As ciências na Educação Infantil: uma análise a partir de revisão da literatura
Gabriela Torma Moreira
Professora de Educação Infantil e anos iniciais na rede municipal de Pelotas/RS, graduada em Pedagogia
Jaqueline Ritter
Pós-doutora em Didáctica de las Ciencias Experimentales (UAM – Madrid), , mestra e doutora em Educação nas Ciências (Unijuí), graduada em Ciências Plenas com Habilitação em Química (Unijuí), especialista em Gestão e Apoio Pedagógico na Escola Básica (Unicruz), professora adjunta na Escola de Química e Alimentos da FURG
A Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica; tem, a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), definidos como eixos estruturantes do currículo a interação e a brincadeira. É nessa etapa da educação que se criam os primeiros laços da criança fora do ambiente familiar e quando ela inicia seu caminho como cidadã e indivíduo em processo de subjetivação, o qual carrega seus desejos, anseios, vontades e expectativas. É um espaço de cuidado, aprendizado, interações, brincadeiras, experiências e incentivo da criatividade, criticidade e desejo de aprender. Para Vygotsky (2000), a constituição humana tem seu caráter "mediado da atividade psíquica e a origem dos processos psíquicos interiores na atividade inicialmente externa e interpsíquica" (p. XII).
Nessa perspectiva, o social e o cultural têm papel preponderante na constituição da criança, e o ensino de ciência, na escola é a oportunidade de a criança vivenciar experiências e conhecer novas portas de conhecimento, longe de preconceitos e padrões impostos pela família ou pela sociedade imediata. Por esse motivo dá-se a importância deste trabalho, que busca entender as ciências dentro dos campos de experiência previstos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Brasil, 2018) – Eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; Espaço, tempo, quantidades, relações e transformações – ainda dentro da Educação Infantil.
A escolha da temática se justifica ao se perceberem novas descobertas a partir da implantação/implementação da BNCC para todas as etapas da Educação Básica no Brasil, surgindo daí novas demandas de investigações e descobertas sobre como devem ser desenvolvidas as aprendizagens na Educação Infantil. Com o intuito de mapear não apenas os documentos que servem como referencial para a pesquisa, buscou-se adentrar nas produções recentes acerca da temática, para o qual fez-se uma revisão de literatura em três plataformas: Portal de Periódico da Capes; Scientific Eletronic Library Online (SciELO); e Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD).
A revisão de literatura procura compreender como na pesquisa a implementação da Base Nacional Comum Curricular está sendo realizada e quais são os maiores desafios em termos de reconhecimento da comunidade acerca dos campos de experiência recentemente enunciados via normativas, visto pelo olhar dos pesquisadores. Com o intuito de descobrir mais sobre o ensino de ciências na Educação Infantil a partir dos campos de experiência previstos pela BNCC, foi realizada esta pesquisa.
A BNCC, por ser um documento novo, necessita ser pesquisada para ser compreendida por completo e desenvolvida nas escolas da melhor maneira possível. Os campos de experiência proporcionam aos professores identificar a melhor maneira de desenvolver as Ciências Humanas e as outras áreas de conhecimento com as crianças. Por esse motivo, busca-se identificar como está sendo esse processo de reconhecimento e utilização do documento.
Aspectos metodológicos
Este estudo é uma revisão de literatura e visa encontrar pesquisas e arquivos que auxiliem na produção da dissertação de mestrado sobre o tema Ensino de Ciências na Educação Infantil: os campos de experiência como potencializadores da aprendizagem.
Este é um estudo qualitativo; nessa direção, Minayo (2008, p. 57) esclarece que a pesquisa qualitativa
se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam. […] As abordagens qualitativas se conformam melhor a investigações de grupos e segmentos delimitados e focalizados, de histórias sociais sob a ótica dos atores, de relações e para análises de discursos.
A partir dessa perspectiva de pesquisa, foi realizada a busca dos referenciais a fim de promover um debate atual e que possa contemplar as novas demandas e emergências na área da Educação Infantil e das ciências.
A pesquisa foi realizada entre os dias 10 de fevereiro e 18 de março de 2021. Durante a busca, foi utilizada a lógica booleana com os operadores AND, OR e NOT entre as palavras-chave para completar uma busca mais complexa e direcionada ao tema procurado. Durante as pesquisas, o filtro dos diferentes sites foi direcionado apenas a arquivos na língua portuguesa brasileira.
Nas diferentes plataformas, foram utilizadas as mesmas palavras-chave, com o fim de encontrar pesquisas no mesmo direcionamento. Por ter utilizado as mesmas palavras-chave, encontramos alguns materiais duplicados e por vezes triplicados. Para realizar a seleção, foi feita a leitura prévia dos títulos das publicações selecionadas e logo após realizada a leitura dos resumos dos arquivos; todos os arquivos que possuíam temas relevantes para a pesquisa foram identificados como corpus de análise selecionados.
Na SciELO, utilizando as palavras-chave "(BNCC) or (Base nacional comum curricular) and (educação infantil) and (Ciência)" recuperaram-se 135 resultados, dentre eles, apenas um estava no escopo da pesquisa. Esse arquivo é do ano de 2016.
