A Educação Empreendedora no século XXI: desafios e perspectivas no processo pedagógico criativo

Eliane Menacho

Mestra em Ciências da Educação (Universidad Martin Lutero), professora na Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá/MT

Felício Julio de Azevedo Hungria

Historiador, jornalista, especialista em Tecnologias da Educação (PUC/Rio), PhD em Education Sciences (Christian Business School) e em Business Sciences (Universidad Martin Lutero), pós-doc em Business Sciences

Alex Miller Peres da Silva

Especialista em Gestão de Projetos e MBA executivo em Gestão de Negócios (UCAM), MSc em Business Administration (World Christian University), PhD em Business Administration

Renata Victor

Graduada em Comunicação Social (UniCarioca), especialista em Docência do Ensino Superior (UERJ), mestra em Comunicação Social (UERJ)

O panorama da sociedade contemporânea indica grandes mudanças nas relações sociais derivadas da forma dinâmica como a informação e o avanço das tecnologias acontecem, trazendo a necessidade de um novo perfil de cidadão aos estudantes. A educação, como apontou a Constituição Federal de 1988, tem a finalidade de desenvolver um estudante integral, com competências e habilidades comportamentais e emocionais essenciais para a superação dos desafios da sociedade.

Segundo Almeida, Becker e Santos (2019), a Educação Empreendedora surge e se manifesta nos currículos educacionais com a intenção de preparar os estudantes para a tomada de decisões e a resolução de problemas, colaborando para que construam uma sociedade melhor. Somente assim, eles podem responder às mudanças sociais. A Educação brasileira vem passando por uma implementação de uso das tecnologias aliadas à formação empreendedora.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), uma das políticas educacionais da atualidade, estabelece a prática do empreendedorismo (Educação Empreendedora) como possibilidade viável para o desenvolvimento das habilidades e das competências essenciais aos estudantes (Brasil, 2017). A Educação Empreendedora (Brasil, 2017) é aquela que promove o desenvolvimento dessas competências e habilidades socioemocionais, formando a identidade e a autonomia dos estudantes, assim como a construção de atitudes sustentáveis. Para tanto, devem ser desenvolvidas técnicas de mercado futuro (Lopes, 2010). Conforme Dornelas (2016), a intenção do ensino empreendedor precisa ser entendido já que ele varia muito de instituição para instituição. Ele deve focar na promoção do perfil empreendedor do participante e ser enfático na identificação e no entendimento dessas habilidades, observando as ocasiões que levam à inovação, ao processo empreendedor, à identificação e à análise de oportunidades.

A problemática do trabalho se baseia na seguinte questão: Como aliar o uso das tecnologias e o empreendedorismo na promoção do desenvolvimento integral dos estudantes? A questão será considerada observando o empreendedorismo na sociedade contemporânea, em especial desde a pandemia da covid-19, quando vários cidadãos se tornaram pequenos empreendedores e o uso de recursos tecnológicos se tornou necessário para a sobrevivência, a comunicação e a interação.

O objetivo do estudo está baseado na ideia de refletir acerca da relação entre tecnologia, empreendedorismo e educação, ferramentas essenciais ao desenvolvimento humano. Os objetivos específicos são: identificar a concepção e as propriedades do empreendedorismo e da educação empreendedora, apresentar reflexão a respeito do uso das tecnologias para o processo educacional e reconhecer a relação entre educação empreendedora e o uso de novas tecnologias na ampliação do desenvolvimento pleno de estudantes protagonistas.

O trabalho traz grande relevância para toda a sociedade por se tratar de um assunto com boa aceitação e procura, transmitindo saberes e concepções dentro da temática empreendedora aliada ao uso das novas tecnologias.

Concepção de empreendedorismo e Educação Empreendedora

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae, 2017, p. 12), definiu o empreendedorismo como

o modo de pensar e agir de forma inovadora, identificando e criando oportunidades, inspirando, renovando e liderando processos, tornando possível o impossível, entusiasmando pessoas, combatendo a rotina, assumindo riscos em favor do lucro.

