A perspectiva dos estudantes da Escola Estadual Inocência Rachid Jaudy sobre o uso de tecnologias digitais no ensino

Christiane Kézia dos Santos de Sousa

Graduada em Ciências Biológicas (UFMT)

César Eduardo Guarienti

Graduado em Ciências Sociais, mestre e doutor em Física Ambiental (UFMT)

Nos últimos anos, a educação tem passado por transformações significativas impulsionadas pelo avanço das tecnologias digitais. A integração dessas tecnologias no ambiente escolar não é mais uma opção, mas uma necessidade que visa modernizar o ensino e atender às demandas de uma sociedade cada vez mais conectada e digital. O uso de ferramentas tecnológicas, como computadores, tablets, aplicativos educacionais e plataformas de aprendizado online, tem se mostrado um recurso valioso para professores e estudantes, auxiliando no processo de ensino-aprendizagem e promovendo novas formas de interação e engajamento.

Estamos inseridos em uma era na qual o acesso à informação é abundante e instantâneo. No entanto, essa facilidade não se traduz automaticamente em conhecimento significativo. O domínio das competências digitais torna-se, portanto, essencial para que os estudantes desenvolvam tanto habilidades técnicas quanto o discernimento crítico necessário para navegar por esse vasto oceano de dados. Nesse cenário, os educadores assumem um papel crucial, devendo integrar as tecnologias de forma significativa ao ensino, promovendo um aprendizado mais profundo e relevante. Isso requer que os professores se tornem aprendizes contínuos, desenvolvendo suas próprias competências digitais para transformar a sala de aula em um espaço dinâmico, inclusivo e conectado com as exigências de um mundo em constante transformação.

Entretanto, a adoção de tecnologias digitais pelos professores ainda enfrenta barreiras significativas. Apesar do potencial dessas ferramentas, muitos educadores se deparam com desafios como a falta de formação adequada, a resistência à mudança e as limitações de infraestrutura nas escolas. Essa realidade levanta questões importantes sobre como apoiar os professores na superação desses obstáculos e promover a integração efetiva das tecnologias digitais em suas práticas de ensino. Superar essas dificuldades é essencial para potencializar o uso dessas ferramentas no processo educativo.

A justificativa para a realização deste estudo reside na necessidade de compreender como os estudantes percebem a utilização das tecnologias digitais pelos professores e quais são as implicações dessa utilização para o processo de ensino. Em um contexto educacional cada vez mais mediado por tecnologias, entender a perspectiva dos alunos é fundamental para aprimorar as práticas pedagógicas e maximizar os benefícios das ferramentas digitais.

O objetivo geral deste trabalho é investigar quais tecnologias digitais são mais frequentemente utilizadas pelos professores e como os estudantes da Escola Estadual Inocência Rachid Jaudy, em Nobres/MT, avaliam a eficácia e a relevância dessas ferramentas para o processo de aprendizagem.

Os objetivos específicos são: identificar as tecnologias digitais mais utilizadas pelos professores no processo de ensino; e analisar a percepção dos alunos sobre a eficácia das tecnologias digitais no processo de aprendizagem.

A pesquisa foi conduzida com estudantes do Ensino Fundamental II, possibilitando uma análise contextualizada de suas percepções sobre o uso de tecnologias digitais na sala de aula. Os achados fornecem subsídios relevantes para a discussão das práticas pedagógicas mediadas por tecnologia, destacando a importância de uma abordagem planejada e fundamentada para maximizar os benefícios dessas ferramentas no ensino.