No portal de periódicos da Capes, com as palavras-chave "BNCC and ciência and educação infantil", recuperaram-se 20 resultados; ao analisá-los, verificou-se que somente dois foram aproveitados, ambos de 2020.
Na Biblioteca Brasileira de Teses e Dissertações, com as palavras-chave "BNCC and ciência and educação infantil" foram recuperados 21 resultados; dentre eles, dois estão no escopo da pesquisadora; os dois arquivos foram produzidos no ano de 2020.
Ainda na Biblioteca Brasileira de Teses e Dissertações, com as palavras-chave "(educação infantil) and (Base nacional comum curricular) and (Ciência)", encontraram-se 42 documentos; dentre eles, três foram selecionados; um era igual ao da pesquisa no mesmo site com outras palavras-chave. O ano dos arquivos é de 2018 a 2020.
No total, foram recuperados, 218 arquivos durante a pesquisa nos três portais (Capes, SciELO e BDTD); foram descartados 211 e sete arquivos eram do interesse da pesquisa. Esses sete arquivos eram quatro dissertações e três artigos científicos.
A análise dos arquivos selecionados foi feita através do método de Análise Textual Discursiva (ATD), "que, num ciclo de análise constituído de três elementos – unitarização, categorização e comunicação –, se apresenta como um movimento que possibilita a emergência de novas compreensões com base na auto-organização" (Moraes, 2003, p. 191).
Inicialmente foi realizada a leitura de todos os arquivos, partindo para a "desmontagem do texto" (Moraes, 2003), mencionada anteriormente como unitarização; nessa etapa, foi possível fazer uma leitura crítica e minuciosa na íntegra de todos os textos selecionados anteriormente. Essa leitura resultou na seleção das unidades de significado (US).
Logo após a leitura e seleção das unidades de significado, iniciou-se o processo de categorização, mencionado por Moraes (2003) como "estabelecimento de relações", em que foi realizada a construção de relações entre as unidades de significado conforme sua semelhança e suas associações. Por se tratar de unidades de significado com fortes significados, ao realizar a primeira categorização foi possível chegar a uma categorização final.
Por último foi realizada a fase da comunicação, mencionada por Moraes (2003) como "captando o novo emergente", em que foi realizada uma nova compreensão sobre o todo, possibilitando a construção dos metatextos, a seguir apresentados conforme enunciados nas categorias finais.
O Quadro 1 demonstra como foi feito o processo de ATD em todas as etapas, que culminaram com as categorias iniciais, que, reagrupadas por semelhança, resultaram em quatro categorias finais.
Quadro 1: Metatextos
Código | Unidade de significado | Palavras-chave | Título | Categorias iniciais | Número |
DLI01 | Para diferenciar experiência de vivência, a autora evidencia que todos os dias passamos por muitas situações, porém a maior parte não se constituirá em uma experiência promotora de conhecimento, caso não se transforme em sentido para nossas vidas | Experiência; vivência; conhecimento | Diferença de vivência e experiência | Vivência e Experiência | 1 |
DLI03 | As ações educativas articuladas aos saberes e experiências providas num processo relacional | Ações educativas; experiências | Relação das experiências vividas com ações educativas | Vivência e Experiência | 1 |
DLI04 | Atentar para que tenhamos clareza da distinção de experiência e experimento | Experiência; experimento | Experiências e suas características | Vivência e Experiência | 1 |
DLI08 | É imprescindível localizar o que é experiência na Educação Infantil, quais são as intenções, no que se difere das áreas de conhecimento | Experiência; Educação Infantil; áreas do conhecimento | O que é experiência na Educação Infantil | Vivência e Experiência | 1 |
DLI09 | Experiência é algo capaz de nos transformar, de nos marcar nas entranhas | Experiência; transformação; marcas | O que é experiência | Vivência e Experiência | 1 |
DHA05 | Muitos temas surgem numa sala de aula devido à curiosidade das crianças | Curiosidade; criança | Sala de aula com grande potencial de aprendizado cientifico | Vivência e Experiência | 1 |
DHA08 | Curiosidade natural que as crianças têm do mundo que as cerca e que as fascina | Curiosidade; criança | Curiosidade da criança | Vivência e Experiência | 1 |
DHA10 | Valorizar as experiências com o mundo para a ampliação de aprendizados, estimular a imaginação e a indagação são princípios de toda educação científica | Educação científica; imaginação; experiência | Princípios da Educação cientifica | Vivência e Experiência | 1 |
ASI03 | Situações concretas na vida cotidiana que levam à aprendizagem, à ampliação e à diversificação dos conhecimentos e da cultura nas relações vividas no espaço coletivo e à produção de narrativas, individuais e coletivas através de diferentes linguagens | Aprendizagens; conhecimentos; linguagens | Situações cotidianas levam à aprendizagem significativa | Vivência e Experiência | 1 |
ASI04 | Uma concepção de educação que compreenda a experiência como forma privilegiada de viver a infância e rica possibilidade de as crianças elaborarem sentidos e significados sobre o mundo pessoal, social e cultural | Educação; experiência; sentidos e significados | Situações cotidianas levam à aprendizagem significativa | Vivência e Experiência | 1 |