Dessa forma, pode-se dizer que o empreendedor é uma pessoa que tem atenção constante, possui criatividade, está em busca de inovações e não tem medo de vivenciar novas experiências. Assim, a pessoa empreendedora coloca em prática as suas ideias de forma inovadora e com responsabilidade (Werlang; Favretto; Flach, 2017).

Conforme Werlang, Favretto & Flach (2017), no começo dos debates e das reflexões do fenômeno empreendedor, os empreendedores eram pessoas comparadas aos economistas, já que não apresentavam interesse somente em fazer a economia girar, mas em inventar e desenvolver novos empreendimentos.

Muraro et al. (2018) afirmam que a competência empreendedora é essencial para que haja o progresso econômico, pois estabelece uma relação direta com os aspectos comportamentais, assinalando um viés econômico e determinando a função em relação a análise socioeconômica e demográfica de um país.

As transformações no mercado de trabalho e no mundo dos negócios têm determinado o desenvolvimento de propriedades novas para a atuação em organizações. Assim, nota-se que educar para empreender, conforme os currículos escolares, deve ser uma prática diária, assim como a compreensão do empreendedorismo como impacto social (Schaefer; Minello, 2020).

A Educação Empreendedora tem se transformado numa temática frequente dentro dos ambientes acadêmicos, dada a sua importância. Essa ação do sistema educacional tem contribuído de forma significativa para a formação de novos empreendedores (Shepherd; Patzelt, 2018; Gomes et al., 2018; Muraro et al., 2018).

Desde os anos 80, no Brasil, o ensino de empreendedorismo passou a ser incluído no processo educativo, derivado das transformações econômicas do momento. Somente em 1990, contudo, o empreendedorismo teve destaque no Brasil, pela alta taxa de desemprego entre os jovens que apontava para a necessidade de se desenvolver outras habilidades, próprias para empreender no mercado de trabalho. Nesse período, o ensino do empreendedorismo e a abertura de novos negócios se apresentavam como possibilidades de reverter a situação econômica do país (Silva; Mancebo; Mariano, 2017).

Segundo Schaefer e Minello (2017), a aprendizagem empreendedora é desenvolvida por meio de experiências e vivências, impulsionada pelo desempenho do empreendedor. Assim, a aprendizagem empreendedora é um processo interativo, construído por meio de interseções relacionais, formada por diversos elementos, não existindo uma fórmula única para se tornar uma pessoa empreendedora.

McNally, Honig e Martin (2018) afirmam que a pessoa empreendedora tem ampla sabedoria e perspicácia, sendo que essa sabedoria é composta de vários instrumentos: conhecimento, força, audácia e consciência das suas falhas.

Conforme Schaefer e Minello (2017), o ensino de empreendedorismo está entre os principais indicadores das condições favoráveis para desenvolver a atividade empreendedora. Dessa forma, é possível dizer que a educação empreendedora é uma das ferramentas de formação dos novos empreendedores, disseminando a cultura empreendedora.

Schaefer e Minello (2017) apontam que a Educação Empreendedora ou a disseminação de uma cultura empreendedora pode preparar pessoas com ampla capacidade de criar empresas. Nota-se que a educação empreendedora é uma ferramenta eficaz na promoção de atitudes que levam as pessoas a despertarem para seu lado implementador, promovendo uma geração de novos empregos e, por conseguinte, a melhoria da economia do país (Silva; Mancebo; Mariano, 2017).

Schaefer e Minello (2017) citam que múltiplos fatores podem contribuir para o avanço do interesse pela aprendizagem da educação empreendedora, entre elas o fato de que essa formação colabora para o surgimento de novas empresas, novos postos de trabalho e novas oportunidades, ampliando a qualidade da preparação e o número de jovens inovadores e proativos, que atuam na organização ou na atividade autônoma, criando o seu próprio negócio.

Conforme Schaefer e Minello (2017), o empreendedorismo pode ser desenvolvido pela transmissão de valores e por meio de convívio com outros empreendedores. Desse modo, na troca de saberes com pessoas que tenham experiência com atividades empreendedoras, é possível ensinar e aprender a empreender, numa aprendizagem gradual.

