Abordagem de temas ambientais em um livro didático de Ciências do 6º ano do Ensino Fundamental

A abordagem de temas ambientais em sala de aula representa um despertar frente à realidade que circunda os estudantes, especialmente no contexto dos impactos cada vez mais significativos das mudanças climáticas. Benvindo e Serpa (2023) destacam a importância do contato com a natureza pelas crianças, pois elas estão cada vez mais privadas dessa experiência em suas vivências diárias. Os autores também ressaltam a necessidade de que os currículos escolares promovam ações práticas para estudantes e professores, com vistas a tornar os discentes protagonistas em seus processos de aprendizagem.

Nesse sentido, para uma aprendizagem eficiente, é preciso um elo transformador e propulsor: a Educação Ambiental. Contudo, alguns desafios são notórios. Para Carvalho (2012), a formação pedagógica deve propiciar uma visão holística aos cidadãos, sendo os professores mediadores do processo. Apesar de caminharem juntas, a Educação Ambiental não deve restringir-se a abordar apenas a preservação da natureza, devendo constituir-se em uma discussão mais ampla, que pressupõe a vinculação entre os eixos social e ambiental (Pinho et al., 2017).

Os currículos escolares devem estar baseados na BNCC, que representa o conjunto de aprendizagens essenciais que os alunos precisam desenvolver ao longo da Educação Básica (Brasil, 2018). Notavelmente, fica definido que as atividades pedagógicas devem orientar-se para o desenvolvimento de competências, isto é, expectativas de aprendizado em um determinado nível de ensino e, mais que isso, no que os estudantes irão fazer de posse de tais conhecimentos (Brasil, 2018). Nota-se, dessa maneira, que o objetivo da BNCC não se restringe apenas ao repasse de conteúdos, mas ao desenvolvimento de práticas de ensino contextualizadas. O caminho norteador frente à realidade descrita trata-se dos temas contemporâneos transversais (TCT), isto é, eixos essenciais de ensino que também repercutem nos cidadãos que estão sendo formados. Os TCT não pertencem a uma área de conhecimento específica; perpassam todas elas (Brasil, 2019). Destaca-se a importância do meio ambiente, um desses temas, o que demanda uma perspectiva interdisciplinar nos livros didáticos. Silva (2025) abordou um tema ambiental específico em sala de aula e destacou algumas dificuldades encontradas: a falta de recursos didáticos atualizados, a escassez de formação para os docentes e a fragmentação do currículo, o que dificultou o tipo de exploração proposta.

O ensino de Ciências nas séries iniciais é a base das Ciências da Natureza; conforme descrevem Müller e Silva (2023, p. 4),

o ensino de Ciências é de extrema importância para que o aluno entenda o ambiente onde está inserido, tendo início na Educação Infantil, através da introdução e estímulo do aluno às ações sustentáveis, como a importância da preservação da água, do ambiente e até mesmo atividades práticas, como a separação do lixo.

Visando compreender o estágio de desenvolvimento cognitivo das crianças nessa fase, os livros devem promover o contato com a natureza e abordar temas recorrentes, isto é, presentes no contexto social dos educandos, sem renunciar a um enfoque de fácil compreensão.

O presente estudo constitui-se em uma análise da abordagem de temas ambientais em um livro específico (6º ano), com foco na contextualização dos assuntos, na clareza da linguagem utilizada e no uso de recursos didáticos.

Metodologia

Este trabalho realizou análise documental de um livro didático de Ciências destinado ao Ensino Fundamental. Foi possível compreender a exploração de temas ambientais ao longo do componente curricular, bem como a clareza da linguagem utilizada, a contextualização dos temas abordados e a pertinência destes em relação ao cenário em que os alunos estão inseridos.

Coleção Araribá Conecta e suas abordagens

A coleção Araribá Conecta é uma das coletâneas de livros didáticos da Editora Moderna destinada ao Ensino Fundamental, integrante do Programa Nacional do Livro Didático 2024 (PNLD). Para os anos finais do Ensino Fundamental, as obras de Ciências estão estruturadas em quatro volumes (do 6º ao 9º ano). Este estudo se propôs a analisar especificamente o livro destinado ao 6º ano. A obra foi concebida por diversos autores, por envolver áreas diversificadas, e estrutura-se em divisões: unidades, que são blocos maiores e mais amplos, contendo uma temática geral, e subdivisões, denominadas temas, com assuntos mais específicos correlacionados às unidades.