ASI05 | A experiência é única, embora o cotidiano educativo seja coletivo e comum | Experiência; cotidiano educativo | A experiência é única e inerente ao sujeito | Vivência e Experiência | 1 |
ASI06 | O percurso de aprender na Educação Infantil também exige ser assumido como experiência em sua dimensão de incerteza e imprevisibilidade | Educação Infantil; experiência | A aprendizagem vêm a partir da experiência | Vivência e Experiência | 1 |
DBA04 | Os campos de experiência objetivam servir de referência para as instituições de Educação Infantil construírem o currículo, que serve de apoio para o planejamento pedagógico dos docentes, alinhado aos interesses e necessidades da criança para que as vivências educativas sejam significativas | Campos de experiência; Educação Infantil; currículo | Campos de experiência como auxiliador na construção do currículo | Vivência e Experiência | 1 |
DLI02 | A criança precisa testar possibilidades, repetir suas ações de forma que possa elaborar suas hipóteses para construir suas aprendizagens | Possibilidades; aprendizagens | Aprendizagens da criança | Aprendizagens | 2 |
DDI02 | As atividades experimentais seriam excelente oportunidade para vivenciar e fomentar o espírito criativo e investigativo das crianças | Atividades experimentais; vivenciar; crianças | Investigação a partir de experimentos | Aprendizagens | 2 |
DDI04 | Os jogos e as brincadeiras são fundamentais para o desenvolvimento de atitudes e posturas para a aprendizagem | Desenvolvimento; aprendizagem | Desenvolvimento da aprendizagem | Aprendizagens | 2 |
DHA03 | Ensinar Ciências é sempre ir além do perceptível, do imaginável; é ouvir e dar voz às crianças diante dos fenômenos do mundo e levar esse deslumbramento para a sala de aula | Ensinar; ciências; crianças | As ciências para criança | Aprendizagens | 2 |
ASI07 | As crianças, em suas invenções, investigações, brincadeiras, descobertas criam seus percursos de aprendizagens | Crianças; aprendizagens; percursos | A aprendizagem vêm a partir da experiência | Aprendizagens | 2 |
DLI05 | A criança, nesse documento, é entendida como uma pessoa inteira em seus aspectos motores, afetivos, cognitivos e linguísticos | Criança; pessoa inteira | Como a criança é entendida | Concepções da infância | 3 |
DLI10 | A concepção de criança, protagonista do seu aprendizado, respeitada nos seus direitos e sempre ocupando lugar de capaz, curiosa, ativa | Criança; protagonista; capaz | O que é a criança na Educação Infantil | Concepções da infância | 3 |
DHA06 | Oportunizar o ensino de Ciências na Educação Infantil ainda colabora para que as crianças se reconheçam como parte do mundo em que estão inseridas e para que possam solucionar problemas da sua vida cotidiana | Ensino de Ciências; crianças | A ciência sendo vista/ trabalhada pelas crianças a partir do cotidiano, o que as ensina a ler melhor o mundo | Concepções da infância | 3 |
ASI01 | Pensar a experiência como forma privilegiada de viver a infância requer acreditar na rica possibilidade de as crianças elaborarem sentidos e significados sobre o mundo | Experiência; infância; sentidos e significados | A infância é o momento de despertar o interesse pelo mundo | Concepções da infância | 3 |
DBA03 | A infância modifica-se a partir da realidade em que ela está inserida, tais como os contextos econômico, social, político, cultural, tecnológico e ideológico | Infância; realidade; contextos | As infâncias e as instâncias que a constituem | Concepções da infância | 3 |
DLI06 | A Base não é currículo, mas balizadora, cabendo às redes, escolas e comunidades constituírem diálogos que, por meio da escuta das crianças e seus territórios, construam sua identidade em consonância com a cultura local | Base; diálogos; cultura | A base não é um currículo, mas sim um norteador das aprendizagens | Currículo da Educação Infantil | 4 |
DDI01 | A infância traz, para as escolas, crianças que compartilham saberes e modos de se relacionar diversos | Infância; crianças | Compartilhamento de saberes | Currículo da Educação Infantil | 4 |
DHA02 | As crianças acabam inseridas no mundo do conhecimento científico por meio de uma das mais relevantes motivações, que é a curiosidade que emerge das relações e interações socioculturais | Conhecimento científico; curiosidade, interações | Crianças se inserem no mundo cientifico a partir da sua curiosidade e interações socioculturais | Currículo da Educação Infantil | 4 |
DHA04 | Mediante o dever aferido de planejar e mediar ações pelas quais o Ensino de Ciências esteja presente na Educação Infantil, percebe-se a importância desse estudo na realidade das crianças e que, por meio de sua própria curiosidade, | Conhecimento científico; curiosidade, Educação Infantil | Relação do aprendizado da criança com o planejamento do professor | Currículo da Educação Infantil | 4 |
ASI02 | Requer romper com a perspectiva de um currículo burocratizado e desvinculado da vida | Currículo; vida | Currículo burocratizado | Currículo da Educação Infantil | 4 |
