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O que comemoramos no dia Mundial do Meio Ambiente?

Giovânia Costa

Esta semana comemora-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. Momento propício para uma reflexão que deveria ser contínua. Mas o que comemoramos? Há o que comemorar ou deveríamos fazer um dia mundial de lamentações, posto que apesar de muitos esforços as devastações, as extinções, enfim, a irracionalidade humana avança de forma desgovernada em nome de uma superioridade inventada pela famosa razão que deveria nos conduzir firme para o progresso?

Em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, foi organizada a I Conferência Mundial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Desenvolvimento Sustentável, a Eco-92, que reuniu 179 países. O evento foi um dos mais importantes para se debater e buscar soluções para a saúde do planeta.

A Eco-92 produziu vários documentos, como a Carta da Terra e a Agenda 21 - um conjunto de orientações para os governos dos países em escala nacional, regional e local. Este Documento foi criado a partir de organizações da sociedade civil buscando soluções para enfrentar a crise ambiental.

Hoje em dia, pouco se fala nesses documentos fora dos organismos especializados. A Agenda 21 dos países, das regiões, dos municípios, das escolas anda a pequenos passos e sabe-se lá dados por quem. A grande mídia não abre espaço para o debate. Os EUA não assinam o Protocolo de Kiotto. A Amazônia continua queimando. O resto que sobra da mata atlântica também. Espécies novas de animais são descobertas e já estão em perigo de extinção. Muitos crimes, muita impunidade e pouco diálogo. A crise é mundial e o planeta seca e morre.

Alguns lutam contra, buscando conscientizar os demais de que é preciso fazer algo.

Outros se acomodam no discurso de que a vida humana é passageira mesmo. Nem sempre estivemos por aqui e não será para sempre. Estamos cavando a própria cova e daqui a algumas gerações estaremos todos dentro dela. Falas apocalípticas são ouvidas a cada vez que o tema vem à baila. Mas como buscar saídas? A escola parece ter um papel fundamental nessa luta para ajudar na mobilização da sociedade para encontrar soluções que paralisem a degradação da Terra, nossa casa.

Quando falo em mobilização não estou pensando somente no dia 5 de junho para falar dos passarinhos e micos que devem ser preservados. Falo de uma mobilização que passe pela abertura de canais de diálogos onde questões fundamentais possam ser debatidas em busca de caminhos para que o desenvolvimento possa acontecer, mas de forma a não impossibilitar a vida, seja a nossa, seja a de qualquer outro ser vivo.

Em 1992, não somente os cariocas, que sediaram o grande encontro, mas todos os povos herdaram o compromisso assumido aqui, pelo mundo e para o mundo. Esse compromisso está escrito na Agenda 21 do seu país e deveria também estar em discussão na sua escola. A saída para buscar e encontrar meios de equilibrar o meio ambiente com justiça social, criando um modelo de desenvolvimento econômico mais sensato, mais justo e, exatamente por isso, mais humano, passa pelo envolvimento de cada um.

Talvez devêssemos repensar o 5 de junho. Temos muito pouco a comemorar na área do meio ambiente, infelizmente.

Parece que toda a problemática se faz urgente porque o sistema capitalista entendeu que não preservar, em última instância, é ruim para os negócios. Mas pensar assim é se manter no mesmo paradigma que levou a tamanha destruição. É necessário repensar o próprio conceito de homem. Somos mesmo animais racionais e, portanto, superiores? Vivemos na fantasia do jardim do éden, onde tudo foi colocado para nosso desfrute e consumimos, consumimos e consumimos. Nem todos, é claro! Muitos estão fora do sistema, mas há todo um discurso para que os povos mais pobres saiam da linha de pobreza. Queremos inclusão social dos muitos que estão à margem. Mas onde isso levaria? Discutimos a inclusão,> desejamos a inclusão. Mas incluir pra quê? Consumir? É importante pensar que esse modelo não é compatível com a necessidade de cuidar e preservar os recursos naturais.

Compreender o porquê da preservação, num sentido diferente do utilitarismo capitalista, talvez signifique aceitar que se todos tivessem um padrão de consumo semelhante ao dos países desenvolvidos, o caos possivelmente, já estaria instalado (às vezes me pergunto se já não está. Mas não sejamos por demais pessimistas!). Não há possibilidade de compatibilizar o nível atual de consumo e a dita sustentabilidade. Todo o modelo de sociedade precisa ser visto. E isso é mais radical do que querer que os que estão fora tenham espaço nesse modelo. Como fazer essa revisão?O que isso significa?

É uma pergunta para ser respondida por muitos e juntos. Aí sim, talvez possamos ter o que comemorar no dia que institucionalizaram para ser o Dia Mundial do Meio Ambiente.

Publicado em 06 de junho de 2006

Publicado em 06 de junho de 2006

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