Histórico e evolução das tecnologias digitais na educação

O desenvolvimento das tecnologias digitais ao longo do tempo tem se configurado como um dos aspectos mais significativos da transformação educacional nas últimas décadas. Desde o advento dos computadores na década de 1980 até a popularização da internet nos anos 1990, o acesso à informação e às ferramentas digitais começou a se expandir rapidamente. Inicialmente, as tecnologias eram vistas apenas como complementos ao ensino tradicional, limitando-se a apresentações em sala de aula ou à utilização de softwares educativos em laboratórios de informática. Contudo, com o avanço da tecnologia, especialmente da internet e dos dispositivos móveis, essa realidade começou a mudar, possibilitando um novo modelo de ensino em que o aluno se torna mais ativo e participativo em seu processo de aprendizado (Bento; Belchior, 2016).

A introdução das tecnologias digitais no ambiente educacional foi marcada por diversas iniciativas e políticas públicas que buscavam integrar essas ferramentas às salas de aula. No Brasil, programas como o Programa Um Computador por Aluno e a Iniciativa de Educação Digital visavam dotar as escolas de infraestrutura tecnológica e promover a formação docente para o uso efetivo desses recursos. Esse movimento permitiu que as instituições de ensino pudessem experimentar novas metodologias, como o ensino híbrido e a aprendizagem colaborativa, que aproveitam as potencialidades das tecnologias digitais para enriquecer a experiência educacional. Assim, o acesso à informação tornou-se mais democratizado, e os alunos puderam desenvolver habilidades essenciais para o século XXI, como o pensamento crítico e a resolução de problemas (Moran; Masetto; Behrens, 2012).

As inovações tecnológicas não apenas alteraram a forma como o conhecimento é transmitido, mas também impactaram diretamente as metodologias de ensino. As práticas pedagógicas passaram a incorporar recursos como videoaulas, plataformas de ensino a distância e aplicativos educacionais, transformando a interação entre alunos e professores. De acordo com Bonilla e Pretto (2011), a inclusão digital é uma polêmica contemporânea que exige a integração crítica das tecnologias no ambiente educacional, promovendo a inclusão social e a democratização do acesso ao conhecimento. Essa mudança propiciou um ambiente de aprendizagem mais dinâmico e interativo, no qual os alunos podem acessar conteúdos de maneira assíncrona e personalizada, adaptando o ritmo de aprendizado às suas necessidades individuais. O professor, por sua vez, assume o papel de mediador e facilitador do conhecimento, orientando e estimulando os alunos a explorarem e aplicarem os conteúdos de forma crítica e reflexiva (Prates; Ribeiro, 2016).

No contexto da pandemia da covid-19, a necessidade de distanciamento social acelerou ainda mais a adoção das tecnologias digitais na educação. Com a suspensão das aulas presenciais, instituições de ensino foram desafiadas a implementar rapidamente soluções de ensino remoto, revelando tanto as potencialidades quanto as limitações do uso dessas tecnologias. Esse período evidenciou a importância de uma infraestrutura tecnológica adequada e da capacitação dos professores para utilizarem eficazmente as ferramentas disponíveis. Além disso, a experiência do ensino remoto trouxe à tona discussões sobre a equidade no acesso às tecnologias e a necessidade de suporte contínuo para docentes e alunos na integração das ferramentas digitais ao processo de ensino-aprendizagem (Pitombeira; Nascimento, 2022).

Diante desse cenário, é possível afirmar que a evolução das tecnologias digitais na educação representa um caminho sem volta. As inovações tecnológicas continuam a moldar as práticas pedagógicas e a forma como os alunos aprendem, exigindo que educadores e gestores estejam constantemente atualizados e preparados para enfrentar os desafios desse novo contexto educacional. Assim, a formação continuada dos professores e a revisão das metodologias de ensino tornam-se fundamentais para garantir que as tecnologias digitais sejam utilizadas de maneira eficaz e contribuam para um aprendizado significativo e de qualidade (Santos, 2020; Silva, 2016).