ABA01 | O conhecimento só é conhecimento quando organizado, relacionado e inserido no contexto das informações | Conhecimento; relacionado | Construção do conhecimento | Currículo da Educação Infantil | 4 |
DBA06 | As vivências na Educação Infantil são alicerces para a construção de habilidades socioemocionais e relacionais | Vivências; Educação Infantil | Vivências auxiliam na construção da criança | Currículo da Educação Infantil | 4 |
DBA07 | A base é uma "provocação" para a retomada das reflexões sobre a Educação Infantil, um aprofundamento de conceitos e concepções | Base; Educação Infantil; reflexão | A base como estratégia para novos olhares para a Educação Infantil | Currículo da Educação Infantil | 4 |
DLI07 | Essa é uma pedagogia que investe na interação do indivíduo com o mundo, destacando cada vez mais o papel do pedagogo | Interação; pedagogo | Interação do indivíduo com o mundo | A especificidade da docência na Educação Infantil | 5 |
DDI03 | Que a experiência da criança seja valorizada, que o professor seja o mediador e que a maturidade da criança seja observada | Experiência; criança | Experiência da criança | A especificidade da docência na Educação Infantil | 5 |
DHA01 | O professor, em sua prática pedagógica, relacionar as experiências e saberes das crianças com uma intencionalidade educativa | Professor; prática pedagógica; intencionalidade | Com intencionalidade, utilizar as vivências cotidianas na escola | A especificidade da docência na Educação Infantil | 5 |
DHA07 | Ensinar Ciências é conduzir o aprendizado sobre o mundo nas suas reais dimensões | Ciências; aprendizado | O que é conduzir o aprendizado? | A especificidade da docência na Educação Infantil | 5 |
As citações apresentadas nos metatextos das categorias são unidades de significado extraídas do corpus de análise dos artigos revisados na análise textual discursiva.
Resultados e discussões
Este tópico consiste em apresentar os resultados obtidos através das categorias finais e seus metatextos, disponíveis a partir da realização da análise textual discursiva. As categorias que seguem foram nomeadas assim:
Vivências e experiências
Quando falamos sobre experiência na Educação Infantil, é importante que o debate se inicie a partir do esclarecimento da diferença entre experiência e vivência. Muitas vezes confundidas, essas palavras possuem grande diferença quando se trata do cotidiano das escolas infantis. Lima (2020) afirma que, para diferenciarmos experiência de vivência, precisamos identificar que "todos os dias passamos por muitas situações, porém a maior parte não se constituirá em uma experiência promotora de conhecimento, caso não se transforme em sentido para nossas vidas" (p. 56-57). Dessa forma, podemos concluir que as situações que vivenciamos no nosso cotidiano são vivências, porém elas só se tornam experiências quando nos tocam; a "experiência é algo capaz de nos transformar, de nos marcar nas entranhas" (Lima, 2020, p. 20). A vivência passa a ser uma experiência quando emociona, marca e nos faz relacionar o novo com algo que já conhecíamos, "experiências estas que permitem à criança se misturar ao mundo construindo aprendizagens significativas e subjetividades" (Barros, 2018, p. 22). Viver uma experiência na escola oportuniza momentos e aprendizagens únicas e individuais; Bondía (2002) afirma que
a experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço (p. 24).
Por isso a importância de utilizarmos o espaço da Educação Infantil como promotor dessas vivências únicas e promotoras de histórias, que trazem consigo a riqueza de novas descobertas e aprendizados.
A BNCC apresenta um grande debate sobre o que são os campos de experiência na relação com a aprendizagem. O documento afirma que "os campos de experiências constituem um arranjo curricular que acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural" (Brasil, 2018, p. 40). Nesse sentido, concomitante a essa afirmação, Barros (2019, p. 46) afirma:
os campos de experiência objetivam servir de referência para as instituições de Educação Infantil construírem o currículo, que serve de apoio para o planejamento pedagógico dos docentes, alinhado aos interesses e necessidades da criança para que as vivências educativas sejam significativas.
Nessa perspectiva, pode-se perceber a importância dos campos de experiência afirmada nesse documento norteador do ensino na primeira etapa da Educação Básica. Nem toda experiência é um experimento, por isso é importante identificar que "é imprescindível localizar o que é experiência na Educação Infantil, quais são as intenções, no que se difere das áreas de conhecimento" (Lima, 2020, p. 56). Primeiramente, é necessário dissociar a experiência do experimento a fim de "nos atentar para que tenhamos clareza da distinção de experiência e experimento" (Lima, 2020, p. 21); a experiência é 'aquilo que nos passa', ou que nos toca, ou que nos acontece, e ao nos passar nos forma e nos transforma" (Bondía, 2002, p. 26), enquanto o experimento é buscar, por meio de tentativas, encontrar possibilidades e descobrir novas possibilidades.
