A importância do estágio supervisionado para a formação do professor de Geografia: reflexões sobre a regência
Sulamita Batista Valente
Licenciada em Geografia (UEA)
Wagner da Silva Dias
Doutor em Educação (UFJF), mestre em Geografia Humana (USP), bacharel e licenciado em Geografia (USP), professor do curso de licenciatura em Geografia do CEST/UEA
Este relato de experiência apresenta as etapas e os resultados vivenciados no estágio supervisionado, tendo como objetivo a reflexão e a descrição da experiência de regência, analisando a importância das atividades realizadas para a formação inicial docente.
Para tanto, refletiremos sobre as práticas do estágio supervisionado em duas escolas estaduais do município de Coari/AM, no ano de 2023. As atividades de estágio foram compostas pela observação participante, pelo planejamento e elaboração de atividades e pela regência. Neste trabalho, daremos atenção especial às regências realizadas no 9º ano do Ensino Fundamental e no 2º ano do Ensino Médio, pois foram momentos de maior insegurança, ao mesmo tempo que revelaram a importância do trabalho docente na condução dos conteúdos.
Observou-se, por meio das atividades de estágio, a necessidade de aperfeiçoamento permanente para a atividade docente, bem como a busca constante por novas estratégias de ensino para a preparação das aulas.
O estágio supervisionado e suas contribuições para a formação de professores em Geografia
O estágio oferece a oportunidade de participar das atividades que ocorrem no âmbito escolar, vivenciando momentos marcantes nesse processo de aprendizagem e conhecendo realidades distintas, geralmente não encontradas na universidade. É nesse momento que construímos abordagens e metodologias diferenciadas para lidar com determinadas circunstâncias, desenvolvendo em nós habilidades essenciais para a formação como futuros professores.
Mais do que isso, Pimenta e Lima (2004, p. 61) apontam:
O estágio como campo de conhecimentos e eixo curricular central nos cursos de formação de professores possibilita que sejam trabalhados aspectos indispensáveis à construção da identidade, dos saberes e das posturas específicas ao exercício profissional docente.
Durante o período vivenciado nas escolas públicas estaduais, onde desenvolvemos as atividades de estágio, pudemos perceber grandes diferenças entre as realidades escolares, cada uma com suas especificidades. O estágio nos coloca diante dessas realidades, permitindo-nos vivenciá-las e refletir sobre elas, constituindo-se como uma etapa formativa essencial para o exercício da docência.
No tocante à formação específica em Geografia, não basta apenas dominar os conceitos e categorias de análise do componente curricular; é necessário estar disposto e aberto a vivenciar múltiplas experiências em contextos distintos, para que o processo de preparação docente seja realmente eficaz. Segundo Araújo e Gomes (2018, p. 7), “a prática de estágio supervisionado em geografia requer uma sempre constante releitura da realidade”, exigindo que os estagiários estejam aptos a mudanças e adaptações, pois cada instituição, corpo docente e turma possui características e especificidades próprias. O acadêmico estagiário é, nesse contexto, um estranho naquele ambiente e, ao mesmo tempo, um aprendiz — alguém que deve estar aberto a aprender, observar o que de fato faz um professor em exercício e, principalmente, compreender a dinâmica de uma sala de aula com os estudantes.
De acordo com os autores,
o momento do estágio supervisionado, em vez de verificação de aprendizagem do futuro docente, deve ser de promoção deste futuro docente. Ou seja, devemos promovê-lo para que, da parceria entre universidade e escola, nosso aluno seja promovido da condição de estagiário à condição de docente. Enfim, que ele comece enquanto estagiário e termine como professor (Araújo; Gomes, 2018, p. 12).
É dessa forma que o estágio supervisionado nos proporcionou a oportunidade de perceber nossa escolha profissional e os desafios da carreira, constituindo uma etapa muito significativa e singular. O graduando, inserido nas discussões acadêmicas da universidade, deve promover a interlocução entre os saberes da escola e os saberes da universidade.
Estágio supervisionado: experiências vivenciadas
Como licenciandos em Geografia, a prática do estágio supervisionado nos proporcionou desenvolver diversas habilidades por meio da observação, descrição, planejamento e participação em atividades. Ele “é um espaço de formação e de construção de saberes que oportuniza o desenvolvimento das aprendizagens significativas e indispensáveis da docência” (Martins; Tonini, 2016, p. 102). O estágio também nos estimulou a desenvolver o pensamento crítico e a refletir sobre diferentes estratégias para a construção da aprendizagem, haja vista que, para ensinar, é necessário utilizar diversas metodologias e abordagens para que esse processo seja significativo.
