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Enxergando longe

Karla Hansen

Óculos e tratamento oftalmológico gratuito

"O olho, janela da alma, é o principal órgão pelo qual o entendimento pode obter a mais completa e magnífica visão dos trabalhos infinitos da natureza. O olho é a mediação que conduz a alma ao mundo e traz o mundo à alma. Mas não é só o olho que vê; o entendimento, valendo-se do olho, obtém a mais completa e magnífica visão."

Leonardo da Vinci

Estava cheio de razão o gênio Leonardo da Vinci quando associou a visão ao conhecimento. Afinal, conhecer algo também é trazê-lo à luz, é permitir que o desconhecido seja revelado, tirado das sombras.

Mas, não raras vezes, milhares de crianças, nos primeiros anos da vida escolar, por dificuldades de enxergar, são impedidas do acesso ao conhecimento. Aparentemente, são crianças desligadas, sem atenção, que não demonstram interesse ou apresentam grande dificuldade em aprender e, assim, acabam desistindo dos estudos.

A consequência direta é o baixo rendimento escolar, seguida de evasão, segundo dados da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SOB). Para a entidade, os problemas de visão são, comprovadamente, uma das principais causas de evasão escolar, em particular, entre os alunos dos primeiros ciclos do Ensino Fundamental.

Sem preparação para diagnosticar corretamente o problema, pais e professores costumam atribuir esse comportamento a uma "natural" incapacidade do aluno para a aprendizagem. Por outro lado, a criança, com idade entre 6 e 9 anos - quando as deficiências visuais começam a ser detectadas -, ainda não têm discernimento para saber o que acontece com elas e, dessa forma, dar sinais claros de suas dificuldades.

De acordo com pesquisas, estima-se que 10% de alunos da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro têm problemas visuais. Por esse motivo, as Secretarias de Educação, Saúde e de Defesa Civil do Estado desenvolvem, desde agosto de 2005, em parceria com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), o projeto "Olhando a Escola".

O objetivo do projeto é capacitar professores das primeiras séries do Ensino Fundamental para que eles sejam capazes de identificar, com um exame simples, alunos que apresentam sintomas de dificuldades visuais. A partir desse primeiro exame, os alunos são encaminhados para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, onde serão submetidos a novos exames que confirmem o diagnóstico feito na escola. De acordo com cada caso, as crianças receberão óculos ou tratamento específico, grautitos, providenciados pelo Governo do Estado.

Até o primeiro semestre deste ano, 2.340 alunos da Classe de Alfabetização (CA) e da primeira série do Ensino Fundamental da rede estadual de ensino já foram beneficiados com o projeto "Olhando a Escola". Elas são as primeiras de 9 mil crianças encaminhadas a especialistas, a receber óculos, sendo 146 indicadas para cirurgia ou outro tratamento médico. Cerca de 2.040 professores foram treinados por especialistas e 51.273 crianças já foram examinadas, em 800 unidades de ensino em todo estado. A previsão é que 18 mil alunos ainda precisem de consultas e de cerca de 6 mil pares de óculos.

A escola pode ser o lugar mais indicado para se detectar problemas de visão nas crianças. Para o médico Carlos Fernando Ferreira, membro da SBO e um dos coordenadores do projeto "Olhando a Escola", toda criança na fase de alfabetização deveria ser examinada. "É preciso lembrar que a criança não se queixa com muita frequência e o esforço para a leitura passa despercebido." E se isso não for pesquisado pelos pais ou professores, o problema pode se agravar. O médico diz, ainda, que os adultos podem e devem ficar atentos aos sinais e que as dificuldades de visão se tornam mais relevantes quando a criança começa a estudar.

29/5/2006

Publicado em 30 de maio de 2006

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