aprendizado infantil. Logo, a relevância do uso da roda de conversa, das interações e das brincadeiras para a aprendizagem está diretamente ligada ao desenvolvimento de atitudes de convívio social, pois a criança, ao atuar em equipe, supera em parte seus medos e anseios. Sendo assim, o uso de brincadeiras e materiais concretos em sala de aula, em uma dinâmica de grupo, mostra-se fundamental para o desenvolvimento cognitivo do educando.

Consiste em satisfazer o eu por meio de uma transformação do real em função dos desejos: a criança brinca de boneca refaz sua própria vida, corrigindo-a a sua maneira e revive todos os prazeres ou conflitos, resolvendo-os, compensando-os, ou seja, completando a realidade através da ficção (Piaget,1978, p. 98).

Portanto, dentro de um contexto educacional, o lúdico em sala de aula visa construir e auxiliar o educador no processo de ensino-aprendizagem, com o objetivo de desenvolver métodos que despertem na criança o interesse pela interação no ambiente escolar. De acordo com Vygotsky, a criança pode realizar alguma coisa sozinha e realizar uma atividade dependendo da ajuda de terceiro, podendo assim definir que o desenvolvimento proximal de hoje será o desenvolvimento real de amanhã.

Segundo Vygotsky (1989), o desenvolvimento do indivíduo decorre de ações sobre o meio e das mudanças contínuas que resultam da interação sujeito-mundo, especialmente das relações interpessoais nas quais ele se envolve. As interações estão, portanto, na gênese das estruturas mentais e permitem que os indivíduos se apropriem dos conhecimentos e se constituam como sujeitos.

O autor ainda afirma que "é na atividade de brinquedo que a criança se desenvolve". O brinquedo, ao fornecer estruturas básicas para mudanças das necessidades e da própria consciência, pode ser considerado como atividade que determina o desenvolvimento da criança pré-escolar.

Dessa forma, destaca-se que, por meio da roda de conversa, das interações e das brincadeiras, pode-se trabalhar a escuta. É importante ouvir a criança para conhecer melhor suas expectativas, necessidades e interesses, bem como suas formas próprias de pensar, sentir e agir, aspectos fundamentais no planejamento das atividades pedagógicas.

Tal citação encontra respaldo no Art. 4°, IV da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que afirma: "o dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de [...] atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade" (Brasil, 1996, Art. 4º, IV).

Nesse sentido, este trabalho destaca a importância da criança como sujeito de direitos e não apenas como uma miniatura. Na atualidade, com as leis que asseguram esses direitos, a escola torna-se o ambiente propício para a construção dos saberes. O fato de ser na escola que a criança põe em prática suas experiências trazidas do seio da família desafia o educador a construir cenários que possibilitem a flexibilidade diante das particularidades envolvidas.

Para Davini e Freire (1999), trata-se de um processo que exige muito cuidado e planejamento por parte do professor. É também um processo que envolve muitas expectativas por parte dos pais ou responsáveis e, igualmente, das crianças, pois estas possuem uma ideia do que seria esse espaço educativo, ideia ou conceito que pode se confirmar ou não.

O processo de adaptação exigirá do educador grande atenção e paciência, para que a criança compreenda e incorpore a rotina do novo ambiente. Rotina aqui não no sentido de moldar a criança a um comportamento específico, mas de compreender que, no espaço da Educação Infantil, há atividades diferenciadas, realizadas de modo distinto do ambiente familiar. Cada criança exigirá do professor uma atenção particular, em razão de suas características individuais, de seu contexto social e cultural, bem como dos hábitos e valores adquiridos em casa.

A transição bem-sucedida da casa para a escola demanda que a criança pequena enfrente desafios afetivos, cognitivos e sociais. Por exemplo, ela deverá: Estabelecer vínculos com outras crianças e adultos, situados  fora do círculo familiar; Aprender a reconhecer e interpretar tanto linguagens corporais quanto vozes desconhecidas, as quais, por sua vez, introduzem fenômenos metalinguísticos, léxicos e sintáticos diferentes dos que já aprendeu; Organizar novos mapas fisionômicos e espaciais; Desenvolver esquemas comportamentais de rotina; Aprender a relacionar-se com um círculo social mais amplo, o qual impõe regras de convívio estranhas e difíceis de serem aceitas na fase egocêntrica. Para muitas crianças, esta será a primeira oportunidade de socializar-se com outros seres humanos de sua idade, cuja suas implicações são significativas para o desenvolvimento da autoestima e da identidade (Perissé, 2007, p. 41-42).

