As perspectivas e contribuições de Jerome Bruner para o ensino de Ciências na Educação Básica

Dhulya Trindade de Oliveira

Mestranda em Ensino de Ciências (Unipampa), professora da rede pública do Estado do Rio Grande do Sul

Mara Elisângela Jappe Goi

Doutora em Educação (UFRGS), professora da Unipampa

Mesmo com o avanço nos estudos sobre as teorias de aprendizagem, que ao longo dos anos vêm sendo discutidas e estruturadas, ainda existe uma vasta limitação na área da educação quanto aos métodos de “ensinar a criança”. Entre essas limitações, encontra-se o despreparo de muitos docentes ao relacionar suas aulas com a realidade do educando e prepará-los para uma sociedade em constante evolução e transformação (Medeiros; Goi, 2021).

As escolas necessitam de preparo para oportunizar um ensino de qualidade, capaz de proporcionar aulas reflexivas, propensas à curiosidade, pesquisas e compartilhamento de informações, favorecendo a formação de alunos ativos no processo de aprendizagem. Para que isso aconteça, fortalecem-se os pressupostos de Bruner (2008), que destacou a necessidade de compreender como a criança visualiza o mundo ao seu redor, como aprende e o que pode favorecer seu interesse nesse aprendizado. Corroborando essa premissa, Medeiros e Goi (2021, p. 32) apontam que,

ao longo dos anos, várias teorias de aprendizagem vêm sendo estruturadas e estudadas sinalizando caminhos para compreendermos alguns aspectos em torno do ensino e da aprendizagem. Nessa vertente torna-se importante nos utilizarmos desses conhecimentos para promoção de mudanças no atual panorama em que se encontra a educação. Panorama este que permite mostrar que a educação ainda continua a utilizar uma abordagem de ensino que possui muitas limitações, dentre elas a sua forma descontextualizada de ensinar e a incapacidade de preparar o aluno para atuar em uma sociedade que se apresenta dinâmica, complexa e em constante transformação.

O ambiente tem forte influência na aprendizagem do sujeito, podendo favorecer ou não a aquisição de novos conhecimentos (Bruner, 2008). Conforme Gonsalves (2009, p. 23), “educar é prática, é ação, é ser criativo. Não se educa ‘teoricamente’. O processo educativo se realiza quando existe uma materialização, isto é, uma mudança interior que se traduz no comportamento das pessoas”.

Nessa perspectiva, este manuscrito tem por objetivo abordar a teoria de aprendizagem de Jerome Bruner, principalmente suas concepções sobre modelos de ensino, Aprendizagem por Descoberta em uma concepção de pesquisa, currículo em espiral, desenvolvimento intelectual da criança e, com maior enfoque, a utilização da metodologia ativa de Resolução de Problemas no Ensino de Ciências na Educação Básica, e como esse embasamento pode contribuir para a educação. 

Metodologia

Este artigo foi produzido por meio de uma pesquisa bibliográfica sobre aspectos teóricos de Jerome Bruner, que faz parte do referencial teórico de uma dissertação de mestrado. A pesquisa bibliográfica consiste em leituras e análises de materiais disponíveis na literatura sobre o tema abordado (Gil, 2002). Neste manuscrito, apresenta-se uma pesquisa qualitativa dos pressupostos teóricos do pesquisador, bem como evidências sobre como os sujeitos aprendem na perspectiva da resolução de problemas. Para isso, foi realizado um levantamento bibliográfico em artigos no Google Acadêmico e em livros de autoria do pesquisador, que abordam questões sobre a aprendizagem.

A seguir, serão discutidas algumas questões envolvendo a biografia de Bruner, aspectos considerados importantes em sua teoria de aprendizagem, o desenvolvimento intelectual do indivíduo e suas contribuições para o Ensino de Ciências da Natureza.