Modelos de integração das tecnologias digitais no ensino

A integração das tecnologias digitais no ensino pode ser efetivada por meio de diversos modelos pedagógicos que aproveitam as potencialidades dessas ferramentas para criar experiências de aprendizado mais dinâmicas e interativas. Entre esses modelos, destacam-se o ensino híbrido e a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP). O ensino híbrido combina a aprendizagem presencial com atividades online, permitindo que os estudantes alternem entre ambientes físicos e virtuais. Esse modelo propicia maior flexibilidade, uma vez que os estudantes podem acessar conteúdos e realizar atividades em diferentes momentos e locais, adaptando o aprendizado às suas rotinas e estilos individuais (Moran; Masetto; Behrens, 2012).

O ensino híbrido fundamenta-se na personalização do aprendizado, em que os alunos têm a oportunidade de avançar em seus estudos no próprio ritmo. Essa abordagem é enriquecida pela utilização de tecnologias digitais, que facilitam o acesso a uma vasta gama de recursos educativos, como videoaulas, simuladores, fóruns de discussão e materiais interativos. Segundo Bacich, Tanzi Neto e Trevisani (2015), o ensino híbrido integra atividades presenciais e online, promovendo a autonomia do aluno e a personalização do ensino por meio de tecnologias digitais. A personalização do aprendizado é um dos principais fatores que contribuem para o engajamento dos alunos, pois permite que eles escolham caminhos alinhados a seus interesses e necessidades. De acordo com Bento e Belchior (2016), essa autonomia pode resultar em maior motivação para o aprendizado, o que, por sua vez, pode levar a melhores resultados acadêmicos.

Outro modelo pedagógico que tem ganhado destaque é a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), que envolve os alunos em projetos práticos e colaborativos. Nesse modelo, os estudantes são desafiados a resolver problemas do mundo real ou a desenvolver projetos significativos, utilizando tecnologias digitais como ferramentas de pesquisa, criação e apresentação de suas soluções. A ABP incentiva a colaboração entre os estudantes, promovendo habilidades como o trabalho em equipe, a comunicação e o pensamento crítico. Além disso, o uso de tecnologias digitais enriquece esse processo, permitindo que os alunos se conectem com especialistas, acessem informações atualizadas e utilizem softwares que facilitam a criação de protótipos e apresentações (Prates; Ribeiro, 2016).

A eficácia desses modelos na promoção do engajamento e na melhoria dos resultados educacionais é corroborada por diversas pesquisas. Estudos indicam que a combinação de práticas tradicionais com metodologias ativas, como o ensino híbrido e a ABP, não apenas aumenta o interesse dos alunos, mas também melhora a retenção do conhecimento e a aplicação prática das habilidades adquiridas. Quando os alunos são convidados a participar ativamente de seu processo de aprendizado, há uma tendência de desenvolvimento de competências essenciais para a vida profissional, como criatividade e resolução de problemas (Santos, 2020).

Além disso, a integração das tecnologias digitais no ensino híbrido e na Aprendizagem Baseada em Projetos proporciona uma oportunidade valiosa para os educadores diversificarem suas práticas pedagógicas. Ao utilizar diferentes ferramentas digitais, os professores podem adaptar suas estratégias de ensino para atender às necessidades e preferências de aprendizagem dos alunos. Isso não apenas enriquece o ambiente de aprendizado, mas também promove uma cultura de inovação nas escolas, onde tanto alunos quanto educadores são incentivados a explorar novas possibilidades educacionais (Pitombeira; Nascimento, 2022).

Os modelos de integração das tecnologias digitais no ensino, como o ensino híbrido e a Aprendizagem Baseada em Projetos, apresentam-se como alternativas promissoras para transformar a educação. Ao fomentar a personalização do aprendizado, o engajamento dos alunos e a colaboração entre pares, esses modelos não apenas atendem às demandas do século XXI, mas também potencializam o aprendizado significativo e de qualidade, contribuindo para a formação de cidadãos mais preparados para os desafios da sociedade contemporânea (Silva, 2016).