Porém, as crianças na faixa etária de 4 a 5 anos já passaram pelo processo de adaptação e encontram-se em fase de construção e execução de suas habilidades. A criança chega à pré-escola munida de capacidades para conversar: falar e ser compreendida, ouvir e compreender. No entanto, suas experiências, na maioria das vezes, estão centradas no diálogo em dupla, entre ela e um familiar, por exemplo. Conversar em grupo é uma grande novidade e requer aprendizado. Para que, aos poucos, as crianças dominem essas habilidades, são necessárias diversas e variadas experiências em conversas coletivas.

Rousseau enfatiza que a infância é um momento em que se vê, se pensa e se sente o mundo de um modo próprio, afirmando que "a infância não era apenas uma via de acesso, para um período de preparação para a vida adulta, mas tinha valor em si mesma". Para ele, nesse momento, a ação do educador deveria ser uma ação natural que levasse em consideração a peculiaridade da infância, a ingenuidade, a inconsciência da criança, defendendo "uma educação não orientada pelos adultos, mas que fosse resultado do livre exercício das capacidades infantis e enfatizasse não o que a criança tem permissão para saber, mas o que é capaz de saber" (Oliveira, 2007, p. 25).

Levando em conta que a criança é um enorme emaranhado de átomos, como afirmam Piaget (2006), Vygotsky (1995) e Wallon (1981), compreende-se a criança como ser ativo. Piaget prioriza a construção de conhecimentos por meio de situações concretas que levem a criança a refletir sobre o que faz.

Vygotsky considera que a criança possui capacidades próprias e desenvolve aprendizagens sozinha, de forma autônoma (nível de desenvolvimento real), mas que precisa do auxílio de alguém mais experiente para aprender outras situações (nível de desenvolvimento potencial) (Vygotsky, 2007, p. 98).

Já Wallon (1968), médico francês, acredita na possibilidade de a criança aprender sem a separação entre cognição e afetividade. Descreveu o desenvolvimento em estágios, assim como Piaget. Tais estágios, segundo Wallon, devem ser considerados conforme a cultura e o momento em que a criança vive. Ainda, Wallon (1968) postula que "No decorrer do desenvolvimento da criança, o seu ‘eu’ também sofre transformações que são frequentemente desconhecidas, mas que têm uma importância e um ritmo acentuados" (Wallon, 1968, p. 215).

De acordo com Piaget, Vygotsky e Wallon, o desenvolvimento da criança acontece em estágios, assim como todo o processo de ensino-aprendizagem durante a vida escolar do aluno. Entretanto, pôde-se observar que, na escola pesquisada, esse envolvimento entre professor e aluno, escola e comunidade se dá por meio da preocupação com o bem-estar e o desenvolvimento do educando.

Dessa forma, as famílias são convidadas a vivenciar, em conjunto, cada evento que ocorre dentro do ambiente escolar. Todavia, sabe-se que na educação não há apenas pontos positivos: existem também conflitos, e cabe ao educador assumir o papel de mediador para resolvê-los.

A roda de conversa na eessignificação do conhecimento

A roda de conversa na Educação Infantil ou na creche possibilita que o professor faça uma leitura adequada das diversas personalidades. A criança já chega à escola com o seu próprio enigma, e cabe ao professor decifrá-lo. Ao planejar e organizar as rodas de conversa, as interações devem estar claras; por isso, o professor precisa refletir sobre seu papel e o papel da criança nessa situação, abordando assuntos de interesse do grupo e selecionando materiais envolventes que enriqueçam a troca de ideias.

Montessori (1912) defendia que "a função da educação é favorecer o progresso infantil de acordo com os aspectos biológicos de cada criança". Em sua concepção, como os estímulos externos formam o espírito infantil, eles precisam ser determinados. Dessa forma, além de propor que, em sala de aula, a criança fosse livre para agir sobre os objetos sujeitos à sua ação, desenvolveu jogos e outros materiais didáticos que passaram a ter um papel predominante no trabalho educativo (Montessori, 1912, p. 15).

No entanto, a roda de conversa tem se tornado uma ferramenta de grande valia no processo de Educação Infantil, principalmente para educadores que estão ingressando pela primeira vez na profissão. O professor deve colocar o educando sempre em primeiro lugar, ter sempre um segundo plano, ser flexível, paciente, compreensível e amoroso. É preciso, ainda, ter domínio da rotina em sala e de sua classe.