Pressupostos teóricos de Jerome Bruner

Jerome Bruner, nascido em 1 de outubro de 1915, iniciou sua carreira na prestigiada Duke Private University, localizada na Carolina do Norte (EUA), e formou-se como psicólogo em 1937. Na sequência, Bruner continuou sua formação de pós-graduação na Universidade de Harvard, obtendo posteriormente o título de mestre, em 1939, e de doutor, em 1941 (Silva; Gomes, 2017).

Bruner foi um psicólogo, nascido em Nova York, que teve diversas contribuições importantes para a saúde humana, a Psicologia Cognitiva e a teoria de aprendizagem em Psicologia Educacional. Seu trabalho é marcado pela tentativa de entender a maneira como a mente humana percebe o mundo, levando-o a desenvolver significativas contribuições para a educação e a psicologia cognitiva (Fernández; Tamaro, 2004).

Escreveu importantes trabalhos na área da educação e liderou o que veio a ser conhecido como Revolução Cognitiva, na década de 1960. Essa revolução promoveu novas ideias sobre os estudos da mente, superando as perspectivas até então predominantes do Behaviorismo, que se centravam nos fenômenos observáveis. Assim, Bruner foi considerado o pai da Psicologia Cognitiva, atuando como professor e psicólogo (Silva; Gomes, 2017).

Bruner ainda destacou a importância dos aspectos culturais e ambientais na resposta cognitiva. Suas publicações mais relevantes foram: Sobre o conhecimento: ensaios da mão esquerda, O processo da Educação, Atos de significação, A cultura da educação, entre outras. O pesquisador faleceu em 5 de junho de 2016, em Nova York (Fernández; Tamaro, 2004), e seus pressupostos teóricos continuam sendo utilizados em pesquisas, principalmente nas áreas de Psicologia, Ensino e Educação.

Tornou-se conhecido internacionalmente pela frase: “É possível ensinar qualquer assunto, de uma maneira honesta, a qualquer criança em qualquer fase de desenvolvimento” (Bruner, 1969, p. 73). Com essa afirmação, o psicólogo indicou que é possível ensinar qualquer assunto ao indivíduo, desde que se respeite a maturidade intelectual de cada um. Ele destacou que essa maturidade auxilia na compreensão do mundo e na forma como o indivíduo o explica (Bruner, 1969).

Para Bruner, a educação não é neutra nem isolada; está relacionada à política, e a aprendizagem está ligada ao contexto de problemas reais enfrentados pela sociedade. Ele defende que os processos de ensinar e aprender estão associados às descobertas derivadas de pesquisas e investigações, e que o currículo deve ser organizado em formato espiral. Para Bruner (1969, p. 15), “ensinar é, em síntese, um esforço para auxiliar ou moldar o desenvolvimento”.

Em sua teoria, os ambientes podem potencializar ou retardar a aprendizagem dos indivíduos; a idade não é um fator que influencie diretamente no processo. Assim, “os arranjos — ou estágios — não são, ao que parece, ligados à idade; alguns ambientes podem retardar ou mesmo paralisar a sequência, outros fazem acelerá-la” (Bruner, 1969, p. 42).

Segundo Bruner, as teorias psicológicas de aprendizagem e desenvolvimento devem descritivas e prescritivas, visto que, além de abordar como o indivíduo aprende, devem indicar as melhores formas de ensinar. A tarefa de ensinar uma criança, independentemente da idade, é representar a estrutura do conteúdo em termos da compreensão que a criança tem das coisas (Bruner, 1969). Nessa concepção, ele afirmou que o ensino de algo pode auxiliar no desenvolvimento intelectual do indivíduo.