Durante o período do estágio, muitas atividades foram realizadas, cada uma com suas especificidades e desafios. Contudo, com a orientação das professoras supervisoras das instituições de ensino, conseguimos executar todas as tarefas, sempre nos adaptando às turmas e à dinâmica da instituição. Muitas propostas planejadas a partir dos componentes curriculares da universidade não puderam ser colocadas em prática, pois a realidade encontrada foi mais diversa do que esperávamos.
As atividades previstas para a sala de aula, por exemplo, exigiram, em alguns momentos, que priorizássemos o domínio de turma em detrimento de outras habilidades, uma vez que os estudantes, em geral, mostravam-se bastante agitados e inquietos. Durante as observações realizadas em sala, percebemos um grande desinteresse dos alunos pelo componente curricular e identificamos os inúmeros desafios que um professor enfrenta diariamente para elaborar aulas atrativas.
Outra atividade planejada, mas que não pôde ser executada, foi a atividade de campo. As negativas para sua realização relacionaram-se a questões que iam desde a burocracia envolvida até a falta de confiança nas turmas. Há diversas questões que o docente deve considerar em sua prática, sobretudo compreender os contextos que o cotidiano escolar revela sobre cada turma, percepção fundamental para o processo de ensino-aprendizagem.
Ser professor é ir além da simples reprodução de conteúdo e conhecimentos que foram previamente adquiridos em processos de formação. Ser professor é ser sujeito ativo do processo de ensino e aprendizagem, participante de uma construção que dever ser bidirecional, na medida em deve ser baseada na troca de conhecimentos e experiências entre alunos e professores (Custódio; Martins Júnior, 2016, p. 4).
A partir da afirmação dos autores, podemos perceber a complexidade do fazer docente, que precisa abdicar dos métodos tradicionais de ensino e desenvolver estratégias que coloquem o estudante como protagonista. A mediação dos conteúdos deve primar pela aprendizagem significativa. Esse aspecto representou o maior desafio nas atividades de estágio, pois muitos de nós somos oriundos de metodologias tradicionais vivenciadas na escola básica. As referências de nossa vida escolar e a constatação de que o ensino tradicional ainda é muito comum em certas escolas nos deixam com poucos exemplos para nos inspirar. Nesse ponto, os saberes assimilados nos componentes curriculares do curso de licenciatura foram fundamentais para pensarmos em outras formas de ensino.
O estágio supervisionado é apenas o primeiro passo em nosso processo de formação profissional, pois proporciona a realização de várias atividades no âmbito escolar, tornando nossa preparação mais eficiente e de qualidade, aperfeiçoando nossas experiências e rompendo barreiras para conduzir nossos futuros estudantes ao conhecimento, além de mediar, orientar e incentivá-los à aprendizagem.
Preparação e desenvolvimento da regência
Durante os dias em que passamos pelas turmas do Ensino Fundamental e médio, planejamos diversas atividades. O mais interessante é que produzíamos nossos próprios recursos didáticos para que as aulas fossem mais atrativas e promovessem a participação dos estudantes. Por exemplo, na aula sobre os elementos que compõem um mapa, abordamos o assunto utilizando alguns mapas impressos da internet e, em seguida, realizamos uma atividade em que cada aluno criaria seu próprio mapa mental. Cada estudante produziu seu mapa, deu-lhe um nome, adicionou legenda, escala e orientação, e, por fim, coloriu-o. Foi muito gratificante ver a atividade concluída, pois ficou evidente que os estudantes compreenderam os conteúdos abordados.
Para ensinar, o professor deve ser capaz de assimilar uma tradição pedagógica que se manifesta através de hábitos, rotinas e truques do ofício; deve possuir uma competência cultural oriunda da cultura comum e dos saberes cotidianos que partilha com seus alunos; deve ser capaz de argumentar e de defender um ponto de vista; deve ser capaz de se expressar com certa autenticidade, diante dos alunos; deve ser capaz de gerir uma sala de aula de maneira estratégica, a fim de atingir os objetivos de aprendizagem, conservando sempre a possibilidade de negociar seu papel; deve ser capaz de identificar comportamentos e de modificá-los até certo ponto. O “saber-ensinar” se refere, portanto, a uma pluralidade de saberes (Tardif, 2005, p. 178).