Por isso, há uma crescente necessidade de se refletir sobre a organização do cotidiano nas creches. Uma questão-chave a ser considerada, quando abordamos a rotina nas práticas pedagógicas com crianças de 4 e 5 anos, é como organizar o tempo, o espaço e os contextos de aprendizagem para que os serviços educativos sejam cada vez mais eficazes, intencionais e consequentes.

Para Oliveira (2007), cada educador tem uma ideia de criança, e é por meio dessa concepção que se organiza a prática pedagógica. É justamente essa concepção específica que determina as dimensões do cotidiano, o uso dos espaços, a distribuição do tempo e as relações estabelecidas nesses ambientes educativos. Durante a roda de conversa, sugere-se que a dinâmica seja prazerosa, de maneira que as crianças se sintam convidadas a participar. Esse evento ocorre quando o ambiente é organizado pela professora, que deve utilizar diversos recursos.

Segundo Paulo Freire, na prática, os educandos, por meio do diálogo e da reflexão, desenvolvem seu poder de captação e compreensão do mundo que lhes aparece como uma realidade em transformação. Para o autor, a dialogicidade é a essência da Educação Libertadora. Além disso, outras características são necessárias para que ela se concretize, tais como colaboração, união, organização e síntese cultural. Freire (1982, p. 78) destaca que,

em verdade, não que o seria possível à Educação Problematizadora, rompe com os esquemas verticais característicos da Educação Bancaria, realizar-se como prática da liberdade, sem superar a contradição entre o educador e educandos. Como também não lhe seria possível faze-lo fora do diálogo. [...] O educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa é educado, em diálogo com o educando que ao ser educado, também educa.

O brincar na creche é considerado, muitas vezes, recreação. Nesses momentos, as crianças brincam individualmente ou em grupo, explorando os espaços, equipamentos e materiais disponíveis. Os brinquedos estão dispostos em uma sala, já que a escola pesquisada não dispõe de um parquinho; tanto podem ser explorados de forma individual quanto em grupo. Embora as crianças possam ser acompanhadas de perto nessa exploração, o adulto nem sempre intervém naquilo que elas fazem.

De acordo com Vygotsky (1989), nas brincadeiras, a própria criança cria formas de descobrir e utilizar os recursos existentes no ambiente. No parque da escola, elas sobem, descem, escorregam, correm, sendo desafiadas em sua força, resistência, equilíbrio e movimentos; lidam com emoções, sensações e percepções, podendo construir, reconstruir, aguçar a curiosidade e a criatividade. A interação grupal proporciona situações para o exercício da cooperação e da solidariedade, da autonomia e do respeito mútuo.

O brincar, ou a brincadeira, é a atividade principal da criança. Sua importância reside no fato de ser uma ação livre, iniciada e conduzida pela criança, com a finalidade de tomar decisões, expressar sentimentos e valores, conhecer a si mesma, as outras pessoas e o mundo em que vive. Brincar é repetir e recriar ações prazerosas, expressar situações imaginárias, criativas, compartilhar brincadeiras ou brinquedos com outras pessoas, expressar sua individualidade e identidade, explorar a natureza e os objetos, comunicar-se e participar da cultura lúdica para compreender seu universo. Ainda que o brincar possa ser considerado um ato inerente à criança, exige conhecimento e repertório que ela precisa aprender.

Ler é fundamental para nossa cultura, pois, por meio da leitura, alcançamos uma infinidade de conhecimentos. Mas como favorecer o acesso das crianças da Educação Infantil ao mundo letrado se elas ainda não sabem ler? Não saber ler não impede as crianças de terem ideias precisas sobre o texto que compartilhamos com elas, nem de buscar informações nos contextos que lhes são lidos.

As situações pedagógicas de leitura ampliam o conhecimento das crianças a respeito do mundo da representação escrita e da comunicação, ajudando a construir as bases dos conceitos essenciais. Na situação de leitura, é fundamental que o professor(a) assuma um papel mediador entre as crianças e os contextos. Para isso, é necessário fornecer estratégias de leitura, considerando especificamente o texto a ser trabalhado, fazendo perguntas e comentários que levem as crianças a procurar dados pertinentes no próprio texto, para que possam confirmar ou refutar suas ideias.

A leitura, assim como outras formas de arte, é uma janela por onde o ser humano pode enxergar o mundo, conhecer a cultura de um povo ou o pensamento de um determinado período. Por isso, sempre que se quer bloquear as formas de conhecimento, os livros e seus autores são os primeiros a sofrer as consequências. A interação entre o homem e o livro é muito forte: para que uma obra sobreviva, é necessário que haja leitores, assim como, para que o homem cresça, é necessário que haja livros. "Um país se faz com homens e livros" (Lobato, 1931, p. 15).