Desafios e oportunidades para os professores na utilização de tecnologias digitais

A utilização de tecnologias digitais no ambiente educacional, embora promissora, apresenta uma série de desafios que os professores precisam enfrentar. Entre as barreiras mais comuns está a formação inadequada dos educadores em relação ao uso dessas ferramentas. Muitas vezes, os professores recebem pouca ou nenhuma formação específica para integrar tecnologias digitais em suas práticas pedagógicas, resultando em insegurança e resistência ao uso de novas ferramentas. Essa falta de capacitação pode levar a um uso superficial da tecnologia, no qual os educadores utilizam apenas recursos básicos, sem explorar todo o potencial que as ferramentas digitais podem oferecer para enriquecer o processo de ensino-aprendizagem (Moran; Masetto; Behrens, 2012).

Além da formação inadequada, a falta de suporte técnico é outra barreira significativa que os professores enfrentam. Muitas instituições de ensino não dispõem de uma infraestrutura tecnológica adequada ou de equipes de suporte que possam auxiliar os educadores na implementação e no uso eficaz das tecnologias digitais. Esse cenário pode gerar frustração e desmotivação entre os professores, que muitas vezes se sentem desamparados ao tentar resolver problemas técnicos que surgem durante a utilização das ferramentas digitais em sala de aula. A falta de suporte pode limitar a frequência e a intensidade com que as tecnologias são utilizadas, prejudicando, assim, o potencial de inovação pedagógica (Prates; Ribeiro, 2016).

Entretanto, apesar desses desafios, as tecnologias digitais também oferecem diversas oportunidades para a inovação pedagógica e o desenvolvimento profissional dos professores. A possibilidade de acessar uma vasta gama de recursos educativos, como cursos online, webinars e comunidades de prática, permite que os educadores ampliem seus conhecimentos e desenvolvam novas habilidades que podem ser aplicadas em suas salas de aula. Esse acesso a recursos variados pode estimular a criatividade e a inovação nas práticas pedagógicas, incentivando os professores a experimentarem novas abordagens e metodologias de ensino (Bento; Belchior, 2016).

Além disso, a utilização de tecnologias digitais favorece a colaboração entre educadores. Plataformas de aprendizado online e redes sociais profissionais proporcionam um espaço para que os professores compartilhem experiências, recursos e boas práticas. Essa troca de conhecimento é essencial para a formação contínua dos educadores, permitindo que eles aprendam uns com os outros e se mantenham atualizados sobre as últimas tendências e inovações no campo da educação. A colaboração também pode ser um poderoso motivador, pois os educadores se sentem parte de uma comunidade de aprendizagem que valoriza a troca e o apoio mútuo (Silva, 2016).

O uso de tecnologias digitais na educação permite que os professores adotem uma postura mais reflexiva em relação à sua prática pedagógica. A análise de dados de aprendizagem, por exemplo, possibilita que os educadores compreendam melhor o desempenho de seus alunos e ajustem suas estratégias de ensino de acordo com as necessidades identificadas. Essa capacidade de adaptação é crucial em um mundo em constante mudança, no qual as exigências educacionais evoluem rapidamente. A reflexão sobre a prática, mediada por ferramentas digitais, pode levar a melhorias significativas nos resultados educacionais e no desenvolvimento das competências dos alunos (Santos, 2020).

Embora os desafios enfrentados pelos professores na utilização de tecnologias digitais sejam significativos, as oportunidades que essas ferramentas oferecem para a inovação pedagógica e o desenvolvimento profissional não podem ser subestimadas. É fundamental que as instituições de ensino invistam na formação contínua dos educadores e na criação de um suporte técnico eficaz, a fim de promover uma cultura educacional que valorize a utilização das tecnologias digitais de maneira integrada e significativa (Pitombeira; Nascimento, 2022).

