A prática pedagógica para a educação das relações étnico-raciais no atendimento educacional especializado em uma escola pública
Fagner de Sousa Araújo
Mestrando em Sociedade e Cultura (Uespi)
O atendimento educacional especializado (AEE) é um serviço da Educação Especial, modalidade transversal a todos os níveis de ensino (Brasil, 1996), e ocorre no contraturno ao que o educando estuda. A Educação Inclusiva se concretiza quando todos têm direito à aprendizagem. No AEE, isso se inicia com o recebimento, pelo professor, de uma lista contendo os nomes dos alunos matriculados. A partir dela, realiza-se uma anamnese com as famílias para conhecer as especificidades, as barreiras e as potencialidades dos discentes. Após esse contato, ocorre uma reunião de acolhimento e de boas-vindas.
Com essas informações, monta-se um plano de ações, no qual são explicitadas as dificuldades e as potencialidades dos alunos, bem como os recursos, os métodos e as técnicas a serem utilizados. Semestralmente, são feitos relatórios para o registro dos avanços dos educandos. Em sala, destaca-se que, além de conhecer e intervir de forma significativa, é possível perceber o desenvolvimento cognitivo dos alunos e reconhecer que cada um tem seu próprio ritmo e tempo de aprendizagem
Experiência pessoal
Na sala de aula, inicio as atividades com aquilo que está ao alcance dos alunos, propondo tarefas desafiadoras e instigantes a partir do que são capazes de realizar. Considerando seus conhecimentos prévios e saberes cotidianos, busco estabelecer conexões com os conteúdos escolares. Esse trabalho se configura de forma interdisciplinar, envolvendo duas ou mais disciplinas que se complementam ou se relacionam conforme as necessidades e as potencialidades dos alunos da Educação Especial.
Essa prática pedagógica se desenvolve por meio de diálogos e uso de materiais didáticos, concretos, imagéticos e confeccionados com os recursos disponíveis na sala. Adoto uma abordagem construtivista e cognitivista, na qual os alunos têm contato direto e interativo com o objeto de conhecimento, manuseando, recortando e refletindo, de modo que o aprendizado adquira sentido. Atuo em um contexto heterogêneo e com múltiplas especificidades, respeitando a pluralidade étnica, cultural e social de cada aluno e de suas famílias, promovendo o respeito, o acolhimento e o compromisso social com desenvolvimento cognitivo e a educação para as relações étnico-raciais.
Utilizo animações e filmes curtos com personagens negros, como Min e as mãozinhas, entre outros, para auxiliar na reafirmação identitária dos alunos e no combate ao racismo em sala de aula. Também lanço mão de obras literárias com contos e poesias que trazem personagens semelhantes aos alunos, além de incentivar a participação em rodas de capoeira e utilizar objetos e imagens que valorizem as culturas afrodescendente e indígena.
As atividades de leitura são baseadas em trechos de histórias diversas, seguidas de discussões, produção de desenhos temáticos e exercícios de escrita com letras, sílabas e palavras do cotidiano. São propostos também jogos pedagógicos como trilhas com as quatro operações matemáticas, tabuadas rolantes, dominó das operações, jogos de associação, pareamento e memória, entre outros, com foco nas habilidades cognitivas.
Resultados e discussões
Busco atuar na perspectiva da educação inclusiva conforme preconiza a legislação vigente (Brasil, 2015). Nesse processo, estabeleci parcerias com os professores da sala regular, profissionais de apoio educacional e programas de reforço da escola, por meio de sugestões, atividades escritas e materiais lúdicos. O primeiro resultado é a cooperação em prol dos educandos. Conforme estabelece a LDBEN, no Art. 59, inciso I, a Educação Especial deve assegurar acesso ao "currículo, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos" (Brasil, 1996, p. 43).
Atendo dez alunos, sendo duas meninas e oito meninos. Houve avanços significativos no nível cognitivo: de pré-leitor a leitor iniciante, chegando ao nível de leitura fluente. Observa-se também melhora na lógica matemática, atenção, percepção e memória. Destaco: dois pré-leitores, quatro leitores iniciantes e quatro fluentes. Um aluno do 1º ano sabe resolver multiplicações; dois alunos do 5º ano resolvem operações de divisão e de multiplicação; os demais realizam adições e subtrações.
Houve salto qualitativo na leitura, na escrita e na resolução de problemas matemáticos. A interação, a interpretação, o interesse por textos literários, a produção de desenhos livres e de pequenos textos simples aumentaram, o que é confirmado pelos feedbacks dos professores da sala regular e dos pais. Destaco, ainda, que uma das alunas atendidas no AEE foi medalhista na OBMEP Mirim, o que demonstra o resultado positivo e o compromisso do município de Piripiri com a Educação Especial/Inclusiva.
Os jogos e as atividades escritas são propostos do mais simples ao mais complexo, sempre com o intuito de desenvolver habilidades cognitivas, em espírito de cooperação com a sala regular. Recursos digitais e virtuais também são utilizados para aproximar os alunos dos conteúdos escolares, tudo de forma planejada e intencional.
Conclusão
Em suma, o trabalho desenvolvido no AEE com alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades/superdotação e com dificuldades de aprendizagem ocorre permeado por desafios e superações. No entanto, destaca-se pelo espírito de cooperação, solidariedade, empatia e compromisso social na garantia do direito à aprendizagem. Apesar dos desafios, os resultados são gratificantes e respeitam o ritmo e o tempo de cada educando. Em outras palavras, eles aprendem, sim!
Referências
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 24 out. 2024.
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 24 out. 2024.
Publicado em 19 de novembro de 2025
Como citar este artigo (ABNT)
ARAÚJO, Fagner de Sousa. A prática pedagógica para a educação das relações étnico-raciais no atendimento educacional especializado em uma escola pública. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 44, 19 de novembro de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/44/a-pratica-pedagogica-para-a-educacao-das-relacoes-etnico-raciais-no-atendimento-educacional-especializado-em-uma-escola-publica
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