As situações cotidianas levam a aprendizagens significativas; por meio das vivências na escola, as crianças aprendem e criam suas hipóteses sobre como as coisas funcionam; segundo Simiano e Simão (2016, p. 83), "o percurso de aprender na Educação Infantil também exige ser assumido como uma experiência em sua dimensão de incerteza e imprevisibilidade"; as tentativas, mesmo quando falham, são a melhor maneira de as crianças aprenderem. Os processos interativos, permeados pelas experiências e vivências da Educação Infantil conforme os acontecimentos se sucedam, devem ser relacionados a fim de tornarem-se concretos. Afinal, "as ações educativas articuladas aos saberes e experiências providas num processo relacional" (Lima, 2020, p. 21) tornam-se, por meio das ações, aprendizagens significativas.
É importante, ao se refletir e pesquisar sobre crianças, esclarecer algumas ideias tidas como verdade no senso comum quando se trata dos pequenos. Ao pesquisar sobre ciências na Educação Infantil, foram encontradas afirmações como "curiosidade natural que as crianças têm do mundo que as cerca e que as fascina" (Haile, 2018, p. 84) ou "muitos temas surgem numa sala de aula devido à curiosidade das crianças" (Haile, 2018, p. 29). Ao nos depararmos com esse tipo de afirmação, algumas dúvidas surgem a respeito da curiosidade: de onde ela surge? Ela é desenvolvida ou é inata à criança? Nesse momento nos debatemos com uma generalização sobre a infância, que não é única nem singular, estando assim longe de poder ser generalizada.
A infância é um tempo de vivenciar as experiências e, a partir delas, estabelecer diferentes modos de reconhecer o mundo; afirmativas generalizadoras, como "as crianças são curiosas", "as crianças possuem uma criatividade inerente", são baseadas em ideias preestabelecidas e sem embasamento. Sarmento (2004, p. 1) afirma a existência de uma "pluralização dos modos de ser criança" e uma "heterogeneização da infância", o que reafirma a importância de rever os conceitos e conclusões que se têm sobre as infâncias. Os professores necessitam de um olhar voltado à observação dos interesses das crianças durante suas vivências em sala. Muitas vezes, interesses de ontem não são os mesmos de hoje; o que antes despertava a curiosidade em um grupo não chama a atenção de outro.
Na escola, uma das riquezas do cotidiano é a percepção da diferença do aprendizado entre os colegas, "a experiência é única, embora o cotidiano educativo seja coletivo e comum" (Simiano; Simão, 2016, p. 83). Embora os indivíduos vivenciem o espaço coletivamente, "o saber da experiência é um saber particular, subjetivo, relativo, contingente, pessoal" (Bondía, 2002, p. 27). A aprendizagem vem a partir da experiência vivida, é importante criar "uma concepção de educação que compreenda a experiência como forma privilegiada de viver a infância e rica possibilidade de as crianças elaborarem sentidos e significados sobre o mundo pessoal, social e cultural" (Simiano; Simão, 2016, p. 82).
Percebe-se a importância de pesquisar os princípios da educação científica ainda na Educação Infantil e "valorizar as experiências com o mundo para a ampliação de aprendizados; estimular a imaginação e a indagação são princípios de toda educação científica" (Haile, 2018, p. 86) desde os primeiros momentos da Educação Básica. A Educação Infantil é a primeira fase da educação, e, nesse sentido, serve como ambiente potencializador de aprendizagens, curiosidade, investigações e experimentações, sendo um ponto de partida para reconhecer novas possibilidades.
Aprendizagens
As aprendizagens são construídas diariamente na escola. "As crianças, em suas invenções, investigações, brincadeiras, descobertas, criam seus percursos de aprendizagens" (Simiano; Simão, 2016, p. 83), e a escola deve proporcionar esses espaços de aprendizagens e descobertas para que as crianças possam vivenciar esses momentos no seu cotidiano escolar. A Educação Infantil tem uma riqueza nas possibilidades de aprendizagem, principalmente quando mencionamos o tempo e o espaço, que são pensados e direcionados ao brincar, sendo assim a melhor forma de a criança aprender.
Sem dúvidas, a brincadeira é a principal forma de aprender na Educação Infantil. Nessa etapa, o brincar toma papel importante na construção das aprendizagens da criança; por meio dele, elas constroem suas hipóteses e teorias sobre o mundo, se permitindo viver experiências extremamente significativas para a sua constituição. Segundo Dias (2019, p. 47), "os jogos e as brincadeiras são fundamentais para o desenvolvimento de atitudes e posturas para a aprendizagem", principalmente quando se trata da primeira infância, na qual as primeiras investigações vêm a partir desses momentos, muitas vezes de trocas e compartilhamentos com os colegas.