As unidades educacionais têm uma importante função social desenvolvendo novos conhecimentos e aprimorando a prática existente, promovendo a construção de valores na sociedade, incentivando e formando empreendedores nos processos educacionais. Nota-se a relevância da educação empreendedora para a formação integral da pessoa, assim como na formação profissional, em especial no que se refere, por meio de experiência,  à observação e ao convívio. Dessa forma, o ensino formal ainda é um dos principais aliados do sucesso do empreendimento (Silva; Mancebo; Mariano, 2017).

O estudo realizado por Odilon Neto, Guimarães e Lukosevicius (2019) detectou a disposição ao empreendedorismo em diversos estudantes de instituições brasileiras de nível superior. Dessa forma comprova que o fenômeno deixa de ser uma parte alheia ao processo pedagógico ou ao setor econômico para ser uma ação no convívio social neste tempo presente.

A BNCC (Brasil, 2017) reconhece a relevância de realizar e desenvolver aprendizagens significativas, por meio de competências que aconteçam no contexto pedagógico. Elas fazem parte dos direitos de aprendizagem do indivíduo. Assim, na trajetória da Educação Básica, conforme o Plano Nacional da Educação (PNE), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 1996), em seu Artigo 1º, sob as bases das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCNEB, 2010), orienta a respeito de dez competências gerais e básicas para o ensino; entre elas está o empreendedorismo. Vale ressaltar que, conforme a BNCC, a competência é

a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho (Brasil, 2017).

A BNCC (Brasil, 2017), ao estabelecer essas dez competências gerais, determina que elas precisam acompanhar o desenvolvimento dos alunos desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.

1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários (Brasil, 2017, p. 12, grifo nosso).

A palavra empreendedorismo não se encontra escrita de forma direta na BNCC (Brasil, 2017), mas é apontada em quase todas as competências, em especial na 9ª e na 10ª, quando se fala acerca da empatia e da cooperação, atitudes essenciais em pessoas empreendedoras. A prática de empatia e do diálogo na resolução de conflitos e na cooperação, valoriza a diversidade, os saberes, as identidades, as culturas e as potencialidades.

Na 10ª competência, o texto trata da responsabilidade e da cidadania, levando os estudantes a agirem de forma pessoal e coletiva, com autonomia, flexibilidade, resiliência e determinação, adotando decisões com base nos princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários, ferramentas necessárias ao bom empreendedor.

Relação entre educação empreendedora e tecnologia

Os professores têm papel relevante no incentivo ao uso das tecnologias no processo de ensino-aprendizagem, promovendo o desenvolvimento da criatividade e buscando uma atualização contínua. Moran (2018) afirma que ao inserir a tecnologia no ambiente escolar, o ensino ganha significação e fica mais atraente, além de desenvolver a autonomia dos alunos estimulando-os a trocar ideias de forma colaborativa.

As tecnologias digitais hoje são muitas, acessíveis, instantâneas e podem ser utilizadas para aprender em qualquer lugar, tempo e de múltiplas formas. O que faz a diferença não são os aplicativos em si, mas estarem nas mãos de educadores, gestores (e estudantes) com uma mente aberta e criativa, capaz de encantar, de fazer sonhar, de inspirar. Professores interessantes desenham atividades interessantes, gravam vídeos atraentes. Professores afetivos conseguem comunicar-se de forma acolhedora com seus estudantes através de qualquer aplicativo, plataforma ou rede social (Moran, 2018, p. 9).

Habowski e Conte (2020) afirmam que o desafio no uso das tecnologias na educação pode ser evidenciado mediante a relação entre conhecimento, mundo e dimensão humano-social do aprender. Assim, as tecnologias fazem sentido para as pessoas quando estão relacionadas às suas realidades sociais, ao seu cotidiano, pois são pautadas e alicerçadas na relação pedagógica da ação pedagógica e da recepção do outro (que é objeto, sujeito e social). Todo projeto de educação é fruto dos sentidos e dos significados que os sujeitos atribuem às tecnologias.

Para Fagundes et al. (2019, p. 7), “o uso das tecnologias no processo educativo não é um mero instrumento de mediação tecnológica, elas alteram saberes, ampliam conhecimentos, qualificam profissionais”. Esse processo é capaz de desenvolver habilidades em professores e alunos ampliando seus conhecimentos e estimulando a criatividade. Além disso, pode interligar os saberes de diversas áreas, trabalhando os sentidos cognitivos do ser humano e potencializando a sua capacidade de inovação.