Bruner também enfatizou a relação entre o ambiente cultural e a compreensão da atividade mental do indivíduo, atribuindo formas à abrangência dos processos mentais. A cultura, para ele, é um aparato utilizado pelo sujeito para compreender e lidar com as situações do mundo. Assim, a educação não se limita às instituições escolares, ocorrendo também em outros ambientes e na própria troca de experiências entre as pessoas. Destacou ainda que

a educação não ocorre apenas nas salas de aula, mas em torno da mesa do jantar quando os membros da família tentam extrair um sentido conjunto do que aconteceu durante aquele dia, ou quando as crianças tentam se ajudar para extrair sentido do mundo adulto, ou quando um mestre e um aprendiz interagem no trabalho. Portanto, não há nada mais apropriado do que a prática educacional para se testar a psicologia cultural (Bruner, 2001, p. 9).

O psicólogo afirmou que existem dois modos de ensinar: um se refere ao modelo expositivo e o outro ao hipotético (Bruner, 2008). Para diferenciar esses modelos, revelou que, no modo expositivo, o docente é expositor e o educando, o telespectador. Assim, o docente expõe aulas fechadas, com conclusões definidas, e detém o total poder de decisão por meio da oratória. O aluno, neste modelo, não é ativo e tampouco expressa suas emoções e opiniões internas (Goi; Santos, 2018). Essa situação é diferente no modelo hipotético, visto que, nessa abordagem, tanto o docente quanto o estudante estão em cooperação, sendo o professor o mediador das aulas. Nesse modelo, os estudantes tornam-se mais ativos, participativos no processo de aprendizagem, podendo testar suas próprias hipóteses (Goi; Santos, 2018).

A Aprendizagem por Descoberta é um conceito relevante em seu campo teórico do conhecimento, pois se destaca na investigação a partir de uma perspectiva investigativa (Bruner, 1969). Para o autor, essa forma de aprendizagem faz com que o docente assuma diversas formas de intervenção, mediando as aulas e facilitando o processo investigativo.

Nessa concepção, a aprendizagem envolve o indivíduo na construção de seu conhecimento, proporcionando um aprendizado eficiente e aproximado da realidade, almejando sujeitos mais ativos que possam desenvolver suas competências cognitivas a partir de raciocínios indutivos derivados da Aprendizagem por Descoberta. Essas intervenções podem favorecer a intuição dos estudantes, estimulando a imaginação e criatividade, bem como a curiosidade, para atingir o princípio desejado (Bruner, 1969).

O pesquisador revelou que aprender por “descobertas” pode gerar diversos benefícios, evidenciando o potencial intelectual, a conservação da memória e a transição das recompensas extrínsecas para intrínsecas. Para Bruner (2008), um grande problema no ensino está relacionado à libertação dos sujeitos dos motivos extrínsecos, nos quais existe um controle de punições e recompensas dentro de determinado ambiente. Para o autor, essas questões extrínsecas são, muitas vezes, impostas pelos pais e professores, que acabam ignorando os potenciais cognitivos das crianças, sendo esse aspecto intrínseco valorizado pelo pesquisador.

A Aprendizagem por Descoberta pode favorecer a recuperação de informações a partir de relações, deixando de lado o ato de apenas decorar (Bruner, 2008). Ele destacou que as informações são organizadas de acordo com a estrutura cognitiva de cada indivíduo, por meio de seus interesses, sendo essas informações mais acessíveis à memória. O ato de memorizar refere-se a encontrar meios para lembrar determinado conteúdo, indo além das aulas do professor, diferindo, portanto, de decorar. Decorar é um ato mecânico de assimilação que não exige relações, podendo resultar em lembranças vagas das aulas, enquanto a memorização possibilita ao indivíduo estabelecer relações significativas.

Segundo Bruner (1969), para que a aprendizagem seja relevante, os conteúdos trabalhados devem ser apresentados em forma de problemas. Assim, o conhecimento passa a ser evidenciado a partir do que já foi vivenciado pelo estudante, que pode relacionar o conteúdo à sua estrutura cognitiva. Esse processo de descoberta está intrinsecamente relacionado à pesquisa.

