Os médicos que não lavavam as mãos
Abraão Carneiro do Carmo Rodrigues
Mestrando em Educação (UFBA), licenciado em Ciências Biológicas (UEBA), professor de Biologia e Ecossistemas em escola estadual de Salvador/BA, psicólogo
Era uma vez, em um tempo não tão remoto, um médico húngaro que trabalhava em um importante hospital de Viena; seu nome era Ignaz Semmelweis. Tratava-se de um profissional muito dedicado e atento ao que acontecia ao seu redor, como todo bom cientista.
Certa feita, percebeu que mulheres grávidas, após darem à luz os seus bebês, morriam quase sempre, sem sequer conhecer seus filhos recém-nascidos. Algo desastroso!
Acontecia que aqueles que faziam os partos dessas pobres moças não tinham, à época, o hábito de lavar as mãos, pois pouco ou quase nada se sabia sobre os pequenos germes que causavam infecções, incluindo a que causava danos aos úteros dessas mulheres.
Sem, portanto, conhecer a relação de causa e efeito entre higiene e infecção, os profissionais em questão iam às salas de parto realizar a operação após um longo dia de análise de cadáveres. O resultado era apavorante!
Contudo, com sagacidade, Ignaz, percebendo um suposto elo entre a falta do costume de lavar as mãos e as mortes das futuras mamães, decretou que todos os médicos deveriam, a partir de então, higienizar bem as suas mãos antes de prestar seus cuidados às moças grávidas. Suas ordens foram cumpridas, pois, embora não fosse rei, era o diretor do hospital, de modo que todos fizeram o que fora estabelecido por ele.
Foi batata! Que alegria! As mamães agora sobreviviam e podiam ninar e acalentar os seus bebês. Mas a aceitação, como toda novidade, não foi toda de bom grado, pois a mudança incomodou muito os médicos cabeças-duras. Há quem diga que eles não queriam pensar, nem ao menos imaginar, que poderiam ter sido responsáveis por tantas mortes, embora não houvesse conhecimento de causa. Daí se vê que a mudança e a transformação de convenções não só levam tempo como não sucedem sem algumas doses de resistência.
Só com o tempo, sabendo mais sobre a existência e as consequências de seres tão diminutos, a nova prática foi incorporada e bem acolhida. Soube-se que eram eles os verdadeiros autores dos falecimentos ocorridos. Pronto, o mistério foi bem explicado e resolvido: mãos lavadas, mães felizardas e operações bem realizadas. E eis que, com isso, teve calmaria no hospital e Ignaz pôde se atentar a novos desafios que, em algum momento, poderiam surgir na “terra dos senhores de jalecos brancos”.
Referência
ROCHA, Maria Carolina Vieira da. Microbiologia Ambiental. Curitiba: InterSaberes, 2020.
Publicado em 17 de setembro de 2025
Como citar este artigo (ABNT)
RODRIGUES, Abraão Carneiro do Carmo. Os médicos que não lavavam as mãos. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 35, 17 de setembro de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/35/os-medicos-que-nao-lavavam-as-maos
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