Conforme Hungria (2022), a área do conhecimento deve estar aberta a ousadias sublimes, relacionando o empreendedorismo à inovação, à comunicação, às táticas inovadoras e à educação coesa num aspecto holístico e multicultural, tornando-se uma ação estimulante que remete à Antiguidade Clássica, constituindo um ambiente de divulgação, percepção, troca e compartilhamento.

Em relação a esse aspecto, Soffner (2018) menciona em sua obra Pierre Lévy, filósofo francês que afirma que as tecnologias desenvolvem o intelecto das pessoas. Além disso, ampliam suas capacidades cognitivas: memória, raciocínio, pesquisa, leitura, representação mental para desenhar e síntese de imagens e dados digitais que envolvem a compreensão.

O mundo do trabalho tem passado por diversas mudanças decorrentes do processo de globalização: avanço da tecnologia, novas metodologias de ensino, qualificação constante, entre outros. Consequentemente, os perfis dos alunos são bem diferentes de antigamente, pois, segundo Klein e Ahlert (2019), nos séculos anteriores os alunos eram preparados para realizar tarefas repetitivas e mecanizadas que não exigiam criatividade. Nos dias de hoje, o cenário atual é outro: exige-se mais criatividade, uso de tecnologias e aperfeiçoamento constante, tanto no âmbito acadêmico como no profissional. Diante disso, Moran afirma que a aprendizagem deve ser mais personalizada:

A personalização (aprendizagem adaptada aos ritmos e necessidades de cada pessoa) é cada vez mais importante e viável. Cada estudante, de forma mais direta ou indireta, procura respostas para suas inquietações mais profundas e as pode relacionar com seu projeto de vida e sua visão de futuro. É importante aprender a relacionar melhor o que está disperso, a aprofundar as informações relevantes, a tecer costuras mais complexas, a navegar entre as muitas redes, grupos e ideias com as quais convivemos. Num mundo tão agitado, de múltiplas linguagens, telas e efervescências aprender a desenvolver roteiros individualizados de acordo com as necessidades e expectativas é cada vez mais importante e viável (Moran, 2018, p. 3).

A aprendizagem realizada de forma personalizada comprova a importância da construção do conhecimento. Os alunos devem ser capazes de se relacionar melhor, realizando interação entre grupos e se adaptando às novas tecnologias. Conforme Hungria (2022), na sociedade contemporânea há uma perspectiva híbrida, pois as pessoas podem estar online e offline ao mesmo tempo. Isso possibilita que tenham boa criatividade e consigam apropriar-se de ferramentas que estimulam a concretização de seus desejos, produzindo tendências tanto para produtos como para protótipos, de forma dialógica e intercultural.

Amorim (2019) afirmou que as tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC) são ferramentas que têm grande uso e relevância no espaço educacional e na realidade social. A unidade educacional necessita envolver os estudantes no uso desses instrumentos por intermédio de práticas pedagógicas inovadoras, inclusive com atividades de empreendedorismo.

Segundo Pinheiro e Ferreira (2017), a Educação Empreendedora é uma forma de criar e divulgar a cultura empreendedora e a formação de futuros empreendedores, colaborando para superar os desafios para a gestão dos negócios. Assim, a Educação Empreendedora, aliada ao uso da tecnologia, pode ser um grande diferencial de empresas, respondendo às exigências do mercado de trabalho atual.

Dessa forma, observa-se que para uma pessoa ser empreendedora não basta somente acumular conhecimentos, mas possuir e desenvolver comportamentos, valores e ações de maneiras diversas, além de perceber o mundo e a si mesmo. Os indivíduos devem se voltar às atividades inovadoras, perseverando na incerteza, pois esses são elementos essenciais para o desempenho empreendedor (Pinheiro; Ferreira, 2017).

Segundo Viana Neto e Sarmento (2018), tornar-se um empreendedor é ter uma mente fértil para idealizar, além de competência para iniciativas, flexibilidade para adequação, criatividade para converter oportunidades em negócios, motivação para pensar e capacidade para visualizar e entender a transformação como uma oportunidade.