As professoras supervisoras, tanto do Ensino Fundamental quanto do Ensino Médio, nos deram muitas oportunidades de atuar em sala de aula, pedindo que nós, estagiários, aplicássemos avaliações, exercícios de consulta, correção das atividades nos cadernos dos alunos, revisão de assuntos já trabalhados, aplicação de provas paralelas para alunos faltosos, acompanhamento de estudantes com dificuldades de compreensão e auxílio em suas dúvidas. Nessas oportunidades, foi possível criar ao mesmo tempo em que aperfeiçoávamos nossa formação durante o estágio supervisionado.
Vale ressaltar que uma das atividades mais realizadas era o planejamento de sequências didáticas a serem trabalhadas nas turmas. A professora supervisora nos informava o tema e, em seguida, devíamos estudar e planejar a sequência. Houve oportunidades em que executávamos nosso próprio planejamento, oportunizando um verdadeiro aprendizado.
Outras atividades realizadas incluíram acompanhamento e observação para compreender a dinâmica das turmas, o comportamento dos estudantes e a condução das aulas pela professora. Uma das atividades iniciais em que observamos e auxiliamos a professora supervisora envolvia a aplicação de atividades para alunos sem notas ou com muitas faltas, o que nos pareceu uma dinâmica bastante interessante, pois nos permitia exercer nossa criatividade e senso crítico. Em nossas observações, percebemos que a professora utilizava livros didáticos para que os alunos lessem e registrassem informações, iniciando, em seguida, problematizações sobre o tema que envolviam toda a turma na participação da aula.
Outra intervenção interessante que realizamos envolvia atividades com o livro didático, nas quais solicitávamos a leitura de trechos e, após a elaboração de perguntas em conjunto com os estudantes, organizávamos a turma em grupos para debater as questões. Apesar do receio de que esse tipo de atividade pudesse gerar indisciplina, o que ocorreu em alguns momentos, as turmas se mostraram muito receptivas, e as aulas alcançaram os objetivos, promovendo a participação e o engajamento dos estudantes.
Acompanhamos estudantes com dificuldades de aprendizagem, problemas na entrega de atividades e notas baixas. Além de acompanhar, aplicamos exercícios, atividades avaliativas e algumas avaliações específicas para esse grupo. Esse acompanhamento também foi revelador para nossa formação como estagiários, confirmando que, dentro de uma turma, cada aluno aprende no seu próprio ritmo, e que estratégias de ensino homogeneizantes devem ser desencorajadas.
Diante de alguns sucessos em nossas propostas, cabe ressaltar que as turmas do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, de modo geral, foram desafiadoras, pois os estudantes eram inquietos e agitados. Essa realidade nos colocou à prova, fazendo-nos refletir como futuros professores. Vivenciar e propor soluções para essas adversidades em sala de aula foi positivo para nossa formação, e o estágio supervisionado nos prepara para as situações que um professor enfrentará em diversos momentos de sua carreira.
A construção de umatrajetória profissional necessita de um determinado tempo e envolve saberes que são construídos e se legitimam no dia a dia da sala de aula, sendo influenciados pelas características pessoais de cada um epelos enfrentamentos próprios da profissão (Martins; Tonini, 2016, p. 4).
De acordo com as autoras, percebemos que esses saberes, que usamos nos momentos adversos de conflito, são os que definirão como proceder em sala de aula, e o estágio nos proporciona exatamente esse tipo de vivência, colocando-nos à frente de diversas realidades para que nosso processo de formação seja construtivo.
A regência no Ensino Fundamental
Sabemos que, para um acadêmico estagiário realizar sua regência, é preciso que ele compreenda todas as orientações passadas pelos orientadores e pela supervisão. A principal diferença da regência em relação a uma aula cotidiana é que a regência é uma atividade avaliativa. Vale enfatizar que, antes mesmo da data da regência ser definida, já havíamos nos preparado, acompanhando e observando as aulas das professoras e, principalmente, a dinâmica de cada turma. Inclusive, como afirmamos, algumas aulas foram ministradas por nós. Esse conjunto de experiências proporcionou mais tranquilidade para o cumprimento da tarefa.
