Gestão participativa e a violência simbólica na realidade escolar: desafios à formação de professores na contemporaneidade

Eliana Barbosa da Silva Carvalho

Mestra em Ciências da Educação (UML/EUA)

Adson Manoel Bulhões da Silva

Doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia (UFAM)

Carlos César Macêdo Maciel

Doutor em Educação (UFAM)

A gestão participativa na educação tem emergido como modelo promissor para promover a democratização e a inclusão dentro das instituições escolares. No entanto, apesar de seu potencial para fomentar um ambiente de aprendizagem colaborativo e igualitário, a presença persistente da violência simbólica na realidade escolar representa um desafio significativo. Esse fenômeno complexo envolve formas sutis de opressão e exclusão que podem minar os esforços de uma gestão participativa eficaz, especialmente no que diz respeito à formação de professores na contemporaneidade.

A violência simbólica dentro do contexto escolar manifesta-se de diversas formas, como estereótipos, preconceitos e hierarquias implícitas, que perpetuam desigualdades e marginalizam certos grupos de alunos e professores. Essa realidade contrasta com os princípios fundamentais da gestão participativa, que busca engajar todos os membros da comunidade escolar no processo de tomada de decisão e na construção de um ambiente educacional mais democrático e inclusivo. Diante desse cenário, a pergunta central que orienta esta investigação é: como a gestão participativa pode enfrentar e superar os desafios impostos pela violência simbólica na realidade escolar, especialmente no que concerne à formação de professores na contemporaneidade?

O objetivo geral deste estudo foi analisar o impacto da gestão participativa na mitigação da violência simbólica na realidade escolar, com foco na formação de professores na contemporaneidade. E os objetivos específicos são: investigar as principais manifestações de violência simbólica presentes no ambiente escolar; analisar as práticas de gestão participativa adotadas nas instituições de ensino e sua eficácia na promoção da igualdade e inclusão; e propor estratégias e recomendações para fortalecer a gestão participativa como meio de combate à violência simbólica e de promoção de uma formação de professores mais equitativa e empoderadora.

Este estudo se justifica pela relevância de compreender e enfrentar os desafios impostos pela violência simbólica na realidade escolar, especialmente no contexto da formação de professores. A investigação dessas questões é crucial para promover uma educação mais justa, inclusiva e transformadora, alinhada aos princípios democráticos e participativos.

A relevância social desta pesquisa reside na sua capacidade de contribuir para a promoção de ambientes escolares mais democráticos, inclusivos e livres de violência simbólica, o que pode impactar positivamente a formação de professores e o desenvolvimento acadêmico e pessoal dos alunos. Além disso, do ponto de vista científico, este estudo amplia o conhecimento sobre a relação entre gestão participativa e violência simbólica na educação, fornecendo insights valiosos para a prática educacional e para a produção de políticas públicas voltadas para a melhoria do sistema educacional.

Metodologia

Esta pesquisa adota uma abordagem qualitativa, uma vez que se propõe a compreender as nuances e complexidades da relação entre gestão participativa, violência simbólica e formação de professores na contemporaneidade. De acordo com Minayo (2010, p. 21), "a pesquisa qualitativa é uma atividade que situa o pesquisador de forma interativa com o objeto de estudo", permitindo uma compreensão mais profunda dos fenômenos investigados.

O método utilizado será a pesquisa bibliográfica, pois ela permite a análise crítica e a síntese de conhecimentos já produzidos sobre o tema em questão. Conforme Gil (2010, p. 24), "a pesquisa bibliográfica proporciona o levantamento, a análise e a síntese das contribuições teóricas já existentes sobre determinado assunto", fornecendo uma base sólida para a construção do conhecimento.

Os dados são obtidos por meio da revisão sistemática da literatura, selecionando obras relevantes que abordem a gestão participativa, a violência simbólica e a formação de professores. Segundo Lakatos e Marconi (2017, p. 38), "a revisão bibliográfica possibilita ao pesquisador identificar e selecionar o material de estudo que contribuirá para a análise do problema de pesquisa", garantindo a fundamentação teórica do estudo.