Concordando com o autor, é válido afirmar que o hábito de ler é fundamental para a formação do ser humano e ainda possibilita o crescimento intelectual, já que a interação entre o ser humano e o livro, ou seja, a leitura, é um momento mágico que permite que o leitor viaje entre dimensões e ajuda a criança a expandir sua imaginação. Algumas ideias para formar leitores são:

Na Educação Infantil, o faz de conta é fundamental para o desenvolvimento psicológico, cognitivo e intelectual da criança. Ao se sentir envolvida em situações que despertam a imaginação, a criança explora o desconhecido, ou seja, é transportada para um mundo mágico e encantado. O olhar diferenciado e reflexivo permite que o docente perceba a riqueza presente nas mais sutis e simples ações cotidianas de cuidado e educação vivenciadas com cada criança dentro da instituição. A educação, como prática de liberdade, deve ser construída com o sujeito, por meio do diálogo e da reflexão crítica, visando à transformação social e à construção de um mundo mais justo e amoroso (Freire, 1967).

Nas brincadeiras de faz de conta, a criança imita, imagina, representa e percebe, de forma específica, que uma coisa pode ser outra, que uma pessoa pode virar objeto ou animal, que um espaço da sala pode virar uma fábrica. A imaginação da criança é infinita, intensa e capaz de criar um universo próprio, com dimensões tão únicas que somente ela pode acessar.

Esse misterioso mundo mágico das crianças é construído com objetos simples, mas que têm significado imenso para elas. Portanto, podem ser listadas algumas ideias para a construção do ambiente do faz de conta: caixas temáticas confeccionadas com as crianças, fantasias improvisadas, confecção de máscaras, baú contendo itens usados no cotidiano, caixa de papelão caracterizada com cenários de histórias, teatro com fantoches, construção de castelos, entre outros.

Acredita-se no potencial de cada criança e em seu universo de imaginação. Com base nesses critérios, foi desenvolvido o trabalho, obtendo-se o resultado esperado, considerando que as crianças não vão falar o que queremos ouvir, mas sim o que desejam expressar, cabendo aos educadores decifrar suas mensagens. Quando se faz rodinha de conversa, canta-se uma música ou conta-se uma história, estamos incentivando as crianças a se expressarem, seja por meio verbal ou corporal. Mesmo quando elas atropelam as palavras ou utilizam metáforas, é possível compreender a mensagem; a expressão corporal indica claramente os sentimentos da criança, bastando atenção aos detalhes.

O brincar e a aprendizagem na Educação Infantil

As crianças experimentam a imersão no mundo matemático usando o próprio corpo, movimentando-se no espaço: subindo, descendo, entrando e saindo de caixas, túneis ou buracos; brincando de subir em estruturas preparadas para criar desafios; escondendo objetos; olhando de cima ou de baixo, deitadas, sentadas ou em pé; apalpando objetos; encaixando peças; cantando ou repetindo sons e melodias. Dessa forma, exploram o espaço físico e mergulham no mundo mágico.

A entrada no mundo do conhecimento ocorre quando a professora sabe como conduzir a criança em brincadeiras que permitem descobrir o significado dos números, das letras, das formas, das cores, das músicas, dos ritmos e das regras. Os jogos de exercícios, segundo Piaget (1978), mostram-se como estímulo e desenvolvimento desse primeiro estágio, uma vez que a criança pode brincar sozinha e não precisa seguir regras.

O brincar, em sua essência, é uma ação que coordena as experiências das crianças: quando têm a oportunidade de repetir o que já conhecem, ativam a memória, desenvolvem a imaginação, interpretam a realidade, expressam suas fantasias, prazeres e saberes, e podem pensar enquanto solucionam diversos problemas.

Assim, o brincar constitui um instrumento de aprendizagem, no qual as escolas devem considerar a criança como sujeito central do trabalho pedagógico. Portanto, é fundamental construir um currículo que valorize cada vez mais as situações de aprendizagem por meio do brincar, fazendo com que os educadores reflitam sobre seu papel nas três vertentes: a sua participação na brincadeira, os cenários que contextualizam o brincar e o tempo destinado à atividade lúdica.