Metodologia

Este estudo utilizou uma abordagem qualitativa, por meio da aplicação de um questionário estruturado elaborado na plataforma Google Forms (disponível no Anexo, ao final). A pesquisa foi realizada nos dias 2, 3 e 4 de outubro de 2024 com estudantes dos 6º, 7º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental da Escola Estadual Inocência Rachid Jaudy, localizada no município de Nobres, Estado do Mato Grosso. A seleção dessas turmas visou representar a diversidade de experiências e percepções em relação ao uso de tecnologias digitais, abrangendo diferentes faixas etárias e séries escolares, o que possibilitou uma análise mais ampla e diversificada do contexto investigado.

A aplicação dos questionários ocorreu durante o período de aulas presenciais, utilizando os chromebooks disponibilizados pela instituição de ensino, o que garantiu a participação ativa dos estudantes. O questionário foi desenvolvido para coletar dados sobre a utilização de tecnologias digitais pelos professores e a percepção dos estudantes quanto à eficácia e relevância dessas ferramentas no processo de aprendizagem.

O instrumento de coleta de dados foi dividido em quatro seções principais: (1) Dados demográficos, que incluíam informações sobre idade, série escolar e acesso a dispositivos digitais fora do ambiente escolar; (2) Uso de tecnologias pelos professores, abordando as ferramentas utilizadas, sua frequência e o tipo de atividade em que são aplicadas; (3) Percepção dos estudantes sobre o impacto das tecnologias no aprendizado, avaliando como os alunos percebem o papel dessas ferramentas no engajamento e na compreensão dos conteúdos; e (4) Desafios e sugestões, que reuniu informações sobre os obstáculos enfrentados pelos estudantes no uso de tecnologias em sala de aula, além de suas sugestões para melhorar a integração dessas ferramentas no ambiente escolar.

Os resultados coletados com esse questionário fornecem uma base importante para compreender as percepções dos estudantes em relação ao uso de tecnologias digitais na educação. As informações obtidas podem contribuir para embasar reflexões e decisões sobre práticas pedagógicas mediadas por tecnologia no ambiente escolar, buscando maximizar o impacto positivo dessas ferramentas no processo de ensino-aprendizagem.

Resultados

A presente investigação foi organizada em quatro seções principais, possibilitando uma análise estruturada e segmentada dos dados coletados: Dados demográficos; Uso de tecnologias pelos professores; Percepção dos estudantes sobre o impacto das tecnologias no aprendizado; e Desafios e sugestões.

  • Dados demográficos: a seção dedicada aos dados demográficos proporcionou uma visão abrangente das características dos participantes, incluindo faixa etária, série escolar e acesso a tecnologias fora do ambiente escolar. Dos 78 respondentes, observou-se uma predominância de alunos na faixa etária de 12 a 13 anos, representando 64,1% do total de participantes. Em relação às turmas participantes (Figura 1), a maior proporção foi observada entre os alunos do 7º ano (35,9%), seguida pelos do 6º ano (30,8%). Já os estudantes do 9º ano apresentaram a menor representatividade (20,5%), enquanto o 8º ano registrou a segunda menor participação (12,8%). Os dados também indicaram que a maioria dos estudantes tem acesso a pelo menos um dispositivo digital em casa, com ênfase no uso de celulares, o que destaca a importância da inclusão de tecnologias móveis nas práticas educacionais. De acordo com Kenski (2012), as tecnologias digitais, em especial os dispositivos móveis, podem contribuir significativamente para o processo de ensino e aprendizagem, ampliando as possibilidades de acesso a informações e promovendo uma educação mais conectada e integrada.