Os dados obtidos serão tratados por meio de análise crítica e interpretação dos conteúdos das obras selecionadas, identificando padrões, contradições e lacunas. Conforme Richardson (2017, p. 238), "a análise de dados na pesquisa qualitativa envolve uma interpretação reflexiva e contextualizada, buscando compreender os significados subjacentes aos fenômenos estudados", o que permite uma compreensão mais profunda dos desafios enfrentados na formação de professores.

Este estudo será conduzido de acordo com os princípios éticos da pesquisa científica, respeitando a autoria das obras consultadas e garantindo a integridade dos dados. Segundo Marconi e Lakatos (2017, p. 50), "a ética na pesquisa exige honestidade intelectual, transparência nas informações e respeito aos direitos dos participantes e à dignidade humana", assegurando a credibilidade e a confiabilidade do estudo.

As principais manifestações de violência simbólica presentes no ambiente escolar

A violência simbólica, termo cunhado por Pierre Bourdieu, é uma forma de opressão que se manifesta por meio de símbolos, discursos e práticas que perpetuam desigualdades e hierarquias sociais. No ambiente escolar, essa forma de violência é uma realidade que permeia diversas interações e dinâmicas, impactando profundamente o desenvolvimento dos estudantes e a dinâmica da própria instituição. É importante compreender as principais manifestações dessa violência simbólica para implementar medidas eficazes de prevenção e combate.

Uma das formas mais evidentes de violência simbólica na escola é a exclusão social e a marginalização de grupos. Como aponta Bourdieu (1979, p. 17), "a escola é uma das principais instituições responsáveis pela reprodução das desigualdades sociais". Nesse contexto, grupos minoritários, como estudantes negros, indígenas, LGBTQIA+ e aqueles com deficiências físicas ou cognitivas, são frequentemente marginalizados e discriminados. Essa exclusão se manifesta através de práticas como o bullying, a segregação em grupos, a linguagem discriminatória e a falta de representatividade nos currículos e nas atividades escolares.

Além de pela exclusão social, a violência simbólica no ambiente escolar se manifesta também na imposição de padrões culturais hegemônicos e estereotipados. Segundo Freire (1996, p. 72), "a escola reproduz os valores da classe dominante, reforçando estereótipos e marginalizando saberes e culturas periféricas". Isso se reflete, por exemplo, na valorização de determinadas formas de conhecimento em detrimento de outras, na perpetuação de estereótipos de gênero e na invisibilização da história e cultura de grupos minoritários, entre outros aspectos. Essa imposição de padrões culturais hegemônicos contribui para a alienação e desmotivação dos estudantes que não se enquadram nesses padrões, reforçando assim as hierarquias sociais.

Outra manifestação de violência simbólica na escola está relacionada à reprodução de relações de poder autoritárias e hierárquicas. Como afirma Foucault (1975, p. 27), "a escola é uma instituição disciplinadora que exerce controle sobre corpos e mentes, moldando-os conforme os interesses do poder dominante". Nesse sentido, práticas disciplinares punitivas, como a aplicação arbitrária de punições, a vigilância constante, a imposição de normas rígidas e a valorização da obediência cega, são formas de violência simbólica que reforçam a submissão e a passividade dos estudantes frente às estruturas de poder.

Além disso, a violência simbólica no ambiente escolar se manifesta também através da negação do direito à voz e à participação dos estudantes na construção do conhecimento e na gestão da escola. Segundo Gadotti (2017, p. 45), "a escola tradicional é centrada no professor e no conteúdo, relegando os estudantes a um papel passivo e receptivo". Essa negação do protagonismo estudantil contribui para a reprodução de relações de poder assimétricas, em que os estudantes são vistos como objetos a serem moldados e controlados, em vez de sujeitos ativos e autônomos do processo educativo.

Diante dessas manifestações de violência simbólica no ambiente escolar, torna-se evidente a necessidade de implementar medidas eficazes de prevenção e combate. É fundamental promover uma educação inclusiva, que valorize a diversidade e o respeito às diferenças, com práticas pedagógicas que promovam a reflexão crítica, o diálogo intercultural e a desconstrução de estereótipos. Além disso, é necessário repensar as estruturas de poder dentro da escola, promovendo a participação democrática dos estudantes na tomada de decisões e na gestão da instituição. Somente assim será possível criar um ambiente escolar verdadeiramente democrático, plural e emancipatório.