Durante a vivência da docência na Educação Infantil, é importante estar atento aos diferentes momentos vividos pelas crianças. O planejamento precisa ser transitivo e estar sempre aberto a seguir novos caminhos e ir atrás de novos olhares. As ações educativas necessitam estar relacionadas às experiências vividas cotidianamente dentro da escola. A criança precisa testar possibilidades, repetir suas ações de forma que possa elaborar suas hipóteses para construir suas aprendizagens; sendo assim, é importante que as experiências vividas possam servir de estratégia para a construção da aprendizagem e do interesse em conhecer mais.
Explorar as ciências na Educação Infantil surge a partir do momento em que se percebem as ciências no cotidiano infantil, das coisas mais singelas até os momentos mais importantes do dia a dia. "Ensinar ciências é sempre ir além do perceptível, do imaginável; é ouvir e dar voz às crianças diante dos fenômenos do mundo e levar esse deslumbramento para a sala de aula" (Haile, 2018, p. 13). É importante que esses deslumbramentos, como afirmou a autora, possam se tornar parte da curiosidade da criança. É importante que o professor tenha a percepção dessas oportunidades e as torne estratégia para o surgimento de novos interesses durante os percursos pedagógicos.
As aprendizagens se potencializam com a vivência dos experimentos. Segundo Dias (2019, p. 47), "as atividades experimentais seriam uma excelente oportunidade para vivenciar e fomentar o espírito criativo e investigativo das crianças", porém é necessário instruí-las de que essa não é a única forma de fazermos/vermos a existência das ciências ou do pensamento científico. As crianças possuem grande capacidade de compreender o mundo onde vivem, só necessitam que seja proporcionada a elas estratégia para fazê-lo.
Concepções de infância
Ao refletirmos sobre o conceito de criança, é necessária sua compreensão como um ser integral e como se constitui. Como afirma Lima (2020, p. 24), "uma pessoa inteira em seus aspectos motores, afetivos, cognitivos e linguísticos". Com o passar do tempo, o conceito de criança foi se modificando; inicialmente elas eram "consideradas como meros seres biológicos, sem estatuto social nem autonomia existencial" (Sarmento, 2004, p. 3), que estavam prontas para serem lapidadas e se tornar algo, concluindo assim que, "apesar de sempre ter havido crianças, nem sempre houve infância" (Sarmento, 2004, p. 3).
Hoje já se identificam os pequenos como seres completos que carregam consigo bagagens, histórias, culturas, desejos, anseios e experiências, entre outros aspectos que os tornam únicos e completos. Por isso, é importante garantir que "cada criança se insira na sociedade não como um ser estranho, mas como um actor social portador da novidade que é inerente à sua pertença à geração que dá continuidade e faz renascer o mundo" (Sarmento, 2004, p. 2), dando-lhe espaço de pertencimento e de protagonismo para o seu reconhecimento de novos valores e aprendizados que as experiências lhe proporcionarão. Certamente, ao ingressar na escola, podemos perceber a ampliação das experiências, a construção do conhecimento e a busca por novas aprendizagens, porém é crucial que se olhe para elas como seres que carregam consigo experiências e vivências únicas e que, com a convivência em conjunto, poderá acrescentar no aprendizado de cada uma.
Assim como a criança deve ser entendida como um ser integral, "a concepção de criança protagonista do seu aprendizado, respeitada nos seus direitos e sempre ocupando um lugar de capaz, curiosa, ativa" (Lima, 2020, p. 59), deve-se observar nesse ser que traz consigo um infinito de possibilidades e oportunizá-lo a vivenciar suas experiências a partir de seu olhar. Muitas vezes, ao facilitar uma tentativa, tentando fugir de frustrações, o professor acaba interferindo na aprendizagem. Toda tentativa é uma experiência e por si só ela já é um aprendizado, mesmo quando não acaba da maneira planejada.
A infância é o momento de despertar o interesse pelo mundo, e a escola tem papel fundamental nesse despertar. Segundo Simiano e Simão (2016, p. 78), "pensar a experiência como forma privilegiada de viver a infância requer acreditar na rica possibilidade de as crianças elaborarem sentidos e significados sobre o mundo". A escola, como ambiente socializador, promove vivências diversas, que são ricas para o desenvolvimento de novos olhares sobre o mundo; esses novos olhares causam dúvidas, e inquietações, que são responsáveis pela nova elaboração de sentidos sobre o mundo. Como profissional da primeira infância, o pedagogo precisa perceber essas inquietações e auxiliar a criança a transformá-las em algum sentido. Esse interesse correspondido pode ser um estímulo para o despertar da curiosidade infantil.
Sendo assim, é importante que as temáticas das ciências estejam presentes no cotidiano escolar da criança desde a sua mais tenra idade. Como seres humanos, vivemos em sociedade, e ela possui vasta diversidade cultural e social; a escola é o segundo ambiente socializador da criança, vindo depois apenas do espaço familiar. É igualmente necessário perceber que "a infância modifica-se a partir da realidade em que ela está inserida, tais como os contextos econômico, social, político, cultural, tecnológico e ideológico" (Barros, 2019, p. 39). Então, dentro da escola podemos perceber todos esses aspectos considerando a sua pluralidade em convívio cotidiano; por esse motivo, a escola demonstra seu rico potencial na aprendizagem da convivência. O profissional inserido na escola que presencia essas diferenças deve utilizá-las como estratégia de ensino sobre sociedade, sobre respeito, sobre inserção no mundo. Por esse motivo, o ensino de ciência é tão importante na Educação Infantil, pois "colabora para que as crianças se reconheçam como parte do mundo em que estão inseridas e para que possam solucionar problemas da sua vida cotidiana" (Haile, 2018, p. 31).