É importante salientar que Bruner defendeu o método por descoberta a partir de problemas a serem resolvidos como uma das formas de implementar a aprendizagem, não sendo este um método exclusivo no processo (Bruner, 1969). Ainda destacou que esse tipo de aprendizagem (por “descoberta”) está ligado a pesquisa, investigação e solução de problemas, nos quais o estudante busca respostas e “descobre” novos conhecimentos a partir dessas buscas. O termo “descobrir”, nesse contexto, não está relacionado ao conceito de “destapar” algo, mas sim à aquisição de novas ideias e conceitos.

Bruner e o ensino por resolução de problemas

Para Bruner (2008), ensinar é fazer com que os estudantes pensem e resolvam problemas pesquisando alternativas; ou seja, para ele, ensinar não é apenas “transmitir” conhecimentos. Bruner, em suas pesquisas, considerou que os indivíduos aprendem a partir de um enigma e destacou o Ensino por Descoberta. Nesse modelo, busca-se soluções para os problemas disponibilizados a partir de discussões em grupos, estímulo ao raciocínio e relações entre os conteúdos e a realidade, contemplando a motivação intrínseca dos estudantes, ou seja, a vontade interna de aprender novos conceitos. Nesse contexto, surgiu, posteriormente, a Aprendizagem Baseada em Problemas (Mamede; Penaforte, 2001).

Bruner (1997) revelou seus anseios e ideias relacionadas aos métodos eficazes para a aprendizagem dos indivíduos. Em sua teoria, levou em consideração os aspectos pedagógicos e psicológicos na educação, buscando refletir sobre fatores sociais em questões escolares. Com isso, a Aprendizagem por Descoberta defendida pelo autor aborda a preparação dos estudantes para resolver problemas da realidade, assim como o próprio autor destacava:

Estamos vivendo tempos confusos no que diz respeito à condução da educação. Existem problemas profundos que provêm de muitas origens - principalmente de uma sociedade em mudança cuja forma futura não podemos prever e para a qual é difícil preparar uma nova geração (Bruner, 1997, p. 114).

A Aprendizagem por Descoberta está, então, relacionada ao ensino por Resolução de Problemas, visto que as pesquisas e investigações utilizadas nesses métodos são essenciais e podem gerar novas aprendizagens, bem como facilitar as mesmas. Ainda se observou que a investigação pode se aperfeiçoar a partir da própria investigação; ou seja, ao se pesquisar na resolução de um problema, “descobre-se” novos conceitos e, assim, quanto mais se pratica, mais se aprende (Bruner, 2008).

O pensamento indutivo auxilia o indivíduo na resolução de diversas situações (Bruner, 1966). Com isso, o autor destacou que se deve formar docentes aptos a desenvolver habilidades intuitivas, resolvendo problemas. Assim, “o desenvolvimento do pensamento intuitivo nos alunos será mais provável se seus professores pensarem intuitivamente” (Bruner, 1966, p. 57). Para o psicólogo, o docente que trabalha com Resolução de Problemas terá mais chances de fazer com que seus alunos resolvam situações, diferenciando-se dos docentes que apenas utilizam métodos dedutivos e analíticos. O psicólogo referiu que a investigação por meio da Resolução de Problemas pode potencializar as descobertas.

Borba e Goi (2021), Goi (2014), Goi e Santos (2018), Medeiros (2019), Silva (2020), Medeiros e Goi (2021), Ribeiro, Passos e Miskinis (2020) revelam que a Resolução de Problemas, quando aplicada nas aulas a partir de pesquisas, traz significado aos conteúdos. Para os autores, a aplicação dessa metodologia pode ser benéfica na aprendizagem dos estudantes, desde que respeitadas as fases de desenvolvimento de cada um.

Bruner (1969), como já descrito, revelou que a criança pode ser ensinada sobre qualquer assunto, em qualquer etapa do seu desenvolvimento, e que o currículo deve ser tratado em uma perspectiva de espiral. Na aprendizagem em espiral, qualquer conteúdo da ciência pode ser ensinado independentemente da idade dos sujeitos, mesmo que seja de forma simples, pois, nessa abordagem, todos os conteúdos serão retomados futuramente, sendo aprofundados a cada momento. Inicialmente, as ideias e conceitos são apresentados em um contexto geral e aprofundados à medida que são revistos (Bruner, 1969).