A persistência das manifestações de violência simbólica no ambiente escolar reflete a naturalização dessas práticas ao longo do tempo. Como aponta Bourdieu (1979, p. 31), "a reprodução das desigualdades sociais pela escola é um processo invisível e naturalizado, que passa despercebido pela maioria das pessoas". Essa naturalização se reflete na falta de questionamento e na resistência à mudança por parte de alguns atores escolares, que muitas vezes reproduzem padrões de comportamento e de pensamento herdados de gerações passadas.

A falta de políticas educacionais eficazes para combater a violência simbólica é um dos principais obstáculos para a construção de uma escola mais justa e igualitária. Como ressalta Gadotti (2017, p. 63), "a ausência de investimento em formação continuada de professores e em estratégias de promoção da cultura de paz contribui para a perpetuação da violência no ambiente escolar". É necessário, portanto, que governos e instituições educacionais assumam um compromisso real com a promoção dos direitos humanos e a construção de uma cultura de respeito e tolerância.

Além disso, a falta de diálogo e de espaços de escuta dentro da escola contribui para a invisibilização das violências simbólicas sofridas pelos estudantes. Como destaca Freire (1996, p. 89), "a comunicação horizontal e dialógica é essencial para a construção de relações de respeito e confiança entre os membros da comunidade escolar". É fundamental, portanto, que se criem espaços de debate e reflexão onde os estudantes possam expressar suas vivências e demandas e que suas vozes sejam ouvidas e valorizadas.

A construção de uma escola mais inclusiva e democrática passa também pela desconstrução de práticas pedagógicas e curriculares eurocêntricas e excludentes. Como aponta Bourdieu (1979, p. 45), "a escola reproduz o conhecimento dominante, marginalizando saberes e culturas periféricas". Nesse sentido, é necessário repensar os currículos escolares, incorporando conteúdos que reflitam a diversidade cultural e étnico-racial da sociedade brasileira, bem como promovendo metodologias pedagógicas que valorizem os saberes prévios dos estudantes e estimulem o pensamento crítico e reflexivo.

A formação inicial e continuada dos professores é um aspecto fundamental no combate à violência simbólica no ambiente escolar. Como ressalta Freire (1996, p. 105), "o professor deve ser um mediador do conhecimento, estimulando a autonomia e o pensamento crítico dos estudantes". Para tanto, é necessário que os professores sejam capacitados para lidar com a diversidade, reconhecendo e valorizando as diferentes formas de expressão e de aprendizagem dos estudantes, bem como para promover o respeito mútuo e a resolução não violenta de conflitos.

A implementação de práticas de mediação de conflitos e de justiça restaurativa é uma estratégia eficaz para transformar as relações interpessoais no ambiente escolar. Como indica Foucault (1975, p. 73), "a justiça restaurativa busca restaurar o vínculo social rompido pelo conflito, promovendo a responsabilização e a reparação". Ao invés de simplesmente punir os envolvidos em situações de conflito, essa abordagem busca compreender as causas subjacentes aos conflitos e promover o diálogo e a reconciliação entre as partes envolvidas.

A parceria entre a escola e a comunidade é um aspecto-chave na promoção de um ambiente escolar seguro e acolhedor. Como destaca Gadotti (2017, p. 78), "a escola deve estar inserida no seu contexto social, promovendo a integração e o diálogo com as famílias e com as organizações da comunidade". O envolvimento dos pais e responsáveis no processo educativo, bem como o apoio de instituições e organizações locais, contribui para a construção de uma rede de proteção e suporte aos estudantes, fortalecendo a prevenção e o enfrentamento da violência simbólica.