Currículo na Educação Infantil
A escola é sede de uma gama de compartilhamentos de saberes e processos interativos. Sabemos que na nossa sociedade existe uma vasta diversidade de culturas e contextos; a escola permite que já na infância a criança esteja exposta a vivenciar essas diferenças cotidianamente. Segundo Dias (2019, p. 22), "a infância traz, para as escolas, crianças que compartilham saberes e modos de se relacionar diversos"; dentro dessa diversidade, a criança começa a compreender que a sociedade é diferente e que existem outras culturas, passando a reconhecê-las e por consequência aprende a respeitá-las. Fortalecendo esse argumento, Barros (2019) afirma que "as vivências na Educação Infantil são alicerces para a construção de habilidades socioemocionais e relacionais" (p. 48).
A fim de promover aprendizagens significativas, é importante que o professor, em seu contexto cotidiano escolar, promova a relação do aprendizado da criança com o seu planejamento, com vistas ao conhecimento científico. O planejar na Educação Infantil deve ser um constante processo de modificação, sendo importante lidar com o inusitado, com o novo e com o momento, porém o importante é trazer a criança como centro desse planejamento; muitas vezes o inesperado surge e nos proporciona aprendizados extremamente significativos e com potencial de diversas variações, contando com o interesse da criança. Segundo Bassoto e Becker (2020, p. 4), "o conhecimento só é conhecimento quando organizado, relacionado e inserido no contexto das informações". Por esse motivo, é necessário abrir o planejamento ao inusitado e tornar as vivências cotidianas uma parte da construção do aprendizado, pois, quando relacionado, ele se torna realmente significativo.
O mundo científico deve ser introduzido à criança a partir da sua curiosidade e suas experiências. Com elas, quando vivenciadas cotidianamente dentro do espaço escolar, "as crianças acabam inseridas no mundo do conhecimento científico, por meio de uma das mais relevantes motivações, que é a curiosidade que emerge das relações e interações socioculturais" (Haile, 2018, p. 13). Para o desenvolvimento dessa curiosidade, é necessário que sejam proporcionados a elas meios de pesquisa e de interesse por novas descobertas. Momentos como reconhecimento do espaço, troca de espaços no espaço físico onde as crianças convivem cotidianamente, saídas de campo, entre outras estratégias, são ferramentas para o desenvolvimento dessa curiosidade e, assim, oportunidade de vivência de experiências científicas.
Com base nessas investigações, surge o questionamento: qual o lugar das normativas, como a BNCC, no currículo da Educação Infantil? Barros (2019) afirma que "a base é uma 'provocação' para a retomada das reflexões sobre a Educação Infantil, um aprofundamento de conceitos e concepções" (p. 88-89), e refletir sobre essa afirmação é extremamente importante para a reflexão sobre a BNCC no currículo da Educação Infantil. Por se tratar de um documento novo, ainda existe dificuldade na compreensão da construção e na execução da Base. O que se deve compreender de antemão é que ela não é uma receita de bolo, pronta para ser seguida; pelo contrário, é uma "provocação", como sugere Barros (2019), um convite para um novo olhar sobre as habilidades e aprendizagens necessárias na primeira infância.
Para que possamos desenvolver um novo olhar sobre a primeira etapa da Educação Básica a partir da BNCC, é necessário "romper com a perspectiva de um currículo burocratizado e desvinculado da vida" (Simiano; Simão, 2016, p. 78). É preciso observar a Educação Infantil como uma etapa potente e necessária para a construção da aprendizagem e o desenvolvimento pelo interesse de aprender na escola. Então é importante entendermos a Base na sua principal intenção, como afirma Lima (2020, p. 52): "a Base não é currículo, mas balizadora, cabendo às redes, escolas e comunidades constituírem diálogos que, por meio da escuta das crianças e seus territórios, construam sua identidade em consonância com a cultura local". É importante perceber a criança como um ser potente, que traz consigo sua história, cultura, crença, aprendizagem, dentre outros aspectos de seu ser social; essas características se cruzam na escola e se tornam potencialidades de aprendizagem, em que as crianças podem aprender e ensinar juntas, ao compartilhar e vivenciar juntas as experiências já trazidas e novas experiências que serão vivenciadas em conjunto. Conforme Haile (2018) afirma,
mediante o dever aferido de planejar e mediar ações pelas quais o ensino de ciências esteja presente na Educação Infantil, percebe-se a importância desse estudo na realidade das crianças e que, por meio de sua própria curiosidade, estabelecem bases pelas quais desenvolvem seu conhecimento científico (p. 28).