Figura 1: Participação efetiva das turmas

  • Uso de tecnologias pelos professores: ao serem questionados sobre “Quais dos seguintes recursos digitais seus professores utilizam durante as aulas?”, os dados revelam que o projetor multimídia (Figura 2) é o recurso digital mais amplamente utilizado, sendo mencionado por 83,3% dos participantes. Esse resultado é consistente com estudos que apontam os projetores como uma ferramenta central na integração de tecnologia em sala de aula, facilitando a exibição de conteúdos multimídia, como vídeos e apresentações de slides. Além disso, plataformas de ensino online (43,6%), aplicativos educacionais (46,2%) e vídeos (48,7%) também tiveram grande adesão. Esses recursos vêm ganhando destaque com o aumento da aprendizagem híbrida e do ensino remoto, tendências aceleradas pela pandemia da covid-19. Entretanto, o uso de dispositivos pessoais, como computadores (16,7%), tablets (10,3%) e celulares (1,3%), foi relatado com menos frequência, possivelmente devido à falta de infraestrutura adequada nas escolas ou a políticas restritivas quanto ao uso de dispositivos móveis em sala de aula. Redes sociais (11,5%) também tiveram presença limitada, o que pode ser um indicativo de que os professores ainda estão investigando a integração dessas plataformas no contexto educacional formal. Curiosamente, o chromebook apresentou adesão bastante baixa, com apenas 2,6% de uso, sugerindo que esse recurso não é amplamente disponível ou utilizado no contexto da amostra pesquisada.

Figura 2: Recursos digitais utilizados em sala de aula

Quando questionados sobre as finalidades para as quais os professores utilizam tecnologias em sala de aula, os estudantes indicaram que essas ferramentas são empregadas principalmente para a realização de atividades interativas (65,4%), apresentações de conteúdo (59%) e avaliações e quizzes online (57,7%). Esses resultados sugerem que o uso de tecnologias digitais em sala de aula está direcionado tanto à exposição de conteúdos quanto ao estímulo à interatividade e ao engajamento. Esse direcionamento está em consonância com estudos sobre metodologias ativas, como os de Moran, Masetto e Behrens (2012), que destacam o uso de ferramentas digitais como recursos capazes de tornar o aprendizado mais participativo e dinâmico.

O acompanhamento de tarefas e atividades dos estudantes foi mencionado por 53,8% dos participantes, indicando que os professores também utilizam tecnologias para monitorar o progresso dos estudantes, o que pode incluir o uso de plataformas de ensino e aplicativos que oferecem feedback em tempo real, como, por exemplo, a plataforma Plurall.

Em contrapartida, a comunicação com os estudantes foi menos mencionada (26,9%), o que pode sugerir que os professores ainda não utilizam amplamente ferramentas digitais para manter um contato direto e constante com os estudantes fora do ambiente de aula. Isso pode refletir um desafio na transição para um ensino mais integrado às mídias digitais, que facilitariam essa comunicação.

A pesquisa e o aprofundamento de conteúdos foram citados por 35,9% dos estudantes. Esse número, relativamente baixo, pode indicar que o uso da tecnologia ainda não está totalmente voltado para fomentar a pesquisa e a autonomia dos estudantes na busca por conhecimento, o que seria uma área a ser estudada para agregar ao processo de ensino-aprendizagem.

Outro ponto relevante é que 2,6% mencionaram o uso de tecnologias para registrar apenas a frequência dos estudantes em sala de aula, uma funcionalidade aparentemente limitada, apesar de seu potencial para otimizar o tempo em sala.

  • Percepção dos estudantes sobre o impacto das tecnologias no aprendizado: ao serem questionados sobre como o uso de tecnologias digitais nas aulas ajuda a entender melhor o conteúdo, os dados revelam que uma parcela significativa dos estudantes, 51,3%, considera que o uso desses recursos contribui “um pouco” para melhorar a compreensão, enquanto 39,7% afirmam que o uso de tecnologias ajuda “muito”. Isso sugere que a maioria dos estudantes percebe as tecnologias digitais como ferramentas que agregam valor ao processo de aprendizagem, corroborando a tendência de adoção de metodologias que utilizam tais recursos para facilitar a compreensão de conceitos complexos.

Apenas 6,4% dos estudantes afirmaram que o uso de tecnologias “não faz diferença”, e um percentual ainda menor (1,3%) declarou que o impacto é “pouco” ou “nada”.