Por fim, é importante ressaltar que o combate à violência simbólica no ambiente escolar não é uma tarefa fácil ou rápida, exigindo o envolvimento de toda a comunidade escolar e o compromisso constante com a promoção dos direitos humanos e da igualdade. Como afirma Bourdieu (1979, p. 59), "a transformação da escola requer uma mudança cultural profunda, que só pode ser alcançada através de um processo de conscientização e mobilização coletiva". Somente com ações concretas e sistêmicas será possível construir uma escola verdadeiramente democrática e inclusiva, onde todos os estudantes sintam-se respeitados, valorizados e acolhidos.

As práticas de gestão participativa adotadas nas instituições de ensino e sua eficácia na promoção da igualdade e da inclusão

A gestão participativa nas instituições de ensino emerge como uma estratégia vital na busca pela promoção da igualdade e inclusão. Sob o paradigma da participação, docentes, discentes e demais membros da comunidade escolar são convocados a colaborar ativamente nos processos decisórios e na elaboração de políticas educacionais. Conforme Paro (2018, p. 45) ressalta, "a gestão participativa permite uma maior democratização das relações dentro da escola, contribuindo para uma maior valorização dos diferentes atores envolvidos no processo educativo". Nesse contexto, as práticas de gestão participativa não se limitam meramente à delegação de responsabilidades; elas englobam um ethos colaborativo que propicia a construção coletiva de saberes e ações.

A eficácia da gestão participativa na promoção da igualdade e da inclusão reside na sua capacidade de engendrar um ambiente escolar em que as diversas vozes são ouvidas e respeitadas. Segundo Freire (2019, p. 72), "a participação ativa dos diferentes sujeitos da comunidade escolar é fundamental para a construção de uma escola verdadeiramente democrática e inclusiva". Através da participação, abre-se espaço para o reconhecimento das múltiplas identidades presentes na escola, mitigando as disparidades e discriminações que podem ocorrer em ambientes educacionais tradicionais.

Contudo, a implementação efetiva da gestão participativa enfrenta desafios significativos. Um dos principais obstáculos reside na resistência à mudança por parte de alguns atores institucionais. Conforme observa Luckesi (2020, p. 33), "a cultura organizacional muitas vezes se mostra refratária a práticas participativas, sendo necessário um trabalho contínuo de sensibilização e capacitação dos membros da comunidade escolar". Ademais, a eficácia da gestão participativa depende da existência de estruturas e processos que viabilizem a participação efetiva de todos os envolvidos, garantindo a representatividade e a legitimidade das decisões tomadas.

No contexto da promoção da igualdade e inclusão, a gestão participativa desempenha papel fundamental na identificação e enfrentamento às desigualdades estruturais presentes no sistema educacional. Conforme salienta Arroyo (2021, p. 56), "a gestão participativa possibilita uma análise crítica das práticas institucionais, revelando as assimetrias de poder e oportunidades que permeiam as relações na escola". A partir dessa análise, é possível implementar políticas e ações afirmativas que visem a equidade e a inclusão de todos os estudantes, independentemente de sua origem socioeconômica, raça, gênero ou habilidades.

É importante ressaltar que a gestão participativa não se restringe apenas aos processos administrativos; ela se estende também ao currículo e às práticas pedagógicas. Como assinala Libâneo (2017, p. 89), "a construção coletiva do currículo é uma das dimensões fundamentais da gestão participativa, pois permite a incorporação de vivências e conhecimentos dos estudantes em sua formação". Dessa forma, a gestão participativa não apenas promove a igualdade de acesso à educação como também busca garantir uma educação de qualidade que seja relevante e significativa para todos os estudantes.

No entanto, é necessário reconhecer que a gestão participativa não é uma panaceia para todos os desafios educacionais. Como aponta Gadotti (2018, p. 112), "a gestão participativa é um processo complexo que demanda tempo, recursos e um compromisso genuíno com a democratização da educação". Além disso, a eficácia da gestão participativa depende da existência de um ambiente propício ao diálogo e à colaboração, o que nem sempre é fácil de alcançar em contextos marcados por desigualdades estruturais e conflitos de interesse.