Viana Neto e Sarmento (2018) afirmam que empreender tem se constituído uma alternativa para muitos jovens que, após trabalharem como empregados, decidem ter seu próprio negócio. Nota-se que há uma relação entre empreendedorismo e tecnologias, diferenciais para o desenvolvimento dos alunos. Assim, a escola precisa investir em tecnologias e em atividades empreendedoras para as novas gerações, indo na contramão da história antiga, promovendo a constituição de alunos críticos, autônomos e com capacidade criativa.

A Educação Empreendedora, segundo Góis (2020), tem relação com a capacidade de inovar, deter saberes, criar, identificar e aproveitar as oportunidades, com a intenção de levar o aluno a desenvolver autonomia pessoal e profissional. Para Góis (2020), o uso da tecnologia nas escolas estimula a busca por informações. Consequentemente, estimula a construção de conhecimento no aluno e o uso de softwares educativos, jogos educativos e outros. Aliar a Educação Empreendedora ao uso de tecnologias no ambiente educacional representa uma forma de possibilitar que o aluno se desenvolva de forma integral, preparando-o para as transformações da sociedade atual que demandam um ser humano competente e proativo que vê as oportunidades disponíveis.

Na sociedade contemporânea, o setor escolar tem procurado melhorias nas condições de ensino-aprendizagem, com a implantação da tecnologia e da informática aliadas a didáticas inovadoras, como o empreendedorismo. Isso amplia o olhar, tornando o ambiente escolar mais atrativo ao aprendizado. Assim, para que ocorra a aprendizagem na educação empreendedora é necessário que aconteçam descobertas e que elas não apresentem respostas adequadas, mas tragam contribuições aos alunos e aos professores, como uma ação que promove boas condições para a formação, capacitando para a criação de oportunidades por meio da inovação (Viana Neto & Sarmento, 2018).

A Educação Empreendedora procura oportunizar aos estudantes a pretensão de empreender, promovendo novas formas de se relacionar. Assim, busca-se desenvolver qualidades e habilidades indispensáveis a um empreendedor, como: a capacidade de distinguir oportunidades, a proatividade e a criatividade. Essa educação é difundida de maneira ampla e diligente a partir da quebra de protótipos, entre eles, a mudança na atitude do professor, perfil para a nova geração (Pinheiro; Ferreira, 2017).

Segundo Pinheiro e Ferreira (2017), o uso das tecnologias representa um influente recurso para o estudante no processo, permitindo que ele construa a sua própria aprendizagem. Com as tecnologias, há a possibilidade de melhorar tanto os processos de ensino que representam mudanças nas formas tradicionais de aprender, como elas permitem formas independentes e proativas de pensar, como ferramentas de multiplicidade.

Portanto, há de se considerar que o uso das tecnologias aliado a uma Educação Empreendedora promove uma nova forma de ser e de pensar na sociedade, desenvolvendo nos alunos a autonomia e a criatividade para promover uma mudança na ordem social.

Metodologia

A metodologia adotada para este estudo foi a pesquisa bibliográfica, que consiste na revisão de materiais disponíveis em plataformas acadêmicas como SciELO e Google Acadêmico. Foram selecionados e analisados artigos científicos, dissertações e livros (digitais e físicos), além de documentos legais que regulamentam os processos educacionais no Brasil. O recorte temporal dos materiais analisados abrange o período de 2017 a 2022, garantindo a contemporaneidade dos dados.

De acordo com Gil (2010), a pesquisa bibliográfica possibilita a leitura, a análise e a interpretação de materiais já publicados, incluindo livros, artigos, dissertações, periódicos, documentos legais e outras fontes relevantes como mapas e manuscritos. Esse método é adequado para captar uma visão abrangente do tema pesquisado, permitindo uma compreensão detalhada da literatura existente.

Em relação à abordagem qualitativa, conforme exposto por Gil (2010), a pesquisa qualitativa visa um estudo aprofundado do objeto de pesquisa, considerando o contexto em que está inserido e suas interações com a sociedade. Neste estudo, a abordagem qualitativa foi utilizada para examinar a interface entre a tecnologia e educação empreendedora, buscando compreender como esses elementos podem promover o desenvolvimento integral dos alunos.