Quando questionados sobre sua experiência com o uso de tecnologias nas aulas (Figura 3), os resultados indicam que a maioria dos estudantes avalia sua experiência de forma positiva (47,4%) ou muito positiva (20,5%), totalizando 67,9% de avaliações favoráveis. Já 28,2% dos estudantes consideram sua experiência neutra, o que pode indicar que, embora não identifiquem grandes benefícios, também não percebem prejuízos significativos. Apenas 2,6% relataram uma experiência negativa, e 1,3% indicaram uma experiência muito negativa, sugerindo que uma minoria pode estar enfrentando dificuldades com a integração das tecnologias em sala de aula.

Figura 3: Experiência com o uso das tecnologias no âmbito escolar

Os estudantes foram questionados sobre por que gostam de utilizar as tecnologias em sala de aula (Figura 4). Os dados indicam que a principal vantagem percebida é o acesso a mais informações (34,6%), seguido pela facilitação do trabalho em grupo (32,1%). Essas preferências sugerem que o uso de tecnologias nas aulas não apenas amplia o acesso a uma variedade maior de recursos, mas também promove a colaboração entre os alunos, facilitando atividades de grupo, o que é essencial para o desenvolvimento de competências colaborativas no ambiente escolar. Além disso, 17,9% dos estudantes afirmaram que as tecnologias tornam as aulas mais dinâmicas, e 11,5% destacaram que a aprendizagem se torna mais divertida.

Figura 4: Vantagens de usar as tecnologias

  • Desafios e sugestões: diante do questionamento sobre quais são as dificuldades percebidas no uso de tecnologias durante as aulas, os dados indicam que a falta de acesso à internet é a principal dificuldade enfrentada pelos estudantes, com 83,3% das respostas. Esse resultado reflete a realidade de muitas escolas, especialmente em contextos de vulnerabilidade, onde a infraestrutura tecnológica ainda é insuficiente para atender às demandas educacionais. Conforme discutido por Macedo (2021), a pandemia da covid-19 evidenciou e aprofundou as desigualdades digitais no Brasil, especialmente no contexto educacional. A transição abrupta para o ensino remoto expôs a falta de acesso à internet e a dispositivos adequados entre estudantes de escolas públicas, comprometendo o direito à educação e acentuando disparidades sociais.

Além disso, 25,6% dos estudantes mencionaram as distrações, como redes sociais e jogos, como outro desafio no uso de tecnologias durante as aulas. A dificuldade de entender como usar as tecnologias foi apontada por 21,8% dos estudantes, o que sugere a importância de uma melhor formação digital, tanto para professores quanto para alunos, garantindo que todos possam utilizar as ferramentas de maneira eficaz. Por fim, 11,5% dos alunos relataram a falta de equipamentos adequados, outro fator que limita a plena integração de tecnologias digitais no ensino. Esse problema pode ser enfrentado por meio de políticas públicas voltadas para o fortalecimento da infraestrutura tecnológica nas escolas.

Os estudantes foram convidados a sugerir melhorias (Figura 5) para o uso de tecnologias nas aulas. Entre as sugestões apresentadas, a maioria pediu melhor acesso à internet e a inclusão de mais aplicativos, como o Duolingo, além de outras ferramentas interativas. A demanda por tecnologias imersivas, como a realidade aumentada, também foi mencionada, evidenciando interesse por inovações que possam enriquecer ainda mais o aprendizado.

Figura 5: Sugestões dos estudantes

Os dados obtidos no questionário sugerem que os estudantes reconhecem a importância das tecnologias digitais no processo de ensino, destacando suas vantagens e apontando desafios ainda presentes. Para potencializar os benefícios do uso dessas ferramentas em sala de aula, é fundamental que as escolas invistam tanto na melhoria da infraestrutura tecnológica quanto na formação contínua dos professores. Esses investimentos podem contribuir para a criação de um ambiente de aprendizado mais eficiente, inclusivo e acessível a todos os estudantes.
Dessa forma, a integração eficaz das tecnologias digitais não apenas auxiliará no processo educativo, mas também desempenhará um papel essencial no desenvolvimento das competências necessárias para enfrentar os desafios do século XXI.