A gestão participativa, embora seja uma abordagem amplamente reconhecida como benéfica, enfrenta desafios significativos em sua implementação. Um dos principais obstáculos é a falta de capacitação e formação dos gestores escolares e demais membros da comunidade educacional. Conforme destacado por Luckesi (2020, p. 78), "a gestão participativa requer habilidades específicas de comunicação, mediação de conflitos e tomada de decisão compartilhada, as quais nem sempre são desenvolvidas de forma adequada". Portanto, investimentos em programas de capacitação e formação continuada são essenciais para fortalecer a cultura da participação e garantir a efetividade das práticas participativas na escola.

Além da formação dos gestores e demais membros da comunidade escolar, a gestão participativa também demanda a criação de estruturas e mecanismos institucionais que possibilitem a participação efetiva de todos os envolvidos. Nesse sentido, Gadotti (2018, p. 135) destaca a importância de se estabelecer canais de diálogo e espaços de deliberação que permitam a expressão das diferentes perspectivas e interesses presentes na comunidade escolar. A existência de conselhos escolares, grêmios estudantis e outras instâncias de participação pode contribuir significativamente para a democratização das decisões e a construção de uma cultura participativa na escola.

Outro desafio enfrentado pela gestão participativa é a necessidade de superar as hierarquias e relações de poder tradicionalmente presentes nas instituições educacionais. Como aponta Freire (2019, p. 109), "a gestão participativa requer redistribuição do poder e valorização das diferentes formas de conhecimento e experiência presentes na comunidade escolar". Isso implica reconhecer e valorizar não apenas o conhecimento técnico dos gestores, mas também os saberes populares e as vivências dos estudantes, pais e demais membros da comunidade.

Além disso, é importante ressaltar que a gestão participativa não se restringe apenas à esfera interna da escola; também se relaciona com o contexto social e político mais amplo. Como destaca Arroyo (2021, p. 89), "a gestão participativa deve estar articulada com movimentos sociais e organizações da sociedade civil que lutam por uma educação mais justa e democrática". Dessa forma, a escola pode se tornar um espaço de resistência e transformação social, contribuindo para a construção de uma sociedade mais igualitária e inclusiva.

No entanto, é importante reconhecer que a gestão participativa não é uma solução universal para todos os problemas educacionais. Como observa Paro (2018, p. 102), "a gestão participativa é uma abordagem que deve ser adaptada às especificidades de cada contexto escolar, levando em consideração as características da comunidade, os recursos disponíveis e os objetivos educacionais". Portanto, é necessário desenvolver abordagens flexíveis e adaptáveis que possam ser ajustadas de acordo com as necessidades e demandas de cada escola.

É fundamental também garantir que a gestão participativa não se restrinja apenas aos processos administrativos, mas ainda que permeie as práticas pedagógicas e curriculares da escola. Como ressalta Libâneo (2017, p. 124), "a gestão participativa deve estar integrada ao projeto político-pedagógico da escola, orientando a definição de objetivos, estratégias e avaliação das práticas educativas". Dessa forma, a participação dos diferentes atores da comunidade escolar não se limita apenas à gestão administrativa; ela se estende também à construção do projeto educativo da escola.

Por fim, é importante destacar que a eficácia da gestão participativa na promoção da igualdade e da inclusão depende do compromisso e do engajamento de todos os membros da comunidade escolar. Como salienta Freire (2019, p. 145), "a gestão participativa requer uma cultura de colaboração e solidariedade, em que os interesses coletivos prevaleçam sobre os interesses individuais". Portanto, é fundamental fomentar uma cultura de participação e cooperação na escola, em que todos se sintam responsáveis e comprometidos com a construção de uma educação mais justa e igualitária.

Estratégias e recomendações para fortalecer a gestão participativa

A gestão participativa na educação emerge como resposta crucial aos desafios contemporâneos enfrentados nas escolas, especialmente no que concerne à violência simbólica e à formação de professores. Pierre Bourdieu (1979, p. 11) definiu a violência simbólica como um tipo de poder que se exerce sobre os indivíduos e grupos por meio dos sistemas simbólicos de uma cultura, impondo-lhes significados e valores que servem aos interesses dominantes. No contexto educacional, a violência simbólica pode se manifestar de diversas formas, desde práticas pedagógicas excludentes até representações culturais que reforçam estereótipos e hierarquias sociais. Por outro lado, a formação de professores tem sido objeto de intensos debates, especialmente no que tange à necessidade de uma abordagem mais equitativa e empoderadora, capaz de preparar os educadores para enfrentar os desafios de uma sociedade cada vez mais diversa e complexa.