O componente curricular Ciências, no Ensino Fundamental, deve ser responsável por introduzir nos educandos noções sobre o desenvolvimento tecnológico e seus impactos, culminando no despertar do interesse e da curiosidade científica e no consequente desenvolvimento do senso crítico. Dessa maneira, há um leque de assuntos que podem ser abordados.

Os autores dedicaram a Unidade 3 à água, demonstrando a importância que ela representa na formação pedagógica dos estudantes. Logo no início da unidade, é destacado o TCT Educação Ambiental, voltado para a reflexão acerca do desperdício de água pelos seres humanos em suas atividades rotineiras e das soluções para tais situações. Algumas atividades e seus respectivos consumos de água são destacados. Uma boa caracterização físico-química desse recurso é realizada, principalmente em relação às suas propriedades e ao ciclo hidrológico. O Tema 6 aborda, em particular, uma grave questão ambiental: a contaminação da água, apresentando as principais fontes e os riscos acarretados. Destaca-se o exemplo do rompimento da barragem de Brumadinho (Minas Gerais), citado como um dos piores desastres ambientais da história do Brasil. Também são abordadas, ainda que brevemente, algumas doenças de veiculação hídrica – algo que os alunos podem não reconhecer de maneira direta em suas realidades cotidianas.

Ao final do tema, com o objetivo de complementar os conhecimentos adquiridos, são apresentadas as seções “Pensar Ciência” e “Atitudes para a Vida”. Nelas, são abordados assuntos que podem ser visualizados no cotidiano dos discentes, fundamentais para o embasamento dos conhecimentos adquiridos. Nesse tema, salientou-se a responsabilidade coletiva de conservação dos recursos naturais, introduziu-se o tema reciclagem e, em seguida, foi apresentado um texto tratando do assunto irrigação, com o objetivo de gerar reflexão sobre como essa atividade econômica ocorre atualmente em nosso país, tendo como pergunta norteadora “a agricultura é vilã ou vítima na crise hídrica?”. Nesse cenário, uma visita aos locais descritos (caso sejam de fácil acessibilidade) contribuiria ainda mais para o entendimento dos temas tratados, uma vez que não se limitaria à teoria.

A Unidade 4 aborda o assunto crosta terrestre, e o Tema 4 dessa unidade é dedicado à degradação e conservação do solo. São destacados os processos que podem degradar os solos, como erosão, assoreamento e desertificação, juntamente com suas causas e consequências. Destaca-se um interessante experimento que pode demonstrar aos alunos a importância da vegetação para evitar a degradação dos solos. Assim como o tema acima descrito, este mostra-se também de suma importância, pois é atual e possui estreita relação com a água. A Figura 1 demonstra um exemplo de abordagem utilizada no tema em estudo.

Posteriormente, são apresentados os assuntos queimadas, poluição e contaminação e técnicas de conservação dos solos. A seção “Atitudes para a Vida” retoma o tema reciclagem, desta vez aplicada a resíduos eletrônicos. O Tema 4 é finalizado com um texto que aborda os sistemas agroflorestais, temática pouco familiar para muitos estudantes, porém como aplicação prática do que foi discutido anteriormente. Em suma, a forma como tais temas são abordados e os recursos didáticos apresentados potencializam o entendimento satisfatório do conteúdo, considerando o nível educacional dos discentes.
A Unidade 6 trata do tema materiais, e no Tema 4 são estudados os materiais naturais e sintéticos. São demonstradas as problemáticas causadas pelo plástico, um material muito difundido na sociedade atual e que certamente faz parte do cotidiano dos alunos. Aborda-se brevemente o que são plásticos biodegradáveis e suas vantagens em comparação ao convencional. Em consonância com a proposta apresentada, a seção “Atitudes para a Vida” aborda o consumismo da sociedade atual, trazendo um panorama dos materiais descartados, bem como seus riscos ao meio ambiente. O texto ao final do tema apresenta um exemplo de reciclagem envolvendo garrafas PET. Nessa seção, é possibilitado aos professores trabalharem a sustentabilidade de forma mais clara, pois o plástico leva milhares de anos para desaparecer totalmente na natureza, o que pode despertar o senso crítico das crianças. A Figura 2 demonstra o enfoque dado à problemática do lixo na sociedade atual.