A análise qualitativa permitiu explorar as relações complexas entre as temáticas, fornecendo insights do impacto dessas variáveis no processo de ensino-aprendizagem e no desenvolvimento das competências empreendedoras.

Considerações finais

A unidade educacional desempenha papel central como espaço de disseminação do conhecimento. Ela é responsável por desenvolver não apenas habilidades básicas, como leitura e escrita, como competências sociais, tecnológicas, culturais e profissionais. A preparação dos alunos para o mercado de trabalho e para a criação de oportunidades de transformação social deve ser um esforço conjunto entre escola e família a fim de oferecer uma visão ampla de futuros horizontes. Esse processo permite que os alunos vivenciem experiências que fomentem um aprendizado contínuo, capacitando-os a contribuir de forma significativa para um futuro promissor.

As transformações sociais impõem novas demandas ao ensino-aprendizagem, destacando a necessidade de uma formação que promova autonomia, interação e resolução de problemas. Nesse contexto, a educação empreendedora emerge como um instrumento fundamental, oferecendo aos alunos a chance de crescimento pessoal e profissional. Esse modelo educacional estimula o desenvolvimento do pensamento crítico, assim como a busca por inovação, transformando sonhos em realidades concretas. O papel do professor é crucial, pois é ele quem desperta a criatividade e ajuda na construção da autonomia nos estudantes, capacitando-os a provocar mudanças reais e duradouras em suas vidas e na sociedade.

A sinergia entre professor e aluno, no contexto de um processo pedagógico voltado para o empreendedorismo, é a chave para superar os desafios educacionais e construir um ambiente de ensino inovador e exploratório. Essa abordagem fomenta o desenvolvimento de uma educação empreendedora que se alinha às exigências contemporâneas, criando um ciclo de inovação e aprendizado contínuo.

É imprescindível que novas pesquisas sejam realizadas tendo como foco a aplicação do empreendedorismo junto às tecnologias em diferentes contextos educacionais. Esse aprofundamento ajudará alunos e professores a entenderem melhor as influências dessas variáveis, tanto em seus aspectos positivos quanto nos desafios a serem superados.

Referências

ALMEIDA, A. R.; BECKER, T. M.; SANTOS, B. H. Educação Empreendedora e suas abordagens na Educação Básica. In: FOSSATTI, P.; JUNG, H. S. (org.). Governança educacional na Educação Básica e Superior ibero-americana. Canoas: Ed. Unilasalle, 2019.

AMORIM, M. L. I Conferência de psicologia histórico-cultural: debates na pesquisa em tecnologia e sociedade. 2019.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 1996.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Básica. Resolução n° 7, de 14 de dezembro de 2010. Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de nove anos. Disponível em: https://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde/article/view/96/284.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEB, 2017.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC): educação é a base. Brasília: MEC/Consed/Undime, 2018.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal - Centro Gráfico, 1988.

DORNELAS, J. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 6ª ed. São Paulo: Empreende/Atlas, 2016.

FAGUNDES, E. F. et al. As dificuldades e limitações encontradas pelo docente no uso das TIC no âmbito da educação pública. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DAS LICENCIATURAS, v. 5, 2019.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.

GÓIS, E. H. B. Panorama dos cursos profissionalizantes de nível médio presencial da rede estadual de ensino do Estado do Paraná. Revista Brasileira de Educação Profissional e Tecnológica, v. 1, n° 18, 2020.

GOMES, J. H. et al. O Ensino Superior e o empreendedorismo. In: PARREIRA, P.; ALVES, L.; MÓNICO, L.; SAMPAIO, J. H.; PAIVA, T. (org.). Competências empreendedoras no Ensino Superior Politécnico: motivos, influências, serviços de apoio e educação. Guarda: Instituto Politécnico da Guarda, 2018.

HABOWSKI, A. C.; CONTE, E. Interações crítico-dialéticas com as tecnologias na Educação. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, v. 15, n° 1, p. 266-288, 2020.

HUNGRIA, F. J. de Azevedo. Relato da experiência: uma abordagem multidisciplinar utilizando o método Temac na revisão analítica de literatura do empreendedorismo. Florianópolis, v. 11, n° 1, 2022.

