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Barão de Itararé

Leonardo Soares Quirino da Silva

Mais conhecido das pessoas hoje na casa dos 60 ou 70 anos, o gaúcho Apparício de Brinkerhoff Torelly (1895-1971) foi um dos principais autores de humor político no Brasil do final dos anos 1920 até o início dos 1960. A qualidade de seu texto fazia que a cidade do Rio de Janeiro parasse para ouvir seus discursos na Câmara dos Vereadores, no breve período em que exerceu um cargo político.

Por sua importância, seu nome artístico acabou dando nome a duas escolas da cidade do Rio - uma em Marechal Hermes e outra em Santa Cruz. O Ciep 402, em Japeri, por sua vez, leva seu nome de batismo.

Torelly ficou mais conhecido pelo título que inventou para si - Barão de Itararé, a batalha que não houve - sendo autor de piadas e aforismos que ficaram famosos, como estes:

  • O menino, voltando do colégio, perguntou à mãe:
    - Mamãe, por que é que pagam o ordenado à professora, se somos nós é que fazemos os deveres?

Ou

  • Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai.

Ou ainda

  • Nunca desista de seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra.

O barão também leva a fama de ter inventado o aviso Entre sem bater. Durante dez dias, em 1934, o Torelly e dois amigos foram donos do Jornal do Povo. Em razão da publicação de uma série de fascículos sobre João Cândido, o almirante negro, seu jornal foi fechado e Apparício apanha de um grupo de oficiais da marinha, até hoje não identificado. Depois disso, ele coloca na porta o aviso a que alguns lhe atribuem a autoria.

Memórias do Cárcere

Apporelly, outro nome artístico do barão, foi, ainda, "personagem" das Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos. Eles se conheceram na Casa de Detenção do Rio de Janeiro.

A chegada de Apporelly, como o escritor o chama ao longo do livro, foi a mais rumorosa e a Rádio Liberdade - uma iniciativa dos presos para se manter informados - logo comunicou sua chegada. A pedidos dos presos, o barão logo falou na rádio. Apporelly fez um longo discurso sobre o que ele chamou "a teoria das duas hipóteses".

No livro, Graciliano disse que os problemas de saúde dos dois devem tê-los aproximado - o barão tinha um dos lados do corpo paralisado e o escritor se recuperava de uma operação.

Mais adiante, Aparício lhe confidenciou que pretendia aproveitar o tempo de prisão para escrever as biografias do barão de Itararé, o que acabou não fazendo. Na conversa, ele conta a Graciliano que o barão se agraciou naturalmente, pois se fosse esperar que lhe reconhecessem o mérito, não arranjava nada.

A conversa segue sobre a carreira jornalística do barão. Apporelly relata que "um dia Itararé descobriu uma volumosa ladroeira oficial e a denunciou aos responsáveis em uma longa campanha moralizadora. Aos íntimos explicou-se: 'Patifes! Canalha! Para uma transação como essa não me convidam'".

Provavelmente, a definição do barão para negociata - todo o bom negócio do qual não fomos convidados - deve ter surgido depois disso.

Do e sobre o barão

Para quem quiser conhecer mais sobre o barão existem alguns livros sobre ele. Em 1986, seus aforismos, publicados respectivamente em A Manha e no Almanhaque, foram reunidos por Afonso Félix de Sousa e republicados pela editora Record no livro Máximas e Mínimas do Barão de Itararé.

A seguir, mais alguns ditos - recolhidos na internet - do saudoso barão da batalha que não houve:

  • De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
  • Mais vale um galo no terreiro do que dois na testa.
  • Quem empresta, adeus...
  • Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
  • Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
  • Quando pobre come frango, um dos dois está doente.
  • Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
  • Quem só fala dos grandes, pequeno fica.
  • Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.
  • Os juros são o perfume do capital.
  • O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
  • Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
  • Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.
  • É mais fácil sustentar dez filhos que um vício.
  • Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você.
  • A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.
  • Tempo é dinheiro. Vamos, então, fazer a experiência de pagar as nossas dívidas com o tempo.
  • Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.
  • O fígado faz muito mal à bebida.
  • O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.
  • Com dinheiro à vista toda gente é benquista.
  • Se você tem dívida, não se preocupe, porque as preocupações não pagam as dívidas. Nesse caso, o melhor é deixar que o credor se preocupe por você.
  • O homem que se vende recebe sempre mais do que vale.
  • Que faz o peixe, afinal?... Nada.
  • Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.
  • Devo tanto que, se eu chamar alguém de "meu bem" o banco toma!
  • Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta...

Publicado em 02 de maio de 2006

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