Resultados

Diante do exposto, o livro em análise apresentou uma boa contextualização de temas relacionados ao meio ambiente, alinhada aos preceitos da BNCC. Demonstrou uma abordagem introdutória e aplicada a contextos diversos, com exemplos frequentes no dia a dia dos discentes e utilização de uma linguagem de fácil compreensão. Com essa abordagem, os assuntos não permanecerão apenas no imaginário dos alunos, mas se integrarão a um cenário mais amplo, que abarca a realidade. Essa situação promoverá um processo de aprendizagem mais efetivo, com possibilidade de uma fixação satisfatória dos conhecimentos científicos para os anos subsequentes.

Para os docentes, a obra permitirá construções de aulas mais interativas e interdisciplinares, conforme proposto pela BNCC. Essa característica torna-se crucial na superação da barreira existente entre o que é ensinado em sala de aula e o que é vivenciado externamente pelos alunos, auxiliando os professores na escolha do componente curricular mais adequado. Entretanto, para que o potencial do livro seja plenamente explorado, é necessário que condições adequadas de trabalho coexistam, como formações em temas ambientais e apoio a práticas pedagógicas mais contextualizadas.

Apesar de estar alinhada à BNCC, a obra demanda adaptações frente às realidades diversas dos discentes, como questões de vulnerabilidade social e econômica. Nesses cenários, o acesso a materiais complementares pode ser dificultado, o que compromete o entendimento pleno dos assuntos propostos. O papel do professor torna-se ainda mais importante, diante da necessidade de eventuais adaptações para que o aprendizado não seja prejudicado. Deve-se destacar que o catálogo das coleções da editora encontra-se disponível on-line, contribuindo, assim, para a democratização do ensino.

Considerações finais

Os livros didáticos devem buscar a contextualização de seus conteúdos, de forma a permitir que os alunos percebam em seu cotidiano o que é ensinado na escola. Quando aplicada ao meio ambiente, tal perspectiva favorece o desenvolvimento de senso crítico, essencial para que as futuras gerações sejam mais conscientes da necessidade do uso responsável dos recursos naturais.

O volume didático voltado ao componente curricular pertencente à coleção Araribá Conecta apresentou abordagem satisfatória à luz da BNCC, com linguagem acessível, recursos visuais diversificados e exemplos que permitem experimentação em sala, possibilitando aos professores elaborarem atividades mais interativas. Certamente, o processo de ensino-aprendizagem nessas condições tende a ser potencializado, promovendo a formação de cidadãos conscientes em relação aos temas ambientais.

No que se refere à contextualização, o livro Araribá Conecta – 6º ano, do componente curricular Ciências, mostra-se adequado para utilização em sala de aula. Entretanto, algumas ações precisam ser adotadas e/ou (re)pensadas concomitantemente: os professores terão capacidade e tempo hábil para buscar novas intervenções em suas aulas? Deve-se destacar que, à luz da BNCC, a Educação Básica caminha no rumo certo diante de uma sociedade em constante transformação. Existe, contudo, um longo percurso a ser trilhado para que a educação se torne mais equitativa.

Referências

BENVINDO, G. M.; SERPA, P. R. A inovação curricular por meio da integração da Educação Ambiental: sua importância para o protagonismo infantil. In: SERPA, P. R. (org.). Educação & meio ambiente: possibilidades e desafios em pesquisa. v. 2. Guarujá: Científica Digital, 2023.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC, 2018. Disponível em: https://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 1 out. 2025.

BRASIL. Ministério da Educação. Temas contemporâneos transversais na BNCC. Brasília: MEC, 2019. Disponível em: https://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/contextualizacao_temas_contemporaneos.pdf. Acesso em: 30 set. 2025.

BRÖCKELMANN, R. H. (org.). Ciências: 6º ano. São Paulo: Moderna, 2022. (Coleção Araribá Conecta).

CARVALHO, I. C. M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2012.

MÜLLER, T.; SILVA, M. S. da. Educação Ambiental e sustentabilidade ambiental nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Ambiente & Educação: Revista de Educação Ambiental, Rio Grande, v. 28, nº 1, p. 1-29, jan./abr. 2023.

PINHO, M. F. M. et al. Representações de ambiente e Educação Ambiental: implicações na práxis educativa de professores de Ensino Fundamental em Moju, Pará, Brasil. Terræ Didatica, Campinas, v. 13, nº 3, p. 295-303, set./dez. 2017.

SILVA, M. A. da. Abordagem interdisciplinar para a formação da consciência crítica nas escolas. In: MEDRADO, A. R. P. (org.). Revista Evolução, nº 59, p. 159-164, 2025.