KLEIN, N. A.; AHLERT, E. M. Aprendizagem Baseada em Problemas como metodologia ativa na Educação Profissional. Revista Destaques Acadêmicos, v. 11, n° 4, 2019. DOI: 10.22410/issn.2176-3070.v11i4a2019.2398. Disponível em: https://www.univates.br/revistas/index.php/destaques/article/view/2398. Acesso em: 24 out. 2024.

LOPES, R. M. A. Educação Empreendedora: conceitos, modelos e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

MCNALLY, J. J.; HONIG, B.; MARTIN, B. C. A preliminary exploration of the development of wisdom in entrepreneurship education. Regepe - Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, v. 7, n° 1, p. 1-34, 2018.

MORAN, J. M. Contribuição das tecnologias para a transformação da educação: uma entrevista de José Manuel Moran Costas. Revista Com Censo: Estudos Educacionais do Distrito Federal, v. 5, n° 3, p. 8-10, 2018.

MORAN, J. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.

MURARO, R. et al. Avaliação de perfil empreendedor em meio acadêmico. Revista Gestão e Desenvolvimento, v. 15, n° 2, p. 136-156, 2018.

ODILON NETO, M.; GUIMARÃES, J. C.; LUKOSEVICIUS, A. P. Empreendedorismo para todos: o perfil empreendedor dos licenciandos de Pedagogia. Revista Livre de Empreendedorismo e Sustentabilidade, nº 4 (edição especial), p. 38-75, set. 2019.

PINHEIRO, C. R. M. S.; FERREIRA, F. M. O uso do plano de negócio circular para ensino do empreendedorismo no ensino fundamental. In: VI CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO (CBE), Bauru. Anais... 2017.

SCHAEFER, R.; MINELLO, I. F. Empreender como uma forma de ser, saber e fazer. RPCA – Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, Rio de Janeiro, v. 1, n° 4, p. 160-193, jan./mar. 2020. DOI: https://doi.org/10.12712/rpca.v14i1.34722.

SCHAEFER, R.; MINELLO, I. F. A formação de novos empreendedores: natureza da aprendizagem e Educação Empreendedora. Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v. 11, n° 3, p. 2-20, set./dez. 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.21714/19-82-25372017v11n3p220.

SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE). Manual de Gestão do Programa Nacional de Educação Empreendedora. Brasília: Unidade de Educação Empreendedora, 2017.

SHEPHERD, D. A.; PATZELT, H. Entrepreneurial Cognition: exploring the mindset of entrepreneurs. Londres: Palgrave Macmillan, 2018.

SILVA, F. C.; MANCEBO, R. C.; MARIANO, S. R. H. Educação Empreendedora como método: o Caso do Minor em empreendedorismo e inovação da UFF. Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, v. 6, n° 1, p. 196-216, jan./abr. 2017. DOI: 10.14211/regepe.v6i1.411.

SOFFNER, R. K. A tecnologia no suporte aos processos de ensino e aprendizagem da Matemática. Cadernos da Fucamp, v. 17, n° 30, 2018.

VIANA NETO, A. A.; SARMENTO, J. N. P. WQ na formação continuada de professores da Educação Profissional e Tecnológica. CIET: EnPED, 2018: Educação e Tecnologias: docência e mediação pedagógica, 2018.

WERLANG, N. B.; FAVRETTO, F.; FLACH, R. O. Development and evolution of entrepreneurs skills in students of a Graduation Course in Administration. Revista de Empreendedorismo, Inovação e Tecnologia, Passo Fundo, v. 4, n° 2, p. 30-50, 2017. DOI: https://doi.org/10.18256/2359-3539.2017.v4i2.2039.

Publicado em 05 de fevereiro de 2025

Como citar este artigo (ABNT)

MENACHO, Eliane; HUNGRIA, Felício Julio de Azevedo; SILVA, Alex Miller Peres da; VICTOR, Renata. A Educação Empreendedora no século XXI: desafios e perspectivas no processo pedagógico criativo. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 25, nº 5, 5 de fevereiro de 2025. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/25/5/a-educacao-empreendedora-no-seculo-xxi-desafios-e-perspectivas-no-processo-pedagogico-criativo

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.