Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

Em busca de diálogo entre os ensinos superior e o médio

Leonardo Soares Quirino da Silva

A mesa-redonda "Formas de acesso ao Ensino Superior" promovida pelo programa de Ensino Médio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ensino Médio), no dia 4 de abril, revelou a necessidade de maior diálogo entre as instituições do Ensino Superior e do Ensino Médio com relação aos programas e às datas dos vestibulares. O evento contou com a presença de cerca de 80 professores do Ensino Médio. Participaram da mesa os professores Marieta de Moraes Ferreira (FGV Ensino Médio), Maria Inês Fini (FE/Unicamp), Marcelo Macedo Corrêa e Castro (FE/UFRJ) e Maurício Luz (CAP/UFRJ).

Durante a fase de perguntas, Marcelo, deixou um convite para patrocinar uma discussão sobre a relação entre o Ensino Médio e o Superior. O professor é diretor da Faculdade de Educação e membro da comissão que elabora o vestibular da UFRJ. Marieta também fez a mesma oferta por parte da FGV.

Maria Inês, por sua vez, lançou um desafio aos professores e escolas do Ensino Médio. A professora da Unicamp sugeriu que, ao invés de as escolas ficarem correndo atrás das universidades públicas, elas deveriam fazer uma proposta dizendo o que podem fazer e que tipo de alunos querem formar. A professora foi autora do projeto original e coordenadora do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem).

Programas e datas

O coordenador de matemática do Colégio Santo Inácio, Tales do Couto, relatou que há dez anos faz um acompanhamento informal dos programas dos vestibulares da UFRJ, UFF e Uerj. Nesse estudo, ele constatou que as provas cobravam apenas 38% do conteúdo de suas áreas.

Maurício Luz comentou que realmente o programa das disciplinas é muito extenso. O professor citou que um estudo feito na Inglaterra sobre os currículos de biologia para o Ensino Médio concluiu que os programas tinham uma milha de extensão, mas apenas uma polegada de profundidade. Contudo, ele comentou que não tem havido disposição de se tirar nada dos planos das disciplinas.

A preocupação com a extensão dos programas acaba se unindo com o problema das datas de realização das provas, que seria agravado pela existência de vestibulares independentes. Nas perguntas, os professores declararam que, em geral, as datas para a realização dos exames acabam não permitindo que o currículo seja dado na íntegra. À parte isso, as coincidências de datas e horários dificultariam a participação dos estudantes em todos processos de seleção.

Neste particular, o professor Marcelo Corrêa e Castro deu um depoimento pessoal. Ele aconselhou os filhos a escolherem em qual instituição gostariam de estudar. Com esse fim, algumas instituições privadas mantêm programas de visitação e palestras, caso dos cursos de graduação da FGV.

Marcelo explicou, ainda, que as comissões têm dificuldade em marcar as provas de forma a atender, por exemplo, às restrições impostas pelos credos dos candidatos. Porém, a comissão da UFRJ já conseguiu fazer com que os exames sejam realizados em dois dias e não mais em nove, com era anteriormente.

Deslocamentos

O diretor da Faculdade de Educação da UFRJ foi o primeiro apresentador da tarde com a apresentação "Exames vestibulares: breve comentário sobre uma história de deslocamentos". Na apresentação, Marcelo fez um sumário da história dos processos de seleção para a universidade no Brasil e defendeu a tese que os sucessivos governos brasileiros têm se preocupado mais em verificar o produto da aprendizagem do que em aperfeiçoar o produto.

Por isso, ele considera útil o Enem enquanto instrumento para se pensar a política de educação, confirmado pela professora Maria Inês. Contudo, ele teme que o exame seja atraído para a armadilha de se transformar no vestibular do governo.

Um estudo estatístico para avaliar o efeito das políticas de cotas para a universidade pública foi tema central da palestra do professor Maurício Luz, que também é professor do Pré-Vestibular Social. O estudo foi feito com base nos dados do vestibular da UFRJ e do coeficiente de rendimento dos estudantes.

Os resultados revelaram que a política inclusiva mais efetiva seria o estabelecimento de cotas para pessoas que fizeram todo o Ensino Básico na rede pública. Com isso, sua representação nos cursos de alta procura seria aumentada.

Com base nos dados da pesquisa é possível afirmar, ainda, que uma possível política de inclusão não levaria à queda na qualidade do ensino nas universidades públicas. A comparação do resultado do vestibular com o rendimento dos alunos no primeiro período mostrou que não há relação direta entre os dois itens.

Para Maria Inês Fini, por sua vez, as discussões sobre políticas de cotas são importantes para se discutir racismo e inclusão social.

Entre os temas abordados em sua palestra "Formas de acesso ao Ensino Superior: mecanismos de avaliação ao final da Educação Básica", a professora da Unicamp falou sobre a arrogância da universidade brasileira. Para ela, "a universidade não tem que dizer ao Ensino Médio e Básico como eles têm que se organizar e ensinar". Ela observou, ainda, que o que se tem assistido é uma falta de respeito com o Ensino Médio e muito pouco para que o professor se sinta apoiado.

A FGV Ensino Médio colocará, em breve, na internet, o conteúdo de todas as apresentações.

10/4/2006

Publicado em 11 de abril de 2006

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.