O currículo em espiral defendido pelo pesquisador se caracteriza por sua profundidade e não pela abrangência. Nesse modelo, os conceitos são retomados em diferentes níveis de complexidade, adicionando o maior número de particularidades de cada conteúdo abordado. Para o psicólogo, as aulas pautadas no currículo em espiral deveriam ser introduzidas com descrições intuitivas sobre o assunto em questão, retornando posteriormente de modo mais formal. Por isso o uso do termo “espiral”, pois ocorrem retomadas dos conteúdos abordados e os conceitos são estudados a cada ano em níveis crescentes de complexidade.

A partir do currículo em espiral, torna-se possível retomar conceitos iniciais e aprofundar os conhecimentos ao longo dos anos. Esse modelo retoma o conhecimento mais simples para o mais complexo e possibilita que os estudantes visualizem esses conceitos ao longo de suas trajetórias escolares, construindo seus conhecimentos científicos (Medeiros; Goi, 2021).

A estrutura das disciplinas a serem ensinadas possui relevância, além de apresentar especialidades básicas em suas representações empregadas (ativa, icônica e simbólica), economia (quanto à quantidade de informações que se conservam na mente) e potência (a capacidade de relação entre assuntos distintos) (Bruner, 1968). Com isso, o pesquisador destacou algumas questões relacionadas ao Ensino:

O entendimento dos fundamentos torna a matéria mais compreensível;
• Uma compreensão de princípios e ideias fundamentais é o principal caminho para uma adequada transferência de aprendizagem;
• Pelo reexame constante do que estiver sendo ensinado nas escolas primárias e secundárias em seu caráter fundamental, é possível diminuir a distância entre o conhecimento avançado e o elementar (Bruner, 1968, p. 23).

Roldão (1994) destaca que o currículo defendido por Bruner em suas obras não possui o intuito de enumerar tópicos a serem desenvolvidos nas escolas com os estudantes, mas é fundamentado “pela caracterização do desenvolvimento dos estágios”. Nessa ótica, a fundamentação é vista “como uma orientação para adaptar estratégias de ensino aos diferentes modos de ver o mundo em diferentes idades e não para selecionar ou excluir conteúdo ou conceitos” (Roldão, 1994, p. 63).

Nessa concepção, o desenvolvimento intelectual do indivíduo está relacionado com cada fase de desenvolvimento que a criança apresenta para visualizar o mundo que a cerca, tentando explicar como tudo ocorre (Bruner, 1966). Para ensinar um determinado conteúdo, independentemente da idade do indivíduo, é preciso representar os assuntos do referido conteúdo de modo que ele possa visualizá-los conforme seu desenvolvimento cognitivo. Assim, Bruner tinha como “premissa o amadurecimento cognitivo”. Bruner (1966) revelou que essa premissa considera que os conceitos e ideias podem ser ofertados de forma útil para todas as crianças em idade escolar, tornando esses conceitos mais complexos a partir da aprendizagem anterior oferecida à criança.

O ato de ensinar requer compreensão por parte dos docentes em relação aos seus estudantes, pois cada criança tem sua maneira de compreender e enxergar o mundo ao seu redor, desde a infância até o momento de visualizar representações da matéria conforme sua fase de desenvolvimento (Bruner, 1968). Desse modo, Bruner (1969) esclareceu que uma teoria de ensino versa sobre auxiliar o desenvolvimento.