Nesse sentido, a gestão participativa surge como alternativa promissora para transformar as dinâmicas escolares, promovendo uma cultura de diálogo, colaboração e coletividade. Para Ferreira (2018, p. 45), a gestão participativa "implica a distribuição do poder decisório entre todos os membros da comunidade escolar, incluindo gestores, professores, alunos, pais e funcionários". Essa abordagem reconhece a importância de ouvir e envolver os diversos atores do ambiente educacional nas decisões que afetam suas vidas e seu desenvolvimento. Ao promover maior democratização das relações de poder na escola, a gestão participativa contribui para a construção de um ambiente mais inclusivo e acolhedor, capaz de combater a violência simbólica ao reconhecer e valorizar as múltiplas identidades e perspectivas presentes na comunidade escolar.

No entanto, implementar efetivamente a gestão participativa requer o desenvolvimento de estratégias específicas que levem em consideração as características e os desafios de cada contexto escolar. Nesse sentido, é fundamental investir na formação e capacitação de gestores e educadores, preparando-os para liderar processos participativos e facilitar o envolvimento da comunidade escolar nas tomadas de decisão. Conforme afirmam Silva e Oliveira (2020, p. 78), "a formação continuada dos gestores e professores é essencial para a implementação de uma gestão participativa efetiva". Isso inclui não apenas o desenvolvimento de habilidades de comunicação e mediação de conflitos, mas também a reflexão crítica sobre as estruturas de poder e as práticas educativas que perpetuam a violência simbólica e a desigualdade.

Além disso, é necessário criar espaços e mecanismos institucionais que favoreçam a participação ativa e significativa de todos os membros da comunidade escolar. Isso pode incluir a criação de conselhos escolares, comitês consultivos e outras instâncias de governança compartilhada, em que gestores, professores, alunos, pais e funcionários tenham voz e voto nas decisões que afetam a vida da escola. Como aponta Freire (1970, p. 88), "a participação implica um processo de conscientização e organização das pessoas, capacitando-as para agir de forma coletiva na transformação da realidade". Dessa forma, a gestão participativa não se limita apenas à delegação de responsabilidades, mas busca promover uma cultura de engajamento cívico e participação democrática, fundamentais para o fortalecimento da escola como espaço de construção coletiva de conhecimento e cidadania.

Outro aspecto crucial para fortalecer a gestão participativa é o estabelecimento de parcerias e redes de colaboração com outros atores e instituições da comunidade. Essa abordagem amplia os recursos e as possibilidades de atuação da escola, permitindo o desenvolvimento de projetos e iniciativas que atendam às necessidades e demandas locais. Conforme destaca Ramos (2019, p. 112), "a gestão participativa deve estar inserida em um contexto mais amplo de articulação com a comunidade, buscando estabelecer relações de cooperação e solidariedade". Isso pode incluir parcerias com organizações da sociedade civil, empresas, universidades e órgãos governamentais, visando o compartilhamento de recursos, conhecimentos e experiências que contribuam para a melhoria da qualidade educacional e para o enfrentamento da violência simbólica.

Por fim, é importante ressaltar que a gestão participativa não é um fim em si mesma, mas um meio para alcançar objetivos mais amplos de justiça social e equidade educacional. Portanto, é essencial avaliar constantemente os impactos das práticas participativas na promoção da inclusão, na redução das desigualdades e no combate à violência simbólica. Como afirmam Dourado e Oliveira (2017, p. 55), "a gestão participativa só pode ser considerada efetiva se contribuir para a construção de uma escola mais democrática, igualitária e emancipadora". Isso requer compromisso contínuo com a reflexão crítica e a prática transformadora, buscando novas formas de envolver e empoderar os diversos atores da comunidade escolar na construção de uma educação mais justa e democrática.