Uma vez definida a data da regência, nos reunimos com a professora supervisora do 9º ano para verificarmos quais temas estavam previstos para o dia indicado. Decidimos pelo tema “A economia global e o aumento do desemprego”, presente no planejamento da professora.
Com a temática definida, iniciamos a pesquisa bibliográfica sobre a economia global. Consultamos referências específicas sobre geografia econômica e globalização, estatísticas oficiais sobre economia e desemprego, além de selecionar recortes de jornais que abordavam essas questões no Brasil e no mundo.
Concluída a seleção de materiais, elaboramos o roteiro básico para o planejamento da aula. Definimos o objetivo geral e os objetivos específicos, dividindo o conteúdo em quatro tópicos para estruturar a linha de raciocínio e alcançar o resultado esperado. Para a aplicação da regência, planejamos uma dinâmica inicial de contextualização do assunto e, por fim, elencamos os recursos didáticos e a atividade avaliativa a ser aplicada no final.
No dia da regência, tivemos acesso aos recursos audiovisuais da sala de mídia da instituição, o que é relevante, pois nem sempre isso é possível devido à grande concorrência pelos equipamentos. Entretanto, a sala estava sem climatização adequada devido a um defeito no ar-condicionado. Estávamos em uma escola no município de Coari, interior do Amazonas, por volta das dez horas da manhã. O calor tornou os estudantes mais agitados que o normal, oferecendo um desafio adicional à execução da regência.
Iniciamos a aula com a distribuição de uma imagem para provocar a reflexão dos estudantes e estimular sua opinião. Após alguns momentos de discussão motivados pela imagem, abordamos os conceitos de globalização, economia global, globalização econômica, pobreza e tipos de desemprego. Durante essa abordagem, os estudantes eram instigados a comentar o assunto, configurando uma aula expositiva dialogada. Ao final, fizemos a associação entre economia global, desemprego e pobreza.
A atividade avaliativa não pôde ser realizada dentro do tempo da aula, pois o calor dificultou a concentração dos estudantes. A desvantagem foi que a regência não pôde ser concluída completamente, e não foi possível fechar o ciclo entre as provocações iniciais e as reflexões finais dos alunos. A atividade foi entregue em outro dia e, embora tenha sido corrigida, a devolutiva ficou um pouco fora de contexto.
A regência no Ensino Médio
O estágio supervisionado proporciona a oportunidade de nos prepararmos para realizar uma boa regência, haja vista que estamos observando como funciona o ambiente escolar, suas dinâmicas e perfil. Com a orientação dos professores-orientadores e da supervisão, é possível alcançar alguma experiência inicial em sala de aula, atuando diretamente e participando de todas as atividades que o cotidiano escolar oferece.
De maneira mais concisa, descreveremos a preparação e o desenvolvimento da regência. Uma vez definida a data para sua realização, nos reunimos com a professora supervisora para verificar quais temas estavam previstos para o dia proposto. A partir do planejamento da professora, decidimos pelo tema “problemas ambientais urbanos e rurais”, que seria trabalhado com uma turma do 2º ano do Ensino Médio.
Com a temática definida, utilizamos a mesma metodologia da regência anterior, pois verificamos que os procedimentos adotados haviam contribuído para a elaboração da regência. Assim, realizamos pesquisa bibliográfica, consultamos textos jornalísticos e materiais audiovisuais sobre o tema. Elaboramos o roteiro da sequência didática, com objetivos, problematização inicial e tópicos a serem desenvolvidos e, por fim, planejamos uma atividade avaliativa a ser aplicada ao final da regência.
Na semana da realização da regência, as aulas foram suspensas devido a uma obra de infraestrutura da escola. Considerando o calendário do componente curricular, que se encerrava nesta semana, algumas medidas foram adotadas. O dia e horário da regência foram mantidos, mas sua execução ocorreu em uma sala da universidade e contou com a presença dos professores-orientadores do componente curricular e dos outros estagiários da escola que enfrentavam a mesma situação.
O desafio aumentou, sobretudo pela ausência de estudantes na sala de aula, já que todo o plano havia sido elaborado considerando a dinâmica com os alunos. Essa questão tornou-se, portanto, um problema adicional a ser superado. No horário combinado, iniciamos a regência. Todas as atividades foram apenas sugeridas, e não foi possível desenvolver o debate planejado com os estudantes. Houve um esforço claro para cumprir o plano, mas o contexto foi muito diferente daquele previsto.
