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Anísio Teixeira

Karla Hansen

Orgulho e tristeza no documentário sobre o educador

Suspiramos pela democracia, mas nunca lhe quisemos pagar o preço. O preço da democracia é a educação para todos. É a educação que faz homens livres e virtuosos".
Anísio Teixeira (1900-1971)

Hoje, dia 2 de maio, a TV Escola exibe o documentário "Máquina de Fazer Democracia - vida em obra de Anísio Teixeira", uma cinebiografia do educador, que ficou na história como o "Estadista da Educação".

O subtítulo "vida em obra" não é só um recurso de estilo. Mas uma referência às inúmeras e notáveis obras do educador, seja como homem de pensamento, vide sua produção intelectual, seja como homem de ação, à frente de órgãos de educação no governo da Bahia e do Rio de Janeiro (antigo Distrito Federal), ou como criador e elaborador de novas políticas educacionais, tanto quanto idealizador e fundador de escolas e universidades (Escola Parque da Bahia, Universidade Brasileira, Universidade de Brasília) e de diversos centros de estudos e de pesquisas científicas (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - Inep, e outros).

Assim, o documentário percorre o curso da vida de um dos maiores educadores brasileiros - considerado por alguns, como um dos maiores educadores do mundo -, desde sua infância na pequena cidade de Caetité, no sertão da Bahia, onde já se revelou dotado de uma inteligência excepcional, até sua misteriosa morte, durante o regime militar, sete anos depois do golpe de 1964.

Para os que não sabem quem foi Anísio Teixeira, o vídeo cumpre um papel importante, ao contar, cronologicamente, os principais fatos de sua vida, mas, também, ao trazer depoimentos de seus filhos e amigos, de educadores e de pesquisadores, o que ajuda a compreender a dimensão do personagem biografado e, mais que isso, a trazê-lo para o presente.

E é quando nos deparamos com o presente que o documentário se torna ainda mais significativo. A história de Anísio Teixeira causa, ao mesmo tempo, orgulho e tristeza. Orgulho, por ele ter sido um grande brasileiro, pela sua luta incansável pela educação, por suas ideias, convicções e por suas realizações no campo da educação brasileira até hoje insuperadas. Para ele, não era possível construirmos uma nação verdadeiramente democrática, sem uma escola pública de qualidade, para todos, em todos os níveis de ensino.

No entanto, ainda que atualmente tenhamos nos livrado do regime militar, herdamos desse período o pensamento atrasado que perseguiu e acusou Anísio Teixeira de "comunista" que queria fazer a revolução socialista pela educação. Graças aos anos de obscurantismo que se seguiram ao golpe de 1964, assistimos à rápida decadência da educação pública. Hoje, para nossa tristeza, a educação permanece à deriva, ao sabor do descaso dos sucessivos governos federais, estaduais e municipais. Além do mais, nos falta um homem (ou mulher) público (a) com a coragem e a grandeza do educador, coisa pouco encontrada nos políticos atuais.

A figura de Anísio é a própria imagem da inteligência brasileira, que o Brasil desperdiçou, porque parece ter medo das luzes que emanam das mentes esclarecidas. Que se pode esperar de uma nação que escorraça os representantes de sua cultura?
Afrânio Coutinho.

Nesse sentido, o documentário nos faz sentir saudade de um Brasil que não existe mais e, no entanto, não evoluiu, pelo menos, não na (des) importância que os homens públicos e que a sociedade, de um modo geral, dá à educação. A importância vital, estratégica que Anísio dava a uma causa ao qual ele dedicou toda sua vida.

Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Esta máquina é a da escola pública."
Anísio Teixeira

Ele sabia, já há mais de cinquenta anos, que era preciso uma revolução na educação brasileira e que essa revolução era comparável a uma operação de guerra. Foi como um guerreiro que ele se lançou a esse desafio, e foi tantas vezes perseguido, por ousar mudar num Brasil atrasado. E hoje, não é diferente. Continuamos pagando o preço por esse descaso, continuamos presos ao atraso (há 30 milhões de analfabetos no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE) e carentes de uma revolução educacional nas dimensões imaginadas por Anísio Teixeira. Oxalá, ao reavivar sua memória, o documentário inspire as novas gerações de educadores brasileiros.

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2/5/2006

Publicado em 02 de maio de 2006

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