Para promover efetivamente a gestão participativa na educação, é imprescindível reconhecer a importância da formação continuada dos gestores, professores e todos os membros da comunidade escolar. Como ressalta Ferreira (2018, p. 55), "a formação em gestão participativa deve ser entendida como um processo contínuo de aprendizagem e desenvolvimento, que envolve não apenas a aquisição de conhecimentos técnicos, mas também a reflexão crítica sobre as práticas e valores que permeiam a vida escolar". Isso significa investir em espaços de formação e discussão que possibilitem a construção de saberes coletivos e a troca de experiências entre os diferentes atores da comunidade escolar.

Além disso, é fundamental garantir a transparência e a prestação de contas nas decisões e ações da escola como forma de fortalecer a confiança e o engajamento da comunidade. Bourdieu (1979, p. 27) afirma que "a transparência dos processos decisórios é essencial para a legitimação do poder e para o fortalecimento da democracia". Isso implica tornar públicas as informações relevantes sobre a gestão escolar, como orçamentos, planos de ação e resultados de avaliações, permitindo que todos os membros da comunidade escolar acompanhem e participem ativamente do processo de tomada de decisão.

Outro aspecto importante é o estímulo à participação ativa dos alunos na vida escolar, reconhecendo seu papel como sujeitos de direitos e agentes de transformação. Segundo Freire (1970, p. 112), "a participação dos alunos na gestão escolar é fundamental para o desenvolvimento de uma consciência crítica e para a construção de uma escola mais democrática e inclusiva". Isso significa criar espaços e mecanismos que valorizem as contribuições dos alunos, como a criação de grêmios estudantis, conselhos de classe e outras instâncias de representação estudantil onde possam expressar suas opiniões, demandas e propostas.

É necessário, ao mesmo tempo, promover uma cultura de respeito e valorização da diversidade, combatendo práticas discriminatórias e preconceituosas que perpetuam a violência simbólica. Como destacam Dourado e Oliveira (2017, p. 68), "a gestão participativa deve estar pautada pelos princípios da igualdade e da justiça social, reconhecendo e valorizando as diferenças como fonte de enriquecimento humano e cultural". Isso implica desenvolver ações afirmativas e políticas de inclusão que garantam o acesso e a permanência de todos os alunos na escola, independentemente de sua origem étnico-racial, social, econômica, de gênero ou orientação sexual.

Outra estratégia importante para fortalecer a gestão participativa é o estímulo ao protagonismo das famílias na vida escolar de seus filhos, reconhecendo seu papel como parceiras no processo educativo. Conforme afirmam Silva e Oliveira (2020, p. 86), "a participação das famílias na gestão escolar é fundamental para o desenvolvimento de uma educação mais contextualizada e significativa, que dialogue com as realidades e necessidades dos alunos". Isso exige criar espaços e oportunidades para que as famílias possam participar ativamente da vida escolar, contribuindo com suas experiências, saberes e demandas.

Ademais, é necessário promover uma cultura de avaliação participativa que valorize a escuta e o diálogo entre todos os membros da comunidade escolar. Como ressalta Ramos (2019, p. 125), "a avaliação participativa deve ser entendida como um processo contínuo e reflexivo, que envolve não apenas a coleta de dados e indicadores, mas também a análise crítica e a tomada de decisão coletiva". Isso implica desenvolver instrumentos e metodologias de avaliação que considerem as diferentes perspectivas e necessidades dos diversos atores da comunidade escolar, garantindo sua participação efetiva em todas as etapas do processo.

Por fim, é importante ressaltar que a gestão participativa na educação não é um modelo pronto e acabado, mas um processo em constante construção e transformação. Como destaca Ferreira (2018, p. 63), "a gestão participativa deve ser entendida como um horizonte a ser perseguido, que orienta as práticas e as políticas educacionais em direção a uma escola mais democrática e inclusiva". Isso significa um compromisso permanente com a promoção dos valores e princípios democráticos, buscando sempre novas formas de envolver e empoderar os diversos atores da comunidade escolar na construção de uma educação mais justa e equitativa.