Ao final da aula, entregamos a atividade avaliativa, que não foi respondida pelos presentes, servindo apenas para ilustrar as intenções do planejamento. Estamos certos de que a aula teria sido muito mais efetiva se tivesse ocorrido em sala de aula com os alunos do 2º ano presentes. Esta experiência evidencia a complexidade da dinâmica da escola pública, marcada por imprevisibilidades que, neste caso, resultaram na paralisação das aulas devido a uma obra emergencial.
Análise das atividades realizadas durante as regências
É válido destacar que os momentos da regência, do planejamento à correção da atividade avaliativa, nos colocaram à prova diante de uma realidade que pode ser comum nas instituições de ensino, como a falta de recursos didáticos, a desmotivação e a falta de compromisso por parte dos estudantes, a indisciplina, problemas de última hora na escola, entre outros. Como futuros professores, devemos nos adaptar a essas situações e buscar metodologias que promovam a atenção e a participação do estudante, de modo que essas adversidades interfiram menos no processo de ensino-aprendizagem.
Nossa estratégia para a aplicação das regências buscava a máxima participação dos alunos, utilizando dinâmicas e problematizando algumas questões para que eles se colocassem em momentos de reflexão.
Destaca-se a importância de se estimular atividade que priorizem a comunicação e o debate entre os pares em sala de aula, pois são inciativas que tendem a estimular a socialização de ideias, a verbalização das opiniões, manifestadas por meio da leitura e da escrita, como práticas que devem ser prioridade no processo deensino e aprendizagem em Geografia (Custódio; Martins Júnior, 2016, p. 7).
Diante disso, é de extrema importância que exista esse momento de comunicação entre professor e aluno, no qual a aula se torne um debate, com exposições de diferentes opiniões sobre o tema abordado. Essas iniciativas podem fazer grande diferença na condução da aula e estimular a participação de todos. A relevância do posicionamento do estudante está no fato de que ele pode exercitar a reflexão, a argumentação e colaborar para a formação do pensamento crítico. Apoiamo-nos em Custódio e Martins Júnior (2016, p. 7) como inspiração para continuar elaborando propostas com essas finalidades:
Para que o saber ensinado se efetive em conhecimento construído pelos alunos, os professores não devem conduzir o processo deensino e aprendizagem de forma solta e descontextualizada, as referências precisam ser concretas e significativas a fim de que a construção do saber se realize a partir da troca, do trabalho conjunto de ambos.
Podemos inferir que, para o professor de Geografia ter um papel importante na vida escolar de seus alunos, é necessário que ele busque uma metodologia que abranja o tema de forma contextualizada. No caso da Geografia, é fundamental que os professores despertem neles o conceito de raciocínio geográfico, com referências concretas, para que a construção do saber seja alcançada. Como afirma Silva (2021, p. 36), “o raciocínio geográfico é definido como um modo de se pensar exclusivo da Geografia, que permite a interpretação de situações geográficas”.
O estágio teve importância singular em nossa formação. A observação participante, a prática da regência e os ensinamentos das experiências vividas no dia a dia da escola serão de grande serventia para amparar nossa prática profissional como futuros professores. O estágio em si ajudou a desvendar realidades ocultas que as teorias e os saberes da universidade, sozinhos, não conseguem explicar. A aproximação com os saberes escolares e com o cotidiano da escola e suas relações é fundamental, e o estágio supervisionado é o momento privilegiado para essas descobertas.
Essa aproximação da realidade que a prática do estágio possibilita é essencial para os estagiários de um curso de licenciatura. Muitas vezes, nos depararemos com a dura realidade de escolas sem estrutura adequada e sem recursos para sua manutenção. Nas escolas observadas, pudemos notar uma diversidade significativa de personalidades que disputam o mesmo espaço e tendem a conviver, apesar da carência de certos aparatos técnicos para desenvolver as aulas com mais qualidade.
Chegar ao final de mais uma etapa deste processo de formação é, contudo, muito gratificante; aquela insegurança é esquecida, deixada para trás. Com isso, ao reconhecermos que o estágio é fundamental, destacamos o papel das regências, pois muito do que observamos e elaboramos culmina nesse momento. A regência nos fez pensar em valorizar nossa carreira e nos faz aguardar por outra oportunidade de estar à frente de uma sala de aula.
