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Aprender a ver a cidade
Leonardo Soares Quirino da Silva
Curso treina olhar dos alunos para perceber aspectos urbanísticos da cidade
Sentado em uma carteira, o arquiteto e professor Pedro Lessa tira um par de óculos de papel - os óculos do professor urbano. Segundo Pedro, essas lentes fazem as pessoas verem a cidade com outros olhos, os da observação, da cidadania. Desenhados na frente dos óculos, casas, árvores e prédios, cuja função, segundo o professor, é mostrar que esses três elementos são amigos, coexistindo em harmonia.
Nessa breve apresentação dos óculos, estão sintetizados os elementos que norteiam o projeto de educação urbana. Primeiro, ensinar as crianças de 3a e 4a séries a verem a cidade e a reconhecerem elementos de arquitetura e de urbanismo. Depois, a serem sensíveis a aspectos do exercício da cidadania relacionados com o uso do espaço urbano. Esses elementos devem combinar-se na busca de harmonia entre os elementos que constituem a cidade.
Pedro aprofunda a explicação sobre o trabalho ao observar que o projeto surgiu da necessidade da Secretaria Municipal de Urbanismo do Rio de Janeiro de fazer que os cidadãos entendessem a racionalidade das leis urbanas. "Objetivo final desse trabalho é fazer com que as pessoas entendam que sua participação na cidade não é uma participação obrigatória, por medo das leis. A Secretaria de Urbanismo e outras secretarias também trabalham para que a população tenha uma atitude de colaboração por entender que as leis e as normas são feitas para ajudar e que quando não são feitas para ajudar deveriam ser substituídas".
Ele destaca, ainda, que a tradição das prefeituras é achar que as pessoas vão cumprir as leis para não serem punidas. Mas segundo Pedro, a novidade hoje é a pessoa cumprir a lei porque é necessário para se criar um bom ambiente onde mora.
Ainda segundo Pedro, o projeto de Educação Urbana é inédito por fazer parte de uma política. "Partes desse trabalho já foram feitas em outras prefeituras, em outras cidades, mas não como uma política de urbanismo".
Nesse primeiro ano, foram visitadas sete escolas, atendendo 260 alunos, das 3a e 4a séries.
Características
Antes da entrada em sala do professor de educação urbana, o professor da turma já fez dois trabalhos. O primeiro o Rio que queremos e não queremos e o Rio antigo e o Rio novo.
O primeiro trabalho em sala de aula começa com uma atividade para discutir a importância das regras e das leis para a convivência harmoniosa dentro da cidade. O exercício começa ao se desenhar os morros do Pão de Açsúcar e da Urca - simbolizando a cidade - com um boneco dentro.
Essa primeira etapa chama a atenção para o fato de que quando uma pessoa vive sozinha não precisa se preocupar com leis e com normas. Depois, o professor pede aos alunos para apresentarem motivos que trazem as pessoas para a cidade. Para cada ponto de atração, é colocada uma pessoa dentro do desenho.
No final, segundo Pedro, os alunos costumam observar que não dá mais para botar ninguém porque o desenho está cheio. A partir dessa observação, ele chama a atenção dos alunos para a necessidade das regras para conviver nesse espaço público.
Essa atividade exemplifica uma das vertentes do trabalho - Pedro diz que pode ser chamada de sociológica. Ainda dentro dessa parte, há um trabalho sobre direitos e deveres como os de quem vai alugar ou construir uma casa.
Pedro destaca que em nenhum momento há preocupação em falar a palavra cidadania, mas valorizar seus componentes. Assim, fala-se em tolerância, regras de convivência, igualdade, direitos e deveres.
A outra vertente do projeto, o segundo trabalho, é mais próxima da atividade do professor como arquiteto e consiste em educar as crianças a observar o espaço em que vivem para entender a lógica de construção desse espaço.
O estudo começa com a sala de aula, passa para o pátio da escola e depois para a casa dos alunos.
Para realizar a análise desses espaços, Pedro simplificou para as crianças duas ferramentas da arquitetura e do urbanismo. A primeira é a forma como esses profissionais olham o espaço, ao criar sinônimos para piso, lateral e teto, chamados, respectivamente, de deitado, em pé e voando.
Depois ao ensinar rudimentos de desenho em perspectiva aos alunos para explicar como funciona a visão em três dimensões. Como ele nota, o objetivo é fazer os alunos compreenderem o mecanismo do olhar, que os olhos afinam as coisas para o lado, e não ensinar perspectiva.
Sucesso de público e de crítica
Nesse primeiro ano, entre as escolas visitadas pelo professor Pedro Lessa está a Escola Santa Catarina.
Situada no bairro de Santa Teresa, a escola foi das quatro selecionadas na 1a Coordenadoria Regional de Ensino (CRE) para receber o projeto, segundo a coordenadora pedagógica da escola, professora Anita Buenaga Cavalcante.
Durante a reunião com o professor Pedro Lessa na CRE, a professora sugeriu que a iniciativa fosse realizada com alunos de 3a e 4a séries. Segundo ela, os alunos dessas séries teriam maiores condições de aproveitar o conteúdo oferecido. "Crianças muito pequenas não teriam a compreensão que ele queria para o projeto por não dominarem a leitura, a escrita, além de dispersarem muito rapidamente", disse Anita. A intenção inicial do professor Pedro Lessa era atingir crianças menores.
Para receber o projeto, a coordenadora pedagógica "escolheu uma turma com perfil muito especial, que é uma turma que gosta de trabalhar com projeto e que tinha uma professora jovem e muito dinâmica".
A turma escolhida foi a da professora Priscila Gabriel Gonçalves e Sá. Há cinco anos no magistério, Priscila gostou muito de participar da iniciativa, que acabou motivando os alunos a quererem estudar arquitetura e urbanismo no futuro.
Como a Educação Urbana trabalha com assuntos ligados à História, à Matemática e à Língua Portuguesa, a professora pode fazer a integração do conteúdo dessas disciplinas ao projeto.
Tanto Priscila quanto Anita também tiraram proveito do conteúdo das aulas para suas próprias vidas. Como ressaltou Anita, "às vezes a gente passa anos e anos fazendo um trajeto e não percebe o tem ali".
Trabalho de campo
Desenhos (resultado)
Suene Lopes
Thiago Mello
Karine Santos
Aline Pereira
Antonio Rodrigues
Brenda B. S. Pena
Caroliny Santos
José A. Ferreira
Maiara C. Souza
Michele Lopes
Natalia Fernandes
Patricia R. Silva
Skarlet Costa
Yasmim M. Oliveira
Alejandro e
Adriano V. C.
J. Wallace e
Lucas Fontes
Publicado em 10 de janeiro de 2006
Como citar este artigo (ABNT)
SILVA, Leonardo Soares Quirino da. Aprender a ver a cidade. Revista Educação Pública, v. 6, nº 2, 10 de janeiro de 2006. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/6/2/aprender-a-ver-a-cidade
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