Com relação às etapas do desenvolvimento cognitivo da criança, o pesquisador estudou o desenvolvimento intelectual, o qual está relacionado à representação, em que se busca libertar o indivíduo dos estímulos momentâneos e reter a experiência passada em um modelo, conservando as informações desse modelo. Portanto, Bruner (1969) destacou três formas de realizar isso: a primeira está ligada à ação e manipulação de objetos, denominada “ativa”, em que a aprendizagem ocorre com o manuseio de materiais concretos; a segunda está relacionada à organização visual e sensorial, marcada pela reflexão do indivíduo, denominada “icônica”, em que se destacava a utilização de imagens mentais que representam os objetos; a terceira está relacionada às palavras ou à linguagem, caracterizada pela natureza simbólica, não necessitando da utilização de ações ou imagens na aprendizagem.

Nessa ótica, “o desenvolvimento intelectual se baseia em uma interação sistemática e contingente, entre um professor e um aluno, em que o professor, amplamente equipado com técnicas anteriormente inventadas, ensina a criança” (Bruner, 1969, p. 39). Assim, o indivíduo deve ser ativo no seu processo de aprendizagem para a construção de seu desenvolvimento intelectual, o qual pode sofrer influência do ambiente e da cultura, questões que podem interferir em seu amadurecimento.

Para o pesquisador, a utilização de processos que potencializem o desenvolvimento de situações intrínsecas nas escolas permite que os estudantes utilizem a investigação para solucionarem problemas reais (Bruner, 1969). Assim, o Ensino de Ciências não deve ser algo acumulado, mas algo que envolva a construção dos saberes teóricos dos alunos (Bruner, 2008).

No Ensino de Ciências, o método baseado em descobertas pode auxiliar os estudantes a refletirem e criarem hipóteses, potencializando sua capacidade intelectual e cognitiva na construção de seus saberes, não sendo um mero acúmulo de informações (Bruner, 1969). No processo de aprendizagem, o estudante deve compreender os conceitos e aplicá-los.

Nessa concepção, Bruner (2008) defendeu a utilização da Resolução de Problemas para a promoção de uma aprendizagem mais duradoura, oportunizando a memorização de conceitos. Essa forma investigativa proporciona a utilização de fatores intrínsecos pelos alunos, oriundos de cada indivíduo, podendo despertar o desejo pela curiosidade e favorecer o processo de aprendizagem a partir da facilitação da compreensão dos conteúdos. A pesquisa se faz presente na utilização de Resolução de Problemas reais, ampliando e estimulando a aprendizagem dos conhecimentos sobre o mundo que os cerca (Medeiros; Goi, 2021).

Fazendo uma relação de Bruner com a Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio (BNCC), pode-se verificar congruências, pois esse documento

trata a investigação como forma de engajamento dos estudantes na aprendizagem de processos, práticas e procedimentos científicos e tecnológicos, e promove o domínio de linguagens específicas, o que permite aos estudantes analisar fenômenos e processos, utilizando modelos e fazendo previsões. Dessa maneira, possibilita aos estudantes ampliar sua compreensão sobre a vida, o nosso planeta e o universo, bem como sua capacidade de refletir, argumentar, propor soluções e enfrentar desafios pessoais e coletivos, locais e globais (Brasil, 2017, p. 472).

Deve-se considerar as constantes mudanças que ocorrem na sociedade contemporânea e na própria educação científica, em que esta não se constitui de verdades incondicionais. Com isso, Bruner destacou a relevância de se abordar questões atuais devido às constantes modificações na sociedade. Assim, a pesquisa é destacada como um princípio pedagógico (Brasil, 2013), que aborda

sua contribuição para que o sujeito possa, individual e coletivamente, formular questões de investigação e buscar respostas em um processo autônomo de (re)construção de conhecimentos. Nesse sentido, a relevância não está no fornecimento pelo docente de informações, as quais, na atualidade, são encontradas, no mais das vezes, e de forma ampla e diversificada, fora das aulas e, mesmo, da escola. O relevante é o desenvolvimento da capacidade de pesquisa, para que os estudantes busquem e (re)construam conhecimentos (Brasil, 2013, p. 166).