Então, a partir das vivências, das realidades e das experiências trazidas individualmente pelas crianças, se proporciona um ambiente rico de saberes; levar em conta esses saberes e essas diferentes realidades deve fazer parte da construção do currículo da Educação Infantil.
A especificidade da docência na Educação Infantil
O pedagogo investe na interação do indivíduo com o mundo. Como mediador da aprendizagem, possui papel essencial na construção da relação da criança com o mundo social. Segundo Lima (2020, p. 56), "essa é uma pedagogia que investe na interação do indivíduo com o mundo, destacando cada vez mais o papel do pedagogo". Como profissional que desenvolve seu trabalho e pesquisa a partir da primeira infância, o pedagogo tem papel fundamental ao auxiliar as crianças a perceber os desafios cotidianos como parte do seu desenvolvimento como ser humano.
Nesse sentido, entra a importância de desenvolver as ciências ainda dentro da Educação Infantil, que contempla a primeira infância. Haile (2018) afirma que "ensinar ciências é conduzir o aprendizado sobre o mundo nas suas reais dimensões" (p. 31), e oportunizar as experiências científicas dentro da primeira infância é oportunizar a ampliação de novos interesses e vivências significativas.
É necessário que o professor seja o mediador dos processos e experiências vividos pelas crianças, servindo como estratégia de aprendizagem e não o transmissor dela; o papel do professor na Educação Infantil é valorizar as oportunidades de aprendizagem e torná-las mais significativas. Segundo Dias (2019), é necessário que "a experiência da criança seja valorizada, que o professor seja o mediador e que a maturidade da criança seja observada" (p. 23). Os momentos vividos durante o convívio com e na escola proporciona à criança momentos diferentes dos momentos vivenciados em casa, e eles, por serem compartilhados, muitas vezes se tornam mais intensos e cheios de descobertas. Como professores, precisamos observar esses momentos de experiência e perceber a maturidade das crianças a partir daquela experiência e, a partir daí, promover debates, questionamentos, pesquisas e experimentos. É importante que o professor observe o interesse das crianças para com essa experiência e a utilize como potencializador da aprendizagem.
Como afirma Haile (2018), o professor, deve relacionar em sua prática pedagógica as experiências e saberes das crianças com uma intencionalidade educativa, que se relacionará com os novos saberes. As relações proporcionam às crianças novas perspectivas, olhares e possibilidades.
Considerações finais
As vivências e experiências na Educação Infantil são de extrema importância para a construção da aprendizagem nessa fase da educação. É a partir das experiências oportunizadas nas vivências cotidianas da Educação Infantil que a criança desenvolve seu aprendizado e seu interesse pela sociedade. Dentro dessa perspectiva, é possível visualizar o quanto é importante explorar os campos de experiências trazidos pela Base e principalmente valorizar cada aprendizado e experiência trazido pelas crianças cotidianamente dentro da escola.
As aprendizagens com os pequenos, na primeira etapa da Educação Básica, acontecem a partir das brincadeiras e das experiências que elas proporcionam. Vivenciar a docência na Educação Infantil direciona o olhar para as brincadeiras como potenciais oportunidades de aprendizado. É a partir do brincar que a criança se sente segura para aprender e reconhecer o mundo em que ela vive.
Existem diversas concepções da infância, e dentro delas muitas generalizações e conclusões sobre como é viver esse período da vida. É importante que haja uma ruptura dessa visão engessada do que significa viver as infâncias e ser criança. Tirar conclusões sobre habilidades inerentes às crianças impossibilita a exploração delas por suas próprias possibilidades, deixando apenas espaço ao que já se conhece e já se determina como verdadeiro. A infância é o espaço de se construir, tanto como sujeito como indivíduo, como parte da sociedade; o professor precisa estar ciente dessa construção e oportunizar às crianças formas de descobrirem mais sobre si mesmas e suas próprias construções.
O currículo na Educação Infantil deve ser amplo e aberto aos conhecimentos e experiências já trazidos pelos pequenos. Ao desenvolver uma pedagogia que vise promover e valorizar as culturas, os conhecimentos e as experiências trazidos por cada criança, se está abrindo espaço para novas oportunidades de construção de saberes, podendo assim abrir espaço para construções de novos olhares sobre a vida e a sociedade para as crianças.
Na especificidade da docência na Educação Infantil, pode-se perceber a importância do olhar desse profissional para a infância e seu papel no desenvolvimento desse sujeito. É importante que o professor assuma o papel de facilitador da aprendizagem, proporcionando experiências e novas oportunidades de conhecer o mundo com base em suas próprias vivências.
Referências
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Publicado em 29 de janeiro de 2025
Como citar este artigo (ABNT)
MOREIRA, Gabriela Torma; RITTER, Jaqueline. As ciências na Educação Infantil: uma análise a partir de revisão da literatura. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 4, 29 de janeiro de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/4/as-ciencias-na-educacao-infantil-uma-analise-a-partir-de-revisao-da-literatura
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