Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

FME de Nova Iguaçu

Karla Hansen

Educar para um outro mundo possível

Pela primeira vez, o Fórum Mundial de Educação, que nasceu no Fórum Social Mundial e hoje tem vida própria, escolheu uma cidade de periferia para se realizar - as quatro edições anteriores do evento aconteceram em capitais: três em Porto Alegre e uma em São Paulo. A decisão por se instalar numa cidade da Baixada Fluminense, região marcada pelo estigma da violência e da exclusão, foi, por isso mesmo, determinante para diferenciar esse evento de todos os outros Fóruns.

Nova Iguaçu e sua população apareceram para o Rio de Janeiro, para o Brasil e para o Mundo, não mais como lugar ignorado pelo poder público, relegado ao terror de grupos de extermínio, como os responsáveis pela chacina de 29 pessoas, em março de 2005, que comoveu o país e, em particular, os integrantes do Conselho Internacional do Fórum Mundial de Educação. Nova Iguaçu apareceu, sim, como um centro mundial de produção e de troca de ideias, e de apresentação de alternativas para superar as dificuldades da educação pública nos países pobres e enfrentar a sua crescente mercantilização, em todo o mundo.

Durante quatro dias, de 23 a 26 de março, cerca de 30 mil pessoas, entre educadores, militantes sociais, estudantes e representantes de 25 países, estiveram debaixo de sol forte e extremo calor, dispostos a ouvir, a ver, a pensar, a aprender, a ensinar, e até a brigar, pela e para a educação pública e gratuita de qualidade, acreditando que ela é um fator determinante de transformação social.

Como um ramo do Fórum Social Mundial, o Fórum de Educação tem os mesmos princípios deste e a capacidade de reunir pessoas com o desejo comum de construir novos modelos para a educação dos povos, modelos esses necessários à construção de um outro mundo possível.

Educação Cidadã para uma Cidade Educadora

O tema Educação Cidadã para uma Cidade Educadora deste Fórum de Nova Iguaçu já foi abordado anteriormente, no FME de São Paulo, de 2004, que contou com mais de 100 mil participantes, segundo dados do comitê organizador do evento. Para Moacir Gadotti, presidente do Instituto Paulo Freire e um dos membros do Conselho Internacional do FME, esse é um tema importante, daí, sua segunda edição. "A conquista de uma educação de qualidade não virá sem que a cidadania se transforme", explica. Diz, ainda, que "a cidade educadora é uma conquista da população, mas, também é uma decisão dos governantes". Para ele, a cidade educadora resulta do fortalecimento da sociedade civil e do compromisso do poder público, que se tornam parceiros, a exemplo da prefeitura de Nova Iguaçu, que criou projetos educacionais, como o Bairro Escola. Por intermédio do projeto, o governo municipal estabelece parcerias com empresas e outras entidades, a fim de oferecer reforço escolar, esporte e outras atividades sociais e culturais, em horário integral, para crianças e jovens da rede de ensino do município.

Para o representante da Colômbia do Conselho Internacional do Fórum Mundial de Educação, Ramon Moncada, um dos objetivos dos fóruns temáticos é aprofundar questões mais específicas como a relação entre educação, pedagogia e política.

"Mais do que um mero evento, o fórum é um processo com uma dinâmica permanente, que pretende se expressar em políticas públicas nacionais e regionais para a educação, como um direito humano fundamental", afirmou. E, lembrando Paulo Freire, resumiu: "a educação, por si só, não é capaz de fazer as transformações econômicas, sociais e culturais necessárias, mas sem a educação não será possível fazer essas transformações".

Para além dos propósitos objetivos do Fórum Mundial de Educação, quais sejam, discutir e pensar em propostas alternativas para transformar a educação e, a partir dessas propostas, pressionar órgãos nacionais e internacionais por mudanças regionais e globais, Moacir Gadotti lembra que essa também é uma oportunidade de recarregar as "pilhas". "Precisamos nos encontrar para dizer estamos aqui. Esse é um espaço de aprendizagem, de reencantamento pela causa da educação para um outro mundo possível", disse.

Para seguir o conselho de Gadotti e fazer do Fórum um espaço de aprendizagem e reencantamento, os participantes tiveram inúmeras oportunidades. Foram cerca de 500 posters e 300 atividades chamadas "autogestionadas", onde aconteceram palestras e debates em diversas escolas e demais locais da cidade, especialmente preparados para o Fórum. Além de conferências, seminários e debates, o programa também incluiu atividades culturais, com apresentação de teatro, dança, poesia, música etc., e o Fórum Mundial de Educação Infanto-Juvenil, que envolveu a participação de cerca de 4 mil crianças e jovens.

Para mostrar que o Fórum não é só feito de boas intenções e belas palavras, em muitas dessas atividades foram apresentadas experiências bem sucedidas em educação formal e não-formal, como o projeto Mova Brasil, uma parceria da Petrobrás com a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e o Instituto Paulo Freire. O projeto inspirou-se no Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), criado pelo educador Paulo Freire, durante sua gestão à frente da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, em 1989. O objetivo é atender às populações que vivem nos municípios em que a Petrobrás atua.

A primeira etapa do projeto teve início em janeiro de 2004, tendo sido implantado em cinco estados: Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e São Paulo, nos quais, mais de 12 mil jovens e adultos foram inscritos e mais de 10 mil formados. Atualmente, o projeto que está na terceira fase, incluiu, o estado de Sergipe. A meta é alfabetizar, até o final de 2006, 40 mil educandos, formar 160 coordenadores locais e 1.600 monitores.

É conhecendo experiências como essas e outros projetos alternativos educacionais que estão sendo executados ou construídos cotidianamente, nas salas de aula ou nos espaços da cidade do país, que os propósitos do Fórum se fortalecem e as esperanças se reafirmam: afinal, o Fórum de Nova Iguaçu mostrou que podemos, sim, construir um outro mundo possível e um outro educar para esse mundo possível.

Leia, na íntegra, o documento final do Fórum Mundial de Educação de Nova Iguaçu.

3/4/2006

Publicado em 04 de abril de 2006

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.