Considerações finais

Por tudo isso, chega-se à conclusão de que o trabalho pedagógico desenvolvido na Creche Arco-Íris vem se destacando cada vez mais. O compromisso e a dedicação das equipes (coordenação, direção, administrativo e corpo docente) são, de certa forma, a estrutura da escola, sem esquecer o ponto mais importante: os alunos, que são a essência vital da instituição. No entanto, todo o trabalho que envolve aprendizado e desenvolvimento é planejado, testado e revisado, para que não haja nenhum impedimento na execução das tarefas ou atividades.

Dessa forma, pode-se ampliar os conhecimentos em relação à roda de conversa e às brincadeiras na Educação Infantil. Acompanhar de perto cada detalhe ou cada indagação trouxe um aprendizado a mais, enfatizando sempre o contexto de ensinar de forma completa. A dedicação e o comprometimento de cada professora naquele local de trabalho levaram esta pesquisadora a uma reflexão minuciosa voltada para o maior desafio de um educador: ser inabalável, mesmo quando invisível, tornando-se um "herói" capaz de transformar o mundo em um lugar melhor.

Nesta pesquisa e análise, constata-se que é possível e bastante relevante considerar o brincar no currículo de Educação Infantil, pois o lúdico deve ganhar um espaço e um tempo planejados para seus próprios fins. Garantir um espaço de brincadeira na interação é assegurar a educação numa perspectiva de socialização, construção de relações com o outro, apropriação e construção da cultura, exercício de decisões e escolhas, e ampliação da imaginação e da criatividade.

Desse modo, a criação de significados é elemento integrante da brincadeira e oferece condições para que o indivíduo se constitua e se desenvolva em um ambiente de contínua mudança. Como a criança é produtora do seu próprio conhecimento, é fundamental que o espaço e o tempo permitam esse desenvolvimento por meio de ações observadas, registradas e planejadas pelo professor, que é responsável por construir cenários, considerar o tempo e disponibilizar os materiais adequados para cada brincadeira.

As crianças têm o direito de ter um brincar de qualidade dentro das instituições de Educação Infantil, considerando os espaços planejados para elas, os objetos e materiais propostos e disponibilizados, e o tempo proporcionado para as situações lúdicas, garantindo liberdade, autonomia e conhecimento. Portanto, o brincar é inerente à cultura da infância, e para que seja garantido com qualidade, é necessário que a escola tenha, em sua concepção, as atividades lúdicas como fundamentos principais para o desenvolvimento infantil.

Respondendo às indagações que sustentaram esta pesquisa, busca-se destacar os pontos positivos encontrados no processo de investigação. Consequentemente, procura-se entender e aprofundar-se com maior clareza diante do exposto, e essas experiências vivenciadas oferecem respostas para as indagações frequentes relacionadas ao tema discutido.

Quando se entende o processo de ensino como um dever, torna-se mais fácil traçar metodologias voltadas para os diferentes níveis de educação, levando em conta que o planejamento escolar está sempre em constante transformação, uma vez que o educador tende a emergir-se com frequência em um emaranhado de incertezas. Com isso, procura-se encontrar soluções para tais situações com base no que foi pesquisado e constatado durante a construção deste trabalho.

Como foi exposto ao longo desta pesquisa, todo o estudo realizado na instituição teve como base a roda de conversa, as interações e as brincadeiras para o desenvolvimento infantil. A discussão se deu pela necessidade de explorar e vivenciar os movimentos dentro de uma instituição de Educação Infantil, descobrindo como ocorre o aprendizado na faixa etária de 2 a 4 anos.

A curiosidade de compreender como as crianças internalizam os saberes foi um dos motivos que originaram esta pesquisa, sendo satisfatório o resultado. O fato de a criança repetir tudo que lhe é ensinado de forma positiva demonstra que elas absorvem intensamente os conteúdos. Esse período escolar é crucial para a estruturação do educando, sendo a partir dessas experiências que as crianças constroem suas identidades.

Ao finalizar este estudo, teve-se a oportunidade de esclarecer algumas dúvidas sobre a ludicidade na Educação Infantil, considerando que ainda existem paradigmas que precisam ser quebrados. A ideia de educação tradicional para a Educação Infantil encontra-se um tanto arcaica e precisa ser inovada. A criança precisa ser livre, e, na Creche Arco-Íris, elas são livres.

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WALLON, Henri A evolução psicológica da criança. Trad. Ana Maria Bessa. Lisboa: Edições 70, 1981; 1968.

Publicado em 20 de agosto de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

ARAÚJO, Rosileuda dos Santos; CARAMELLO, Nubia Deborah. Roda de conversa na Educação Infantil. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 31, 20 de agosto de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/31/roda-de-conversa-na-educacao-infantil

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