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A importância da ação dialógica na construção da identidade

José Henrique Manhães Neves

Graduado em Letras pela UFRJ e especialista em Orientação Educacional pela UCAM

Para explicitar esta narrativa, a reflexão foi organizada sobre dois eixos norteadores; a ação dialógica do docente e a construção de identidade do aluno.

Nesse sentido compreender a ação dialógica como uma instância produtora de linguagem e, portanto, formadora de subjetividade, requer considerar o ser humano como um todo inacabado que se constitui de suas relações sociais. Decorre, então, a importância do “outro” na formação subjetiva do ser humano.

Com isso, pretende-se demonstrar a relevância das interações ocorridas na escola e no cotidiano e perceber que esses adolescentes estão internalizando palavras de outros, tornando-os, também, parte integrante do eu, enfim, se constituindo enquanto sujeitos e da melhor forma possível.

Em uma sala de aula ou outro espaço fora desse contexto escolar, atores são chamados a falar, a se colocar, a romper o silenciamento que trazem consigo. Falam e discutem sobre os problemas que vivem e enfrentam no cotidiano, junto com seus vizinhos e moradores. Falam e conversam. Trocam experiências, ideias, alegrias, derrotas, vitórias, contam estórias, mobilizam-se e organizam-se para tarefas comuns.

Esse falar leva ao domínio da fala, a descoberta do poder falar e esse poder falar parece significar Poder. Poder de expor-se, confrontar-se e confrontar, transformar e ser transformado. Influenciar e ser influenciado. Tomar decisões e exercer decisões. De silenciado e em silenciamento, parece viver um processo de provável dessilenciamento em que a verbalização e os gestos que a acompanham indicariam uma ruptura de uma silenciosa opressão. Seria a constituição de um ser de Poder, por que se descobre com o poder de falar, dizer, se expressar. A palavra, o falar, o dizer não só estariam indicando a constituição de um sujeito dessilenciante, mas também estaria indicando a descoberta do falar igual aos tambores do Pelourinho, descoberta do falar enquanto poder: poder é o mesmo que o grito dos afoxés; do poder enquanto falar, falar é resignificar os sons dos afoxés, e com isso sujeitos políticos. Sujeitos em seus reencontros, políticos enquanto cidadãos.

Diante dos argumentos apresentados pode-se afirmar que quando se trata de sujeitos e construção de identidade, numa perspectiva de ação dialógica é necessário provocar um retroceder no tempo histórico. Para que nesse retroceder o leitor possa se perceber, segundo as condições históricas de cada época, as pessoas se formam respondendo às questões de seu tempo de um determinado modo e de acordo com as vivências de seu grupo cultural. Assim, é necessário comparar as respostas dadas por outros povos, em outros tempos, com as respostas que são dadas em nosso tempo, encontrando o sentido e a história de nossas próprias respostas.

Não há como produzir conhecimento sem contextualização histórica, social, política e cultural. O repertório de cada indivíduo e sociedade está preso ao contexto vivido. O sujeito não se forma e reforma alienado de seu ambiente social, da mesma forma que ele é influenciado por seu tempo histórico, social e cultural, ele (indivíduo) marca a sociedade em que vive. Nesse processo a linguagem é elemento diferenciador e diferenciado de cada tempo histórico construído a partir da trajetória das diferentes sociedades sempre marcada pelas práticas e ações do indivíduo e da coletividade.

Mais do que em qualquer tempo, há a consciência que o ser é histórico, por isso, imersos nas experiências anteriores, nos conhecimentos, vivências, culturas, acertos, erros, encontros e desencontros acumulados ao longo do cotidiano e de várias gerações.

Por exemplo, a resposta ao que é belo/beleza é dada de diferentes maneiras. Depende da posição ideológica que o indivíduo ou grupo tem no momento. Em algumas culturas e épocas a beleza é concebida utilizando-se de critérios e padrões diferenciados e de cultura para cultura alguns desses critérios chegam até mesmo apresentar padrões antagônicos para expressar o belo. Isto também acontece com os olhares relativos à constituição do sujeito e suas ideologias. Não basta que seja visto somente pelo olhar individual e pessoal, nem somente pelos olhos dos outros. Para de fato ser enxergado e compreendido é fundamental aprender a desenvolver uma visão ampla e completa que comporte os pontos de vista individual e coletivo.

Portanto, para se estabelecer diálogo entre os interlocutores é necessário perceber que não existem verdades absolutas, é preciso uma atitude voltada para a busca do novo, para a escuta, para o transladar-se, para o ponto de vista do outro, transitando pela opinião e redimensionando posições.

A relação dialógica envolve sempre, duas consciências e sua ação é uma relação com o sentido. Silenciar o outro é afastá-lo de suas próprias ideias e pensamentos, podendo provocar-lhe uma concepção equivocada a respeito de si mesmo, e a sala de aula posta como um espaço, situa-se como uma alternativa para estar-se, para colocar-se. Aí, mas não somente, a sala de aula é ocupada pelas figuras do professor e do aluno. O encontro ou desencontro entre estas figuras confirma a diferença como elo que os relaciona. Relacionar-se pela diferença significa afirmar o outro, a alteridade. Afirmar o outro é afirmar o próprio eu, pois o reconhecimento do eu passa pelo reconhecimento do que é distinto e a possibilidade de falar de seu sentir, de sua dor, de sua alegria, daquilo que lhe aflige no cotidiano e a si mesmo é oportunizar o dialogismo que perpassa a história, a cultura, o social, a escrita e principalmente o ouvir.

Publicado em 11/04/2006

Publicado em 11 de abril de 2006

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