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Precisamos nos corrigir

Péricles Gomes

Historiador

Hoje ao assistir um programa de televisão, me recordei com carinho das aulas na Escola Adolfo Casais Monteiro, em São Paulo e, senti saudades da professora Cida de matemática, que mesmo estabelecendo um ensino exato, tinha um grau de sensibilidade com a sociabilidade dos seus alunos incrível. Relembro que mesmo antes do acontecimento da ECO 92 aqui no Rio de Janeiro, ela já trabalhava e despertava nossos olhares para o meio ambiente, para as causas da complexidade urbana, para as canções de Ivan Lins, Beto Guedes, Milton Nascimento, dentre outros. Para aumentar o grau de saudades daquele tempo ela formava uma dupla implacável com o professor Galbas, um baiano fã de Raul Seixas. Carinhosamente chamávamos a dupla de "chaveirinho e kid rauzito", pois a professora Cida é bem baixinha e o Galbas Raul rock clube.

Foi aí que comecei a me identificar com a história, a disciplina história, a minha história e a história das sociedades, incentivado pelo professor Galbas. O primeiro livro que realmente li por inteiro foi do Aquino, história das sociedades, depois vieram outros juntamente ao meu interesse pela história; olha que eu poderia alegar motivos para odiá-la, culpa do meu desinteresse mais os diversos conflitos com uma professora que ensinava e interpretava a disciplina do jeito dela, e parecia esquecer que estava trabalhando com pré-adolescentes curiosos e sedentos pelo saber. Então, o tempo passou e junto a ele os grandes shows no Sesc Interlagos dos grandes nomes do pop/rock dos anos oitenta do século passado, como o Barão Vermelho do grande Frejat, ou do Roupa Nova de Nando e companhia. Junto a esse tempo que tão depressa passou, veio o vestibular: passei para cursar história e acabei me interessando também por filosofia e geografia. Conheci professores especiais como Esther, Rubenita, o grande Luis Antônio e o incomparável Antônio Eduardo Lucas Parga, uma figura meia rock/MPB de uma visão e sapiência fora do comum - o cara tinha umas sacadas espetaculares e transmitia com leveza e autocrítica e bom humor, fazendo-nos, alunos,  gostar e saborear cada vez mais a história a ser aprendida.

Hoje, com muita preocupação, vejo o ensino da história como se estivéssemos lendo bula de remédio ou com a indelicadeza do "qualquer um sabe", o saber que ainda precisamos apreender para depois ensinar. Nós professores de história, precisamos ter prazer de beber água em diversos ribeirões para voltarmos a fazer as perguntas que fazíamos quando éramos criança e ter bom senso e simplicidade de aprender.

Não basta ensinar história, para boa formação, os alunos precisam entender bem o que leem e saber pensar e escrever. Devíamos ensinar história como se formássemos, ao mesmo tempo, bons leitores, bons escrevedores, bons pensadores.

"Escrever para aprender"; se escrever significa registrar os caminhos da reflexão, parece que nós, professores, independentemente da matéria que ensinamos, temos uma tarefa em comum (...): se todos nós, de uma forma ou de outra, ensinamos a pensar, logo todos nós ensinamos a escrever. Percebemos, hoje, a desenvoltura com que os jovens manejam seus computadores, navegando em mares imagináveis na internet, usando uma língua estranha, mas que nos dão demonstrações de habilidade, curiosidade, criatividade. Nosso desafio é prepará-los nessa era planetária para a grande aventura do conhecimento e da lucidez, superando obstáculos e acreditando cada vez mais. Uma escola sem muros, onde os jovens têm prazer pelo conhecimento, mesmo que no outro dia só se lembrem do jogo de futebol, das paqueras etc. O aprendizado da história para o jovem é uma ponte entre o seu mundo pessoal e o mundo em que todos nós vivemos e, felizmente, há os que acreditam que a história é indispensável para compreender a sociedade, superando visões imediatistas ou fatalistas.

Publicado em 10 de janeiro de 2006

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