Conclusão

Os resultados podem indicar que essas ferramentas desempenham papel importante na promoção do engajamento e na compreensão dos conteúdos, sendo amplamente reconhecidas pelos estudantes como recursos relevantes no ambiente escolar. Entre os principais recursos mencionados, destacaram-se projetores multimídia, plataformas online e aplicativos educacionais, utilizados para atividades interativas, avaliações e apresentação de conteúdos.

Apesar dos benefícios evidentes, os resultados também apontaram desafios significativos, como a falta de infraestrutura tecnológica, o acesso limitado à internet e a necessidade de formação docente. Esses fatores ainda limitam o pleno potencial das tecnologias digitais no ensino e indicam a necessidade de investimentos prioritários para garantir a inclusão e a eficácia no uso dessas ferramentas.

Dessa forma, conclui-se que as tecnologias digitais têm o potencial de transformar o ensino e a aprendizagem, tornando-os mais dinâmicos, participativos e alinhados às demandas do século XXI. Contudo, sua implementação deve ser cuidadosamente planejada, considerando a formação dos professores, o suporte técnico adequado e a inclusão de todos os estudantes, independentemente de suas condições socioeconômicas.

Para futuras investigações, sugere-se explorar a relação entre o uso de tecnologias digitais e o desenvolvimento de competências específicas, como pensamento crítico, criatividade e resolução de problemas. Além disso, estudos que considerem diferentes contextos regionais e a percepção de outros atores educacionais, como professores e gestores, podem ampliar a compreensão sobre o impacto das tecnologias digitais na educação básica.

Por fim, este trabalho reforça a importância de ouvir os estudantes, que são os principais beneficiários do processo educacional, para alinhar as práticas pedagógicas às suas necessidades e expectativas. Essa temática não apenas potencializa os resultados educacionais, mas também contribui para a construção de uma educação mais inclusiva, significativa e transformadora.

Referências

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BONILLA, Maria Helena S.; PRETTO, Nelson De Luca (org.). Inclusão digital: polêmica contemporânea. Salvador: Edufba, 2011.

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MACEDO, Lucas R. Desigualdades digitais e o impacto da pandemia no contexto educacional. Educação e Humanidades, São Paulo, v. 15, nº 2, p. 123-135, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/eh/a/SGqJ6b5C4m44vh8R5hPV78m/?format=pdf. Acesso em: 2 dez. 2024.

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PITOMBEIRA, Cátia Veneziano; NASCIMENTO, Ana Karina de Oliveira. Tecnologias digitais no Pibid em tempos de pandemia: diálogo sobre práticas. Fólio - Revista de Letras, Caicó, v. 14, nº 1, p. 99-113, 2022. DOI: doi.org/10.22481/folio.v14i1.10729. Disponível em: https://periodicos2.uesb.br/index.php/folio/article/view/10729/6996. Acesso em: 2 dez. 2024.

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SILVA, L. T. G. Pensar a educação mediada por tecnologias digitais. João Pessoa: UFPB, 2016. Disponível em: http://www.ead.ufpb.br/pluginfile.php/21266/mod_book/chapter/2218/pensar%20a%20educacao%20mediada%20por%20tecnologias%20digitais.pdf. Acesso em: 2 dez. 2024.

Anexo

O questionário aplicado

Publicado em 03 de dezembro de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

SOUSA, Christiane Kézia dos Santos de; GUARIENTI, César Eduardo. A perspectiva dos estudantes da Escola Estadual Inocência Rachid Jaudy sobre o uso de tecnologias digitais no ensino. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 46, 3 de dezembro de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/46/a-perspectiva-dos-estudantes-da-escola-estadual-inocencia-rachid-jaudy-sobre-o-uso-de-tecnologias-digitais-no-ensino

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