No Ensino de Ciências, é necessário o planejamento dos materiais que serão abordados em aula, fazendo uma análise do que será mais relevante em cada conteúdo para trabalhar com cada turma de alunos (Bruner, 2008). É importante que se utilizem aulas experimentais, priorizando roteiros investigativos em vez de roteiros fechados, estimulando a pesquisa e a investigação nos contextos escolares.

Outro ponto relevante destacado nos estudos de Bruner é a aprendizagem progressiva, aprofundada ao longo dos anos a partir dos conhecimentos existentes, com retomadas de conceitos que permitem que o conhecimento se torne cada vez mais complexo. É importante evidenciar métodos que auxiliem os estudantes no Ensino de Ciências, promovendo curiosidade e desenvolvimento intelectual (Medeiros; Goi, 2021).

Para tratar dos pressupostos de Bruner, vale destacar a importância de oferecer formações sobre seus fundamentos teóricos. Há universidades que buscam incluir componentes voltados para esses pressupostos tanto em nível de graduação quanto de pós-graduação, formando docentes capazes de aplicar essas ideias em suas aulas na Educação Básica. Destaca-se, ainda, que algumas universidades têm buscado implementar as ideias de Bruner nos programas de Residência Pedagógica e no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Borba; Goi, 2021), iniciativas com grande potencial na área de formação de professores.

Considerações finais

Na tentativa de corroborar com o campo educacional, várias teorias e métodos são desenvolvidos, buscando otimizar a aprendizagem dos estudantes. Contudo, ainda se fazem presentes escolas que não proporcionam aproximação dos conteúdos escolares com a realidade do educando, bem como não utilizam um ensino pautado na aprendizagem dos alunos na perspectiva investigativa (Medeiros; Goi, 2021). Assim, destaca-se a necessidade de conhecer e entender teorias de aprendizagem que possam ser implementadas nas aulas de Ciências, a fim de reduzir essas dificuldades no contexto educacional.

Busca-se, então, a partir desse propósito, estudar e conhecer as teorias de aprendizagem que abarcam a educação, para que posteriormente possam ser aplicadas em sala de aula, oportunizando um estudo sistemático capaz de alcançar uma aprendizagem de qualidade e relevância para cada indivíduo. Pode-se, assim, conceituar as teorias de aprendizagem como “uma construção humana para interpretar sistematicamente a área de conhecimento que chamamos aprendizagem” (Moreira, 1999, p. 12).

Partindo dessa questão, optou-se pelo estudo da teoria de Jerome Bruner no contexto educacional, visto que, para ele, “uma teoria de ensino versa, com efeito, sobre as várias maneiras de auxiliar o desenvolvimento” (Moreira, 1999, p. 82).

Destacou-se neste artigo o currículo em espiral, o desenvolvimento intelectual do indivíduo e a resolução de problemas, fomentada por pesquisas e discussões, primando pela construção do conhecimento de cada indivíduo.

Vislumbrou-se que as ideias de Bruner podem contribuir para o ensino de Ciências na Educação Básica, visto que a perspectiva de uma aprendizagem por descoberta ou resolução de problemas pode estimular a curiosidade dos estudantes, despertando sua motivação intrínseca. O modelo hipotético de Bruner, sendo o ideal para ele, pode favorecer diversas habilidades fundamentais, como será visto ao longo deste trabalho. Assim, para que isso aconteça, é necessário que haja formação de professores que desenvolvam essas habilidades, para que possam atuar na educação de forma capacitada e preparada para enfrentar diferentes contextos educacionais.

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Publicado em 29 de outubro de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

OLIVEIRA, Dhulya Trindade de; GOI, Mara Elisângela Jappe. As perspectivas e contribuições de Jerome Bruner para o ensino de Ciências na Educação Básica. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 41, 29 de outubro de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/41/as-perspectivas-e-contribuicoes-de-jerome-bruner-para-o-ensino-de-ciencias-na-educacao-basica

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