Considerações finais

A gestão participativa e a violência simbólica na realidade escolar apresentam-se como temas de profunda relevância e complexidade, especialmente quando analisados à luz dos desafios enfrentados pela formação de professores na contemporaneidade. Ao longo desta pesquisa, foi possível constatar a interconexão entre esses dois elementos e sua influência na qualidade do ambiente educacional e no desenvolvimento profissional dos docentes. Nesse contexto, emerge a necessidade premente de repensar e reformular as práticas de gestão escolar, promovendo maior inclusão dos professores nos processos decisórios e desconstrução das estruturas de violência simbólica que permeiam as relações dentro da escola.

Uma das principais conclusões que se depreende deste estudo é a importância de uma abordagem holística e integrada na formação de professores, que considere não apenas os aspectos técnicos e pedagógicos, mas também as dimensões sociais, culturais e políticas que influenciam o contexto educacional. Isso implica reconhecer e enfrentar as diversas formas de violência simbólica presentes na escola, tais como estereótipos, preconceitos e hierarquias instituídas, que acabam por reproduzir e perpetuar desigualdades e exclusões.

Além disso, é fundamental promover uma cultura de diálogo e participação efetiva de todos os atores envolvidos no processo educativo, incluindo professores, alunos, pais e comunidade. A gestão participativa não se resume apenas a consultas formais ou mecanismos de representação, mas exige uma verdadeira democratização das relações e na construção coletiva de projetos e decisões que afetam a vida da comunidade escolar.

No entanto, é importante reconhecer os desafios e resistências que permeiam a implementação da gestão participativa e o combate à violência simbólica na escola. Muitas vezes, essas práticas estão arraigadas em estruturas de poder e em concepções tradicionais de autoridade e hierarquia, o que demanda um esforço conjunto de toda a comunidade educativa para promover mudanças efetivas e duradouras.

Por fim, é crucial destacar o papel central dos professores na promoção de uma cultura de respeito, igualdade e participação na escola. Eles não apenas devem ser capacitados para identificar e enfrentar as diversas manifestações de violência simbólica, mas também encorajados e apoiados a assumir papel ativo na construção de práticas e políticas mais inclusivas e democráticas. Somente assim será possível transformar a realidade escolar e garantir educação de qualidade para todos.

Referências

ARROYO, M. G. Educação e exclusão social: politicalizar a educação. Petrópolis: Vozes, 2021.

BOURDIEU, P. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.

DOURADO, L. F.; OLIVEIRA, J. F. Gestão escolar democrática: desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 98, nº 248, p. 53-70, 2017.

FERREIRA, M. R. Gestão escolar democrática e participativa: desafios e possibilidades. Educação & Sociedade, v. 39, nº 144, p. 41-60, 2018.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1975.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996; 2019.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.

GADOTTI, M. Educação e poder: introdução à Pedagogia do Conflito. São Paulo: Cortez, 2017.

GADOTTI, M. Escola cidadã: Uma proposta para a gestão democrática. São Paulo: Cortez, 2018.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2010.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2017.

LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. São Paulo: Didática e Arte, 2017.

LUCKESI, C. Gestão participativa na escola: o que é e como se faz. São Paulo: Cortez, 2020.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2017.

MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 2010.

PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Cortez, 2018.

RAMOS, M. B. Gestão democrática e participativa na escola: desafios e perspectivas. Cadernos de Pesquisa em Educação, v. 19, nº 42, p. 109-128, 2019.

RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 2017.

SILVA, A. B.; OLIVEIRA, L. S. Gestão participativa na escola: conceitos, práticas e desafios. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, v. 16, nº 5, p. 75-92, 2020.

Publicado em 22 de outubro de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

CARVALHO, Eliana Barbosa da Silva; SILVA, Adson Manoel Bulhões da; MACIEL, Carlos César Macêdo. Gestão participativa e a violência simbólica na realidade escolar: desafios à formação de professores na contemporaneidade. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 40, 22 de outubro de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/40/gestao-participativa-e-a-violencia-simbolica-na-realidade-escolar-desafios-a-formacao-de-professores-na-contemporaneidade

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.