Considerações finais
O estágio é um momento de extrema seriedade na vida dos acadêmicos e possui singular importância no seu processo de formação profissional. Ele é constituído por um conjunto de atividades que possibilitam ao estudante vivenciar o cotidiano da escola e reconhecer a realidade da sala de aula.
Através dele, pudemos perceber como as escolas se organizam, inclusive do ponto de vista burocrático. Também orientamos nossa postura, nosso vocabulário e a relação com os docentes, alunos e funcionários da escola. Entendemos como o dia a dia de uma escola é dinâmico, a começar pelos horários dos componentes curriculares em cada turma. Diante de tudo isso, passamos por diversas situações que permitiram a interlocução entre os saberes da universidade e os saberes da escola, ambos essenciais para nossa formação docente.
Durante o período de estágio supervisionado, nos deparamos com diversas situações que proporcionaram grande aprendizado, adquirindo experiência com as realidades vivenciadas. É evidente que algumas experiências não foram fáceis, pois o ambiente escolar é composto por uma diversidade de situações, exigindo reflexão para que delas se aprenda.
A realização das regências, especificamente, reafirmou e nos ajudou a refletir sobre tudo aquilo que havíamos estudado e observado durante o estágio. O conjunto de tarefas que envolve o planejamento de uma aula reforça a necessidade de atualização permanente e de formação continuada do corpo docente. Mesmo com a aula bem planejada, a realidade de uma turma é muito dinâmica, mostrando que nem sempre o que planejamos para uma turma pode ser aplicado a outra. O mesmo se aplica às situações imprevisíveis da própria escola. Em nossas regências, nas duas oportunidades, a infraestrutura da escola apresentou desafios adicionais: no primeiro caso, uma sala de aula sem ar-condicionado, e no segundo, a suspensão das aulas por uma semana.
Certas aprendizagens são fundamentais para o desenvolvimento de habilidades e competências do docente, e a regência é um momento em que há uma confluência de saberes, iniciativas e reflexões. Longe de ser banal, a realização da regência reúne os conhecimentos acadêmicos, os saberes adquiridos na escola, a visão de mundo e de educação, e as características pessoais de cada estagiário.
Por fim, acreditamos que muitos objetivos foram alcançados durante o estágio e, principalmente, na regência. O principal indicador disso é o fato de termos atendido todas as expectativas em relação ao cumprimento das atividades dentro da nossa carga horária. Sempre esperamos que o plano seja cumprido tranquilamente, mas a experiência mostrou que as dificuldades são reais. O cansaço físico e psicológico no ambiente escolar revelou-se como um dado que exige atenção na carreira docente. Apesar disso, mantemos a expectativa de crescimento na carreira, conscientes de que não encontraremos uma escola perfeita, mas de que devemos trabalhar com essas imperfeições e transformá-las, na medida do possível, em benefício do exercício da profissão.
Referências
ARAÚJO, J. C. de; GOMES, R. de C. da C. Formação docente e estágio supervisionado para uma educação geográfica significativa.I COLÓQUIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA, Maceió. Anais... 12-14 mar. 2018.
CUSTÓDIO, G. A.; MARTINS JÚNIOR, L. M. Formação de professores:uma experiência no estágio supervisionado em Geografia.Edição especial - II CONGRESSO IBERO-AMERICANO CRIAR EDUCAÇÃO. 2016. Disponível em: https://doi.org/10.18616/ce.v0i0.2881. Acesso em: 13 fev. 2024.
MARTINS, R. E. M. W.; TONINI, I. M. A importância do estágio supervisionado em Geografia na construção do saber/fazer docente. Geografia, Ensino & Pesquisa, v. 20, nº 3, p. 98-106, 2016.
PIMENTA, S. G.; LIMA, M. S. L. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2004.
SILVA, P. A. de. O raciocínio geográfico: mobilizações intelectuais na interpretação de situações geográficas. Tese (Doutorado em Geografia) - Departamento de Geografia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, UFMG, 2021.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2005.
Publicado em 22 de outubro de 2025
Como citar este artigo (ABNT)
VALENTE, Sulamita Batista; DIAS, Wagner da Silva. A importância do estágio supervisionado para a formação do professor de Geografia: reflexões sobre a regência. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 40, 22 de outubro de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/40/a-importancia-do-estagio-supervisionado-para-a-formacao-do-professor-de-geografia-reflexoes-sobre-a-regencia
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