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Mova-Brasil
Karla Hansen
Força contra o analfabetismo
O título do projeto já é bastante sugestivo. Faz pensar em movimento, em mudança, é um apelo imperativo para que alguém ou algo (no caso, o Brasil) saia da inércia. O mais interessante é que Mova é, de fato, a sigla de um movimento, o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos, um programa criado pelo educador Paulo Freire, em 1989, quando esteve à frente da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.
A proposta do Mova-Brasil, apresentada no Fórum Mundial de Educação de Nova Iguaçu, num seminário sobre a Educação de Jovens e Adultos na América Latina, é abertamente inspirada nas ideias de Paulo Freire e também tem os mesmos objetivos do projeto original: reunir esforços do governo, da sociedade civil organizada (ONGs, sindicatos, associação de moradores etc.) e entidades privadas, para combater o analfabetismo, entre jovens e adultos. Para isso, utiliza um método específico, adaptado às necessidades e aos interesses dos alunos e voltado, não só para a aquisição do domínio da leitura e da escrita, mas, também, para a formação de cidadãos ativos e participativos.
Para os expositores do seminário, o Mova-Brasil é, ainda, o exemplo de uma alternativa viável e bem sucedida de combate ao analfabetismo. Acreditam que a parceria entre o poder público e a sociedade civil é o caminho para superar as dificuldades e carências da educação pública, nos países da América Latina e Caribe.
O Mova-Brasil teve início em 2003, a partir de uma parceria entre a Petrobras - por intermédio do "Programa Petrobras Fome Zero" -, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e o Instituto Paulo Freire, que dá consultoria na formação de orientadores e de monitores. "Trata-se de uma experiência inédita, pela primeira vez, criamos uma parceria entre uma empresa estatal, os sindicatos e a sociedade", definiu Mara Luz, da Federação Única dos Petroleiros.
Ela explicou, ainda, que o objetivo é eliminar o analfabetismo nas áreas que ficam no entorno dos sindicatos de petroleiros (Sindipetros) ligados às unidades de atuação da Petrobras. A estratégia para a implantação do projeto é agir por etapas. Num primeiro momento, é feita uma pesquisa do entorno, onde se levantam as principais demandas da população. "Na maior parte dos lugares, as pessoas querem ser alfabetizadas", contou Mara Luz. O passo seguinte é, a partir de uma articulação com associação de moradores, formar monitores locais e, então, reunir os inscritos nas salas de aula. As salas do MOVA estão instaladas em locais onde existem poucas escolas e grande demanda por educação básica e, geralmente, as aulas são dadas em associações comunitárias, igrejas, creches, empresas, enfim, lugares em que há espaço e necessidade.
Segundo dados fornecidos pelos realizadores do Mova-Brasil, o projeto foi organizado em três fases: na primeira (de janeiro a outubro de 2004), ele foi implantado em 166 municípios dos estados da Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e São Paulo, nos quais obteve um total de 12.167 inscritos, sendo 545 turmas e 10.038 alunos formados.
A segunda fase (de novembro de 2004 a julho de 2005) envolveu os cinco estados que participaram anteriormente e incluiu o estado de Sergipe, fazendo um total de 14.440 inscritos.
Já na terceira fase, ainda com dados parciais, o Mova-Brasil inovou, impantando o programa de alfabetização de jovens e adultos em 90 presídios do estado de São Paulo. Como próxima ação para este ano, os responsáveis pelo projeto anunciaram uma parceria com a Associação de Catadores de Produtos Reciclados.
Os números do projeto e o entusiasmo de seus representantes foram reforçados pela apresentação de um vídeo que dá voz aos que passaram ou passam pelo método. Na maioria deles, a alfabetização significou um renascimento, mas também despertou o desejo de continuar os estudos. Para os realizadores, para além das letras e dos números, o Mova-Brasil tem como finalidade "contribuir para promover a dignidade humana de milhares de brasileiros e garantir aos indivíduos e às comunidades a oportunidade de reconstruírem seus destinos e de conquistarem o direito à cidadania plena e participativa".
De acordo com dados da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, do MEC, também representada na mesa pelo secretário Ricardo Henriques, existem, hoje, no Brasil, cerca de 3 milhões de jovens e adultos analfabetos absolutos, ou seja, aqueles que não sabem sequer assinar o próprio nome, e 75% da população carcerária são analfabetos.
Leia mais sobre o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos.
3/4/2006
Publicado em 11 de abril de 2006
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