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Adágios, ditados, ditos, provérbios e anexins

Leonardo Soares Quirino da Silva

Conselho pronto e comunicação fácil em poucas palavras

Presentes em todas as línguas, as parêmias - nome, digamos, técnico para enquadrar todas as frases que podem ser chamadas por um dos nomes acima - servem de fonte de ensinamento e conselhos, bem como de matéria-prima para críticas e paródias. Seu estudo em sala de aula foi sugerido como ponto de partida para se aprender a analisar textos mais complexos.

Ponto de partida

Em seu texto "O Referencial Comum dos Provérbios e a Personalidade Humana", o apaixonado por adágios e assemelhados, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (USP) Rogério Lacaz-Ruiz, cita estudo que afirma que "os provérbios têm a função de produzir um efeito particular, uma mudança no estado de consciência nos ouvintes desejada pelo que fala".

Pelo mesmo estudo, essas frases também têm a função de passar normas sociais e comportamentais de uma determinada sociedade. Um exemplo disso seria o ditado bom cabrito não berra, que pode ser interpretado como incentivo ao comportamento passivo.

Anexins, ainda pela mesma teoria, também podem ser empregados para se fazer alusão a uma outra situação, servindo como base para analogias entre os fatos ocorridos.

Usos menos ortodoxos

Em sua tese de doutorado, Provérbios que são notícia: uma análise discursiva, a professora Dylia Lysardo-Dias, estudou o uso dos ditados pela imprensa. Foram analisados os jornais: Estado de Minas, Folha de São Paulo e Jornal do Brasil.

Segundo a professora, os adágios são empregados por serem referências mais acessíveis que, por exemplo, letras de músicas.

Dylia observou que essas frases eram empregadas nos títulos e nos primeiros parágrafos das reportagens, como forma de atrair a atenção do leitor. Segundo ela, esse recurso representa uma retomada da retórica clássica - a partir de uma ideia comum para depois apresentar o particular - e serve para revitalizar os provérbios, por manterem o interesse em seu uso.

Na música e no teatro, os ditos também foram empregados, quer como crítica ao saber pronto quer como recurso de humor. Bom Conselho (1972), de Chico Buarque, é um exemplo do primeiro caso. Toda a peça é construída em cima da inversão do significado dos ditados, como se pode observar a seguir:

  • Ouça um bom conselho
  • Que eu lhe dou de graça
  • Inútil dormir que a dor não passa
  • Espere sentado
  • Ou você se cansa
  • Está provado, quem espera nunca alcança.
  • Venha, meu amigo
  • Deixe esse regaço
  • Brinque com meu fogo
  • Venha se queimar.
  • Faça como eu digo
  • Faça como eu faço
  • Aja duas vezes antes de pensar.
  • Corro atrás do tempo
  • Vim de não sei onde
  • Devagar é que não se vai longe.
  • Eu semeio o vento
  • Na minha cidade
  • Vou pra rua e bebo a tempestade

A brincadeira com os ditados foi também uma especialidade do Barão de Itararé, que criava e publicava suas máximas e mínimas em A Manhã e no Almanaque.

Em Amor por Anexins (1870), por sua vez, Arthur Azevedo fez humor ao criar um personagem - Isaías - que só falava por adágios. Na peça de um só ato, ele tenta conquistar o amor da viúva Inês, que o detesta justamente por falar por ditados. Logo no início da cena III, temos um exemplo dessa difícil relação e da linguagem por anexins de Isaías:

Inês (Vem pronta para sair, ao ver Isaías assusta-se e quer fugir.) - Ai!

Isaías (Embargando-lhe a passagem.) - Ninguém deve correr sem ver de quê.

Inês - Que quer o senhor aqui?

Isaías - Vim em pessoa saber da resposta de minha carta: quem quer vai e quem não quer manda; quem nunca arriscou nunca perdeu nem ganhou; cautela e caldo de galinha...

Inês (Interrompendo-o .) - Não tenho resposta alguma que dar! Saia, senhor!

Isaías - Não há carta sem resposta...

Inês (Correndo à talha e trazendo um púcaro cheio d'água) - Saia, quando não...

Isaías (Impassível.) - Se me molhar, mais tempo passarei a seu lado; não hei de sair

molhado à rua. Eh! Eh! Foi buscar lã e saiu tosquiada...

Provérbios e o ensino da língua

O professor Rogério Lacaz-Ruiz defende o uso de provérbios como ferramenta para ensino de línguas com base na experiência do projeto Orillas (em espanhol), que concluíram que "os provérbios são um veículo excelente para os estudantes compartilharem a cultura e adquirirem conhecimento". Este é um projeto internacional que procura documentar as melhores práticas em sala de aula para a integração da aprendizagem intercultural por intermédio das redes de aprendizagem.

Segundo Rogério, os pesquisadores do Orillas partiram da afirmação de Cervantes de que os ditados são "frases curtas tiradas da longa experiência". Tendo como tema central o folclore para as aulas na internet, os alunos eram incentivados a envolverem as famílias, o que resgata a tradição oral, a história local .

Nessa linha, a Editora Moderna tem na internet uma sugestão de atividade com o uso de anexins, que procura envolver também as famílias.

O professor da USP aponta que o uso dessas frases em exercícios de análise de textos tem a vantagem de serem compostas por poucas palavras e "dizer algo diretamente ao que é próprio da humanidade". Por isso, serviriam de ponto de partida para se aprender a interpretar textos mais complexos, em que também se deve levar em conta o contexto de sua produção.

Rede de Anexins

É possível encontrar na internet vários sites com listas de ditados. Como o caso do Mulher Virtual e do Jangada Brasil, que apresentam extensas listas.

Quem quiser conhecer mais adágios e máximas pode visitar a Página dos Provérbios Máximas e Citações. Os ditos latinos foram traduzidos para o português, inglês, francês, espanhol, italiano e esperanto. No mesmo site também tem uma coleção de máximas do Marquês de Maricá.

Publicado em 11 de julho de 2006

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